Segunda-feira, 31.08.09

Sapatos

Estante de sapatos

 

 

 

 

Gilberto Perin - Fotografia - Arquibancada (Esteio RS Brasil), 2009

publicado por ardotempo às 15:51 | Comentar | Adicionar

A justiça no Brasil é para uns e para outros

Um é muito rico, o outro é muito pobre
 
A Justiça é cega
 
O que é o que é?
 
Tem tromba de elefante, corpo de elefante, presas de elefante, patas de elefante, caminha como um elefante, mas não é um elefante, segundo o Supremo Tribunal Federal?
 
É o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci depois de livrar-se da denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República contra os suspeitos pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.
 
Decisão judicial não se discute, cumpre-se”, repetem os que consideram errada uma sentença, mas preferem calar a respeito.
 
Decisão judicial se discute, sim, ora essa. Juiz não é infalível.
 
A infalibilidade do Papa só se tornou dogma em 1817. Mesmo assim se restringe às questões e verdades relativas à fé e à moral. Acata-se decisão judicial. Mas quando possível se contesta junto à própria Justiça.
 
Francenildo foi caseiro de uma mansão em Brasília frequentada por prostitutas de luxo, Palocci e ex-assessores da época em que ele foi prefeito de Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
 
Desconfia-se que ali também rolavam negócios sujos. Nunca se investigou.
 
Em depoimento na CPI dos Bingos do Senado, um motorista que servira à turma de Ribeirão Preto havia dito ter visto Palocci na mansão várias vezes. Palocci jurou jamais ter ido lá.
 
Descoberto pelo jornal O Estado de S. Paulo, Francenildo contou que flagrara Palocci na mansão de 10 a 20 vezes. A entrevista foi publicada no dia 14 de março de 2006.
 
No dia 16, Francenildo renovou a acusação na CPI. "Vou morrer dizendo isso", enfatizou.
 
Só pôde falar na CPI porque chegou com atraso ao Senado liminar concedida pelo ministro Cezar Peluso em ação impetrada pelo PT proibindo Francenildo de depor.
 
No mesmo dia, pelo menos seis órgãos do Estado, entre eles a Polícia Federal e a Receita, se ocuparam em devassar a vida de Francenildo.
 
Um empregado da jornalista Helena Chagas confidenciara à ela que Francenildo procurava uma casa para comprar. Como poderia ter tanto dinheiro para isso?
 
A informação bateu nos ouvidos do senador Tião Viana (PT-AC), que a repassou a Palocci, que convidou Helena para um encontro.
 
Palocci perguntou a Helena se o empregado dela toparia depor contra Francenildo. Helena respondeu que não.
 
Às 19h, no Palácio do Planalto, Palocci reuniu-se com Jorge Mattoso, presidente da Caixa Econômica. Em seguida foi para casa e Mattoso voltou ao prédio da Caixa.
 
Às 20h, Mattoso entregou a um assessor o CPF e o nome completo de Francenildo. Saiu para jantar em um restaurante.
 
Dali a uma hora, Mattoso recebeu do assessor um envelope pardo com os extratos bancários de Francenildo, dono de uma conta na Caixa e de depósitos que somavam R$ 38,860,00.
 
Estava consumado o crime de quebra do sigilo bancário.
 
Ainda no restaurante, Mattoso atendeu a um telefonema de Palocci. Foi ao encontro dele. Palocci examinou os extratos. Que no dia seguinte foram parar na sucursal da revista ÉPOCA.
 
Pouco depois das 19h do dia 17, a revista postou os dados em seu site junto com a explicação de Francenildo sobre a origem do dinheiro – uma doação do empresário Eurípides Soares da Silva, seu pai.
 
Eurípides confirmou a doação, mas negou que fosse pai de Francenildo.
 
A tentativa de desacreditar o caseiro, sugerindo que ele fora subornado para mentir, acabou desmontada até as 22h. A mãe de Francenildo admitiu que ele era filho bastardo do empresário. O próprio Eurípides confessou que dera dinheiro a Francenildo para não ter que reconhecê-lo como filho.
 
Por que fizeram isso comigo?” – queixou-se Francenildo. "Por que não fizeram com o ministro?"
 
Porque “a corda sempre arrebenta do lado do mais fraco”, conferiu o ministro Marco Aurélio de Melo, um dos quatro votos vencidos na sessão do Supremo da semana passada. Cinco colegas dele rejeitaram a denúncia contra Palocci. Não viram indícios suficientes de sua participação na quebra do sigilo.
 
Sobrou para Mattoso, que será o único processado pela quebra do sigilo bancário do caseiro.
 
Para a Justiça, o elefante da história é ele.
 
Quanto a Palocci, poderia ter denunciado Mattoso ao receber dele extratos que ele nega ter encomendado. Afinal, estava diante de um ato criminoso.
 
 Ignora-se por que não o fez "!" 
 
 
Ricardo Noblat - Publicado no Blog do Noblat 
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publicado por ardotempo às 15:36 | Comentar | Adicionar

O silêncio é fácil

 
Um rectângulo de papel rugoso
 
José Mário Silva
 
 
Tens a fotografia nas mãos. A velha fotografia. À esquerda, o contorno das dunas, o brilho fosco da areia, o mar apenas sugerido, três gaivotas de asas abertas, nuvens imensas a encher o céu. Ao centro, numa espécie de penumbra, a casa: alvenaria batida pelos ventos, janelas rasgadas diante do furor oceânico, vigas de madeira carcomidas pela humidade salina, restos de cal e de um esplendor antigo. 
 
À direita, a imensa sombra da lagoa, o pinhal estendendo-se terra adentro – voraz – e com ele o princípio da estrada de todos os regressos, de todas as despedidas.
 
Olhas para o pequeno rectângulo de papel rugoso, agora cheio de riscos, amarelado nas pontas. Quem captou aquela imagem morreu há muitos anos. A casa já não existe; é só areia, corrosão, ruínas. E aquele que tu foste, dentro da casa, também desaparece aos poucos, devorado pela máquina ferrugenta da memória, perdido nesse passado que se vai tornando difuso, frágil e inútil.
 
Sabes muito bem o que o tempo faz às coisas. Monta o cerco. Expande o deserto. Seca por fora e por dentro. Transforma tudo em pó. Nada lhe resiste. Nada. Nem sequer a imagem de uma casa frente ao mar que alguém, um dia, com paciência e nitrato de prata, fixou. Nem sequer esta velha fotografia que se desfaz, aos poucos, nas tuas mãos demasiado gastas.
 
Segues agora, com o olhar, cada uma das linhas da imagem que se desvanece, as gradações de um preto e branco cada vez mais submerso na irrealidade das coisas extintas. Percorres, às cegas, as fronteiras de um mapa imaginário: o mar escondido, as paredes onde a cal nunca se demorava, o crepúsculo violento atravessando as salas, as tábuas de madeira que rangiam nas noites de ventania, a bruma sobre a lagoa, vozes saindo da escuridão com a forma do teu nome.
 
Acendes, uma última vez, a memória. Ficas à espera. Mas a memória calou-se. As vozes não regressam, não há ninguém que te chame neste agora que veio depois de tudo o que se apagou, não há variações dentro da brancura espessa do esquecimento. A névoa engoliu tudo. Já não há azul, já não há verde, já não há ouro, já não há prata.
 
Ainda assim, a fotografia continua entre os teus dedos. Intacta. Olhar para ela tornou-se uma violência. O que foi belo, magoa. O silêncio devora-te. O vazio é uma faca apontada ao coração. Sabes que nunca ninguém virá, nunca mais. Por isso aproximas do lume o rectângulo de papel rugoso. E vês arder tudo aquilo: a casa, o mar, as nuvens imensas, a tua infância.
 
 
© José Mário Silva - Efeito Borboleta 
publicado por ardotempo às 13:36 | Comentar | Adicionar

Gravura em metal

Carborundum

 

 

 

Maria Inês Rodrigues - Gravura em metal / Relevos sobre chapa de cobre em técnica de carborundum (Porto Alegre RS Brasil)

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publicado por ardotempo às 13:30 | Comentar | Adicionar

Arte Maior

Anselm Kiefer vai morar e criar sua obra em Portugal
 
Um dos maiores artistas plásticos da actualidade, o alemão Anselm Kiefer, vai fixar-se em Portugal, para criar uma "floresta cultural" numa extensa herdade no Litoral Alentejano, foi hoje anunciado.
 
O pólo cultural que vai ser criado perto da Comporta, no concelho de Alcácer do Sal, pretende ser um "centro de atracção pública" e foi negociado com o Governo e com o município local. "Portugal ficará, assim, a contar com uma grande centro cultural e turístico de excepcional qualidade de projecção internacional, (...) o primeiro envolvendo o nosso país e um grande criador mundial de nacionalidade não portuguesa", refere o texto enviado à Lusa. 
 
Anselm Kiefer, 64 anos, tem obras nos maiores museus do mundo, caso do Arte Moderna de Nova Iorque, Gugenheim, de Bilbao (Espanha), Centre Pompidou (Paris) e foi o segundo artista contemporâneo vivo a integrar a colecção permanente do Louvre, também na capital francesa. O primeiro foi Georges Braque, cerca de 50 anos antes. 
 
Com uma obra que vai além das artes plásticas, concebeu, dirigiu e encenou a ópera comemorativa dos 20 anos da Ópera da Bastilha, em França. Em 2008, recebeu o Friedenspreis der Deutschen Buchhandels - um do prémios de maior prestígio na Alemanha, pela primeira vez atribuído a um artista plástico. 
 
Kiefer chega a Portugal vindo de França, onde ao longo de 14 anos e num espaço de 100 hectares, em Barjac, criou um importante conjunto de obras. 
 
A opção por Portugal significa que o artista alemão terá "declinado múltiplos convites alternativos, alguns deles formulados por países europeus".
 
Considerado um dos mais conhecidos artistas de sucesso do pós-guerra, mas também dos mais controversos, Anselm KIefer tornou-se conhecido pelas suas pinturas de materiais (materialbilder) e na sua obra confronta-se com o passado e aborda temas tabu bastante controversos, como a época nazi. 
 
Um dos seus quadros mais famosos é "Margarethe", em que utiliza na tela óleos e palha, e se inspira no poema "Todesfuge" (Fuga da Morte) de Paul Celan. 
 
Nos media da Alemanha, trava-se há muitos anos uma controvérsia em torno do real valor da sua obra, que já teve incursões pela mitologia alemã e pela mística judaica, a chamada Kabbala. 
 
Além de quadros, Kiefer criou aguarelas, fotos e embutidos de madeira e também esculturas. Os seus mísseis e aviões de chumbo, e uma biblioteca formada por álbuns (fólios) de chumbo, intitulada "60 milhões de ervilhas", estão também entre as obras de Kiefer mais conhecidas.
 
 
 
Imagem: Anselm Kiefer - Quarto de madeira - Pintura - Óleo sobre tela
 
Publicado no Ipsilon 
publicado por ardotempo às 12:50 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Manequins em Porto Alegre

Voluntários da Pátria

 

 

 

 

Leopoldo Plentz - Fotografia - Manequins / Bundas da Voluntários da Pátria (Porto Alegre RS Brasil), 2005 

publicado por ardotempo às 12:37 | Comentar | Adicionar

Manequins em São Paulo

Cinturas baixas

 

 

 

 

Itaci Batista - Fotografia - Manequins / Barriguinhas (São Paulo SP Brasil), 2009

publicado por ardotempo às 02:27 | Comentar | Adicionar

Manequins na Tunísia

Vestidos longos

 

 

 

Gilberto Perin - Fotografia - Manequins / Bocas Vermelhas (Tunísia), 2009 

publicado por ardotempo às 02:23 | Comentar | Adicionar

Iluminando o olhar

Dois fotógrafos
 
Os olhares dos fotógrafos agem de duas formas: iluminando o mundo em que vivemos e levando-nos a ver de maneira diversa aquilo a que o olhar se acostumara.  Duas exposições podem ilustrar essa ação. 
 
A primeira, por ordem alfabética, é a de Gilberto Perin, no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (Porto Alegre RS Brasil), denominada Conexões Infinitas. Seu olhar é refinadíssimo. Trabalhando com os melhores meios digitais contemporâneos, Perin vai-nos mostrando cidades e espaços comuns, até triviais; digamos: na aparência são fotos de um flâneur que visita o Oriente, a Europa, Porto Alegre, Nova York. Mas isto só à primeira vista.
 
 
 
 
Quando paramos sem pressa frente aos painéis, as fotos vão revelando pormenores, circunstâncias que provocam pequenas epifanias, nas quais está presente um saudável toque de humor e de sabedoria. Há uma foto, Os frades, realizada em Roma, que vale por um tratado teológico; três sorridentes e jovens religiosos divertem-se com a câmera na praça de São Pedro, Roma, enquanto repartem um lanche, composto de bolachinhas industrializadas e sucos de supermercado. Há outra que, pelo insólito, nos conquista: um homem desce por uma rua da Alfama. A verticalidade dos prédios faz um pendant com a figura longilínea do homem. Uma bênção visual.
 
O outro fotógrafo é Roberto Schmitt-Prym, cuja exposição virtual já é disponível em www.e-design.com.br/fotografia [inaugurará em 2010 a exposição “real” na Aliança Francesa], intitulada Cenários da Memória. Liga-se ao trabalho de Perin pelo fato gerador das fotos: o tema da visita e do flâneur. Só que, aqui, em Schmitt-Prym acontece, no material primário, uma intervenção profunda, obsessiva. As imagens sobrepõem-se, e são várias, dezenas para cada foto. A partir daí, há interferência da cor, quase sempre única. O resultado é perturbador: sabemos que o cenário existe, podemos localizá-lo em nossas lembranças, mas já não é o mesmo. Poder-se-ia destacar, como exemplo, a fachada principal de Notre-Dame de Paris. Multiplicam-se as portas, os santos do pórtico, a dizer que são inúmeros. O mesmo se pode dizer do Castel Sant’Angelo, luzindo ao sol de Roma.
 
 
 
 
Eis, em resumo, algo das mostras de Perin e Schmitt-Prym. Na obra de ambos fotógrafos, instaura-se aquilo que é o propósito da arte: tornar estranho o que é quotidiano e, se possível, ensinar a viver melhor. São exposições imperdíveis.
 
Luiz Antônio de Assis Brasil  
Imagens: © Gilberto Perin - Os frades - Fotografia (Roma Itália), 2009
             © Roberto Schmitt-Prym - Castel Sant'Angelo (Roma itália)
 
Publicado em Zero Hora
publicado por ardotempo às 02:01 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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