Domingo, 28.06.09

Nós y nosotros

Uma conversa com o escritor Aldyr Garcia Schlee

 

No dia 11 de julho acontecerá na Livraria Palavraria, no bairro Bom Fim em Porto Alegre RS, uma conversa direta do grande escritor Aldyr G. Schlee com o seu público. Será no sábado, a partir das 18h30, no acolhedor espaço da livraria-café.

 

Schlee falará sobre literatura - a sua escrita - especialmente sobre os seus dois novos livros, ainda inéditos e ansiosamente aguardados pelo seu imenso público leitor e admirador: o romance DON FRUTOS e NOS LIMITES DO IMPOSSÍVEL - Contos Gardelianos. 

 

Conversará também sobre a literatura de outros grandes autores e sobre sua experiência de tradutor, do português ao espanhol e vice-versa. Os autores sobre quem falará serão Mario Benedetti e Simões Lopes Neto.

 

Uma extraordinária possibilidade de reencontrar o grande escritor e desfrutar dessa oportunidade única de ouvi-lo, dar-lhe um abraço e obter um autógrafo do escritor, recluso voluntário em sua biblioteca no Capão do Leão, concentrado ao universo da literatura.

 

 

Nós y nosotros

Aldyr Garcia Schlee

Dia 11 de julho (sábado) 18h30

 

 

Palavraria - Livraria-Café
Rua Vasco da Gama, 165 - Bom Fim
90420-111 - Porto Alegre 
Telefone 051 32684260
palavraria@palavraria.com.br

 

publicado por ardotempo às 23:09 | Comentar | Adicionar

“Enquanto houver avós”

 
 
Isolde Bosak
 
Zéta, a bruxa do norte havia se mudado
para uma velha casa de pedra.
No seu jardim plantado de cores,
mágicas sementes plantadas
viravam palavras.
 
(Você já viu semente virar palavra,
ou palavra virar semente?)
 
Formigas de dia vinham, 
de noite caracóis iam, 
e nada mais agradava à bruxa Zéta 
do que olhar a cobra Cobra 
quieta na toca.
 
 
Do sul viria a bruxa Zô,
visitar sua amiga do norte,
vassoura nova e vontade forte,
atravessou o oceano,
esse era o secreto plano.
 
A viagem foi tranquila, 
alguns urubus ciumentos 
quiseram tirar proveito, 
jogar seus excrementos,
mas a velha bruxa, 
com seu olho de holofote 
espantou os agourentos
colocando-os a espanar 
nuvens de grande porte, 
de gases fedorentos.
 
A bruxa Zéta morava num lugar com rios,
cachoeiras, grutas e casas antigas.
Logo quis revelar um segredo, 
já que há séculos se conheciam e eram amigas.
 
 
Foram serelepes a passear
rumo às cavernas milenares, 
onde todos os ares
são antigos como o mundo, 
no seu inicio estelar.
 
A entrada para a caverna onde o segredo
a desvendar seria colocado à luz do dia,
um mistério antigo, um verdadeiro enredo,
Zeta sorria, Zô tão curiosa, quem diria! 
 
Desceram centenas de metros 
dentro da cova,
escadas de pedra 
mostravam onde 
o segredo se esconde, 
entre fungos e escuridão, 
da parede sombria,
no fundo do inverso torreão,
pingos de ouro escorriam!
 
 
Eis que, a bruxa Zeta,
tocando estes pingos com os dedos,
fez saltar estrelas, pequenos brilhos,
com asas e sinos.
 
Os brilhos recém-nascidos, caindo, dançando,
letrinhas pulsantes.  
Todos tem nome com A, B, C e aí por diante.
 
Então, esse era o segredo!
Nada de sapos, lagartos ou
pó de degredo!
 
O que seria senão bruxaria?
A mais pura lenda, mistura
de história com
as horas da infância,
que, em ultima instância,
 
faz com que, aos poucos, na vida,
se escolha uma sina.
 
Seguir como purpurina,
ou ser criança, 
de verdade, como Helena,
Marcelus ou Jo, Gabriel,
Antonio ou Nina.
 
 
© Isolde Bosak - Texto e ilustrações 
publicado por ardotempo às 21:27 | Comentar | Ler Comentários (8) | Adicionar

Investimento

O Bolsa Ditadura tornou-se uma indústria
 
Elio Gaspari
 
Se alguém quisesse produzir um veneno capaz de desmoralizar a esquerda sexagenária brasileira dificilmente chegaria a algo parecido com o Bolsa Ditadura.
 
Aquilo que em 2002 foi uma iniciativa destinada a reparar danos impostos durante 21 anos a cidadãos brasileiros transformou-se numa catedral de voracidade, privilégios e malandragens. O Bolsa Ditadura já custou R$ 2,5 bilhões à contabilidade da Viúva. Estima-se que essa conta chegue a R$ 4 bilhões no ano que vem. Em 1952, o governo alemão pagou o equivalente a R$ 11 bilhões (US$ 5,8 bilhões) ao Estado de Israel pelos crimes cometidos contra os judeus durante o nazismo.
 
O Bolsa Ditadura gerou uma indústria voraz de atravessadores e advogados que embolsam até 30% do que conseguem para seus clientes. No braço financeiro do pensionato há bancos comprando créditos de anistiados. O repórter Felipe Recondo revelou que Elmo Sampaio, dono da Elmo Consultoria, morderá 10% da indenização que será paga a camponeses sexagenários, arruinados, presos e torturados pela tropa do Exército durante a repressão à Guerrilha do Araguaia. Como diria Lula, são 44 "pessoas comuns" que receberão pensões de R$ 930 mensais e compensações de até R$ 142 mil. Essa turma do andar de baixo conseguiu o benefício muitos anos depois da concessão de indenizações e pensões aos militantes do PC do B envolvidos com a guerrilha.
 
O doutor Elmo remunera-se intermediando candidatos e advogados. Seu plantel de requerentes passa de 200. Ele integrou a Comissão da Anistia e dela obteve uma pensão de R$ 8.000 mensais, mais uma indenização superior a R$ 1 milhão, por conta de um emprego perdido na Petrobras. No primeiro grupo de milionários das reparações esteve outro petroleiro, que em 2004 chefiava o gabinete do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh na Câmara. O Bolsa Ditadura já habilitou mais de 160 milionários.
 
É possível que o ataque ao erário brasileiro venha a custar mais caro que todos os programas de reparações de todos os povos europeus vitimados pelo comunismo em ditaduras que duraram quase meio século. Na Alemanha, por exemplo, um projeto de 2007 dava algo como R$ 700 mensais a quem passou mais de seis meses na cadeia e tinha renda baixa (repetindo, renda baixa). Na República Tcheca, o benefício dos ex-presos não pode passar de R$ 350 mensais.
 
No Chile, o governo pagou indenizações de 3 milhões de pesos (R$ 11 mil) e concedeu pensões equivalentes a R$ 500 mensais. Durante 13 anos, entre 1994 e 2007, esse programa custou US$ 1,4 bilhão. No Brasil, em oito anos, o Bolsa Ditadura custará o dobro. O regime de Pinochet matou 2.279 pessoas e violou os direitos humanos de 35 mil. Somando-se os brasileiros cassados, demitidos do serviço público, indiciados ou denunciados à Justiça chega-se a um total de 20 mil pessoas. Já foram concedidas 12 mil Bolsas Ditadura e há uma fila de 7.000 requerentes.
 
Os camponeses do Araguaia esperaram 35 anos pela compensação. Como Lula não é "uma pessoa comum", ficou preso 31 dias em 1979 e começou a receber sua Bolsa Ditadura oito anos depois. Desde 2003, o companheiro tem salário (R$ 11.239,24), casa, comida, avião e roupa lavada à custa da Viúva. Mesmo assim embolsa mensalmente cerca de R$ 5.000 da Bolsa Ditadura. (Se tivesse deixado o dinheiro no banco, rendendo a Bolsa Copom, seu saldo estaria em torno de R$ 1 milhão.)
 
O cidadão que em 1968 perdeu a parte inferior da perna num atentado a bomba ao Consulado Americano recebe pelo INSS (por invalidez), R$ 571 mensais. Um terrorista que participou da operação ganhou uma Bolsa Ditadura de R$ 1.627. Um militante do PC do B que sobreviveu à guerrilha e jamais foi preso, conseguiu uma pensão de R$ 2.532. Um jovem camponês que passou três meses encarcerado, teve o pai assassinado pelo Exército e deixou a região com pouco mais que a roupa do corpo, receberá uma pensão de R$ 930.
 
Nesses, e em muitos outros casos, Millôr Fernandes tem razão: "Quer dizer que aquilo não era ideologia, era investimento?"
 
Publicado no Blog do Noblat 
publicado por ardotempo às 21:08 | Comentar | Adicionar

O impasse das aparências

Formação 
 
José Saramago
 
Não ignoro que a principal incumbência assinada ao ensino em geral, e em especial ao universitário, é a formação. A universidade prepara o aluno para a vida, transmite-lhe os saberes adequados ao exercício cabal de uma profissão escolhida no conjunto de necessidades manifestada pela sociedade, escolha essa que se alguma vez foi guiada pelos imperativos da vocação, é com mais frequência resultante dos progressos científicos e tecnológicos, e também de interessadas demandas empresariais. Em qualquer caso, a universidade terá sempre motivos para pensar que cumpriu o seu papel ao entregar à sociedade jovens preparados para receberem e integrarem no seu acervo de conhecimentos as lições que ainda lhe faltam, isto é, as da experiência, madre de todas as coisas humanas.
 
Ora, se a universidade, como era seu dever, formou, e se a chamada formação contínua fará o resto, a pergunta é inevitável: “Onde está o problema?” O problema está em que me limitei a falar da formação necessária ao desempenho de uma profissão, deixando de lado outra formação, a do indivíduo, da pessoa, do cidadão, essa trindade terrestre, três em um corpo só.
 
É tempo de tocar o delicado assunto. Qualquer acção formativa pressupõe, naturalmente, um objecto e um objectivo. O objecto é a pessoa a quem se pretende formar, o objectivo está na natureza e na finalidade da formação. Uma formação literária, por exemplo, não apresentará mais dúvidas que as que resultarem dos métodos de ensino e da maior ou menor capacidade de recepção do educando. A questão, porém, mudará radicalmente de figura sempre que se trate de formar pessoas, sempre que se pretenda incutir no que designei por “objecto”, não apenas as matérias disciplinares que constituem o curso, mas um complexo de valores éticos e relacionais teóricos e práticos indispensáveis à actividade profissional. No entanto, formar pessoas não é, por si só, um aval tranquilizador. Uma educação que propugnasse ideias de superioridade racial ou biológica estaria a perverter a própria noção de valor, pondo o negativo no lugar do positivo, substituindo os ideais solidários do respeito humano pela intolerância e pela xenofobia. Não faltam exemplos na história antiga e recente da humanidade.
 
Aonde pretendo chegar com este arrazoado? À universidade. E também à democracia. À universidade porque ela deverá ser tanto uma instituição dispensadora de conhecimentos como o lugar por excelência de formação do cidadão, da pessoa educada nos valores da solidariedade humana e do respeito pela paz, educada para a liberdade e para a crítica, para o debate responsável das ideias. Argumentar-se-á que uma parte importante dessa tarefa pertence à família como célula básica da sociedade, porém, como sabemos, a instituição familiar atravessa uma crise de identidade que a tornou impotente perante as transformações de todo o tipo que caracterizam a nossa época. A família, salvo excepções, tende a adormecer a consciência, ao passo que a universidade, sendo lugar de pluralidades e encontros, reúne todas as condições para suscitar uma aprendizagem prática e efectiva dos mais amplos valores democráticos, principiando pelo que me parece fundamental: o questionamento da própria democracia. Há que procurar o modo de reinventá-la, de arrancá-la ao imobilismo da rotina e da descrença, bem ajudadas, uma e outra, pelos poderes económico e político a quem convém manter a decorativa fachada do edifício democrático, mas que nos têm impedido de verificar se por trás dela algo subsiste ainda.
 
Em minha opinião, o que resta é, quase sempre, usado muito mais para armar de eficácia as mentiras que para defender as verdades. O que chamamos democracia começa a assemelhar-se tristemente ao pano solene que cobre a urna onde já está apodrecendo o cadáver. Reinventemos, pois, a democracia antes que seja demasiado tarde. E que a universidade nos ajude. Quererá ela? Poderá ela?
 
 
 
 
José Saramago - Publicado no Caderno de Saramago
Fotografia de Mário Castello - Congresso - Fotografia (Brasília DF Brasil), 2005
publicado por ardotempo às 20:38 | Comentar | Adicionar

O futuro é um desejo

Um leitor de e-books, please
 
 
Para quem faz da leitura intensiva a sua actividade principal, há nos dias que correm uma tentação tecnológica quase óbvia: o leitor de e-books. Eu até nem sou muito de gadgets.
 
Nunca me deslumbrei com os telemóveis topo de gama, tipo BlackBerry à la Barack Obama ou iPhone com trezentas aplicações diferentes (dos programas que permitem controlar o orçamento mensal, cheios de gráficos e dicas, ao miraculoso Brushes, que nos torna Picassos instantâneos e «deu» a Jorge Colombo a sua primeira capa da New Yorker).
 
Nunca pedi ao Pai Natal o último portátil da Apple nem um GPS para me orientar nas ruas de Lisboa ou nas rotundas da província. Contento-me com o que é básico, com o que é elementar, com o que é mais simples. Tanto assim que comprei um smartphone há cerca de um mês – com ecrã táctil, mais as milhentas funções que os smartphones hoje nos oferecem (mesmo os baratuchos) – e ainda mal o utilizei. A verdade, confesso, é que não tive tempo de ler o manual de instruções. E porquê? Porque a minha profissão é ler intensivamente, sim, mas livros, não manuais de aparelhos electrónicos.
 
E isto leva-me de volta à questão dos e-books. Com a quantidade de livros que as editoras me fazem chegar todos os dias, a minha casa assemelha-se cada vez mais a um labirinto de papel. Estantes ajoujadas, pilhas periclitantes no corredor, caos bibliográfico. Por muito que goste de me sentir uma ilha rodeada de livros por todos os lados, há um limite físico para esta invasão imparável (sobretudo quando não posso dispor, como alguns felizardos, de um apartamento à parte para a biblioteca pessoal). Um dia, deixará de haver espaço. Mesmo. E antes que esse dia chegue, tenho que tomar medidas. Uma é ser mais selectivo quanto ao que entra.
 
Outra é expulsar o que nem sequer devia ter entrado. E a terceira, a mais simples, é justamente comprar um leitor de e-books. Para fazer download das obras que me interessam mas não faço questão de ter nas prateleiras, claro. Mas sobretudo para evitar um crime ecológico: a impressão, em resmas de folhas A4, dos ficheiros pdf com que as editoras revelam aos críticos literários os romances que só vão para a gráfica umas semanas depois.
 
Mais do que uma tentação, o leitor de e-books transformou-se para mim numa necessidade. Espero aliás levar um, carregadinho, já nas próximas férias (com a vantagem adicional de diminuir substancialmente o peso das bagagens).
 
Texto publicado no blog Bibliotecário de Babel, de José Mário Silva / "A minha tentação", do Semanário Económico - Lisboa Portugal 
publicado por ardotempo às 20:10 | Comentar | Adicionar

Retratos Notáveis - 35

O bibliófilo

 

 

 

Fotografia: Retrato de José Mindlin (São Paulo SP Brasil) - 2008

Fotógrafo: Mário Castello  

publicado por ardotempo às 15:32 | Comentar | Adicionar

Albertina - a caixa-forte das artes, inundada

Agua, robot y arte
 
 
Hasta el miércoles, el Albertina, fascinante caja fuerte de las obras de algunos de los mayores maestros de la historia del arte como Durero, Rembrandt, Rubens, Picasso, Monet o Schiele, era admirado como el museo con el depósito más moderno y seguro del mundo. Pero el agua acabó con el mito. Dos mil litros inundaron el búnker gigantesco que se construyó bajo el bastión del palacio barroco Albertina metiendo el miedo en el cuerpo a los responsables del museo vienés y, de paso, a todos los aficionados al arte.
 
El famoso depósito del Albertina, cuya construcción en 2003 costó más de cinco millones de euros, dispone de un sofisticado sistema electrónico que gestiona tanto el control de cambios de temperatura como las actividades físicas de archivo y vigilancia de la colección. "Parecía el lugar más seguro contra riesgos de incendios o de robos, y a nadie se le hubiera ocurrido pensar que algo tan ridículo como la filtración de agua pudiera suponer un peligro", dijo el director del Albertina, Klaus Albrecht Schröder, quien reconoce ahora que no ha sido una buena idea dejar el irreemplazable tesoro completamente en manos de un robot.
 
El caudal del Danubio y de otros ríos de Europa Central aumentó en los últimos días a raíz de las torrenciales lluvias, causando numerosas inundaciones en la región. En principio no había motivo para temer por el museo Albertina, situado en pleno casco histórico de Viena y lejos del río. Pero el miércoles, poco antes de las nueve de la mañana, sonó la alarma automática del depósito del museo. Unos tres minutos más tarde el personal se llevó un susto cuando entró en el almacén, que es "como una inmensa catedral de 140 metros de largo, 16 de ancho y 15 metros de altura", según la descripción de Schröder. El suelo estaba cubierto por dos o tres centímetros de agua. Había más de 2.000 litros, "como unas 200 bañeras llenas", en palabras del director del museo. Varias cajas de cartón que protegen las láminas de arte ya estaban reblandecidas.
 
Schröder sostiene que ninguna de las obras sufrió daños. No obstante, urgía ponerlas a salvo, no sólo del agua sino del aumento de la humedad atmosférica. Pero durante siete horas no se pudo hacer nada. No era posible sin ayuda del robot, que en ese momento hubo que desconectar por riesgo de cortocircuitos en los conductos de corriente de 380 voltios necesaria para su funcionamiento. Schröder admite que sus nervios estaban de punta al ver el tesoro en peligro y sentir durante siete largas horas toda la impotencia del mundo... por culpa de una computadora.
 
Las gigantescas estanterías del búnker vienés no sólo son altísimas, sino que carecen de corredores por donde puedan acceder seres humanos. Únicamente hay lugar para los brazos mecánicos del robot, porque de esta forma el almacén puede dar cabida a más de un millón de cuadros y además garantiza un sistema de climatización con mínimo gasto de energía. Normalmente, basta programar el sistema ideado por la empresa Ecolog para que, en apenas unos minutos, el robot sirva en bandeja las obras requeridas sin necesidad de presencia física humana.
 
En la evacuación ha vuelto a funcionar el sistema electrónico. "Basta teclear en el programa un nombre, 'Klimt' por ejemplo, para que el robot nos entregue de inmediato el total de sus obras del almacén". Las obras más valiosas, desde los picassos hasta los dureros, fueron las primeras en ser puestas a salvo. En las tareas de salvamento participaron todos los empleados del Albertina, con ayuda de unas 70 personas contratadas de una empresa de transporte de obras de arte, secundadas por un amplio dispositivo de la policía.
 
El fallo, según Schröder, no era de este sistema electrónico, sino de la coraza de hormigón. Se supone que el agua se filtró por las fisuras de las tapas del techo que dan a una terraza. Él mismo explicó que el defecto concreto no ha sido identificado aún, que la evacuación de las 950.000 obras tardará todavía unos 10 días y que, para empezar, serán trasladadas a otros recintos del mismo museo y luego se verá si es necesario almacenarlas por un periodo de tiempo más largo para reparar los daños de la construcción. "Los costes de un año en otros almacenes podrían elevarse a más de medio millón de euros", dijo el director.
 
Pero esta Operación Albertina de evacuación de casi un millón de obras de arte tiene un precedente, y ocurrió aquí mismo. El museo vienés vio en peligro su colección en 1992, cuando se incendió la sala Redoutenaal del Palacio Imperial Hofburg, situado a su lado. Entonces, las obras fueron puestas a salvo en tiempo récord en los sótanos de la Biblioteca Nacional de Austria.
 
Publicado em El País
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publicado por ardotempo às 15:23 | Comentar | Adicionar

Tapumes

Praça de guerra
 
Daniel Escobar
 
Na semana passada recebi alguns amigos do Brasil e convidei-os para um passeio a pé por Lisboa. Esta é uma das melhores formas de se conhecer a cidade. Basta ter um pouco de disposição para enfrentar as ladeiras e o calor de mais de 30 graus que faz agora no verão. Atravessamos a zona da Baixa e eu seguia com os dedos cruzados conforme nos aproximávamos do Arco Triunfal da Rua Augusta. Mas de nada adiantou. Não foi desta vez que apresentei aos meus amigos a famosa Praça do Comércio.
 
A Praça, que por aqui é muito mais conhecida pelo seu antigo nome, Terreiro do Paço, está escondida por tapumes há vários meses em função de obras que visam interromper o despejo de poluentes no rio Tejo e revitalizar este espaço que é um verdadeiro símbolo nacional.
 
Ainda me lembro da primeira visita que fiz a Lisboa e da grande sensação de liberdade proporcionada por esta praça - uma das maiores da Europa. Ela abraça o Tejo e abriga gentilmente os imponentes prédios públicos ao seu redor. Do lado oposto ao rio está o grandioso Arco que faz a vez de entrada da cidade. A estátua equestre do rei D. José I, elegante no centro, esforça-se para continuar exibindo-se ao público.
 
A Praça do Comércio de fato não é um lugar qualquer. Antes mesmo de existir, foi para onde o rei D. Manuel I transferiu sua residência, posteriormente destruída pelo terremoto de 1755. A construção da praça coroou o esforço do Marquês de Pombal em reconstruir a cidade devastada. O Terreiro do Paço foi ainda palco de alguns dos principais fatos históricos do país, incluindo o assassinato de parte da última família real reinante em Portugal.
 
A remodelação deste espaço, classificado como Monumento Nacional, que deveria ser algo a ser celebrado, tornou-se uma verdadeira praça de guerra. Um dos principais motivos foi a ausência de um concurso para escolha do arquiteto responsável pela obra, Bruno Soares, nomeado pela Sociedade Frente Tejo.
 
A chuva de críticas avolumou-se quando a Ordem dos Arquitetos rejeitou quase que de forma unânime a proposta de losangos para o piso e a criação de um plano mais elevado em relação ao rio. Some-se a tudo isso a proximidade das eleições locais e temos o caldo político necessário para tornar qualquer obra interminável.
 
O debate tomou conta dos principais jornais do país e enquanto o atual presidente da Câmara de Lisboa (equivalente ao prefeito), António Costa, sofre com os ataques da oposição e da Ordem dos Arquitetos, a cidade perde por não saber ao certo o que fazer com um de seus principais espaços públicos. E perdemos todos nós por sermos privados de poder usufruí-lo.
 
 

Daniel Escobar - Publicado no blog Comboio Lisboa   

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publicado por ardotempo às 15:14 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Drops

No país dos suspensórios
 
Ferreira Gullar
 
Pergunto: pode continuar fazendo leis quem não as respeita? Lei é para os outros...
 
Um número considerável de bandidos presos recentemente (por assalto a banco, sequestro, latrocínio) estava em ação ou por efeito de progressão da pena ou de prisão albergue ("trabalham" de dia e voltam para dormir na prisão) ou estavam em liberdade graças a habeas corpus, isto é, por decisão de algum juiz. A última notícia é que Elias Maluco, o assassino do jornalista Tim Lopes, em breve ganhará as ruas valendo-se da decisão do Supremo que concedeu o benefício de progressão da pena aos autores de crimes hediondos. Por isso é que muitos policiais dizem que a tarefa arriscada, que cumprem, de prender bandidos, equivale a enxugar gelo.
 
Dezoito deputados estaduais do Paraná tiveram a carteira de motorista cassada pelo Detran, tantas foram as transgressões que cometeram. Carli Filho, como se vê, é apenas um exemplo entre muitos. Então, pergunto: pode continuar fazendo leis quem não as respeita? Sabe-se agora que o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, também do Paraná, teve sua carteira cassada por excesso de multas. Lei é para os outros...
 
Para o governo, praticamente não há inflação mas, segundo a Maria, minha secretária, o leite longa vida subiu de R$ 1,70 para R$ 2,80 ou R$ 3; o leite em pó, de R$ 4,50 para R$ 5,40 ou R$ 6,20; o açúcar, de R$ 0,80 para R$ 2,50; o tomate, R$ 1,50 para R$ 2,80 ou R$ 3. Isso me lembra uma época distante, quando os índices de inflação divulgados pelo governo eram sempre mais baixos que a inflação real; é que, para calculá-los, incluía o preço dos suspensórios e de outros artigos que já quase ninguém comprava. Quais serão os suspensórios de hoje, não sei, mas que entram nos cálculos da inflação não tenho dúvida.
 
Com apoio do Ministério da Igualdade Racial, transita no Congresso um projeto de lei que obriga a contratação de 10 por cento de negros como modelos dos desfiles de moda e de atores nos filmes de publicidade. E os índios, não têm direito a cota? A impressão que dá é de que os defensores da igualdade racial estão tratando os índios de modo desigual.
 
Cismado que sou com o mal uso do nosso idioma, gostei de ouvir, por duas vezes um locutor de televisão dizer que alguém, acidentado, "não corre risco de vida", em vez de "não corre risco de morte", expressão forjada por algum redator obtuso. Naquela noite, fui dormir aliviado.
 
Em mais um desastrado pronunciamento, Lula opinou contra os que, no Irã, acusam de fraudada a vitória de Ahmadinejad. Afirmou que, como no futebol, aquilo era choro de derrotado. A verdade é que as manifestações continuaram. Custa crer que tanta gente insista em enfrentar a brutalidade da repressão policial, sem ter sérias razões para isso. Muitos governos democráticos condenaram a repressão, que prendeu e matou manifestantes. Obama disse ter dúvidas quanto à lisura do pleito. Lula, não, está com Ahmadinejad e não abre.
 

 
© Ferreira Gullar - Publicado na Folha de São Paulo / UOL
publicado por ardotempo às 15:01 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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