Cabeça de mulher
Fotografia colorizada
Man Ray - Cabeça de mulher - Fotografia P&B, colorizada à mão com pigmentos e lápis de cor, assinada pelo artista (Paris - França), 1935
Fotografia colorizada
Man Ray - Cabeça de mulher - Fotografia P&B, colorizada à mão com pigmentos e lápis de cor, assinada pelo artista (Paris - França), 1935
O repórter investigativo
Com o olhar voltado para a cidade, para o conjunto da sociedade, para a ética, para o interesse público e para os acontecimentos aparentemente triviais, o repórter conta a vida e traz a consciência para a história de uma comunidade. Revela o que todos enxergam sem ver e aponta as luzes sobre as sombras escondidas de uma realidade obscura e mal-disfarçada. Faz a investigação e mostra a todos o comportamento de alguns e os malefícios que se constróem à vista de todos e que, apesar disso, quase ninguém vê. Como afirma o repórter de televisão Daniel Scola, "a reportagem é a vida real".
Giovani Grizotti é o repórter televisivo sem imagem. Por razões de qualidade na profissão e por necessidade de proteção, em virtude da contundência e profundidade de suas reportagens, vencedor de mais quarenta prêmios jornalísticos (entre eles vários dos cobiçados Prêmios Esso de Telejornalismo). Ele preserva confidencialmente as suas fontes, a sua autonomia, a sua liberdade de ação e a sua integridade física. Jamais subiu num palco para buscar um prêmio. Não permite fotografias de seu rosto, não aparece no vídeo. Apenas a sua voz em locução off.
É necessário. Precisa se disfarçar às vezes, fazer-se passar por outra personagem como se fosse um ator, para obter a noticia real, crua, escancarada, na defesa tácita de uma sociedade que se vê muitas vezes indefesa frente a opacidade de atuação das autoridades responsáveis pela sua defesa. As regras e as leis existem, são boas e suficientes mas não são cumpridas. A imprensa muitas vezes exerce a função fiscalizadora e corrige as falhas que o DNA defeituoso dos seres humanos insiste em impor em ganância e em crimes contra o bom senso e o bem comum.
O repórter, temerário, por vezes faz o papel do promotor e do defensor público expondo a realidade e revelando o escândalo do inaceitável, do inimaginável. Começa em algo pequeno, por vezes aparentemente inofensivo e acaba por neutralizar uma grande manobra lesiva à sociedade, em larga escala e em números estratosféricos. Sempre envolvendo o dinheiro público...Casos de desvio de merenda escolar, casos de presídios superlotados e abandonados à própria sorte ou ao azar da gestão dos piores condenados, que administram a ruína carcerária e o crime organizado nos bairros dos cidadãos livres, loteados de dentro das celas desconstruídas, sem grades e sem limites.
A sociedade não sabe, o repórter vê e mostra.
Grizotti mostrou o caso do contrabando que atravessava não mais pela grande ponte, na qual a fiscalização se intensificara em métodos policiais de contenção. Aparentemente eficientes. Ele observou que as mercadorias continuavam à venda clandestinamente nas ruas como sempre estiveram. Como isso era possível? Olhou sob a ponte e viu o ir-e-vir dos barcos. O tráfico continuava ali, irremovível, a solução líquida. Filmou os barcos, fez a travessia, entrevistou os próprios contrabandistas, gravou escondido as imagens e as conversas. Esteve no coração da máfia. Revelou tudo, desde as margens das favelas nos dois lados do rio, bem como navegando os riscos inerentes da superfície interfronteiras.
A coragem e o destemor de olhar as regras, de ser obediente às leis e mostrar como fazem os que as transgridem e as afrontam como hienas vorazes, quando todos ficam de costas ou apenas um pouco de lado, mas cabisbaixos e calados como se o bem público e o dinheiro público não fossem um coletivo que tem origem transparente no trabalho árduo e honesto de todos.
Man Ray - Fotografia - Rayograph / Gelatina, sal de prata e ampliação em papel fotográfico
Arthur Felling Weegee
Foi repórter fotográfico Weegee que criou o termo Cidade Nua, ao referir-se aos dramas cotidianos das grandes metrópole (a partir de Nova York) e consagrou-se como o fotógrafo dos tablóides de Nova York dos anos 30 aos 50. Cometeu uma revolução estética com os furos de suas fotos jornalísticas, criando um estilo próprio de repórter investigativo do cotidiano urbano.
Solitário e destemido, habitava dois lugares em Nova York: uma modesta quitenete na praça do Mercado Central, num pequeno edifício de um quarteirão povoado de armeiros, lojas de armas e de material de caça e pesca; e o seu próprio carro. Na quitinete mantinha uma linha direta, clandestina, com a frequência de rádio da polícia, para saber em primeira mão sobre os crimes e acontecimentos que poderiam render boas fotografias. No carro, como se esse fosse um antepassado pré-histórico dos telemóveis e celulares, conduzia um laboratório ambulante de revelação fotográfica em preto e branco e uma espécie de escrivaninha adaptada com uma máquina de escrever, na qual redigia rapidamente as noticias de impacto, que estariam nas primeiras páginas dos jornais do dia seguinte, fazendo a sua própria pauta.
Dali, da rua mesmo, realizava o seu trabalho antes dos outros fotógrafos e repórteres, chegando sempre à frente de todos, com a notícia viva da arma ainda fumegante.
Fotografias de Arthur Felling Weegee