Marionetes
Claro. Mas para fazê-lo precisamos ter à frente do governo um estadista, alguém que pense mais no país do que em si mesmo.
© Ferreira Gullar
Claro. Mas para fazê-lo precisamos ter à frente do governo um estadista, alguém que pense mais no país do que em si mesmo.
© Ferreira Gullar
[in 2666, de Roberto Bolaño, trad. de Cristina Rodriguez e Artur Guerra, Quetzal, 2009]
Pintura de Siron Franco, óleo sobre papel em fibra 100% algodão - 1999
Publicado no blog Bibliotecário de Babel
Publicado por João Ventura - Blog O leitor sem qualidades
© José Mário Silva - Publicado no blog Bibliotecário de Babel
Fotografia de Mário Castello - Cartagena de Indias, 2008
A performance do bloqueio
Depois de expandir suas fronteiras e povoar todos os recantos do planeta com os seus povos, a Comunidade Européia hoje enriquecida e solipsista, oferece sua mortalha ao imigrante desconhecido.
No coração do bairro do Menino Deus
Gilberto Perin - Árvore no Menino Deus - Fotografia (Porto Alegre RS Brasil), 2009
O leigo
Quadrado negro
Ferreira Gullar
Kasemir Malevitch juntamente com Wassily Kandinsky e Marc Chagall, é um dos mais representativos nomes da vanguarda russa do começo do século 20. Mas o que o distingue daqueles dois outros pintores é o caráter radical de sua experiência artística, que o levou ao limite da expressão pictórica. Nos anos iniciais do século 20, era intenso o intercâmbio cultural entre as capitais europeias -especialmente Paris- e a Rússia ocidental, cujos principais centros de cultura eram São Petersburgo e Moscou. Na verdade, a elite econômica e intelectual russa vinha beber na Europa ocidental as novidades artísticas, as expressões inovadoras que sacudiam a vida cultural europeia.
Assim como, para a surpresa de Karl Marx, as ideias comunistas encontraram na Rússia terreno fértil para se implantarem e se desenvolverem, mais do que nos países europeus desenvolvidos, também o cubismo e o futurismo ali se implantaram e floresceram, dando origem a movimentos inovadores, em espantosa quantidade, que surpreenderiam os parisienses ou berlinenses. A exposição "Virada Russa", que esteve no Rio e agora pode ser vista no Centro Cultural do Banco do Brasil, em São Paulo, permite ao visitante constatar isso: as obras expostas surpreendem pela vitalidade e pela audácia criativa de seus autores, que, influenciados pelas vanguardas europeias, ultrapassaram o que elas propunham, ou inovando ou levando às últimas consequências o que, em Paris, Berlim ou Milão, ainda eram simples possibilidades ou potencialidades irrealizadas.
Deve-se observar, também, que essa ebulição estética, na Rússia, coincidia com a efervescência revolucionária, no plano social, que culminaria com a Revolução de 1917. Kandinsky e Chagall tomaram rumo próprio, inovadores que eram, mas voltados mais para uma poética do sonho (Chagall) ou da espiritualidade (Kandinsky). O rumo tomado por Malevitch, Tatlin, Lissitzky e Rodchenko, entre outros, parte das possibilidades implícitas tanto no cubismo quanto no futurismo e as levam à ruptura com a linguagem da pintura e da escultura. A obra "Quadrado Negro", de Malevitch, exposta na referida mostra, é um dos momentos extremos dessa radicalidade.
Outro momento é o "Contra Relevo", de Tatlin - que também integra a exposição-, e cuja denominação e concepção inspirou uma série de obras de Hélio Oiticica. O "contra relevo" é uma invenção do artista russo, que dá consequência a uma questão posta aos escultores modernos, ou seja, a concepção de uma forma abstrata, sem a base que a sustenta e, ao mesmo tempo, separa do mundo real. Dentro dessa problemática, mais tarde, Moholy Nagy conceberia a escultura que se mantinha no ar graças ao impulso do ar comprimido.
Mas voltemos ao "Quadrado Negro". Malevitch - que inicialmente pintou quadros por ele intitulados de cubofuturistas - rompeu radicalmente com a figura ao criar o movimento suprematista, em que pretendia expressar "a sensibilidade da ausência do objeto". Assim que, no referido "Quadrado Negro", pretendia nos dar o objeto ausente. Não obstante, aquele quadrado, se não era a figura de um objeto, era ainda uma figura - uma figura geométrica. Por isso, a pretensão malevitiana de chegar a uma linguagem essencial, totalmente não figurativa, mostrou-se inviável. Já antes, em 1918, havia levado essa tentativa a seu extremo limite, quando pintou o "Quadrado Branco sobre Fundo Branco", pois o passo adiante seria a tela em branco, o fim da pintura ou seu recomeço. Foi quando abandonou a tela e passou a construir, no espaço real, as "arquiteturas suprematistas", de que há alguns exemplares na referida mostra.
A mesma radicalidade levou Lygia Clark ao quadro todo negro e, depois, ao quadro todo branco, que significava, como o foi para Malevitch, o impasse. Também ela abandonou a tela para construir os seus "Bichos", no espaço real. Isso, sem saber do que fizera o artista russo, décadas atrás. É que ela, como Malevitch, havia enveredado pelo mesmo caminho: a utopia de uma arte autônoma, desligada da representação da realidade exterior.
Até a década de 1950, o mundo conhecia mal as vanguardas russas, que haviam sido subitamente tiradas de cena, depois de 1924, quando morreu Lênin e assumiu Stálin. A arte russa retrocedeu para o figurativismo retórico do realismo socialista. Foi o livro "L'Art Abstrait", de Michel Seuphor, publicado nos anos 50, que me revelou o que hoje nos mostra a exposição aberta agora no CCBB de São Paulo.
© Ferreira Gullar
Desenho
Alfredo Aquino - Árvore - Desenho a tinta-china, aguadas, pena caligráfica e lâmina de canivete (Série Cartas - Curitiba PR Brasil), 2006
Na estradinha das Geraes
Mário Castello - A árvore na estrada de Botelhos - Fotografia (Botelhos MG Brasil), 2009
Depois de ter ganho quase tudo o que havia para ganhar no Brasil em 2008, do Jabuti de Romance ao Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa, O Filho Eterno acaba de ser distinguido com o Prémio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, no valor de 100 mil reais (38 mil euros). Se este excelente romance de Cristovão Tezza não é o livro brasileiro mais premiado de todos os tempos, anda lá perto. (José Mário Silva - Bibliotecário de Babel)
Óleo sobre tela
Pintura - Alfredo Aquino - Sem título (Série Apenas Pintura), Óleo sobre tela (Porto Alegre RS Brasil), 2009
Sr. Brasil no Theatro São Pedro
Hoje é o dia do aguardado show de Rolando Boldrin em Porto Alegre. Cara do Brasil.Será às 21 horas no Theatro São Pedro (Praça da Matriz, s/nº) no centro de Porto Alegre. O Sr. Brasil cantará canções e contará causos para seus fãs e admiradores. Dia de dar um abraço forte ao querido amigo.
© Rolando Boldrin - Cara do Brasil - Fotografia de Pierre Yves Refalo
Exit Saramago
José Saramago despediu-se hoje da blogosfera, embora não coloque de parte um regresso pontual ao seu Caderno, caso as circunstâncias o justifiquem. É uma pena. Embora não fosse um blogger no sentido que normalmente lhe atribuímos (pelos motivos que enumerei aqui), era uma voz singular e muitas vezes desarmante, a voz de um Nobel que não precisa, objectivamente, disto para nada mas que teve a generosidade e a humildade de se expor diariamente (a si, à sua escrita, às suas ideias) diante do mundo infinitamente aberto, mas por isso também devorador e implacável, da Internet.
Por tudo o que nos ofereceu no Caderno, mas sobretudo pelo gesto de partilha, insisto em dizer: obrigado, José Saramago. Saber que a ausência online reverte a favor da escrita de um novo livro não deixa de ser um consolo.
José Mário Silva - Publicado no blog Bibliotecário de Babel