Produção de Especiais em Televisão
Gilberto Perin
“Quando tudo se tornar igual na era global, o nosso futuro e o futuro de muitos países vai depender do quanto as pessoas se sentirão em casa e se identificarão com aquele lugar. Só as produções regionais poderão dar suporte a isso. No futuro a riqueza de um país não será a riqueza econômica, mas a da identidade própria”. Com esse depoimento do diretor alemão Wim Wenders, que recentemente visitou o Brasil e esteve em Porto Alegre, inicio o nosso encontro.
Obrigado pela presença e pelo interesse na Produção de Especiais em Televisão. Iniciativas como essas são essenciais para aproximar a Universidade e o mercado, misturando teoria e prática; sonho e realidade; nos fazendo pensar e procurando melhorar a sociedade em que vivemos.
No começo era o teleteatro, não tinha videotape, a teledramaturgia tinha a base nos textos teatrais e na experiência dos profissionais de rádio. A TV Piratini, no morro Santa Teresa, em Porto Alegre, teve seus dias de glamour e glória a partir da inauguração em 1959. Três anos depois, em 1962, a TV Gaúcha colocou o sinal no ar com novos e sofisticados equipamentos - para aquela época. Iniciava-se um novo ciclo da dramaturgia eletrônica no Rio Grande do sul, na então TV Gaúcha que depois mudou o nome para RBS TV.
Como o passar dos anos, e com as emissoras regionais se filiando às redes de emissoras nacionais, novas normas de relação com os horários de programação regional foram surgindo. A RBS TV sempre fez questão de preservar os horários regionais, além da área de telejornalismo e esporte. As poucas tentativas de dramaturgia regional desapareceram no final dos anos 1970. Mas ainda foram realizados muitos documentários, com um viés mais jornalistíco, mais próximo das grandes reportagens, do que de documentários com estética e conteúdo específicos.
Nos anos 70, 80 e 90, as pessoas ligadas à comunidade de produção cultural não desistiram de fazer música, teatro, artes plásticas, cinema, literatura. A luta foi contra a censura, a ditadura, a falta de condições. Dito assim - resumido em três linhas de texto - temos a falsa impressão de que foi apenas uma fase. Não. Foi uma fase difícil, dura, em que perdemos pelo caminho muitos talentos que desistiram; perdemos outros que se foram; mas também foram anos criativos, onde reafirmamos o valor do trabalho em grupo, aprendemos a dar diversas voltas, criando nossas próprias opções para mostrar o trabalho, de prosseguir.
Resumidamente e de uma forma simplista, esse caldo cultural nos permitiu, junto com a vontade e a intenção pessoal de algumas pessoas, permitiu que se criasse um núcleo de trabalho para mostrar um pouco da cultura regional feita no sul.
Permitam que abra um parênteses rápido para opiniar sobre o momento do audiovisual em que passamos.
Diversão, informação, entretenimento sempre estiveram presentes na indústria cultural de todo o Mundo - inclusive antes que ela fosse chamada de indústria cultural. Mas vivemos um momento alucinado de conecções reais, virtuais, onde temos acesso a tudo e onde o níve de retenção das informações e o processo de pensar fica em segundo plano. Ainda, acredito, não sabemos lidar com o grande número de informações diárias que recebemos. O processo de informação e acesso às informações, imagens, obras, é grande e foi tudo muito rápido. Isso, ao mesmo tempo em que nos dá a possibilidade de aproximação com pensamentos, estética e conteúdo mundiais, também, paradoxalmente, cria um distanciamento e um voltatibilidade. Ou seja, o “gosto e não gosto” simples e superficial está regulando esse momento do conhecimento da humanidade - é uma generalização que estou fazendo, claro, mas não menos verdadeira.
Com isso, fico com a impressão de que temos que ver coisas “rápidas”, “divertidas”, “não tristes”, “não elitistas” e outros chavões semelhantes. Nada contra, a diversão, a alegria - quem não gosta e não quer momentos de relaxamento. Mas isso está se tornando uma generalização e pode, se não estivermos atentos, vulgarizar a nossa produção cultural. A televisão, como veículo que atinge a maior parte da população, corre rapidamente para isso e com isso poderemos ter consequências da infantilização da programação, bem rapidamente. Repito: diversão é bom e todos nós gostamos. Mas, vamos entendamos que tem muita coisa que vale a pena e não só o riso pelo riso.
Observem que todo esse movimento que temos no mercado audiovisual com essa janela de exibição que é a televisão, existe há pouco tempo, ainda não foram completados 10 anos. E, outra observação importante, com programas de 15 minutos, uma vez por semana.
Conseguimos sistematizar um esquema de produção. Alice Urbim, Raul Costa Júnior e eu centralizamos o processo inicial de organização desse núcleo de trabalho, depois com o envolvimento de todas as áreas da televisão, como o marketing, departamento comercial.
Agora vou dar algumas informações para que se entenda o nosso processo de trabalho. Temos, basicamente, episódios de ficção (que são aqueles que tem orçamento maior) e documentário (com orçamento menor). Temos várias temáticas, estéticas e conteúdos. Também temos vários formatos de produção. Vejam alguns exemplos de conteúdos produzidos por nós:
Documentário histórico: anualmente, temos uma série com temática sobre a história do Rio Grande do Sul, seja a história tradicional (os conflitos armados que envolveram o Estado: Continente de São Pedro, A Ferro e Fogo, Farrapos) ou a história mais recente, com pontos de vista mais atuais e fatos que ainda não são História mas que, provavelmente, serão parte dela: A Conquista do Oeste - os gaúchos que saíram do estado em busca de novas oportunidades - Na Trilha dos Rios - a convivência dos gaúchos com seus maiores mananciais de água.
Pela formação histórica, étnica e cultural do Rio Grande do Sul, os documentários com conteúdo históricos são muito bem aceitos. Muitos colegas de televisão de outros estados, não entendem como num horário de sábado, 12h20min, é possível colocar no ar numa emissora aberta, um documentário e ter audiência.
Gilberto Perin
Produção de Especiais em Televisão - RBS TV