Quinta-feira, 18.12.08

Quantas pessoas felizes conheço?

Crónica escrita pelo filho de Calamity Jane
 
António Lobo Antunes
 
Porque carga de água vivemos tão mal? E, se vivemos tão mal, porque carga de água o medo de morrer é tão grande? Quantas pessoas felizes conheço? Porque será que para quase toda a gente o amor é uma questão de prazeres breves e localizados, como dizia, eu que detesto citações, a grande escritora Colette? Ontem, no restaurante onde jantei, uma mesa grande cheia de mulheres e homens: falavam, comiam, riam-se e estavam todos defuntos. Vontade de perguntar-lhes
 
– Sabem que faleceram?
 
Quando digo que falavam refiro-me a que falavam de outros defuntos que não estavam ali, criticavam cadáveres enquanto se decompunham. O mundo dos mortos está cheio de ressentimento e inveja, de crueldade desnecessária. Para quê? Tanta agitação, despeito, rivalidades, emoções minúsculas. No meio disto tudo sou um homem sentado a escrever, com os meus fantasmas em torno, vozes que me segredam, me gritam. E tenho pena das pessoas, acho que o meu sentimento mais fundo é ter pena das pessoas. No bairro onde moro e que não trocava por nenhum outro
 
(não é um bairro, é uma ilha em Lisboa)
 
fui fazendo amizade com criaturas extraordinárias, sem abrigo, doentes mentais, viúvos solitários, pequenos dealers, pequenos comerciantes, um grupo que se dedica a actividades que os jornais chamam marginais. Posso deixar as janelas e a porta abertas que ninguém toca em nada: existe um código de honra implacável, um curioso sentido da amizade e do respeito, uma hierarquia feroz. Violentos e sentimentalões, demorei tempo a entender as suas regras morais, que nada têm a ver com a moral corrente mas que são minuciosamente seguidas: já sentira isso de fora, na época em que frequentei cadeias, sinto agora por dentro. E aceito. Se for preciso defendo-os, do mesmo modo que me protegem a mim. E a pouco e pouco vou fazendo amizade com outros habitantes locais: mulheres de aluguer, travestis, os protectores de umas e outros, um carteirista de mais de setenta e cinco anos que recusa reformar-se, já a arrastar a perninha e todavia de olho vivo e palavra convincente. Antes de me mentir previne
 
– Eu a si não lhe minto
 
para que fique em acta que está a aldrabar. A nossa cumplicidade começou ao pifar-me cinquenta euros: nunca mos devolveu. Suponho que os considera a propina que lhe devia pelas aulas futuras. Se calhar virem à baila os cinquenta euros explica logo
 
– Isso foi antes
 
e considera o assunto resolvido, ou seja consideramos ambos o assunto resolvido. Aliás já me pagou mais que a nota em ice-teas e torradas. Avanço com o dinheiro e ele de mão no ar
 
– Está pago, não me ofenda
 
o fatinho coçado, a indignar-se. As mulheres de aluguer tão miseráveis quase, tão baratas: vinte euros é uma pechincha. Quanto aos travestis ainda não se descoseram comigo, cada qual com a sua zona de patrulhamento mesmo em dezembro,
 
à chuva, vestidos de Barbarella. Os clientes encostam o automóvel, os protectores
 
(– O meu marido)
 
vigiam o que é seu, paternais e duros, de bofetada eficaz. Na semana passada
 
– Não me batas mais, Aires
 
à segunda dose de correctivo, aplicada sem fúria, pedagógica. Nos intervalos da direcção do negócio jogam bilhar, arrumam os automóveis caros em cima do passeio, informam-se
 
– Como vamos de numerário, pequena?
 
eu que ignorava o seu conhecimento da palavra. Cumprimentam-me enquanto o travesti se justifica
 
– Desculpe não lhe ter dado as boas noites, senhor doutor
 
e regressam à sua actividade docente. Se mandassem nas escolas acabava a rebaldaria
 
–  Se eu mandasse nas escolas acabava a rebaldaria
 
e não se alcança o motivo dos partidos não colocarem estes educadores não apenas à frente das escolas mas das diversas repartições do Estado. É impossível não lhes admirar a autoridade natural e o dom disciplinador. Um governo dirigido por rapazes de pulso entrava na linha num rufo e o País enchia-se de numerário, consideração pelo mando e automóveis caros em todos os passeios. Aposto que até a minha mãe aplicava umas carambolas com gosto em compartimentos onde o excesso de fumo torna as garrafas de cerveja invisíveis, percebendo-se vagamente a linha da espuma. Estou aqui a imaginá-la de cigarro na boca a dar giz ao taco, interrogando-me com bons modos
 
– Como vamos de numerário, pequeno?
 
pronta a um estalo rectificativo. Ou a jantar com os carteiristas nos sítios onde janto e em que o peixe é peixinho, o bife bifinho, as batatas batatinhas, mas a conta não continha, conta. E a bola na televisão, empoleirada numa prateleira junto ao tecto. A minha mãe beberia um uísquezinho em copo de balão no fim, servido acima do traço por ser para ela
 
– Acima do traço por ser para si
 
e a narrar os seus problemas existenciais às raparigas de vinte euros. E mais dia menos dia assaltava um bancozito ou preparava a furgoneta para uma caixa multibanco. Ao passar por ela justificava-se
 
– Desculpe não lhe ter dado as boas noites, senhor doutor
 
e continuava, debruçada para um capot, a dar potência às bielas, eficiente e manchada de óleo, tirando chaves inglesas da carteira onde descansavam na companhia de cartões de crédito falsos e de bilhetes de identidade artesanais. Desde criança que sonho ser filho de Calamity Jane.
 
 
 
© António Lobo Antunes
Fotografia de Mário Castello - Lápis para escrever  (São Paulo), 2008

 

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04. Onde está o leitor? Onde está a leitora?

Siron Franco:

 

 

 

Siron Franco - Artista plástico, pintor, desenhista, escultor - Cabeça - Pintura a óleo sobre cartão, 1999 

publicado por ardotempo às 12:23 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Philip Guston: Casaco e sapatos

Litogravura

 

 

 

Philip Guston - Litogravura - Casaco e sapatos (Nova York, USA) 1980

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Quarta-feira, 17.12.08

03. Onde está o leitor? Onde está a leitora?

Luís Augusto Fischer:

 

 

 

 

Luís Augusto Fischer - Escritor, ensaísta, professor de literatura, Prêmio Fato Literário RS 2008 e Prêmio Livro do Ano Açorianos 2008

 

Publicado no blog Pesqueiro

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joalheria.d'.arte-02

Jóias de arte - "Os animais da floresta

 

 

Grande colar em ébano - Arte africana da região de Pemba, norte de Moçambique - África - Colar maconde - Autoria desconhecida - 2007

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Aforismo Borgesiano - 47

Teorias

 

 

 

"É melhor não teorizar, porque logo aparecem uns exemplos ilustres que contradizem a teoria desenvolvida por alguém."

 

©Jorge Luis Borges / Borges Verbal, Emecé Editores – Buenos Aires Argentina

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Terça-feira, 16.12.08

Conto-Carta, de Ignácio de Loyola Brandão

Ignácio de Loyola Brandão

 

 

 

A foto no meio do atlas
 
Querida Tatiana,
 
Ao olhar a fotografia que encontrei no meio do atlas compreendi o que aconteceu. 
 
Uma coisa me intrigou. Como ela foi parar no meio de um atlas dos anos, 30, usado pelos alunos do ginásio, se você nos anos 30 não era nascida e seus pais ainda não tinham se casado? A quem pertenceu esse atlas? Por que estava em minha estante? Empoeirado, páginas faltando (imagine, não tem a Alemanha, nem parte da Rússia), estava jogado no alto, naquela parte onde atiramos livros que não queremos mais e não temos coragem de jogar fora.
 
Por que nos apegamos às coisas?  Que apego teria eu a um atlas que não sei de onde veio, de quem era?  Como a sua fotografia, de um tempo em que nos gostamos tanto, fomos tão felizes, foi aparecer no meio dele, junto aos mapas da China? Logo a China, o país de O Último Imperador, o filme que você tanto curtiu. Foi naquela tarde em que, entrando no cine Marabá, porque sabia que você estaria lá, te flagrei junto com ele. Você se assustou e chorou. Inutilmente, porque fiquei feliz, foi uma tarde feliz, eu estava à sua procura para dizer que estava tudo terminado e quando te encontrei vi que estava mesmo, mas preferi te deixar levar a culpa, porque imaginou que eu ainda gostasse de você e estaria sofrendo e nunca me recuperaria. Você adorava me ver aos teus pés, mas olhei teu rosto e percebi como foi difícil aquele encontro furtivo no escuro do cinema. 
 
Era uma traição – e o que é traição?  Você estava me traindo, ainda que há muito tempo eu te enganasse. Saí dali, você veio atrás, segurou a manga do meu paletó (por que eu estava de paletó numa tarde de terça-feira, no centro da cidade?) e pediu: "Vamos conversar, me desculpe, você vai entender tudo". Respondi: "Entendi, acabo de entender o amor, as mulheres, os homens, a vida, o mundo, a política, o buraco negro da atmosfera!" E você: "Quero te explicar". Mas explicar o que? Eu não queria explicações.
 
Tive medo que explicando você pudesse querer ficar comigo, quisesse estar bem, sem remorsos, amarguras. Era uma coisa que eu não podia suportar. Empurrei, você caiu na poltrona de couro vermelho do hall, uma poltrona anacrônica, toda estourada. Por que foi naquele cinema que cheirava a mofo? Para se esconder? Nunca vai saber como soube que você estava lá e espero que tenha passado esses anos todos remoendo, cheia de ansiedade. Nunca saberá que gostei de te castigar, ainda que eu merecesse o castigo, traí antes, há muito não gostava de você. 
 
Nunca saberá como descobri o seu endereço nesse spa que na verdade é um asilo. Sei que está nele, passo todos os dias pela frente, te vejo ao sol, com o mesmo jeito altaneiro (usei essa palavra no primeiro dia que nos encontramos e você gostou, lembra-se?). Você sempre foi mulher determinada, brava às vezes, risonha outras, cheia de altos e baixos, cheia de surpresas, carinhosa hoje, raivosa amanhã. Esse teu jeito me encantava, me deixava siderado (usei essa palavra no momento em que te recebi do teu pai  no altar, na hora do casamento, e você riu: “Cada palavra que você usa”, disse). 
 
Não achou engraçado: te recebi do teu pai? Estou escrevendo às pressas, escrevendo mal, repetindo muito você, você, logo eu, que tinha estilo para escrever. A bic está se acabando, não tenho dinheiro para comprar outra e o papel  é o saquinho da padaria. Percebeu? Mas quem se importa com estilo, se aquela tarde em que te vi no cinema me marcou, me acompanhou, não sai de dentro de mim?
 
Nunca reparou, no seu banco ao sol, em um homem que pelo lado de fora se agarra às grades do jardim, esperando que você olhe para ele, lembre-se de quem tirou a foto que estava dentro do atlas? Nessa foto você sorri, bebendo Frascati, uma garrafa que fui buscar correndo, porque fazia calor, você suava na têmpora, tinha a pele úmida, o vestido se colava ao seu corpo. Bati a foto e nela você está quase nua. Você roubou a cópia, disse que não era conveniente que eu ficasse com ela, podia mostrar aos meus amigos, ao pessoal da escola. Foi no recreio, antes da aula de química que a foto passou para você e nunca mais a vi. 
 
Agora, reencontrei nesse atlas em que há mapas de países que não existem mais. Quando essa foto saiu de suas mãos e como foi parar em um atlas em minha estante? Se eu conseguisse entender isso entenderia também o que aconteceu entre nós. De que adianta entender?  Quando entendimento melhorou o mundo? Quero que saiba que ninguém é mais bonita do que você, dentro desse asilo. Quer sair dele? 
 
Beijo do
 
Amoroso
 
 
© Ignácio de Loyola Brandão - Cartas / Lettres - Iluminuras, 2005

 

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Desenho de Jean Dubuffet

(...o que já não existe, permanece como uma genial obra de arte.) 

 

 

 

Máquina de escrever III - Jean Dubuffet - Desenho a marcadores ponta de feltro e esferográficas coloridas, sobre papel (Nova York - USA), 1964

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Ora, sapatos...

 

 

 

Sapatos
 
A um homem jogam-se os sapatos.
E se todos na sala lhe atirassem os sapatos?
E se nas ruas por onde passasse 
arremessassem-lhe todos os sapatos?
Mas o homem nunca caminha por ruas,
tampouco vê vitrines, vitrines com sapatos.
 
O homem atira outras coisas, em outras pessoas, 
noutros lugares bem distantes 
e nem calcula o quanto isso lhe custa.
Vê na tv os cartazes com sapatos,
vê os seus próprios sapatos e não entende
o que esses lhe dizem.
 
No mundo todo, muitos têm sapatos, 
alguns têm milhares de sapatos
e a maioria nem tem sapato nenhum.
 
O homem, em que se jogam os sapatos,
talvez preferisse estar por um momento descalço, 
mas nisso não pensa, nem seria possível.
 
 
Cartaz: No Go - Seymour Chwast (Push Pin Studios) - 1998
 

 

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02. Onde está o leitor? Onde está a leitora?

Emmanuel Tugny:

 

 

Emmanuel Tugny - Escritor, romancista e tradutor (França) 2008

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Segunda-feira, 15.12.08

01. Onde está o leitor? Onde está a leitora?

Nathalie Talec:

 

 

Terra fria - Fotografia, 1986 - Nathalie Talec (França)

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Mark Rothko - A pintura vive

Experimentar Rothko
 
Alexandra Nunes Coelho - Londres (Público)
 
Os Murais Seagram são um "caso" da pintura do século XX. Mark Rothko pintou-os para um restaurante luxuoso de Nova Iorque, depois devolveu o dinheiro da encomenda e ficou com eles. Acabaram espalhados pelo mundo. Uma exposição na Tate Modern junta uma boa parte destas telas.
 
 
Entre 1958 e 1959, num antigo ginásio da baixa de Nova Iorque, Mark Rothko criou uma série de telas que se tornaram um caso na pintura do século XX. O autor, nascido na Rússia, em 1903, numa família judia, chegara a América de barco, com 10 anos. Quando acabou de pintar essa série mudou oficialmente o nome de Marcus Rothkowitz para Mark Rothko.
 
Que acontecera, entretanto, entre 1958 e 1959?
 
Elvis Presley foi incorporado no Exército e os franceses elegeram De Gaulle. A Síria e o Egipto juntaram-se na República Árabe Unida. Em Notting Hill explodiram motins raciais. Morreu o primeiro humano com HIV no Congo. Fidel Castro tomou o poder em Cuba e o Dalai Lama saiu do Tibete para o exílio. 9235 cientistas publicaram um apelo contra testes nucleares e o Alaska tornou-se um dos Estados Unidos da América. Nos cinemas, foi a época de "Gata em Telhado de Zinco Quente" e de "Vertigo". Publicaram-se "Breakfast at Tiffany's", de Truman Capote, "A Condição Humana", de Hannah Arendt, "O Teatro e o Seu Duplo", de Artaud, "Naked Lunch", de William Burroughs, "Doutor Jivago", de Boris Pasternak.
 
Este era o mundo enquanto Mark Rothko, fechado no seu estúdio da Bowery, onde antes treinavam equipas de basquete, pintou a sequência de telas que ficou conhecida como Murais Seagram.
 
E meio século depois - agora -, uma exposição em Londres junta pela primeira vez o maior número destas telas jamais reunido, tentando reconstituir o que estaria na cabeça de Rothko quando as pintou.
 
Pela primeira vez, porque esta série, concebida para ser vista como um todo, acabou estilhaçada entre Londres, Washington e Japão - o Kawamura Memorial Museum of Art tem nada menos que cinco pinturas, e é o parceiro decisivo da exposição que pode ser vista até 1 de Fevereiro. Entre mais de 60 obras expostas, os Murais Seagram são o eixo e o chamariz.
 
Seagram é um famoso edifício na Park Avenue, em Nova Iorque, concebido por Mies Van der Rohe, em colaboração com Philip Johnson. O projecto incluía o restaurante Four Seasons, até hoje um símbolo de requinte. Jonhson e a herdeira do império Seagram, também arquitecta, convidaram Mark Rothko a pintar os murais para as paredes. A encomenda significava reputação, dinheiro e a possibilidade de trabalhar uma série de grandes dimensões.
 
Rothko entusiasmou-se ao ponto de procurar um novo estúdio até encontrar o tal ex-ginásio no número 222 da Bowery, com altíssimo pé direito. E em Julho começou a trabalhar na série - grandes telas com fundos espessos em vermelho, carmim, castanho, negros, com rectângulos e quadrados mais escuros ou mais claros, como janelas ou cortes.
 
Depois dos seus primeiros anos figurativos, Rothko explicou que figurar era sempre mutilar, porque é impossível pintar verdadeiramente uma figura. Quis encontrar outra forma mais satisfatória, que temporariamente passou por figuras mitológicas, até chegar às grandes manchas geométricas de cor que o tornaram célebre.
 
Que procurava nessa temporada entre 1958 e 1959 quando concebeu os Murais Seagram?
 
Ele próprio deu algumas pistas numa conferência no Outono de 1958, em que alinhou uma espécie de itinerário para a criação da obra de arte. 
 
1. Preocupação com a morte (a arte trágica lida com a morte). 
2. Sensualidade (base para ser concreto em relação ao mundo). 
3. Tensão (conflito ou desejo). 
4. Ironia (auto-apagamento e desprendimento). 
5. Graça e jogo (elemento humano). 
6. Efémero e sorte (elemento humano). 
7. Esperança (10 por cento de um conceito durável).
 
Rothko terminou os Murais Seagram em maio de 1959 e partiu em viagem à Europa, para visitar família. Foi então, ao tirar o passaporte, que mudou oficialmente de nome. E quando voltou pôs fim ao envolvimento com o Four Seasons - devolveu dinheiro e ficou com os quadros.
 
Como diz o curador da actual exposição na Tate, Achim Borchardt-Hume, até hoje correm diversas versões sobre a reviravolta de Rothko. Há quem diga que inicialmente o artista estava convencido de que o Four Seasons não iria ser um exclusivíssimo restaurante, mas sim uma cantina para os empregados do arranha-céus. Outros acreditam que a mancha inquietante das telas era afrontosa para os milionários que as tinham encomendado. 
 
A caminho da escuridão
 
O nome de Rothko está escrito a vermelho vivo no quarto andar da Tate Modern, à beira-rio. O Tamisa ondula entre prata e castanho, e quase chove. Lá fora é mesmo Outono. Cá dentro cheira a café. Antes ou depois de sair de Rothko, é possível comer, beber e comprar merchandising - sacos, t-shirts, cachecóis, cadernos, postais, canecas Rothko. E na parede do café está a frase do artista que também abre o catálogo: "Se as pessoas querem experiências sagradas, encontram-nas aqui. Se querem experiências profanas, também as encontram aqui. Não tomo partidos."
 
Rothko pode ter declarado que não tomava partido entre profano e sagrado, mas tinha na cabeça comprar uma capela para expor as suas pinturas, e uma das suas sérias mais famosas é a da Capela de Houston
 
"As pinturas têm de ser miraculosas", escreveu. Quando o artista completa a obra, termina a intimidade entre criador e criação, e a obra passa a ser de quem a vê. O criador é um "outsider" e a obra deve ser uma "revelação" para quem a olhe. Com centenas de visitantes é sempre mais difícil.
 
A exposição da Tate começa com uma sala de maquete e pranchas. Ao lado está a primeira experiência de uma tela grande, uma só, contra a parede, e as pessoas encostam-se naturalmente à outra parede, para a poderem ver. Chama-se "Four Darks in Red", quatro barras horizontais, de diferentes escuridões e larguras sob fundo vermelho.
 
A sala seguinte é um enorme salão rectangular, o centro da exposição. Aqui estão os Murais Seagram, os que vieram do Japão e os que vieram de Washington para se juntarem aos que a Tate tem na sua colecção. Luzes baixas, como Rothko pretendia. 
 
14 telas enormes cobrem as paredes como superfícies opacas, mas com textura, com relevos, grão, espessuras diferentes consoante as acumulações de tinta. Primeiro são manchas, depois tornam-se tácteis. E ao fim de algum tempo formam imagens. Algumas parecem livros abertos, outras portas fechadas. Umas brilham, outras são opacas. Rodando no branco, parede a parede, parecem tentativas de rasgar a escuridão. E pela resistência, pela impossibilidade de serem penetradas, tornam-se inquietantes. É a continuação, a persistência, que as faz existir.
 
As salas seguintes são um caminho para o negro. Na sala seis há quatro telas preto-sobre-preto, em que as diferenças são dadas pelo brilho e pela textura, como quando sobrepomos cetim preto a carvão ou madeira preta. Na sala oito há telas duplas em cinza e preto, horizontes. A última sala parece uma floresta em que as telas formam a paisagem, sempre sob um céu negro, e a parede a interrompe. É uma paisagem muda, sem som, como alguém que tapa os ouvidos, ou se cala, virado para dentro.
 
 
"Pela primeira vez, a última fase do trabalho de Rothko é abordado através da ideia de séries", explica o curador, quando o Ípsilon lhe pergunta o que esta exposição revela sobre um dos artistas mais populares da segunda metade do século, considerado pelos detractores como algo decorativo. 
 
"Muitos visitantes, entre eles muitos artistas, sentiram que começavam a ver os últimos trabalhos de Rothko a uma luz completamente nova, e ficaram impressionados pela modernidade contínua da sua visão da pintura, bem como pela extraordinária energia e bravura do seu trabalho final, que frequentemente tem sido ensombrado pela história da sua vida."
 

Publicado no Ipsilon  (Público) 

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Domingo, 14.12.08

Plano óptico

Fotografia

 

 

Misha Gordin - Fotografia, 2000

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Sábado, 13.12.08

Um homem cinza

 

 

 

Um homem cinza.

A equívoca sorte fez com que

uma mulher não o quisesse;

Essa história é a história 

de qualquer um 

mas de tantas que há debaixo

da Lua é a que dói mais.

Haverá pensado em tirar-se a vida.

 

Não sabia que essa espada,

esse fel, essa agonia,

eram o talismã que lhe foi dado

para alcançar a página que vive 

além da mão que a escreve e

do alto cristal das catedrais.

Cumprido o seu trabalho,

foi obscuramente o homem

que se perde entre as pessoas;

 

nos há deixado coisas  imortais.

 

 

Jorge Luis Borges

 

Sem título - Pintura a gouache sobre papel - Alfredo Aquino - sem data

 

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Chiclete

Relevo / Objeto escultórico

 

 

 

Relevo / Objeto escultórico - Dominique Figarella - Goma de mascar (mascada), moldada e colocada sobre placa de madeira - Sem título, 1994 

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Sexta-feira, 12.12.08

joalheria.d'.arte-01

 Jóias de arte - "O beijo arriscado"

 

 

Colar em prata e pérolas negras - Alexander McQueen, 2001

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Quinta-feira, 11.12.08

60 Anos...para não deixar esquecer

(para olhar em volta, para ver na tela todos os dias, para não deixar esquecer...o legado de uma geração que sonhou possível um futuro melhor, mais digno e civilizado)

 

Declaração Universal dos Direitos Humanos 

 

Artigo 1°

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Artigo 2°

Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.

Artigo 3°

Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4°

Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.

Artigo 5°

Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.

Artigo 6°

Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica.

Artigo 7°

Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo 8°

Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei.

Artigo 9°

Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10°

Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida.

Artigo 11°

  1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.
  2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido.

Artigo 12°

Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei.

Artigo 13°

  1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado.
  2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.

Artigo 14°

  1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países.
  2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 15°

  1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.
  2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade.

Artigo 16°

  1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.
  2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos.
  3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado.

Artigo 17°

  1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade.
  2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.

Artigo 18°

Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

Artigo 19°

Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão.

Artigo 20°

  1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas.
  2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21°

  1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos.
  2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país.
  3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.

Artigo 22°

Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país.

Artigo 23°

  1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego.
  2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.
  3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social.
  4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses.

Artigo 24°

Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas.

Artigo 25°

  1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.
  2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social.

Artigo 26°

  1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito.
  2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos humanos e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.
  3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos.

Artigo 27°

  1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam.
  2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria.

Artigo 28°

Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração.

Artigo 29°

  1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade.
  2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática.
  3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 30°

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

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Retratos Notáveis - 19

A água e as flores

 

 

Fotografia: Retrato de Salvador Dali na água  (Cadaqués - Espanha) - 1953

Fotógrafo: Jean Dieuzaide

publicado por ardotempo às 23:14 | Comentar | Adicionar
Quarta-feira, 10.12.08

Entrevista: Tânia Rösing

"Para questões de cultura, nunca houve tempo de fartura."
 
 
 
 
 
 
Tânia Rösing - Professora, Doutora em Teoria Literária, idealizadora e organizadora das Jornadas Literárias de Passo Fundo RS - Brasil
 
ARdoTEmpo: Tânia, você é a idealizadora e a Coordenadora do mais significativo e importante Encontro de Literatura em Língua Portuguesa, que ocorre no Brasil - como será agora em 2009? O que sua equipe está programando?
 
Tânia Rösing:  Todos nós, os integrantes da equipe organizadora, estamos trabalhando em função da seleção do tema geral, programando os subtemas dos palcos de debates e das conferências. É a fase dos contatos com as editoras e da seleção dos nomes dos autores, tanto da Jornada quanto da Jornadinha em função do tema que abrigará os debates.
 
Estamos formatando o 8º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural, o 3º Encontro Nacional da Academia Brasileira de Letras, o 2º Encontro Estadual de Escritores e o Seminário Internacional de Contadores de histórias, ao lado da programação de 13 cursos.  
 
ARdoTempo: Qual a interferência da prevista crise econômico-financeira sobre a Jornada de 2009? Muitos eventos culturais já estão sofrendo, a própria Feira do Livro de Porto Alegre resultou muito menor neste ano de 2008 e com limitações estruturais bem evidentes... O que acontecerá com a Jornada - será menor, menos ambiciosa que o fato extraordinário de 2007?
 
Tânia Rösing: Para questões de cultura, nunca houve tempo de fartura. Há que se lutar muito, a cada edição das Jornadas Literárias, uma vez que não existe disposição em diferentes instâncias de prever a designação de verbas vultosas para ações educacionais sintonizadas com ações culturais no Brasil.
 
Desde 1981, lutamos para conseguir os apoios financeiros necessários. Se fôssemos levar em conta essa batalha, esses desgaste físico e psicológico para convencer instituições governamentais, apoiadores financeiros, já teríamos desistido. Como o mais importante é o objetivo que perseguimos – formar leitores – o que já nos rendeu o título de Capital Nacional da Literatura e a constatação por intermédio de pesquisa feita pelo IBOPE de que, no momento, Passo Fundo é a cidade brasileira onde mais se lê no país:  6,5 livros por pessoa-ano, continuamos a executar nossas idéias do tamanho que elas são e com a complexidade que elas implicam.
 
É importante salientar que a Feira do Livro de Porto Alegre não resultou menor em função de crise financeira mundial. Outros motivos que não nos interessam explicitar, causaram o transtorno responsável pela decisão de fazê-la menor em 2008.
 
Há que se aprovar o projeto na Lei Rouanet – Mecenato e na LIC Estadual para desencadear o processo de captação de recursos.
 
ARdoTEmpo: Temos algum nome já confirmado entre os grandes escritores que poderiam estar conosco, em Passo Fundo?
 
Tânia Rösing: A homenagem da 13ª Jornada Nacional de Literatura e da 5ª Jornadinha Nacional de Literatura será feita ao escritor Pedro Bandeira.
 
Entre os demais grandes escritores já convidados, confirmou presença António Lobo Antunes, uma das maiores expressões literárias de língua portuguesa na atualidade. Os demais nomes serão divulgados, no momento oportuno, por intermédio de nosso site. 
 
 
ARdoTEmpo: Poderemos contar novamente com o brilho e o entusiasmo dos "três tenores" - os brilhantes Ignácio de Loyola Brandão, Alcione Araújo e Júlio Dinis na coordenação dos debates no Circo da Cultura - o grande palco da Literatura no País? E o Luís Augusto Fischer, que tão bem coordenou o Encontro de Escritores Gaúchos, repetirá o seu projeto?
 
Tânia Rösing: As ações das Jornadas, no âmbito da movimentação cultural em que se constituem, têm a mesma importância e os coordenadores dos debates, dos seminários e encontros de escritores nacionais e estaduais, dos palcos de debates, das conferências, dos cursos, todos fazem parte da programação complexa que elas representam. 
 
Contaremos sim, com a participação já tradicional de Alcione Araújo, Ignácio de Loyola Brandão, de Júlio Dinis; convidamos Luís Augusto Fischer para continuar coordenando o Encontro Estadual de Escritores; Miguel Rettenmaier coordenará o Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural juntamente com Fabiane Verardi Burlamaque; Eliana Teixeira e Paulo Becker coordenarão a Jornadinha; Celso Sisto e Eladio Weschenfelder, o Seminário Internacional de Contadores de histórias, a Pré-Jornada e a Pré-Jornadinha serão desenvolvidas por Solange Lopes Brezolin, Eliana Teixeira, Liana Lângaro Branco e as demais atividades, cada uma terá o seu coordenador cuja responsabilidade exigem talento, liderança, comprometimento. Sempre tivemos o apoio ímpar de profissionais sintonizados com os grandes objetivos que sustentam nosso movimento.
 
ARdoTEmpo: A Jornada Literária de Passo Fundo, é, sem dúvida, o fato literário superlativo nacional no ano em que ocorre, isso se consagra a cada grande evento realizado - como você vê o futuro da Jornada e qual a sua importância para a Universidade de Passo Fundo, para comunidade da região onde acontece e para o universo literário do País? 
 

Tânia Rösing: As Jornadas Literárias de Passo Fundo são um caminho importante no processo de formação de leitores literários e, ao mesmo tempo, de leitores que possam entender e apreciar as linguagens de distintas manifestações culturais. Não são um evento, mas o ápice bienal de uma movimentação cultural permanente, com muitos desdobramentos.

 

Sendo seu único objetivo formar leitores, cada vez mais reunimos pessoas que desejam contribuir com a sua continuidade, com a sua ampliação, com a consolidação cada vez maior de toda essa movimentação, considerando a importância que assumiu não apenas no Rio Grande do Sul, mas no Brasil, com reconhecimento internacional. Enquanto houver disposição de trabalho, vontade política desse grupo interinstitucional que integra a comissão organizadora, bem como o apoio de escritores, de editores, de livreiros, a presença das Leis de Incentivo à Cultura e apoio de empresas estatais e de empresas privadas, continuaremos a nossa luta, que não é pequena mas que vale a pena, pois busca a transformação das pessoas, a ampliação do número de leitores críticos e emancipados. 

 

Entrevista concedida por Tânia Rösing ao Blog ARdoTEmpo - dezembro de 2008

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Terça-feira, 09.12.08

Fotógrafo com Leica

Fotografia

 

 

Andreas Feininger - Fotógrafo com Leica - Fotografia - 1951

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Segunda-feira, 08.12.08

Vou-me embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira
 
 
 
Vou-me embora pra Pasárgada
 
Lá sou amigo do rei
 
Lá tenho a mulher que eu quero
 
Na cama que escolherei
 
Vou-me embora pra Pasárgada
 
Vou-me embora pra Pasárgada
 
 
Aqui eu não sou feliz
 
Lá a existência é uma aventura
 
De tal modo inconseqüente
 
Que Joana a Louca de Espanha
 
Rainha e falsa demente
 
Vem a ser contraparente
 
Da nora que nunca tive
 
 
E como farei ginástica
 
Andarei de bicicleta
 
Montarei em burro brabo
 
Subirei no pau-de-sebo
 
Tomarei banhos de mar!
 
E quando estiver cansado
 
Deito na beira do rio
 
Mando chamar a mãe-d'água
 
Pra me contar as histórias
 
Que no tempo de eu menino
 
Rosa vinha me contar
 
 
Vou-me embora pra Pasárgada
 
Em Pasárgada tem tudo
 
É outra civilização
 
Tem um processo seguro
 
De impedir a concepção
 
Tem telefone automático
 
Tem alcalóide à vontade
 
Tem prostitutas bonitas
 
Para a gente namorar
 
 
E quando eu estiver mais triste
 
Mas triste de não ter jeito
 
Quando de noite me der
 
Vontade de me matar
 
— Lá sou amigo do rei —
 
Terei a mulher que eu quero
 
Na cama que escolherei
 
Vou-me embora pra Pasárgada.
 
 
 
 
 
 
© Manuel Bandeira 
Sem título - Pintura a gouache sobre papel - Alfredo Aquino - sem data 
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Pintura a gouache

Pintura

 

 

Sem título - Pintura a gouache sobre papel - Alfredo Aquino - sem data 

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Pintura

Pintura a gouache

 

 

Sem título - Pintura a gouache sobre papel - Alfredo Aquino - sem data 

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Ficções, de Jorge Luis Borges

 
 
Tim James Booth
 
Gostava de ter algo de novo a acrescentar sobre a obra de um dos maiores escritores do séc. XX mas, na verdade, não tenho. Apenas a minha visão sobre a sua obra mais reconhecida, Ficções.
 
O livro está dividido em duas partes, “O jardim dos caminhos que se bifurcam(1941)” e “Artifícios(1944)”, cada uma com um pequeno prólogo onde o autor explica alguns dos contos que as partes contêm.  No total são dezasseis os contos que compõem este livro e o difícil é conseguir destacar um ou outro. Cada um deles é, numa palavra, genial. Abre-se logo com uma entrada perdida numa enciclopédia sobre um país inexistente, Uqbar (”Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”) para logo de seguida examinarmos a obra de um autor que reescrevia D. Quixote (”Pierre Menard, autor do Quixote”) e ficamos imediatamente perdidos no mundo imaginário de Borges.
 
Seguem-se outros contos com visões desconcertantes do mundo, caso de “A Biblioteca de Babel” onde se sabe que todos os livros que alguma vez possam ser imaginados estão já escritos e na biblioteca - se não estão então é porque não são possíveis.
 
O imaginário de Borges é imperdível. Mergulhar na ideia de um mundo completamente aleatório (”A lotaria da Babilónia”) para logo depois lermos contos de índole policial (”O jardim dos caminhos que se bifurcam”, “A forma da espada”) é um privilégio que apenas se encontra nos livros do mestre argentino.
 
Difícil é escolher um, e apenas um, dos contos como favorito. É claro que como ninguém me pede isso, não o faço. Nota-se uma clara tendência para um mundo fantástico, tipicamente sul-americano (isto é, tipicamente após a obra de Borges onde muitos bebem a sua inspiração), fascinante e, simultaneamente, reflexivo. Talvez por isso mesmo “A Biblioteca de Babel” seja um dos contos mais marcantes, a noção de que todo o conhecimento do mundo, que foi e que será, esteja numa biblioteca é, deveras, apetecível.
 
A prosa de Borges é limpa com uma suave mistura entre o erudito e o comum. A estrutura frásica é simples e clara, característica especialmente evidente nos contos onde o autor faz a recensão crítica de uma obra, ou de um autor, inexistente, caso do famosíssimo “Análise da obra de Herbert Quain” que ganhou corpo fora do conto e figura, entre outros sítios, na obra prima de Saramago O Ano da Morte de Ricardo Reis.
 
Borges é a maior das figuras da literatura Latino-Americana, uma das maiores da Literatura Mundial, um escritor único com um imaginário sem igual. Ficções é uma excelente porta de entrada para o seu mundo particular, como o foi para mim, e o princípio de um caso sério de enamoramento literário. Várias vezes, enquanto lia este livro, dizia para mim “Onde andaste toda a minha vida, Jorge Luis Borges”. Onde andou não sei. Sei onde vai passar a andar: dentro do panteão dos meus autores favoritos.
 
Texto de Tim James Booth - Publicado no Blog Livros (s)em critério 
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publicado por ardotempo às 14:49 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Fotografias - de Mário Castello

As sombras e a Luz

 

 

 

Estação da Luz - Fotografias - Mário Castello (São Paulo), 2008

publicado por ardotempo às 13:38 | Comentar | Adicionar

Hans Hartung

Pintura gestual

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Verde - Pintura - Hans Hartung - Óleo sobre tela em grande formato.

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publicado por ardotempo às 13:33 | Comentar | Adicionar

Escritor da História da TV no Sul do Brasil

 Walmor Bergesch

 

O escritor e homem da TV, Walmor Bergesch, o visionário e pioneiro de implantação da TV no sul do Brasil - esteve na equipe de formação do três primeiros canais de TV no Sul e foi o precursor na transmissão de imagens em cores no Brasil - está escrevendo um minucioso e bem documentado livro sobre o assunto (com entrevistas, depoimentos e imagens).

 

publicado por ardotempo às 13:23 | Comentar | Adicionar
Domingo, 07.12.08

(Para que funcione)...todos têm que acreditar

Resmungos financeiros
 
Ferreira Gullar
 
Para quem que, como eu, não entende de economia, esta crise financeira mundial é, além de atemorizante, incompreensível. Não é que eu não perceba, no geral, como a coisa nasceu, gerando a tal bolha imobiliária, que terminou arrebentando sobre a cabeça de banqueiros e empresários. Dentro do possível, tenho acompanhado a evolução da crise, as medidas tomadas para detê-la, a inoperância de algumas dessas medidas e a falência de empresas até então poderosas.
 
Logo que a bomba estourou e seus efeitos se ampliaram, era de ver a expressão apreensiva de altas figuras que antes pareciam ter o mundo em suas mãos. Era-lhes impossível esconder a perplexidade e a impotência diante do tsunami financeiro que parecia arrasar o sistema capitalista inteiro. Mas, além da impotência dos homens de empresa e de Estado, espantava-me muito mais a inesperada fragilidade do próprio sistema, que parecia se desfazer como um castelo de cartas.
 
E, juntamente com essa sensação, assaltava-me ainda o espanto de ver que tudo que ocorrera -os empréstimos sem limites, as dívidas sem garantia consistente (ou nenhuma), a irresponsabilidade de executivos de notório prestígio- tudo se me apresentava agora como uma aventura irresponsável, supostamente apoiada num capital hipotético e, de fato, inexistente.
 
Foi aí que me vi refletindo sobre o dinheiro, como surgiu e em que se transformara nos tempos de agora. É divertido fazer esse retrospecto: o dinheiro nasceu para atender à crescente atividade comercial, que consistia, no começo, em trocar pano por trigo, arroz por sal e, mais tarde, adotou-se o ouro como moeda de troca, por ser muito raro, logo valioso, e preservar suas qualidades sem se deteriorar. E daí veio o resto.
 
Veja se não é interessante: o comércio cresceu tanto, ampliou-se tanto geograficamente, que se tornou impossível levar, por toda a parte, a quantidade de ouro necessária para satisfazer as operações de troca, e surgiu o papel moeda: leve, fácil de carregar e guardar, que não era o ouro, e sim uma representação dele.
 
Lembro-me, não faz muito tempo, de uma cédula nossa onde se lia mais ou menos isto: "O valor desta nota será trocado por seu equivalente em ouro no Tesouro Nacional". Quer dizer: aquele papel só valia porque o governo lhe garantia o valor em ouro. Por isso que, um dia, o general De Gaulle, então presidente da França, obrigou o Tesouro norte-americano a trocar por ouro os bilhões de dólares que estavam em mãos do governo francês. E o Tesouro norte-americano teve de atendê-lo, sob pena de desacreditar-se mundialmente, confessando que não dispunha de lastro que garantia o valor de sua moeda. E o que é a inflação senão emitir moeda além do lastro que lhe assegure o valor?
 
De certo modo, desde que surgiu, o capitalismo, para funcionar, tem que contar com a confiança de todos no valor do dinheiro, assim como você tem que confiar em que o dinheiro com que lhe pagam não é falso e pode ser trocado por ouro, se preciso for. Na verdade, a maioria das pessoas de nada desconfia, acha que está tudo garantido. Até que uma bolha imobiliária estoura e arrasa com as finanças da maior potência econômica do mundo. Aí então, estabelece-se o pânico, a confiança se evapora e o sistema inteiro entra em crise.
 
Esta crise é proporcional ao nível de abstração a que chegaram as transações financeiras no mundo de hoje e a crescente distância entre o valor real da moeda e sua representação simbólica. O ouro, que se tornara o lastro do papel-moeda, passou a ser representado pelo cheque, que tende a sumir, substituído pelo cartão eletrônico. Assim, você tem cada vez que confiar mais e mais em meras abstrações.
 
Por exemplo, se alguém me paga por serviço prestado, deposita o valor correspondente em minha conta no banco. Não vejo a cor do dinheiro, só constato, no extrato do banco, a informação. Se vou comprar alguma coisa, uso o cartão de crédito e o que o vendedor recebe é também apenas uma informação. Foi assim que as financeiras norte-americanas negociaram "informações" com outras financeiras, que passaram a outras até que, como quem garantia o lastro desses valores não pagou, veio tudo por água abaixo.
 
Com isso, perdeu-se a confiança em toda e qualquer informação financeira, e ninguém mais quer investir, nem emprestar nem avalizar. A crise atinge o comércio, a indústria, o sistema ameaça entrar em colapso. E a impressão que temos é que a economia mundial era um sonho, minha gente!
 
 
© Ferreira Gullar - Publicado na Folha de São Paulo / UOL

 

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publicado por ardotempo às 17:01 | Comentar | Adicionar

Gilbert&George - Pintura

Técnicas mistas

 

 

Pintura - Processos fotográficos/serigráficos e pictóricos sobre telas - Políptico (4 telas) - Manipulando - Gilbert & George (Londres, Inglaterra UK) Sem data

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publicado por ardotempo às 16:08 | Comentar | Adicionar
Sábado, 06.12.08

Cronópios ensina, em Porto Alegre

Oficina de Edson Cruz em Porto Alegre
 
 
OFICINA DE POESIA  - EM TEMPOS DE INTERNET - 11 e 12 de dezembro
EDSON CRUZ, poeta e editor do site CRONÓPIOS
 
Oficina em dois encontros de duas horas, quinta e sexta-feira,
dias 11 e 12 de dezembro, das 14h às 16h
ZOUK Livraria e Café  (rua Garibaldi, 1333. Bairro Bom Fim - Telefone: 3024 7554
Custo: R$ 80,00
Apenas 20 vagas
Atena Produções, com os apoios da Câmara Rio-Grandense do Livro,
da Livraria ZOUK e da Casa Verde
Inscrições: Na Livraria ZOUK ou pelos e-mails
 
atena@chaffe.com.br 
kikalisboa@gmail.com
 
Outras atividades de EDSON CRUZ em Porto Alegre:  
 
Literatura, Internet e Escola
sábado, dia 13 de dezembro, às 10h30min
Local: Caminho do Livro - Instituto Cultural Brasileiro Norte-Americano
Promoção: Caminho do Livro e Atena Produções - Apoio: Casa Verde
Mediação: Laís Chaffe 
ENTRADA FRANCA
 
EDSON CRUZ - Escritor, editor, revisor e preparador de textos. Estuda Língua e Literatura Grega, Brasileira e Portuguesa na Universidade de São Paulo-USP. Editor do site de literatura www.cronopios.com.br e da revista literária Mnemozine. 
 
Entrevistador do programa BITNIKS (http://www.cronopios.com.br/tvcronopios/) voltado para literatura na internet. Revisor da BSGI News e de várias editoras. Revisa, também, como free-lancer, para a agência J. W. Thompson. Já preparou e revisou, entre outros, obras de Márcia Denser, Carlos Nejar e Virginia Woolf. 
 
Foi palestrante em eventos literários no Uruguai e na Argentina, sempre falando sobre poesia, literatura na internet e literatura e novas mídias. Professor de língua e literatura brasileira. Ministrou Oficinas de instrumento, canto e Haikais pela Secretaria de Cultura de SP. 
 
Foi Curador do evento Cartografia Web Literária, em parceria com o SESC-Consolação, edição de 2008. Lançou em 2007, Sortilégio (poesia), pelo selo Demônio Negro. Prepara seu segundo livro e uma edição para jovens do clássico indiano Mahabharata
 
Veja o Cronópios
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publicado por ardotempo às 17:40 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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