FRONTEIRA SUL
Aldyr Garcia Schlee
Nasci no lado brasileiro do Jaguarão, mais precisamente no lado de cá do rio, na cidade de Jaguarão, diante da cidade uruguaia de Rio Branco, que fica do lado de lá.
Isso me fez definitivamente fronteiriço; e me impôs a necessidade, desde pequeno, de alimentar muitas dúvidas e de enfrentar grandes perplexidades. Por que haveria de ser assim?
Por que aqueles dois mundos tão próximos e tão separados, apesar da majestosa ponte que os unia e das falas diferentes que os distinguiam? Como explicar tudo aquilo, que poderia ser tão simples e tão igual, sendo tudo a mesma gente, sem a linha divisória, numa terra só?
Aprendi, então, a olhar para o outro como quem se vê num espelho. E descobri que, na fronteira, nós não somos nós, apenas; somos nosotros, nós outros, nos outros. E percebo que essa é a grande lição da fronteira, justificando todos os seus mistérios e toda a sua magia.
Na fronteira há permanentemente o outro lado. Que é também, por consequência, o outro lado de tudo, de todos, de todas as coisas, sempre a nos desafiar — porque nada se explica sem ele: o outro lado oferece-nos o balanço dialético do que é e do que não é, do que pode ser e do que não pode ser, alimentando pelo avesso nossos sonhos, nossas ilusões e nossas esperanças, sem que deixemos de encarar a contra-pelo a realidade, e sem que precisemos dispensar nela o mágico e o misterioso, que são sua imponderável graça, sua atração irresistível e sua reafirmada diferença em relação aos outros espaços do mundo (afinal, a fronteira não é fronteira se não for um espaço fronteiro, um espaço que ao mesmo tempo é a soma de dois que se confrontam sobre uma linha que os divide e separa).
Que magia, que mistério, na fronteira.
Que tipos, que figuras, que lugares!
Que paisagens!
Que paisagens, as da Fronteira Sul.
É o que me ocorre dizer (e escrever, entusiasmado) diante das extraordinárias imagens fronteiriças captadas pela lente privilegiada de Leopoldo Plentz, em que ele nos coloca muito emblemática e sugestivamente do outro lado do que retrata, impondo-nos mágica e misteriosamente, com o domínio de sua técnica e de sua arte, o verdadeiro sentido misterioso e mágico da fronteira.
© Aldyr Garcia Schlee
FRONTEIRA SUL
Fotografias de Leopoldo Plentz
© Fotografias de Leopoldo Plentz