Quarta-feira, 24.12.08

NovoAno

 

 

publicado por ardotempo às 23:23 | Comentar | Adicionar

No Museu

Pintura

 

 

San Sebástian - Pintura, óleo sobre tela - Sandra Gamarra (Peru)- 2008 

publicado por ardotempo às 15:26 | Comentar | Adicionar

Arquitetura - Oscar Niemeyer

Bienal de São Paulo (imagem interna) - Parque Ibirapuera SP

 

 

 

 

Arquitetura - Bienal de São Paulo (1954) - Fotografia de Mário Castello (São Paulo) 2008

publicado por ardotempo às 10:41 | Comentar | Adicionar

Retratos Notáveis - 21

 O pensador

 

 

 

 

Fotografia: Retrato de Claude Levi-Strauss (Paris - França) - 1970

Fotógrafo: Irving Penn

 

publicado por ardotempo às 02:13 | Comentar | Adicionar

Depois da Bienal do Vazio, a glória do cavalo pintor

Cavalo faz exposição individual de pintura em Veneza 

 

O animal, cujo trabalho tem impressionado o mundo das artes plásticas e é descrito como tendo a "paixão de Pollock" e o "olhar fixo de Resnick", já teve obras vendidas por mais de R$ 4,5 mil.

 

O cavalo ganhou recentemente uma menção honrosa pela obra The Big Red Buck na terceira edição do Prêmio Internacional Arte Laguna, na Itália. Em disputa, estavam mais de 3 mil obras de mais mil artistas de todo o mundo. "Cholla é muito talentoso. Tem um desenho particular, abstrato", disse à BBC Brasil Rosalba Giorcelli, diretora da Galleria Giudecca 795, que tem a exclusividade de vender as obras de Cholla fora dos Estados Unidos.
 
"Quando vi sua obra pela primeira vez, achei que se tratava de um jovem artista. Mas, ao saber que era um cavalo, fiquei surpresa e muito curiosa", disse.
 
Giorcelli está fechando os últimos detalhes da exposição individual de Cholla, que será aberta ao público em abril do próximo ano e deverá contar com cerca de 30 trabalhos. De acordo com Giorcelli, o cavalo é de propriedade da bailarina americana Renee Chambers e sua aptidão foi descoberta por acaso em maio de 2004.
 
Enquanto Chambers pintava o curral de sua propriedade em Reno, no estado americano de Nevada, o cavalo demonstrou interesse no que ela estava fazendo e seu marido teve a idéia de entregar pincéis a Cholla. Chambers então comprou papel e tinta, pôs um pincel entre os dentes dele e, desde então, Cholla não parou mais de pintar, sem permitir que ela escolha as cores ou mexa o cavalete enquanto ele trabalha. De acordo com Chambers, que estará presente na abertura da exposição em Veneza, público, artistas e críticos têm demonstrado muito entusiasmo na obra do cavalo.
 
Na ocasião, ela deverá participar de um encontro com artistas e demais interessados para debater a obra do "cavalo-artista".
 
"É um cavalo que não foi adestrado. O que ele faz é uma coisa diversa, que exprime sua vitalidade. Não podemos dizer que é arte ou menos, ou que ele seja o maior artista do século", assinala Rosalba. "Mas, com certeza, é a expressão da natureza que fala. Uma coisa que faz a gente pensar. Será uma boa oportunidade para discutirmos arte contemporânea com muita serenidade", finalizou.
 
( ARdoTEmpo: Mesmo sendo um cavalo, essa história é, na verdade, uma avacalhação total no circuito de mercado da arte contemporânea - este cavalo poderia até ter exposto a sua série de "obras originais" no ofensivo espaço da Bienal do Vazio São Paulo - observem o cavalete barroco e branco do "cavalo-artista")
 
Publicado no blog BBC Brasil

 

 

publicado por ardotempo às 01:28 | Comentar | Adicionar

Cavalos que fazem sombra no mar

 

Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar? 
 
António Lobo Antunes
 
E aqui anda a noite à roda, à roda e eu com ela como um papelinho com que o vento brinca, apanha-me, larga-me, empurra-me, corre, mais adiante, a prender-me nos dentes, esquece-se de mim, torna a lembrar-se, poisa-me uma pata em cima, vai-se embora. O vento. Em certas alturas, dantes, na casa velha dos meus pais, estremecia os caixilhos, na de Nelas batia um ramo contra a janela e eu deitado no escuro, com medo, enquanto o ramo falava sem cessar.
 
Dizendo o quê? Nunca entendi o vento.
 
Ontem, no fim do almoço das quintas-feiras no restaurante onde me junto a um grupo de amigos, o Vitorino e o Janita Salomé cantaram uma moda de Natal onde, a propósito dos Reis Magos, a letra pergunta que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar? Eles dois um grupo inteiro, a voz do Janita borda por cima da voz do irmão e nós a escutarmos, encantados. Estes dois versos não me largam: que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?
 
Gostava de usá-los como título de um livro: tocaram não sei onde, no mais fundo de mim, e eu comovido como tudo, com lágrimas dentro. Porquê? Vou repeti-los mais uma vez dado que não cessam de perseguir-me: que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar? É quase Natal, uma época em que me lembro ainda mais do meu avô. Ruas iluminadas que tornam a noite triste, grinaldas de lâmpadas, uma festa que tremelica no escuro. Há horas recebi a notícia da morte do meu editor francês, Christian Bourgois. Era meu amigo, trabalhávamos juntos há vinte anos, depois da sua operação ao cancro fui por diversas ocasiões a Paris estar com ele. Uma manhã disse-lhe
 
– És um grande editor
 
ele respondeu
 
– Não há grandes editores sem grandes autores
 
e a modéstia das suas palavras alegrou-me.
 
Tinha um imenso faro para descobrir talentos, não se tornou nunca um comerciante, os livros constituíram sempre a sua razão de ser. Não há muitos editores que eu estime e respeite. Que horrível coisa perder um amigo: e as grinaldas de lâmpadas a tremelicarem no escuro, a tremelicarem no escuro, a tremelicarem no escuro.
 
A melancolia das lâmpadas, gente por todos os lados, enervada, com pressa. Desde que cresci o Natal tornou-se uma multidão de gente enervada e com pressa. Que não fazem sombra no mar. Não fazem sombra em parte alguma, zangam-se apenas: deve tratar-se do espírito da quadra. Não fui eu que perdi um amigo, foi o Christian que perdeu tudo. Canta, Janita: que cavalos são aqueles? Negócio sinistro, o da Literatura, as maldades, os meandros, o dinheiro.
 
A quantidade de alturas em que me vêm ganas de não publicar mais nada. Isto para não falar daquilo a que chamam autores. Mas noventa e nove por cento desses, tal como a multidão de gente enervada e com pressa, não fazem sombra no mar. Há tão poucos escritores capazes disso. Canta, Vitorino: cubram-me de Alentejo até não sentir frio, de oliveiras a perder de vista, de campos. Quero ser um papelinho que o vento apanha e larga, empurra, prende nos dentes, esquece, quero um ramo contra a janela a falar sem descanso. Dá-me uma mãozinha, Janita: que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?
 
Ainda o fim-de-semana passado, na foz do Douro, ondas enormes. Um quarto para as palmeiras, as ondas. Depois das ondas ficava a espuma sozinha, pendurada no ar. Em que me penduro eu, em que nos penduramos nós? Dá-me ideia que com o tempo vou ganhando uma solidez de pedra. Mesmo ao mover-me fico. Quando eles cantam as veias do pescoço engrossam, os olhos mudam, fitando para dentro. Beja à distância, alargando-se devagar. Sinto-me eterno em Beja. O hospital cheio de doentes onde fui por causa do ouvido. Será impressão minha ou as mulheres, nas terras pequenas têm mais beleza? No Algarve, por exemplo, na Póvoa de Varzim. No Montijo, onde trabalhei no regresso de África? Pântanos, água, barcos moribundos, só costelas. Pássaros que não conhecia. Uma tarde, na margem sul do Tejo, um cavalo branco atravessou de súbito a estrada, a galope, de crina longa que dançava. Tratar-se-ia de um dos bichos da moda? Devia tratar-se dado que continua a fazer sombra em mim.
 
E agora? Acende um cigarro, António, prepara o final: uma coisa que se veja, bonita, serena. O quê? Como? Rumores, rumores, escuto silêncios que conversam, vozes que não há, escuto cheiros e cores, sinto-os na língua. E escurece: hoje é o dia mais curto do ano, vinte e um de dezembro. Dezembro com minúscula, sempre escrevi os meses com minúscula. Nasci em setembro, as vindimas sou eu. Lá vinham os carros de bois com as pipas, lentíssimos e eu a pasmar para um pedaço de mica. Os reflexos da mica.
 
A serra azul. O rápido das seis. Vagabundos a atravessarem o pinhal, cheios de raiva. De bordão e barba. Os capotes rasgados e por baixo não as camisas, a pele. Pensando bem são eles os cavalos que fazem sombra no mar, os Reis Magos. Trazem oiro, o incenso e a mirra embrulhados em papel pardo. E eu nas palhinhas, nu, a sorrir-lhes.
 
 
 
© António Lobo Antunes
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publicado por ardotempo às 00:03 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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