Domingo, 27.09.09

Marionetes

O pré-sal e a pressa eleitoral
 
Ferreira Gullar
 
Eu, como os demais brasileiros, alegrei-me com a descoberta dos campos de petróleo e gás no pré-sal, que poderão triplicar as atuais reservas do país. Maravilha!
 
O azar, porém, é que isso veio ocorrer logo no governo Lula, que, imediatamente, tratou de tirar vantagem política da descoberta. De saída, atribuiu-a a si, uma vez que, conforme dá a entender, foi ele quem criou a Petrobras e descobriu o Brasil. Dizem que quem o descobriu foi Pedro Álvares Cabral, mas isso é mais uma invencionice dos brancos de olhos azuis.
 
Por ter criado a Petrobras e descoberto os campos do pré-sal, Lula quer usá-los como trunfos na campanha pela eleição de Dilma e, sem perder tempo, logo tomou providências, ou seja, enviou ao Congresso projetos de lei para fazer crer que a exploração do pré-sal começa amanhã. Embora esses projetos tenham sido discutidos durante mais de um ano no âmbito do Executivo, impôs ao Congresso apreciá-los em urgência urgentíssima, o que implica terem a Câmara e o Senado apenas 45 dias, cada um, para discuti-los e votá-los. Mas por que essa pressa toda se se trata de um assunto de enorme complexidade e se o início da exploração daquelas reservas não se dará, segundo os entendidos, antes de 20 anos? A resposta é simples: as eleições para a Presidência da República serão em 2010 e Lula quer se valer de mais essa carta para tentar ganhar o jogo.
 
Ele já se apropriou da descoberta das jazidas do pré-sal, conseguida graças à larga experiência da Petrobras - que existe há mais de meio século - e à colaboração das empresas privadas a ela associadas. Sem perda de tempo, também já repartiu a riqueza futura com todos os Estados da União, em mais uma cartada eleitoral. Isso está num dos projetos enviados ao Congresso, suscitando uma guerra entre os Estados onde se localizam as jazidas e os demais. Feito isso, tirou o corpo fora e os deixou brigando. Como sempre, ele não tem nada a ver com o problema.
 
O governador de Pernambuco, que nunca pensou em dividir os lucros da indústria da cana com o meu pobre Maranhão ou com o Piauí, já pôs as presas à mostra: "Quem disse que o povo do Rio de Janeiro é melhor que o pernambucano?!". E tudo por causa de uma grana que só vai existir de fato daqui a duas décadas; se existir, pelo menos na proporção que se alardeia.
 
Se digo isso é porque tenho ouvido e lido ponderações acerca do pré-sal que deveriam ser levadas em conta por Lula e sua turma. Uma delas suscita a seguinte questão: terá o petróleo a mesma importância daqui a 20 anos? Em vez de meter os pés pelas mãos atabalhoadamente para impor ao país decisões precipitadas, não seria mais sensato aprofundar as discussões dos problemas implicados na exploração do pré-sal?
Nem pensar! A isso o nosso midiático presidente responderá que se trata de uma manobra de seus adversários para derrotá-lo em 2010. Sucede que nem todo mundo que discorda de seu açodamento pertence à oposição. Há, no país, técnicos competentes, estudiosos das questões nacionais, que deveriam ser ouvidos pelo governo.
 
Uma das ponderações que fazem aqueles especialistas decorre do atualíssimo problema do aquecimento global e do uso de energias alternativas não poluentes. Não foi o presidente Lula mesmo quem, faz pouco, andava pelo mundo alardeando as virtudes do nosso etanol? Não era ele quem o indicava como o substituto do petróleo, altamente poluente? Quer dizer que, da noite para o dia, o Brasil deixou de ser a pátria do etanol para se tornar a pátria do CO2?
 
Lula afirmou que a descoberta do pré-sal é um cheque em branco e um novo grito de independência para o Brasil, sem levar em conta que, no mundo inteiro, avança a criação de novas fontes de energia limpa, como a solar e a eólica, sem falar em motores elétricos, já utilizados em automóveis. Em Nova York, trafegam carros movidos, alternadamente, a gasolina e eletricidade, possibilitando grande redução do combustível poluente.
 
Outra notícia significativa é a utilização de usinas movidas a luz solar, como a que se constrói no deserto de Gobi, na China, com capacidade para atender a 3 milhões de pessoas. A energia eólica é utilizada em larga escala por países europeus. O Brasil tem todas as condições para valer-se desses recursos naturais, limpos.
 
Daí a pergunta: não seria mais sensato investir também nesses outros tipos de energia do futuro em vez de jogar tudo no petróleo, cujo futuro é duvidoso?
 

Claro. Mas para fazê-lo precisamos ter à frente do governo um estadista, alguém que pense mais no país do que em si mesmo. 

 

© Ferreira Gullar

publicado por ardotempo às 20:59 | Comentar | Adicionar
Sábado, 26.09.09

Jaguarão

Fotografia

 

 

 

Leopoldo Plentz - Jaguarão / Série Fronteira Sul - Fotografia (Jaguarão RS Brasil) 

publicado por ardotempo às 18:12 | Comentar | Adicionar

A loucura

Lalo Cura, La Locura
 
 
 
«Por aqueles dias Pedro Negrete viajou até Villaviciosa para arranjar um homem de confiança para o seu compadre Pedro Rengifo. Viu vários jovens. Estudou-os, fez-lhes algumas perguntas. Perguntou-lhes se sabiam disparar. Perguntou-lhes se poderia depositar a sua confiança neles. Perguntou-lhes se queriam ganhar dinheiro. Há muito tempo que não ia a Villaviciosa e a povoação pareceu-lhe igual à última vez. Casas baixas, de adobe, com pequenos quintais à frente. Só dois bares e uma mercearia. Para leste as ramificações de uma serra que parecia afastar-se e aproximar-se, conforme a deslocação do Sol e das sombras. Quando já tinha escolhido um jovem, mandou chamar Epifanio e perguntou-lhe à parte o que é que lhe parecia. Qual deles é, chefe? O mais novinho, disse Negrete. Epifanio olhou para ele de passagem e depois olhou para os outros, e antes de voltar para o carro disse que não estava mal, mas quem sabe.
 
(…) Negrete chamou o rapaz e disse-lhe que o tinha escolhido a ele. O rapaz olhou para Negrete e depois para o chão, como se estivesse a pensar no que lhe ia responder, mas de repente mudou de ideia, nada disse e partiu.
 
Quando Negrete saiu do bar encontrou o rapaz e Epifanio a conversarem apoiados no guarda-lamas do carro.
 
O rapaz sentou-se ao seu lado, na parte de trás. Epifanio sentou-se ao volante. Quando deixaram as ruas de terra batida de Villaviciosa e o carro rodava pelo deserto, o chefe da polícia perguntou-lhe como se chamava ele. Olegario Cura Expósito, respondeu o rapaz. Olegario Cura Expósito, repetiu Negrete, olhando para as estrelas, curioso nome. Durante algum tempo ficaram em silêncio. Epifanio tentou sintonizar uma emissora de Santa Teresa mas não conseguiu e desligou o rádio. Através da janela o chefe da polícia avistou, a muitos quilómetros de distância, o brilho de um raio. Naquele momento o carro deu um solavanco e Epifanio travou e saiu para ver o que é que ele tinha atropelado. O chefe da polícia viu-o desaparecer na estrada e depois viu a luz da lanterna de Epifanio. Abriu a janela e perguntou-lhe o que é que se passava. Ouviram um tiro.
 
O chefe abriu a porta e baixou-se. Deu uns quantos passos para desentorpecer as pernas, até que a figura de Epifanio apareceu sem pressas. Matei um lobo, disse ele. Vamos vê-lo, disse o chefe da polícia, e os dois voltaram a penetrar na escuridão. Na estrada não havia sinal de faróis de qualquer carro. O ar era seco embora às vezes viessem rajadas de vento salgado, como se antes de se estender no deserto esse ar tivesse limpado a superfície de uma salina. O rapaz olhou para o tabliê iluminado do carro e levou as mãos à cara. A alguns metros dali o chefe da polícia ordenou a Epifanio que lhe passasse a lanterna e focou o corpo do animal estendido na estrada. Não é um lobo, pá, disse o chefe da polícia. Ah, não? Olha para o pêlo dele, o do lobo é mais luzidio, mais brilhante, além de que não são tão parvos que se deixem atropelar por um carro no meio de uma estrada deserta. Vamos lá ver, vamos medi-lo, segura na lanterna. Epifanio focou a luz no animal enquanto o chefe da polícia o esticava e procedia à medição a olho. O coiote, disse, mede de setenta a noventa centímetros, contando com a cabeça, quantos dirás tu que este mede? Uns oitenta?, disse Epifanio. Correcto, disse o chefe da polícia. E acrescentou: o coiote pesa entre os dez e os dezasseis quilos. Passa-me a lanterna e levanta-o, não te vai morder. Epifanio pegou no animal morto ao colo. Quanto achas tu que pesa? Pois entre doze e quinze quilos, respondeu Epifanio, como um coiote. É mesmo um coiote, meu parvo, disse o chefe da polícia.
 
(…) Quando, em El Altillo, apareceram as primeiras luzes de Santa Teresa, o chefe da polícia quebrou o silêncio em que tinham mergulhado os três. Olegario Cura Expósito, chamou. Sim, senhor, respondeu o rapaz.
 
E os teus amigos como te chamam?
Lalo, disse o rapaz.
Lalo? Sim, senhor.
Ouviste, Epifanio?
Ouvi, disse Epifanio, que não conseguia deixar de pensar no coiote.
Lalo Cura?, perguntou o chefe da polícia.
Sim, senhor, confirmou o rapaz.
É uma brincadeira, não é?
Não, senhor, é assim que me chamam os meus amigos, disse o rapaz.
Ouviste Epifanio?, perguntou o chefe da polícia.
Claro que sim, ouvi, disse Epifanio.
Chama-se Lalo Cura, disse o chefe da polícia, e desatou a rir.
Lalo Cura, La Locura, topas?
Sim, sim, é claro, disse Epifanio, e também desatou a rir. Pouco depois os três puseram-se rir.»
 

[in 2666, de Roberto Bolaño, trad. de Cristina Rodriguez e Artur Guerra, Quetzal, 2009]

Pintura de Siron Franco, óleo sobre papel em fibra 100% algodão - 1999

Publicado no blog Bibliotecário de Babel

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Sexta-feira, 25.09.09

Roberto Bolaño

Inéditos
 
A caixa negra de Bolaño
 
«Estoy seguro de que moriré inédito», anotou, sem esperança, no seu diário, Roberto Bolaño, seis anos antes de morrer. Estava redondamente enganado. Depois dos livros póstumos - El secreto del mal, La Universidad desconocida, Entre paréntesis, Bolaño por el mismo e 2666 - que eu trouxe d uma recente viagem ao Chile, a voz fragmentária e testamentária de Bolãno ressoa, agora, na caixa negra do seu voo tragicamente inconcluso, convidando a adentrarmo-nos através da estranha cartografia dos seus livros por vir.
 
É que depois do agente Andrew Wylie ter anunciado a descoberta, na caixa negra bolañiana - ou se se preferir, por corresponder melhor ao cânone, na sua arca pessoana -, do romance inédito El Tercer Reich, a editar em breve, leio em La Vanguardia a notícia da descoberta de mais dois romances inéditos do assombroso escritor chileno: Diorama e Los sinsabores del verdadero policía o Asesinos de Sonora. «El futuro del archivo, un mar de libretas y cuadernos de todos los tamaños, una vez inventariado, será seguramente una universidad. Adentrarse en sus páginas requiere la paciencia del paleólogo o del domador de pulgas», pode ler-se em La Vanguardia.
 

Publicado por João Ventura - Blog O leitor sem qualidades 

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O romance e a crítica

O recomendado: 10/10
 
José Mário Silva
 
2666
Autor: Roberto Bolaño
Título original: 2666
Tradutores: Cristina Rodriguez e Artur Guerra
Editora: Quetzal - Portugal
N.º de páginas: 1030
ISBN: 978-972-564-816-2
Ano de publicação: 2009
 
Há romances que se preocupam em fixar uma parte da realidade: um certo tempo histórico, uma certa geografia, o equilíbrio ou a tragédia de certas vidas. E depois há romances – muito poucos – que ambicionam abarcar o mundo inteiro. Não lhes interessa reflectir a realidade, mas antes criá-la de novo, reinventá-la, explorar-lhe os limites. São livros totais, que se deixam inebriar pela própria desmesura, sem medo do falhanço ou dos abismos para onde a sua ambição os pode arrastar. Em 2666, um professor de filosofia chamado Amalfitano faz o elogio destas grandes obras literárias «imperfeitas», as que «abrem caminho no desconhecido», enfrentando «aquilo que nos atemoriza a todos, esse aquilo que nos acobarda e verga». Obras como Moby Dick, O Processo, Bouvard e Pécuchet. Ou, acrescento eu, como este gigantesco, terrível e belíssimo romance de Roberto Bolaño, um prodígio narrativo que acompanha, para além da crise existencial de Amalfitano, as deambulações de várias dezenas de outras personagens, igualmente perdidas e desarmantes.
 
Em 2666, Bolaño quis testar a infinita elasticidade do género romanesco. Até onde se pode chegar com uma ficção? Resposta: até onde se quiser. Ou melhor, até onde se for capaz de ir. A fronteira, se existe, é a própria escrita e Bolaño consegue empurrá-la sempre mais para diante. As histórias multiplicam-se, nascem umas das outras, proliferam como caixas chinesas: do submundo criminal mexicano às batalhas na frente Leste da II Grande Guerra, de Bornéu a Veneza, da crucificação de um general romeno (num castelo da Transilvânia) aos sacrifícios humanos dos astecas, de um combate de boxe demasiado rápido aos intermináveis espancamentos entre reclusos de uma prisão de alta segurança, das discussões eruditas em congressos sobre literatura alemã contemporânea à melancolia das profundezas oceânicas. Eis um labirinto com muitas entradas e nenhuma saída. Um buraco negro que devora qualquer matéria ficcionável. Um lugar onde cabe, literalmente, «tudo dentro de tudo».
 
 
 
 
Embora esteja dividido em cinco partes, que funcionam como cinco livros autónomos, pode dizer-se que o centro gravítico de 2666 é a imaginária cidade de Santa Teresa, no deserto de Sonora (norte do México, perto da fronteira com o Arizona), onde vão aparecendo, entre 1993 e 1997, centenas de cadáveres de mulheres pobres – prostitutas, empregadas de mesa, operárias fabris –, assassinadas quase sempre após tortura e violação sexual, sem que as autoridades policiais, incompetentes e misóginas, consigam deslindar os crimes.
 
É a Santa Teresa que chegam, na primeira parte, três críticos literários: Jean-Claude Pelletier, Manuel Espinoza e Liz Norton, académicos unidos a um quarto crítico (Piero Morini) pela geometria instável de um quadrado amoroso e pela dedicação devota à obra de Benno von Archimboldi – escritor «prussiano» de culto, cioso da sua invisibilidade, que viajou para aquela cidade violenta não se sabe porquê. E é em Santa Teresa que alguns dos múltiplos fios narrativos deste livro se atam, sem nunca oferecerem ao leitor – hipnotizado desde as primeiras páginas pela riqueza estilística da prosa de Bolaño, pela energia pura da sua linguagem – o alívio de uma explicação para o Mal que emerge de todo o lado, como que saído de um «poço negro».
 
Enquanto o conduzem às cegas pelo bas-fond de Santa Teresa, Oscar Fate, o repórter afro-americano que é protagonista da terceira parte, pondera apanhar o primeiro avião para Nova Iorque, «onde tudo voltaria a ter a consistência da realidade». Isto é, da realidade real. Faz sentido. Porque a realidade de 2666 é a outra, a que perde os seus contornos, «como se a passagem do tempo exercesse um efeito de porosidade nas coisas», a realidade da estranheza e do «pesadelo flutuante», a realidade incerta, sempre a oscilar entre a vigília e o sonho, a verdade e o simulacro, a lucidez e a loucura.
 
Avaliação: 10/10

© José Mário Silva - Publicado no blog Bibliotecário de Babel 

Fotografia de Mário Castello - Cartagena de Indias, 2008

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Instalação

A performance do bloqueio

 

 

 

 

 

Depois de expandir suas fronteiras e povoar todos os recantos do planeta com os seus povos, a Comunidade Européia hoje enriquecida e solipsista, oferece sua mortalha ao imigrante desconhecido

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Quinta-feira, 24.09.09

A árvore de Perin

No coração do bairro do Menino Deus

 

 

 

 

Gilberto Perin - Árvore no Menino Deus - Fotografia (Porto Alegre RS Brasil), 2009 

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Jatos de guerra e submarinos atômicos

O leigo

 
Luis Fernando Verissimo
 
 
"Leigo" é o nome genérico de quem não está entendendo. Na sua origem "leigo" era sinônimo de "laico", o contrário de "clérigo", um cristão que não pertencia à hierarquia da Igreja.
 
Com o tempo a palavra passou a identificar quem está por fora de qualquer assunto, e não apenas os eclesiásticos.
 
O Leigo é mal-informado, ingênuo e simplista. As coisas precisam ser explicadas com muita clareza ao Leigo, e mesmo assim ele custa a compreendê-las.
 
Ele próprio costuma invocar sua condição e dizer "Sou leigo na matéria" quando se vê diante de um desafio intelectual. Diz muito isto. Porque tudo é um desafio intelectual para o Leigo.
 
Mas o Leigo nos presta um grande serviço. Como seu raciocínio é simples, ele muitas vezes faz as perguntas óbvias que nós não fazemos para não parecermos simples.
 
Há anos, por exemplo, não entra na cabeça do Leigo por que as tais "riquezas naturais" brasileiras de que ouvimos faltar desde a escola não enriqueceram o Brasil, ou pelo menos melhoraram a vida da maioria dos brasileiros, que, ao contrário, parece piorar quanto mais as riquezas são extraídas e exportadas.
 
O Leigo nunca entendeu a venda, que mais pareceu uma doação, da Vale do Rio Doce, como nunca entendeu a campanha antiga e sistemática para desacreditar e doar a Petrobras.
 
Agora o Leigo — na sua ingenuidade — não está entendendo essa discussão sobre o controle estatal do petróleo do pré-sal e o destino a ser dado ao produto da sua exploração, como se não estivesse na cara o que precisa ser feito.
 
No plano internacional, o Leigo imagina que, se todo o dinheiro gasto no comércio de armas fosse aplicado em projetos sociais, acabaria a miséria no mundo.
 
Você e eu, que somos pessoas sofisticadas e por dentro, sabemos que o mundo não funciona assim, com esse altruísmo simétrico. Que se não gastasse com armas o mundo só gastaria em bebida e mulheres.
 
E essa de que um país com os problemas sociais do Brasil não tem nada que estar comprando submarino atômico só pode ser coisa do Leigo. Bendito Leigo.
 
 
© Luis Fernando Verissimo 
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A arte abstrata dos russos

Quadrado negro

 

Ferreira Gullar

 

Kasemir Malevitch juntamente com Wassily Kandinsky e Marc Chagall, é um dos mais representativos nomes da vanguarda russa do começo do século 20. Mas o que o distingue daqueles dois outros pintores é o caráter radical de sua experiência artística, que o levou ao limite da expressão pictórica. Nos anos iniciais do século 20, era intenso o intercâmbio cultural entre as capitais europeias -especialmente Paris- e a Rússia ocidental, cujos principais centros de cultura eram São Petersburgo e Moscou. Na verdade, a elite econômica e intelectual russa vinha beber na Europa ocidental as novidades artísticas, as expressões inovadoras que sacudiam a vida cultural europeia.

 

Assim como, para a surpresa de Karl Marx, as ideias comunistas encontraram na Rússia terreno fértil para se implantarem e se desenvolverem, mais do que nos países europeus desenvolvidos, também o cubismo e o futurismo ali se implantaram e floresceram, dando origem a movimentos inovadores, em espantosa quantidade, que surpreenderiam os parisienses ou berlinenses. A exposição "Virada Russa", que esteve no Rio e agora pode ser vista no Centro Cultural do Banco do Brasil, em São Paulo, permite ao visitante constatar isso: as obras expostas surpreendem pela vitalidade e pela audácia criativa de seus autores, que, influenciados pelas vanguardas europeias, ultrapassaram o que elas propunham, ou inovando ou levando às últimas consequências o que, em Paris, Berlim ou Milão, ainda eram simples possibilidades ou potencialidades irrealizadas.

 

Deve-se observar, também, que essa ebulição estética, na Rússia, coincidia com a efervescência revolucionária, no plano social, que culminaria com a Revolução de 1917. Kandinsky e Chagall tomaram rumo próprio, inovadores que eram, mas voltados mais para uma poética do sonho (Chagall) ou da espiritualidade (Kandinsky). O rumo tomado por Malevitch, Tatlin, Lissitzky e Rodchenko, entre outros, parte das possibilidades implícitas tanto no cubismo quanto no futurismo e as levam à ruptura com a linguagem da pintura e da escultura. A obra "Quadrado Negro", de Malevitch, exposta na referida mostra, é um dos momentos extremos dessa radicalidade.

 

 

Outro momento é o "Contra Relevo", de Tatlin - que também integra a exposição-, e cuja denominação e concepção inspirou uma série de obras de Hélio Oiticica. O "contra relevo" é uma invenção do artista russo, que dá consequência a uma questão posta aos escultores modernos, ou seja, a concepção de uma forma abstrata, sem a base que a sustenta e, ao mesmo tempo, separa do mundo real. Dentro dessa problemática, mais tarde, Moholy Nagy conceberia a escultura que se mantinha no ar graças ao impulso do ar comprimido.

 

Mas voltemos ao "Quadrado Negro". Malevitch - que inicialmente pintou quadros por ele intitulados de cubofuturistas - rompeu radicalmente com a figura ao criar o movimento suprematista, em que pretendia expressar "a sensibilidade da ausência do objeto". Assim que, no referido "Quadrado Negro", pretendia nos dar o objeto ausente. Não obstante, aquele quadrado, se não era a figura de um objeto, era ainda uma figura - uma figura geométrica. Por isso, a pretensão malevitiana de chegar a uma linguagem essencial, totalmente não figurativa, mostrou-se inviável. Já antes, em 1918, havia levado essa tentativa a seu extremo limite, quando pintou o "Quadrado Branco sobre Fundo Branco", pois o passo adiante seria a tela em branco, o fim da pintura ou seu recomeço. Foi quando abandonou a tela e passou a construir, no espaço real, as "arquiteturas suprematistas", de que há alguns exemplares na referida mostra.

 

A mesma radicalidade levou Lygia Clark ao quadro todo negro e, depois, ao quadro todo branco, que significava, como o foi para Malevitch, o impasse. Também ela abandonou a tela para construir os seus "Bichos", no espaço real. Isso, sem saber do que fizera o artista russo, décadas atrás. É que ela, como Malevitch, havia enveredado pelo mesmo caminho: a utopia de uma arte autônoma, desligada da representação da realidade exterior.

 

Até a década de 1950, o mundo conhecia mal as vanguardas russas, que haviam sido subitamente tiradas de cena, depois de 1924, quando morreu Lênin e assumiu Stálin. A arte russa retrocedeu para o figurativismo retórico do realismo socialista. Foi o livro "L'Art Abstrait", de Michel Seuphor, publicado nos anos 50, que me revelou o que hoje nos mostra a exposição aberta agora no CCBB de São Paulo.

 

© Ferreira Gullar

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Árvore

Desenho

 

 

 

 

 

Alfredo Aquino - Árvore - Desenho a tinta-china, aguadas, pena caligráfica e lâmina de canivete (Série Cartas - Curitiba PR Brasil), 2006 

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A árvore de Castello

Na estradinha das Geraes

 

 

 

 

Mário Castello - A árvore na estrada de Botelhos - Fotografia (Botelhos MG Brasil), 2009

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As árvores de Leopoldo Plentz

Fotografia

 

 

 

 

Leopoldo Plentz - Árvores em Paris - Fotografia (Paris França) 

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Quinta-feira, 10.09.09

A árvore de Alechinsky

Pierre Alechinsky

 

 


 

 

Pierre Alechinsky - Litogravura - Árvore (Paris França) 

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Quarta-feira, 09.09.09

O formato das nuvens

Fotografia

 

 

 

 

Mário Castello - Fotografia - Ausência (São Paulo SP Brasil), 2009

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O silêncio

Querido Chet
 
Enrique Vila-Matas
 
Hemos llegado a ese momento de la noche en que nos queda poco tiempo, así que les rogaría que se hiciera el silencio
(Chet Baker)
 
 
 
 
Crece vertiginosamente la leyenda de Chet Baker. Yo, que llevaba años haciéndome con todo lo que encontraba de Chet, veo que ahora aparecen multitud de cosas sobre él, se ha convertido de repente en un mito. Y es asombroso, pero hasta los que fueron sus más enconados enemigos, hasta los que le mataron, hablan bien ahora de Chet. A su reputación le está sucediendo exactamente lo mismo que le pasara a la de Rimbaud y Verlaine, que Cernuda comentó en su poema Birds in the night: "Entonces hasta la negra prostituta tenía derecho de insultarles; / Hoy, como el tiempo ha pasado (...) Francia usa de ambos nombres y ambas obras / Para mayor gloria de Francia y de su arte lógico".
 
A Chet le gustaban con delirio las mujeres, el jazz y el chute. Como a aquel pobre Pacífico Ricaport de un poema de Gil de Biedma, le habían echado a patadas de todos los cuartos de hotel. Pero hoy Chet es un mito, una leyenda, todos coinciden en que la esencia de su vida era un caos incesante atravesado por el genio en estado puro. Se habla de la esencia de su vida, pero se olvida que le hicieron la vida imposible en las salas de jazz cool de la Costa Oeste, y también en Nueva York, y ya no se recuerda que el genio de la trompeta tuvo que ir a tocar a tugurios de Europa donde, convertido en una arruga andante, seguía manejando la trompeta con un virtuosismo y originalidad insuperables. Se le recuerda, sí, pero con la visión deformada de Hollywood, que prepara una gran superproducción sobre su vida y ha pensado -¡Dios nos ampare!- en Leo DiCaprio para que interprete a Chet.
 
Ayer decidí dedicarle un modesto acto de desagravio. Me compré un panamá -hacía años que quería y no me atrevía a comprarme ese sombrero- y bajé a La Rambla. Al pasar por Canaletas pensé que, digan lo que digan, hay belleza en el paisaje urbano. Luego se lo dije en silencio a Chet, que fue un gran héroe urbano, uno de esos raros seres admirables que saben que hay que jugarse la vida a cada momento porque sino ésta carece de sentido. La vida es como un buen poema: corre siempre el riesgo de carecer de sentido, pero nada sería sin ese riesgo. Pensé en esto y seguí bajando por La Rambla, admirando la belleza urbana. Me dije que también la vida en el campo es estupenda, hay animales que no se ven en las ciudades, se hace fuego en las chimeneas, pero el campo tiene una belleza soporífera. La ciudad, en cambio, es la poesía misma. Un poeta de Nueva York, un amigo de Paul Auster, escribió estos versos sobre la belleza urbana: "Esta brumosa mañana de invierno/ no desprecies la joya verde entre las ramas/ sólo porque es la luz del semáforo".
 
Cerca de la plaza Real, quedé de pronto extasiado ante la luz esmeralda de un semáforo y evoqué las memorias de Chet (Como si tuviera alas, Mondadori 1999), ese libro irregular, pero escrito con la sangre del jazz y que tiene un epílogo barcelonés: "Después de París, Barcelona casi parecía una ciudad tropical, estaba espléndida en diciembre del 63. Cerré un trato para trabajar en un club que estaba en un sótano, y que llevaba sólo un año ofreciendo música de jazz. En la planta baja bailaba Antonio Gades con acompañamiento de guitarra, castañuelas y palmas...".
 
Naturalmente, el club que estaba en un sótano era el Jamboree. Mis amigos saben la envidia que me dan los amigos que dicen haber visto actuar a Chet en mi ciudad. Tengo a Chet tan mitificado que veo como sueños sus recuerdos. Naturalmente, fui ayer hasta el Jamboree y ante ese local me saqué el sombrero, mi modesto homenaje al gran Chet. Después, evoqué su extraña muerte: cayó al vacío en un hotel de Ámsterdam, cuya fachada estaba escalando en el momento de perder pie, la estaba escalando porque había olvidado su trompeta en la tercera planta y quería recuperarla, pero sin pasar por recepción porque acababan de expulsarle del hotel.
 
Me saqué el sombrero en riguroso silencio recordando lo que Michel Graillier, el pianista que le acompañó en sus últimos días, decía de la música de Chet y que a mí me recuerda a La música callada del toreo, el libro de Pepe Bergamín sobre Rafael de Paula: "Chet tenía el sentido del silencio, que es la materia prima del músico. Se acercaba al micrófono, dejaba pasar cuatro, ocho compases, y desde el mismo momento en que atacaba la nota, ésta alcanzaba toda su plenitud (...). Conseguía una escucha profunda del público porque daba toda la significación musical al silencio antes de empezar su solo".
 
Después, me fui con la música callada de mi homenaje a otra parte, me fui alegre recordando un recuerdo feliz de Chet, el del día en que conoció a una rubia guapísima que estaba sentada a la barra de un bar y que se convertiría en su mujer: "Se llamaba Charlaine y era la bomba".
 
© Enrique Vila-Matas
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A caverna

 
A caverna
 
Ela pediu-lhe para ver qualquer coisa numa das reservas técnicas acerca de uma dúvida que surgira sobre um dos quadros. Foram até os depósitos de telas e movimentaram as grandes treliças metálicas que sustentavam as obras. Ele fez as anotações necessárias em sua fichas, saíram das reservas e apagaram as luzes.
 
No regresso, entraram juntos pelo corredor em curva, de iluminação tênue, indireta, proveniente apenas dos vãos das extremidades ocultas das paredes, de baixo para cima, à uma terça parte do teto, num espaço de passagem magistralmente concebido pelo arquiteto, dentro do qual, de um  determinado ponto não mais se via o seu início ou o seu final, vertiginoso igualmente nas curvas dos encontros sem arestas junto ao teto ou ao rés do chão, um estranho espaço sem divisões em unidades matemáticas mensuráveis, aquilo ali parecia um lugar onde o tempo se paralisava ou se fazia infinito. Para Bernardo aquele ponto aparentava ser um lugar ancestral, assemelhava-se a uma caverna e transmitia-lhe uma sensação bizarra, nuclear, emergencial. Ali sentia-se estranhamente uno, um ser absoluto e integral.
 
 
 
 
Segurou Carolina pelo quadril, abraçando-a e puxando-a para si. Juntou-se a ela e beijou-lhe a boca. Ela, surpresa e quase assustada, retribuiu e na seqüência, apertou o seu corpo contra o dele, respondendo ao abraço e alongando o tempo do beijo inesperado. Bernardo curvou-se sobre seu pescoço e sussurrou-lhe algo ao ouvido.
 
Come, então...”, murmurou Carolina, já assustada pela situação pública e perigosa em que se encontravam. Rapidamente, ele desafivelou o cinto dela, abriu sua calça e fez com ela se ajoelhasse no corredor, livrando-a parcialmente de suas roupas, sem despi-la. Bernardo possuiu-a por trás, de maneira selvagem e direta, foi algo lancinante e satisfatório.
 
Pelo inesperado e pelo perigo iminente.
 
Ele a subjugou segurando-lhe pela nuca, puxou-a vigorosamente com o punho pelos cabelos, prendendo-a e abraçando-a com força, sendo correspondido pelos movimentos ritmados e vigorosos que a fêmea natural imprimiu à relação. Bernando estendeu a mão ao longo de rosto, roçando-lhe a boca e dando-lhe o seu antebraço para que ela o mordesse. O que ela fez, com sofreguidão, cravando-lhe os dentes um pouco acima do pulso esquerdo, marcando-o numa fieira elíptica de hematomas púrpuras, até romper-lhe a pele e provocar filetes finos de sangue que escorreram pelo pulso. Os movimentos acentuaram-se, intensificando-se até uma explosão de gozo vulcânico e silencioso, naquela garganta de tempos primevos em que se transformara, para ele, aquele corredor mergulhado em silêncio e luminosidade incerta.
 
Os movimentos, a força empregada por ambos, os puxões, os grunhidos abafados, as dentadas sangrentas, a ferocidade e o domínio poderiam sugerir um quase estupro, mas alguma coisa animal e grandiosa sobrepujou qualquer observação vulgar. Algo incompreensível, de dimensão trágica e solene, como o clarão prolongado de um raio sobre a noção do sentido da vida, acabara de ocorrer. Perigo, instinto, medo, força, sangue, fluídos, prazer e vida: uma seqüência atordoante que os remeteu ao princípio dos tempos, ao tempo dos sobreviventes das cavernas.
 
Carolina ergueu-se, compondo suas roupas e a sua alma, abraçou com ternura e suavidade o homem em pé à sua frente, ele também um tanto surpreendido, e o beijou com ardor durante algum tempo, com os lindos olhos cerrados. Bernardo também a beijou com os olhos fechados, sentindo sob seus pés, o planeta que girava e flutuava sobre o universo infinito.
 
Homens gostam de uma rapidinha...mas não tem importância, eu também gosto”, disparou Carolina sorrindo, enquanto se dirigiam para as salas administrativas, de novo arrumados e já sob o olhar eletrônico das câmeras de vigilância. Bernardo anotou na memória a provocação da moça.
 
Não trabalharam por muito tempo, nada mais seria importante naquele dia e deixaram a Fundação alguns minutos depois. Naquela mesma noite, passada na casa de Carolina, tiveram  o tempo necessário para um amor prolongado, atencioso e delicado.
 
 
(Extraído do conto A Caverna - do livro A Fenda - © Alfredo Aquino, Iluminuras, 2007)
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publicado por ardotempo às 17:02 | Comentar | Adicionar
Terça-feira, 08.09.09

Azul

Verdebrancoazulvermelho

 

 

 

 

Leopoldo Plentz - Fotografia - Piscina (Porto Alegre RS Brasil)

publicado por ardotempo às 18:28 | Comentar | Adicionar

Natureza no campo

Árvore e milho

 

 


 

 

Mário Castello - Fotografia - Árvore e milharal (SP Brasil), 2009

publicado por ardotempo às 18:25 | Comentar | Adicionar

Natureza em São Paulo

 Árvore

 

 

 

 

Mário Castello - Fotografia - Árvore em São Paulo (São Paulo SP Brasil), 2009

publicado por ardotempo às 12:42 | Comentar | Adicionar
Domingo, 06.09.09

Encarnada

Fotografia

 

 

 

 

Mário Castello - Pipa - Fotografia  (Pipa RN Brasil), 2005

publicado por ardotempo às 01:30 | Comentar | Adicionar
Sábado, 05.09.09

Prêmio+prêmio+prêmio+prêmio+prêmio

O Filho Eterno, de Cristovão Tezza
 
(Será O Filho Eterno o melhor de livro de literatura brasileira de todos os tempos? AT)
 

Depois de ter ganho quase tudo o que havia para ganhar no Brasil em 2008, do Jabuti de Romance ao Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa, O Filho Eterno acaba de ser distinguido com o Prémio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, no valor de 100 mil reais (38 mil euros). Se este excelente romance de Cristovão Tezza não é o livro brasileiro mais premiado de todos os tempos, anda lá perto. (José Mário Silva - Bibliotecário de Babel)

publicado por ardotempo às 13:14 | Comentar | Adicionar

Desenho

Tinta china sobre papel

 

 

 

 

 

Sonho - Desenho - Tinta china sobre papel de gravura Montval, 100% algodão

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publicado por ardotempo às 12:52 | Comentar | Adicionar
Quarta-feira, 02.09.09

Pintura

Óleo sobre tela

 

 

 

Pintura - Alfredo Aquino - Sem título (Série Apenas Pintura), Óleo sobre tela (Porto Alegre RS Brasil), 2009

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publicado por ardotempo às 14:53 | Comentar | Adicionar

Cara do Brasil

Sr. Brasil no Theatro São Pedro 

 

Hoje é o dia do aguardado show de Rolando Boldrin em Porto Alegre. Cara do Brasil.Será às 21 horas no Theatro São Pedro (Praça da Matriz, s/nº) no centro de Porto Alegre. O Sr. Brasil cantará canções e contará causos para seus fãs e admiradores. Dia de dar um abraço forte ao querido amigo.

 

 

 

© Rolando Boldrin - Cara do Brasil - Fotografia de Pierre Yves Refalo  

publicado por ardotempo às 14:41 | Comentar | Adicionar
Terça-feira, 01.09.09

Obrigado, José Saramago

 Exit Saramago

 

José Saramago despediu-se hoje da blogosfera, embora não coloque de parte um regresso pontual ao seu Caderno, caso as circunstâncias o justifiquem. É uma pena. Embora não fosse um blogger no sentido que normalmente lhe atribuímos (pelos motivos que enumerei aqui), era uma voz singular e muitas vezes desarmante, a voz de um Nobel que não precisa, objectivamente, disto para nada mas que teve a generosidade e a humildade de se expor diariamente (a si, à sua escrita, às suas ideias) diante do mundo infinitamente aberto, mas por isso também devorador e implacável, da Internet.

 

Por tudo o que nos ofereceu no Caderno, mas sobretudo pelo gesto de partilha, insisto em dizer: obrigado, José Saramago. Saber que a ausência online reverte a favor da escrita de um novo livro não deixa de ser um consolo.

 

José Mário Silva - Publicado no blog Bibliotecário de Babel

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publicado por ardotempo às 15:57 | Comentar | Adicionar

Blogs são como estrelas

Uma pena, o fim do blog de José Saramago
 
José Saramago despediu-se hoje de seu blog. Uma pena, vamos sentir sua falta, a falta de seus textos imponentes e lúcidos. Os blogs são assim, de repente deixam de existir. São maravilhosos e frágeis, os blogs. Não têm apoios, não têm sustentabilidade econômica, quase sempre não tem nenhuma divulgação pelas plataformas que os abrigam. São luz e conhecimento, são convívios secretos entre os que os fazem e os que os consultam diariamente. Como a vida, podem extinguir-se a qualquer momento, pode nem haver o pretexto de que se vai escrever um livro. Isso é para quem escreve bem, já ganhou um Prêmio Nobel e recolhe o tempo restante para sua própria tarefa singular. Escrever livros. Blogs podem parar de repente, no dia 31 de agosto, no dia 12 de outubro, 17 de outubro ou 31 de outubro. Basta um gesto, uma abdicação, um piscar de olhos, um alçar de sobrolhos. A vida é curta, os blogs mais curtos ainda. Pena aos que ficam, aos que procuram e consultam blogs em busca de sentido para objetos e gestos no contexto da vida e da escrita, por esse fazer despreendido e audaz. 
 
Sentiremos sua falta no blog, José Saramago, até o dia em que resolvamos parar também. Nesse dia, o do pequeno suspiro do blog, a sua paralisação será sem notícia nem testemunhas porque os comentários são tão poucos que implicam em fantasmas inaudíveis de promessas desarticuladas. Talvez, de fato, seja melhor apenas ler alguns livros. 
 
Despedida
 
José Saramago
 
Diz o refrão que não há bem que sempre dure nem mal que ature, o que vem assentar como uma luva no trabalho de escrita que acaba aqui e em quem o fez. Algo de bom se encontrará neste textos, e por eles, sem vaidade, me felicito, algo de mal terei feito noutros e por esse defeito me desculpo, mas só por não tê-los feito melhor, que diferentes, com perdão, não poderiam eles ser. Às despedidas sempre conveio que fossem breves. Não é isto uma ária de ópera para lhe meter agora um interminável adio, adio. Adeus, portanto. Até outro dia? Sinceramente, não creio. Comecei outro livro e quero dedicar-lhe todo o meu tempo. Já se verá porquê, se tudo correr bem. Entretanto, terão aí o “Caim”.
 
P. S – Pensando melhor, não há que ser tão radical. Se alguma vez sentir necessidade de comentar ou opinar sobre algo, virei bater à porta do Caderno, que é o lugar onde mais a gosto poderei expressar-me.
publicado por ardotempo às 04:58 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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