Segunda-feira, 02.02.09

Lá como cá...

Pontal do Estaleiro - Porto Alegre RS - Brasil

O comentário aí embaixo foi feito hoje em Portugal acerca de alguma proposta mirabolante de um complexo de construção em vista, com a promessa facilitadora de geração de empregos e de algum beneficio para a população da cidade. Não sei, não conheço o projeto (nem a que cidade se destina), que gera o comentário forâneo. Mas posso imaginar a cena...A publicidade é de luxo, principesca mesmo. Papel couchê de alta gramatura, verniz UV, tudo muito bem impresso em cores e com efeitos gráficos especiais. Se calhar, dourados e azuis. Isso funciona bem.

Tudo muito bonito...

Absurdamente essas propostas surgem, investidas em fortunas e muitas vezes ao arrepio das leis vigentes e de planos diretores e ambientais, contornando habilmente as limitações legais e os gabaritos pré-definidos. As construtoras sempre desejam mais, além das leis, além das licenças previstas e a especulação corre desenfreada. O comentário a seguir encaixa-se perfeitamente no caso do Pontal do Estaleiro, não? Lá como cá, aparentemente passa o mesmo filme...

 

 
Por falar em argumentos pouco sérios
 
Como já lá existia uma antiga fábrica, nada melhor para requalificar a zona que a construção de um centro comercial com um parque de estacionamento à volta para aí tamanho do estádio da Luz e servido por uma via rápida; "pequenas alterações", dizem.
 
Nunca lhes passou pela cabeça que a melhor maneira de requalificar a zona fosse pura e simplesmente demolir a fábrica, limpar os terrenos e devolvê-los à natureza e às populações, como forma de corrigir uma barbaridade ambiental e aumentar a qualidade (de) vida.
 
Se calhar passar pela cabeça passou, mas e depois a joint-venture construção civil/ partido que é sempre muito útil para financiamentos vários em campanhas várias?
 

José Simões - Publicado no Blog Der Terrorist 

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publicado por ardotempo às 18:23 | Comentar | Adicionar

um.desenho.por.semana.07

 09.fev.semana-01

 

publicado por ardotempo às 04:41 | Comentar | Adicionar

A voz plástica

Publicado no Da Literatura

 

Resenha literária por João Paulo Sousa

 

O primeiro mérito de Carassotaque, novela que Alfredo Aquino publicou no ano transacto, depois de, em 2007, se ter estreado na ficção com o volume de contos A Fenda, é o de construir uma história sólida do ponto de vista da verosimilhança interna, apesar da dimensão aparentemente fantástica da situação que determina a narrativa.

 
Com a acção localizada num país imaginário, cujos habitantes não conseguem ver o rosto uns dos outros (embora essa ausência facial não seja perceptível para os estrangeiros, razão pela qual são designados pela palavra composta que serve de título à obra), a primeira narrativa longa de Alfredo Aquino, editada pela Iluminuras, apresenta-se como uma utopia em construção, como um projecto aberto, em relação ao qual são dadas várias pistas. Antes de mais, o nome do país imaginário, Austral-Fênix, parece especialmente adequado a um espaço onde se pretenda renascer (e este verbo deve ser lido aqui numa dupla perspectiva, de carácter simultaneamente existencial e social).
 
Com efeito, é da tensão relacional entre cada indivíduo e os outros que nos fala o livro, pois a invisibilidade das cabeças tem origem no medo colectivo, induzido, primeiro, por uma ditadura e, depois, por um regime marcado pela corrupção. Cabe ao protagonista desmontar a rede de temor através de fotografias que, pela primeira vez, irão captar a invisibilidade dos rostos dos austral-fenecianos e mostrá-la ao resto do mundo. Assim, a personagem principal chama-se Celan Gacilly, isto é, metade do seu nome vem do poeta de língua alemã que escreveu a célebre Todesfuge e a outra metade coincide com a designação de uma comuna francesa, da Bretanha, conhecida, entre outros motivos, pelo festival anual de fotografia, dedicado à ligação entre os povos e a natureza.
 
O protagonista carrega, portanto, uma transcendência que, de algum modo, perturba a sua assunção como figura individual; embora compreenda a herança ética de que ele, assim, se torna devedor, parece-me excessivo o peso que recai sobre o herói, exigindo-lhe, em demasia, uma atitude exemplar. Como Celan Gacilly cumpre essa solicitação, é a outra personagem, ao seu amigo Antônio Rufino Andorinha, que o leitor ficará a dever a complexidade e o dilema inerentes ao combate contra o medo, rasgando, em alguns momentos, as sequências planas da narrativa.
 
Um exemplo a considerar é a cena em que Antônio se vê atacado por dois cães ferozes; representativa, em parte, da escrita plasticamente expressiva de Alfredo Aquino, esta cena pode ajudar-nos a compreender em que medida, para lá dos mecanismos diegéticos de cariz alegórico, é à nossa condução por esta voz narrativa que se deve o prazer da leitura de Carassotaque:
 
"Os dois pitt bulls arrojaram-se num salto voador como dois torpedos aéreos, um quase ao lado do outro, marrons, as bocas dilacerantes abertas, espargindo as babas, as presas brancas faiscando no menear brutal das mandíbulas em direcção ao rosto e ao pescoço de Antônio, que ainda conseguira, com muita sorte e agilidade, evitar o choque das bestas, e jogar-se para dentro do carro, puxando com violência a porta e conseguindo encerrar-se dentro do veículo. Aterrorizado, travou as portas e ficou caído sobre os bancos, enquanto ouvia um estrondo na porta, os rosnados selvagens e o barulho das garras dos cães, riscando e agredindo a lataria" (pp. 101-102).
 
 

Veja o blog Da Literatura

 

 

ARdoTEmpo: Agradeço o tempo valioso dispendido na leitura, acurada e muito atenta, esplendidamente erudita e livre no vôo da imaginação e do prazer; e na consequente ourivesaria da letra de sua compreensão e na sugestão à leitura de Carassotaque.

Muito obrigado, João Paulo Sousa e Da Literatura. - De Alfredo Aquino

publicado por ardotempo às 02:43 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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