Domingo, 19.04.09

Fotografia

O repórter policial

 

 

Arthur Felling Weegee - O quarto do fotógrafo - Fotografia / Auto-retrato (Nova York)

Fotógrafo: Weegee

publicado por ardotempo às 20:26 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

A oportunidade (aos amigos) e a crise (para os...)

Crise e consequência
 
Luis Fernando Verissimo
 
"Crise" e "oportunidade" são representadas pelos mesmos ideogramas chineses, como se ouve muito em palestras inspiradoras para empresários. Segundo a velha sabedoria chinesa o azar de uns pode ser a sorte de outros, o que para uns é desastre para outros é benção.
 
Quando querem dar uma idéia da crise econômica na Alemanha durante a república de Weimar sempre recorrem à mesma imagem: a hiperinflação era tamanha que para se comprar um pão na padaria era preciso levar marcos num carrinho de mão. O valor de tudo era medido em carrinhos de mão cheios de marcos, e eram necessários cada vez mais carrinhos de mão para carregar os marcos cada vez mais desvalorizados. Pode-se imaginar os carrinhos de mão engarrafando o transito nas ruas de Berlim. E todos se queixando da situação, dizendo que aquilo não podia continuar, que era preciso um governo forte para acabar com aquilo, que assim não dava mais, etc.
 
Todos, menos o Kurt. O Kurt estava feliz. Enquanto à sua volta os outros perdiam dinheiro e se lamentavam, o Kurt prosperava e exultava. Sua pequena indústria crescera, e não parava de crescer. Em vez de desempregar, Kurt empregava. E enriquecia em meio à crise. Como aquilo era possível? 
 
Kurt, claro, tinha a única fábrica de carrinhos de mão da Alemanha.
 
Li que em Nova York tem uma empresa prosperando como a do Kurt na parábola acima. Ela faz sacolas elegantes mas simples, de aspecto neutro e sem nenhuma inscrição, para substituir as sacolas que as lojas de grife davam para seus clientes levarem as compras. Assim os clientes podem andar na rua sem o risco de serem confundidos com banqueiros de Wall Street, ou suas mulheres, gastando suas gratificações imerecidas pagas pelo contribuinte, enquanto o contribuinte pena. Crise e oportunidade.
 
Na Idade Média era comum os padres mandarem os pecadores jogarem cinza sobre a cabeça, em sinal de contrição, depois de se confessarem. Desenvolveu-se um rico comércio de cinza na saída das igrejas. Em todos os últimos governos do Estados Unidos tinha gente da financeira Goldman Sachs cuidando da economia. Um ex-diretor da Goldman Sachs, Henry Paulson, era o secretário do Tesouro do Bush quando a crise estourou. Receitou ajuda do governo para todos os bancos combalidos, menos para o Lehman Brothers, grande rival do Goldman Sachs, que deixou quebrar. Agora o Goldman Sachs é o primeiro dos combalidos a declarar que saiu da crise. Há quem diga que a primeiro dever de qualquer secretário do Tesouro americano, incluindo o do Baraca, é proteger o Goldman Sachs. Mas é o mesmo tipo de gente maliciosa que desconfiava que a igreja lucrava com o comércio de cinza.
 
© Luis Fernando Verissimo
publicado por ardotempo às 18:23 | Comentar | Adicionar

Pintura - Anselm Kiefer

Pintura / objeto escultórico

 

 

 

 

Anselm Kiefer - Escada - Pintura em óleo, emulsão, acrílica, terra, ferro e escada de concreto armado, fixada sobre painel - 2004

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publicado por ardotempo às 15:07 | Comentar | Adicionar

O dentro sem fora!

Pálido de espanto
 
Ferreira Gullar
 
Quando, aos 13 anos de idade, um professor me falou da teoria de Laplace acerca da origem do sistema solar, minha vida mudou. Mudou o mundo que eu conhecia, que se tornou fascinante e espantoso: uma gigantesca massa de fogo, rodopiando no espaço cósmico, soltara pedaços ígneos que ficaram girando em torno dela, esfriaram e se converteram em planetas, e um deles era este em que vivemos. Descobrira o cosmo e, a partir de então, minha curiosidade só cresceu com os anos.
 
Não é que tenha passado a ler sem parar sobre o assunto, que não é esse o meu feitio. O que mudou foi que, a partir de então, deixei de viver num mundo que parecia ter sido assim desde sempre, para encará-lo como algo em transformação, um conjunto de sol e planetas, que surgira talvez por acaso. E mais do que isso, deixei de ser apenas o habitante deste planeta para me sentir habitante do universo. Por enquanto, não sabia ainda das galáxias com seus bilhões de estrelas.
 
A verdade é que o universo se tornou uma preocupação minha. Ao tomar conhecimento de que só na Via Láctea havia tantos sóis, me perguntei se não poderia haver, girando em torno deles, algum planeta igual ao nosso, habitado como o nosso.
 
Já considerava estranho o fato de que, em nosso sistema solar, apenas a Terra parecia ter vida, já que os outros planetas mais próximos do Sol eram quentes demais e os mais distantes, frios demais. Então, a vida era o resultado de uma feliz coincidência e só existiria na Terra? Não dava para acreditar que essa relação que existe entre o nosso planeta e o nosso Sol não se repetisse em nenhum outro ponto do universo, possibilitando a existência de seres vivos. E como seriam os habitante desses outros planetas? Os filmes de ficção científica tentam responder a essa pergunta inventando "homens" parecidos conosco, terráqueos, com ideias semelhantes.
 
Com a teoria da relatividade, de Einstein, nossa visão mudou ainda mais, o tempo tornou-se material, como o espaço, relativo e curvo como ele, por efeito dos corpos que o ocupam. Depois descobriu-se que o universo está em expansão permanente, com galáxias voando em seus limites a bilhões de anos-luz de distância. E, se ele se expande, é que, no começo, era pequeno e concentrado, aliás, pequeníssimo, dizem que do tamanho de uma bola de tênis.
 
 
Bem, aí discrepo, como diria o nosso saudoso Antônio Houaiss. Se é verdade que existem bilhões de galáxias contendo trilhões de estrelas, num universo que tem a dimensão de, sei lá, 13 ou 18 bilhões de anos-luz, ou seja a distância que a luz percorreria à velocidade de 300 mil km por segundo, durante todos esses bilhões de anos, bem, não dá para acreditar que toda imensidão de matéria e espaço estaria contida numa bola de uns poucos centímetros de diâmetro. Pode até ser verdade mas, que me desculpem os físico-matemáticos, uma tal hipótese me parece tão implausível como a de que a Terra seria uma mesa sustentada por quatro elefantes brancos.
 
Mas teorias são teorias e eu sou mais chegado à hipótese de que o universo sempre existiu, já que, na minha desautorizada opinião não científica, a outra hipótese, de que um dia não havia nada, essa me parece absolutamente absurda. Não consigo pensá-la, sequer. Nem eu nem eles. Apoiam-se em hipóteses matemáticas.
 
Já deve o leitor ter percebido que o Universo é um problemão na minha cabeça. Evito pensar nele porque, quando o faço, caio na fossa. É que ele é grande demais e, então, sinto-me - eu e a humanidade inteira - insignificante, uma microscópica ocorrência eventual numa vastidão espacio-temporal impossível de conceber. E fora do Universo? Não, não pode haver fora, pois ainda seria ele. É o dentro sem fora! E há quem afirme que este é apenas um dos muitos universos que existem, constituídos talvez de anti-matéria, regida por outras leis físicas...
 
E, como se não bastasse, pense só: a estrela que se encontra mais perto de nós está a 25 anos-luz de distância, ou seja, viajando a 100 mil km por hora, uma nave levaria 8 milhões de anos, para alcançá-la. Quando se considera que o Homo sapiens terá surgido há cerca de 100 mil anos, a conclusão inevitável é que o Universo é, a um tempo, real e fora de alcance. Lembra-me aquela porta de uma história de Franz Kafka, que estava aberta para ninguém entrar por ela. Não obstante, caberia imaginar que ele nos criou apenas para ser visto e pensado? Ou é tudo por acaso?
 
Mas basta! Melhor é me entregar à alegria desta manhã de sol que invade minha sala.
 
Ferreira Gullar - Publicado na Folha de S. Paulo / UOL
Pintura de Anselm Kiefer - Universo - Óleo, emulsão, pigmentos, cerâmica, terra e fragmentos diversos, sobre tela - 2003
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publicado por ardotempo às 14:59 | Comentar | Adicionar

Escultura de Antony Gormley

 Instalação / Escultura

 

 

 

Antony Gormley - Firmamento - Escultura / Instalação expansiva: tubos de aço, soldados no local expositivo (Londres - Inglaterra UK), 2008

publicado por ardotempo às 06:15 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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