Os desenhos do Césio - Mostra e livro de Siron Franco

Os desenhos - Césio, Rua 57

 

Em 1987 aconteceu a tragédia da radioatividade vazada em Goiânia, por repulsiva negligência e ignorância daqueles que estavam encarregados de proteger a população e cuidar de sua plena segurança e saúde (onde estarão eles, os culpados silenciosos, neste preciso momento?), o que resultou nas diversas vítimas fatais, as vidas insubstituíveis. Essa sempre será a tragédia pior e incontornável, e o fato, insuportável, ainda estigmatizou a região por muito tempo, causando pânico nos habitantes e medo nos vizinhos distantes.

 

Siron realizou, no calor dos acontecimentos, a grande mostra de pintura -  Césio.

 

Posteriormente, 13 anos após, em 2.000, fez a exposição Vestígios do Césio, em Porto Alegre (Usina do Gasômetro) com os seus objetos escultórios, as camas hospitalares de ferro oxidado, com os maciços blocos de concreto a sufocarem os resíduos das tristes memórias, as mais pungentes e escancaradas daquela tragédia, as que não se faziam esquecer.

 

Agora Siron mostra o conjunto inédito de desenhos realizados em óleo (predominantemente em cor prata) sobre cartão Fabrianno negro, ao mesmo momento em que ele pintava a série Césio, sobre telas, nos meses colados aos acontecimentos, ainda em 1987.  Esses desenhos, documentos estéticos preciosos, agora comporão um livro que está sendo preparado e escrito por Agnaldo Farias, para ser lançado ainda em 2009, em acompanhamento a uma grande mostra desses mesmos desenhos, espontâneos, ágeis e de arquitetura crucial para a série de pinturas que Siron Franco progredia ao mesmo tempo.

 

Siron Franco antecipa a notícia do livro e cede ao blog ARdoTEmpo as imagens de alguns desses desenhos que serão profundamente analisados e descritos no livro pelo curador e especialista em arte contemporânea, Agnaldo Farias, que tem a missão pela letra e luz sobre o conjunto que permacera até então secreto, nos bastidores do ateliê do artista.

 

O professor e crítico de arte contemporânea escreverá sobre o conjunto da obra. Nesses desenhos Siron Franco optou pelo fundo em cartão Fabrianno em cor negra, escolheu o branco e a cor prata para representar graficamente o estágio e presença da contaminação, uma vez que essa foi a aparência fantasmal e fosforescente que revestiu as vítimas e o ambiente, o artista reduziu a paleta cromática a uns poucos tons terrosos e ao amarelo, símbolo de alerta atômico. Estruturou as plantas baixas arquitetônicas dos espaços vetados, os que foram interditados: a casa, a oficina de bicicletas, a quadra, o hospital... Nesse espaço, protagonizaram as vidas alarmadas, as vítimas, as crianças, o cachorro, os animais, os objetos, as salas de atendimento do hospital, tudo o que foi posteriormente neutralizado, oculto,  afundado em volumes de concreto...

 

Veja os desenhos de Siron Franco:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

© Desenhos de Siron Franco - Césio, Rua 57 (Goiânia, 1987)

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