Domingo, 25.01.09

Elogio do Conto - de Alberto Manguel

 

Elogio del cuento
 
Alberto Manguel 
   
No sabemos en qué momento el cuentista supo que lo que contaba sería un género literario. Lo cierto es que en algún momento de nuestra historia el cuento se diferenció del poema, de la novela y del ensayo, y emergió como un género literario distinto para que los profesores universitarios tuvieran de qué ocuparse.
 
Sin embargo, más allá de esas divisiones burocráticas, el lector intuye que el cuento no es novela, que una diferencia que puede medirse (pero no definirse) por el número de páginas, distingue uno del otro. Borges alguna vez dijo que escribía cuentos porque la novela le parecía una exageración. Detrás de la boutade se oculta una verdad literaria: la novela expande la narración, el cuento la concentra. Los mini-relatos de Augusto Monterroso no pueden ser leídos como mini-novelas; el equivalente de esa parodia es, para la novela, la casi interminable Comedia humana de Balzac.
 
El cuento retiene en su nombre sus orígenes sin duda orales, calidad que preservan aún hoy los narradores orales de las plazas de mercado en Marruecos, Colombia, Gabón. La escritura, que todo formaliza (quizás porque nace como un instrumento contable, para sumar o restar cabezas de ganado), empieza desde temprano a dar al cuento artificios y estrategias.
 
Refinándose en fábula, parábola, anécdota, historia humorística o moral, relato erótico, histórico, filosófico, de terror, el cuento adquiere, según su categoría, rasgos particulares que, si bien son reconocidos, los autores del género se empeñan en cambiar. Así las historias de fantasmas ("viejas como el miedo", decía Adolfo Bioy Casares) al principio, en Mesopotamia y Egipto, debieron su eficacia a la mera aparición de un muerto; luego a un muerto transformado en otra cosa, un esqueleto en Roma, una sombra en la Italia de Boccaccio, un zorro en China; finalmente, con los grandes autores del siglo diecinueve el fantasma se reduce a una ausencia, a algo horriblemente real y sin embargo invisible. Cambios similares pueden rastrearse en las otras categorías, nuevas maneras de contar a las cuales el lector rápidamente se acostumbra. Ya en el siglo dieciocho, los lectores de cuentos son tan diestros en el arte de seguir las maniobras del autor, que Diderot se ve obligado a destruir o renovar sus expectativas con un cuento que (imitando al futuro Magritte) titula Esto no es un cuento.
 
El cuento es quizás el más conservador de todos los géneros. Cambia el estilo, el tono, el impacto del final o del comienzo, la posición del narrador, la voluntad fantástica o documentalista, pero no, en términos generales, su forma. Si bien pueden encontrarse ejemplos de cuentos que escapan cabalmente al modelo de narración tradicional (pienso en El joven intrépido en trapecio volante de William Saroyan y en alguno de Raymond Carver), la mayor parte de ellos sigue el consejo del Rey en Alicia en el País de las Maravillas, "Comienza en el comienzo y sigue hasta llegar al final; allí para".
 
Casi no existen cuentos de estructura tan libre como el Tristram Shandy de Lawrence Sterne o Cobra de Severo Sarduy. Y autores como James Joyce y Julio Cortázar, que tan brutalmente renovaron la novela, escribieron cuentos exquisitamente clásicos cuya originalidad se halla en la voz y la temática, o en la aproximación a esa temática, no en la forma misma del cuento.
 
Por absurdas razones comerciales, las editoriales han decretado que los cuentos no se venden. No se venden Poe, Kipling, O. Henry, Chéjov, Katherine Mansfield, Ernest Hemingway, John Cheever, Borges, Silvina Ocampo, Alice Munro, Mavis Gallant. Y sin embargo, más que nunca, los cuentos siguen escribiéndose y, no lo dudo, leyéndose. Tal vez porque, en su clásica, modesta precisión, nos permiten concebir la insoportable complejidad del mundo como una íntima y breve epifanía. 
 
 
 
 
Alberto Manguel - Publicado em Babelia - El País 
publicado por ardotempo às 22:09 | Comentar | Adicionar

Os Gêmeos - Objetos Escultóricos

Instalação

 

 

Instalação / Objetos Escultóricos - Os Gêmeos - Objetos em madeira (Museu Oscar Niemeyer - Curitiba), 2009

publicado por ardotempo às 21:36 | Comentar | Adicionar

Raios!

Porque Obama não deve visitar o Brasil
 
Ivan Lessa
 
Nosso país irmão, os Estados Unidos, não têm mais vagas para mártires. Só se um desastre natural levar Obama (ele já merece nossa intimidade, como o nada saudoso Bush), algo assim como um raio o fulminar. É o caso do novo presidente nunca visitar o Brasil. Não por birra ou pouco caso, mas por cautela.
 
 
Peço perdão por tergiversar. É que foi amplamente noticiado aqui no Reino Unido o fato de que o Brasil, segundo relatório da ONU, conta com o dobro da média mundial de homicídios. Apesar de tudo, ao contrário dos americanos, não temos uma listinha de presidentes assassinados (a saber: quatro a tiros) ou que tenham sofrido tentativa de assassinato.
 
Nenhum presidente brasileiro foi assassinado. Nem a tiros nem a golpe de peixeira. Morreram todos da forma mais natural possível. Pois nós somos assim: naturais pela própria natureza. Sei que me estendo como se estivesse discursando uma posse qualquer minha, mas eu queria era explicar, com a devida clareza, os motivos porque sou contra uma chegada do novo presidente ao nosso país.
 
 
Tem mais. Lideramos o mundo em matéria de raios. Os números são de nosso próprio governo. Segundo eles, 75 pessoas morreram fulminados por raio em 2008. O Instituto Nacional de Pesquisa Espacial, organização acima de qualquer suspeita, afirma que até agora o recorde estava com o ano de 2007, quando 47 morreram de raio. Importante é salientar o fato científico, também divulgado pelo instituto em questão, de que o Brasil recebe, sofre ou acolhe uma média de 50 milhões de raios por ano. Agora, em 2009, na Bahia, quatro já morreram de raio. Quatro. Mesmo número de presidentes americanos abatidos a bala.
 
Raios! É muito raio! Mesmo para um fenômeno que escapa ao controle do mais esclarecido dos governos.
 
Voltando à vaca fria: seria terrível se Obama, numa visita de cortesia a nosso país, fosse atingido, ou tivesse membro de sua comitiva atingida, por um desses 50 milhões de raios.
 
Resta apenas desejar boa sorte ao novo presidente norte-americano e que lhe seja leve o duro caminho que tem pela frente. Um caminho, esperamos todos, sem bandidos à espreita, no solo, ou raios, nos céus.
 
 
Ivan Lessa - Publicado no Blog BBC-Brasil
tags:
publicado por ardotempo às 13:46 | Comentar | Adicionar

um.desenho.por.semana.06

09.jan.semana-04

 

  

publicado por ardotempo às 12:46 | Comentar | Adicionar

São Paulo - Sala São Paulo

São Paulo, 455 anos

 

 

 

Sala São Paulo - Concertos da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) - Fotografia de Eduardo Tardin, 2009

 

Publicado no UOL 

publicado por ardotempo às 12:34 | Comentar | Adicionar

Todos com suas razões, vivendo no Inferno

As razões do ódio
 
Ferreira Gullar
 
O horror que tenho à violência me leva a admitir que o pior dos acordos é melhor que uma guerra. Nem todos o admitem, mesmo porque as coisas não são tão simples quanto podem parecer, já que às vezes mostrar-se disposto a ir à guerra pode ser um fator importante para evitá-la.
 
Desentendimentos que envolvem povos e nações são sempre muito complexos e de difícil superação. E quando remontam a disputas antigas, que já resultaram em mortes e perdas de todo tipo, superá-los é ainda mais difícil. Ir à guerra é mais fácil, mas, na maioria dos casos, também não resolve. O conflito entre Israel e palestinos é exemplo disso: 60 anos de atentados, bombardeios e combates, intercalados de tréguas que levaram a novos massacres, mortes e destruição.
 
No momento em que escrevo, as tropas de Israel começam a se retirar da faixa de Gaza, dando início a uma trégua, de fato inevitável, uma vez que nenhum dos contendores tem capacidade de derrotar definitivamente o outro. Ao contrário do que gostaríamos que ocorresse, essa suspensão das hostilidades tende a ser provisória e vem, não antes, mas depois de perdas lamentáveis. Teremos assim mais uma precária pausa na interminável e sangrenta disputa entre os dois povos.
 
Quem tem acompanhado o desenrolar dessa questão sabe que os dois lados se julgam com a razão e é exatamente por isso que o conflito não termina: "A razão está conosco, eles se apossaram de nossa terra, logo, ou nos devolvem o que é nosso ou seremos obrigados a tomá-lo pela força". Isso, de um lado; enquanto o outro lado argumenta: "Não tomamos nada de ninguém, temos o direito de estar onde estamos e repeliremos toda e qualquer tentativa de nos expulsar daqui". Mas de que adianta ter razão e viver no inferno?
 
Como se sabe, esse conflito começou em 1948, depois que a ONU decidiu pela criação de dois Estados, um palestino e outro judeu, mas os palestinos não acataram essa decisão, alegando que aquele território lhes pertencia desde sempre. Mesmo assim, o Estado de Israel foi implantado, resultando na expulsão de milhares de palestinos. Criou-se a OLP (Organização para Libertação da Palestina) que prometeu "jogar os judeus no mar".
 
Em 1967, Gamal Abdel Nasser, presidente do Egito, liderou uma frente anti-Israel, a que aderiram a Síria e a Jordânia, cujas tropas se preparavam para invadir o território israelense quando foram surpreendidas por uma ofensiva fulminante que as derrotou, resultando na ocupação, pelo Exército israelense, das colinas de Golã, de parte da Cisjordânia e da península do Sinai. Finda a guerra, o governo israelense negou-se a desocupar aqueles territórios, alegando que esse era o modo que tinha de evitar os ataques a seu país. Esse é ainda hoje um dos principais entraves à pacificação.
 
De lá para cá, houve alguns progressos que aliviaram as tensões na região, como o acordo de paz firmado por Israel com o Egito e a Jordânia. Em 1993, foi assinado o Acordo de Oslo, que abriu caminho para o convívio pacífico entre israelenses e palestinos. Alguns territórios foram devolvidos por Israel, inclusive a faixa de Gaza, hoje ocupada pelas forças do Hamas.
Foi a impossibilidade de destruir o Estado de Israel que levou Yasser Arafat a concordar com a criação do Estado palestino e o convívio pacífico com ele. Esta é a posição, hoje, de Mahmoud Abbas, sucessor de Arafat. Os líderes do Hamas não concordam com isso: mantêm-se na posição palestina de 60 anos atrás, exigindo o fim de Israel. Logo, para eles, a paz é inaceitável, pois, como Israel não admite autodissolver-se, só a guerra pode acabar com ele. Mas como, se o Hamas não tem poder militar para isso?
 
Já que essa é a realidade, resta entender por que então, sabendo que sofreria implacável represália, insistiu em atirar foguetes sobre cidades israelenses. Pode-se especular que seu verdadeiro propósito era de fato provocar a reação furiosa de Israel e, com o martírio de sua gente, ganhar o apoio dos países árabes para, assim, como ocorreu em 1967, juntá-los numa frente militar capaz de expulsar os israelenses daquela parte da Terra Santa que lhes pertence.
 
 
Pode ser, pode não ser, mas custa crer que alguém provoque um conflito dessas proporções, sabendo que não o vencerá, apenas para irritar o inimigo. De qualquer modo, a verdade é que, na tentativa de anular as ações do Hamas, Israel fez crescer ainda mais o ódio dos palestinos e desgastou-se diante da opinião pública internacional, particularmente no mundo árabe.
 
A paz parece mais longe ainda.
 
 
© Ferreira Gullar - Publicado na Folha de São Paulo / UOL

 

tags:
publicado por ardotempo às 12:22 | Comentar | Adicionar

António Lobo Antunes na Jornada de Passo Fundo

Deu no blog António Lobo Antunes:

António Lobo Antunes estará na Jornada Literária de Passo Fundo

 
O escritor português António Lobo Antunes foi confirmado como uma das principais estrelas da 13.ª Jornada de Literatura, que ocorre na cidade gaúcha de Passo Fundo, entre 24 e 28 de agosto. Vencedor do Prêmio Camões de 2007 e um dos principais autores em língua portuguesa da atualidade, Lobo Antunes terá a companhia do filósofo francês Pierre Lévy. As presenças foram confirmadas pela coordenadora da jornada, Tânia Rösing.
 
Escritor inquieto - para ele, a perfeição está longe de ser alcançada, daí sua escrita estar sob constante evolução, notadamente subversiva e radicalmente original -, Lobo Antunes é formado em medicina, com especialização em psiquiatria, e foi destacado para Angola entre 1970 e 1973, durante a fase final da guerra colonial portuguesa - experiência que utilizou em vários de seus livros.
 
Neto de brasileiros (a família veio do Pará), Lobo Antunes é autor de sucessos como Cus de Judas, Memória de Elefante e Ontem Não te Vi em Babilônia, entre outros, editados no Brasil pela Alfaguara.
 

Publicado no Blog António Lobo Antunes 

publicado por ardotempo às 11:22 | Comentar | Adicionar

Pintura - Josef Albers

Exposição de Pintura

 

 

 

 

Josef Albers - Quadrados - Pinturas - Óleo sobre tela - Instituto Tomie Ohtake (São Paulo - 2009) Exposição: Cor e Luz - Homenagem ao Quadrado

publicado por ardotempo às 00:28 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

Pesquisar

 

Janeiro 2009

D
S
T
Q
Q
S
S
1
2
3
4
5
6
7
8
9

Posts recentes

Arquivos

tags

Links