Domingo, 31.05.09

Apenas Pintura - Abertura da exposição no dia 02 de junho

Apenas Pintura

 

 

 

 

 

 

 

 

Alfredo Aquino

Pinturas recentes - (Óleo sobre tela)

Sala O Arquipélago - 1º andar

Centro Cultural CEEE Erico Verissimo

Rua dos Andradas, nº 1.223

Centro - Porto Alegre RS

 

De 02 de junho a 1º de julho de 2009

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publicado por ardotempo às 18:08 | Comentar | Adicionar

O tempo dentro do tempo

Fotografia

 

 

 

Itaci Batista - Fotografia - Alfaite na Vila Mariana (São Paulo SP Brasil), 2009 

publicado por ardotempo às 15:55 | Comentar | Adicionar

Monsieur Hulot - O gato fuleiro

O gato fuleiro

 

publicado por ardotempo às 15:25 | Comentar | Adicionar

O roque da dama

A gripe da Dilma
 
Ferreira Gullar
 
Este não é um assunto novo mas, a cada dia, ganha novos contornos e exige novas avaliações. Por isso mesmo, em face dos acontecimentos que se sucedem, fica evidente que a candidatura da ministra Dilma Rousself à Presidência da República -que já está abertamente admitida pelo presidente Lula e pelo seu partido - tornou-se uma espécie de bomba-relógio que pode explodir a qualquer momento; ou, mais precisamente, que tanto pode explodir amanhã como daqui a um mês ou daqui a um ano.
 
Não tenho nenhuma informação de cocheira a revelar. Tudo o que pretendo é tentar ver clara a situação criada, depois que se soube da doença da ministra. Uma doença grave, que tanto pode ser detida pelo tratamento a que ela se submete, como não, já que se trata de um câncer que surgiu no sistema imunológico e, por isso, não pode ser extirpado: a esperança dos médicos -e de todos nós- é que a quimioterapia o extinga definitivamente.
 
Isso no plano das possibilidades terapêuticas. No plano político, essa incerteza se transforma em indisfarçável problema, uma vez que o que está em jogo é o poder central do país. Por isso mesmo, a incerteza quanto ao desdobramento desta situação, aumenta na medida em que novos fatos ocorrem. Por exemplo, as dores nas pernas da ministra que a obrigaram a correr para São Paulo, internar-se no hospital e submeter-se a urgentes exames.
 
Pode-se imaginar o pânico que tal situação provocou em todo o governo e seus aliados. Ninguém sabia a causa daquelas dores, nem os médicos que, no final, afirmaram ter sido efeito da quimioterapia. Será verdade ou não? Se for verdade, isso indica que, de qualquer modo, a ministra Dilma talvez não tenha condições de enfrentar uma fatigante campanha eleitoral. Ou terá? Pode ser que tenha, mas, como é impossível afirmá-lo com indiscutível certeza, a insegurança se instala.
 
Em função disso, surgem as discussões e as divergências. Pelo sim, pelo não, um setor do PMDB decidiu dar curso a um projeto que possibilitaria uma segunda reeleição do presidente Lula. Sim, porque, se a candidatura da Dilma naufragar, só resta a Lula (ao PT e aliados) recandidatar-se. O projeto prevê um plebiscito, no estilo Chávez que, segundo o PSDB, não passaria no Senado.
 
Mas há uma questão que vem antes disso: a própria apresentação do projeto, que esvaziaria a candidatura da ministra. E por aí se vê o "dilema retrós", em que Lula e sua turma se encontram: os dias se passam, o limite para inscrever candidaturas termina em setembro próximo, dentro de apenas quatro meses, e ninguém pode apostar se a candidata terá condições de se manter candidata e muito menos de enfrentar durante meses uma estafante batalha eleitoral. Mas que fazer? A alternativa seria a candidatura de Lula, que exigiria mudar a Constituição. Vamos admitir que, convencido da inviabilidade da candidatura Dilma, ele aceitasse esta alternativa. Mas, e se a proposta for rechaçada no Congresso? Ficariam ele e sua turma no mato sem cachorro.
 
Como já dissemos, ninguém tem certeza de nada mas a opinião de Lula, conforme se deduz de suas declarações, é manter a candidatura de Dilma, dê no que der. Pelo menos por enquanto. Por isso, quando surgiu a notícia de sua urgente internação no hospital Sírio-Libanês devido às dores nas pernas, ele garantiu: "A Dilma está curada, ela não tem problema nenhum". E o PT, seguindo a voz do dono, reafirmou seu apoio à candidatura da ministra.
 
 
Ela, de fato, não tem problema algum; só um câncer linfático, que exige, para ser tratado, uma quimioterapia muito violenta, a tal ponto que não pode ser administrada senão através de um cateter, nas artérias coronarianas, mais resistentes. Daí os fortes efeitos colaterais após cada aplicação.
 
Mas Lula não tem muita escolha. Se a cada fato novo, que ameaça a candidatura de Dilma, ele se mantiver calado, estará admitindo a sua inviabilidade. E a coisa chega a tal ponto que, após ter ela declarado que iria reduzir sua participação nos eventos políticos, ele, lá dos quintos da Turquia, imediatamente reagiu: "Quando a gente fica em casa, por doença, a gente fica mais doente. A gente tem que espantar qualquer doença. Nesse negócio, mulher é especialista. Qualquer homem,quando tem uma gripezinha, já quer ficar deitado. Você nunca viu uma mulher deixar de trabalhar por causa de gripe ou deixar de cuidar do filho por causa de gripe".
 
Pois é, assim como ele a obrigou a ir para a TV revelar sua doença, quer agora obrigá-la a manter-se no palanque, já que está apenas gripada.
 

© Ferreira Gullar - Publicado na Folha de São Paulo / UOL 

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publicado por ardotempo às 15:20 | Comentar | Adicionar

Paisagem urbana

As ruas de Porto Alegre

 

 

 

Porto Alegre RS Brasil, 2009 

publicado por ardotempo às 15:17 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Em busca da direção certa

Austrália
 
António Lobo Antunes
 
Deitava-me na relva dos canteiros e ficava horas a olhar o céu entre as árvores. De início parecia imóvel e depois enchia-se de vida, aproximava-se e afastava-se consoante as folhas tremiam e eu espantado que as folhas tremessem por não existir vento. O coração demasiado rápido dos pássaros assustava-me, impedindo-me de lhes tocar. Insectos incompreensíveis, cheios de patas e antenas, joaninhas que essas sim, entendia, o suspiro de papel de seda das roseiras, eu eterno, a China eterna, o cão invisível que ladrava ao longe eterno, tudo eterno. Ladrava uma espécie de tosse, contra quem? O pombal por fora verde, por dentro poeirento e escuro, a que faltavam tábuas. Sinos às vezes, para além do muro baldios, quintas, um burro a ajoelhar-se. Os comboios eternos também ou então foi o mundo que parou por falta de corda. Estive tuberculoso, lembro-me de não comer, de atirar para o chão os brinquedos que me traziam, não lembro mais nada acerca disso. Sonhos em que queria fugir sem conseguir correr, todos passavam por mim e eu parado. Se não há nem um sopro qual o motivo dos braços da trepadeira oscilarem? A maior parte das coisas não tinha nome nem precisava dele. Porque carga de água temos nome, nós?
 
No outro lado da rua um homem sai de uma porta, some-se noutra. Eu a escrever isto e ele a sair de uma porta e a sumir-se noutra: se calhar a outra engoliu-o dado que não o vejo mais. Agora nuvens muito altas, idênticas àquelas de quando me deitava nos canteiros: não mudaram, as nuvens, julgo que as mesmas de antes de eu nascer, de antes toda a gente nascer. Nos momentos difíceis penso na serra, acalmo: essa acho que nasceu comigo ou existe apenas quando tenho saudades dela. Um duende de gesso acolá, num quintal: olá duende, és tão feio, de barrete pintado de encarnado, de casaco pintado de azul e o encarnado e o azul a empalidecerem, vai-lhe faltando a tinta, uma manhã destas dou por ele outra vez e branco. O duende sorri. De mim?
 
Olá duende que sorris de mim, contentíssimo. Um inverno qualquer, com a chuva, lágrimas de gesso no sorriso, o barrete uma lágrima pelo corpo abaixo, deitam-no fora, compram outro com o mesmo barrete, o mesmo casaco, a mesma alegria, deitam este no balde: só os duendes não são eternos, o resto, a China, o cão, eu, sem fim. Gostava dos bêbados, da sua ternura
 
- Menino, menino 
 
cheia de ameaças, de como tudo se tornava dificultoso para eles, a esbarrarem nos gestos, a escalarem degraus inventados numa concentração demorada, a baralharem as pernas, ora numerosas, ora uma apenas, ora compridas, ora curtas, ora em simultâneo curtas e compridas, como se pode tomar conta de um corpo tão inesperado não mencionando as ideias difíceis e a hostilidade das paredes que fingem lançar-se contra eles e lhes escapam. Olha, afinal o homem que desapareceu na porta voltou com uma camisa diferente, a abotoar-se ainda, a desentender-se com um dos punhos, a subir a manga para examinar melhor, a conseguir. O duende não está sozinho, tem uma rã de loiça a três metros, enorme. Não tarda nada dá um salto e come-o. Passa um sujeito de cabelos brancos, a baloiçar as chaves do automóvel, nem um cabelo fora do sítio, a risca perfeita. Ao contrário do duende não sorri, deve ser casado, a amiga da mulher que protesta
 
- Nunca mais sais de casa
 
tem ar de estar metido num molho de brócolos, como é que eu resolvo o assunto agora, vou aguentando isto, mando as duas à fava, ainda por cima as prestações da casa, ainda por cima uma colega da minha filha e eu a deixar-me ir, vontade de largar tudo e ir caçar morsas para o Pólo Norte, a gente mete-se em cada uma, porra, tu que és meu amigo o que achas e o amigo não acha ou acha que tens de fazer como os fulanos do circo, com uma mesa comprida cheia de paus com pratos a rodarem em cima e o fulano de um lado para o outro a esforçar-se para manter a loiça a girar, mas o das chaves não se imagina a manter a loiça a girar muitos meses, não tarda um prato escapa-me e depois, o amigo e depois o melhor é fazeres como eu, fugires dos cacos, se largares uma delas a gaja assanha-se, arrebanha as outras, juntam-se todas contra ti, emigra para a Austrália a contar cangurus, o sujeito de cabelos brancos começa a suar, com as chaves do automóvel amolecidas na mão, quem me manda ser parvo, nunca mais aprendo, a ver se tiro os pratos a pouco e pouco e no entanto, dentro dele, a certeza agora é tarde, agora é tarde e eu na relva dos canteiros a olhar o céu entre as árvores, insectos incompreensíveis, cheios de patas e antenas, oiço o suspiro de papel de seda das roseiras, um sino, o cão que ladrava uma espécie de tosse contra quem, o senhor José a consertar o pombal à martelada, um comboio eterno, sempre no mesmo sítio e sempre a ir, na estação vazia uma balança e um relógio enorme, horários que se descolam, o cartaz de uma tourada ainda, às vezes o meu pai cantava a fazer a barba, punha o creme de um boião no cabelo e o pente dele pegajoso, de uma das três janelas da casa de banho via-se a mesa de tampo de pedra junto ao muro, o sujeito que baloiça as chaves do automóvel sobe a rua agora, cruza-se com uma mulata, volta-se, mais um prato para manter a girar no seu pau, torna a subir a rua, torna a voltar-se, desiste do prato e do pau, some-se, o céu enchia-se de vida, aproximava-se e afastava-se consoante as folhas tremiam e eu espantado que as folhas tremessem por não existir vento, o meu coração mais rápido que o dos pássaros, joaninhas que essas sim, entendia, um burro a ajoelhar-se, um burro ajoelhado fitando-me, quer dizer não fita ninguém, o sujeito entrou no automóvel
 
(escuto-lhe o motor)
 
à procura, em cada esquina, de uma seta que lhe indique a Austrália: talvez o resto de gasolina no depósito chegue.
 
muitos meses, não tarda um prato escapa-me e depois, o amigo e depois o melhor é fazeres como eu, fugires dos cacos, se largares uma delas a gaja assanha-se, arrebanha as outras, juntam-se todas contra ti, emigra para a Austrália a contar cangurus, o sujeito de cabelos brancos começa a suar, com as chaves do automóvel amolecidas na mão, quem me manda ser parvo, nunca mais aprendo, a ver se tiro os pratos a pouco e pouco e no entanto, dentro dele, a certeza agora é tarde, agora é tarde e eu na relva dos canteiros a olhar o céu entre as árvores, insectos incompreensíveis, cheios de patas e antenas, oiço o suspiro de papel de seda das roseiras, um sino, o cão que ladrava uma espécie de tosse contra quem, o senhor José a consertar o pombal à martelada, um comboio eterno, sempre no mesmo sítio e sempre a ir, na estação vazia uma balança e um relógio enorme, horários que se descolam, o cartaz de uma tourada ainda, às vezes o meu pai cantava a fazer a barba, punha o creme de um boião no cabelo e o pente dele pegajoso, de uma das três janelas da casa de banho via-se a mesa de tampo de pedra junto ao muro, o sujeito que baloiça as chaves do automóvel sobe a rua agora, cruza-se com uma mulata, volta-se, mais um prato para manter a girar no seu pau, torna a subir a rua, torna a voltar-se, desiste do prato e do pau, some-se, o céu enchia-se de vida, aproximava-se e afastava-se consoante as folhas tremiam e eu espantado que as folhas tremessem por não existir vento, o meu coração mais rápido que o dos pássaros, joaninhas que essas sim, entendia, um burro a ajoelhar-se, um burro ajoelhado fitando-me, quer dizer não fita ninguém, o sujeito entrou no automóvel
 
(escuto-lhe o motor)
 
à procura, em cada esquina, de uma seta que lhe indique a Austrália: talvez o resto de gasolina no depósito chegue.
 
 
 
 
© António Lobo Antunes

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