Domingo, 21.12.08

Walmor Bergesch - Visionário da TV

Um protagonista do telejornalismo

Entrevista concedida à Coletiva.net

O jornalista, radialista e empresário Walmor Bergesch é uma personagem que faz parte da história da televisão no Estado RS e no Brasil, desde o seu início. Muito jovem, recém-chegado do Interior, foi um dos profissionais que atuou na instalação e na inauguração das três primeiras emissoras de TV de Porto Alegre, além de ter participado da primeira transmissão a cores do Brasil. “Este impacto foi imensurável”, avalia, sobre o surgimento da nova mídia, na época.

 

Autodidata, sempre estudou muito sobre TV: assinava exatamente 40 revistas, americanas e européias. “Eu sempre busquei o conhecimento, onde ele estivesse”, destaca.

 

Nasceu na cidade de Estrela, em 10 de abril de 1938, e 16 anos depois estava atuando na emissora local, a Rádio Alto Taquari. O adolescente, que todos os domingos freqüentava o programa de auditório, foi convidado para se apresentar e demonstrar sua habilidade musical: tocar gaita de boca. Logo, surgiu a oportunidade de fazer um teste para locutor e redator de notícias. Assim, começava a traçar sua trajetória profissional.

Era início de 1955 quando Walmor veio para Porto Alegre, morar em pensão, e foi até a emissora para falar com o diretor geral da Rádio, Dinarte Armando. O jovem fez teste para locutor com José Salimen Junior, que já trabalhava lá, e foi aprovado. “Daí começou uma amizade que vai até hoje”, relembra.

Depois disso, o diretor musical ainda descobriu que o jornalista sabia tocar gaita (harmônica) de boca. Acabou ganhando outro contrato na Farroupilha, o de solista. E conforme Walmor foi aprimorando seu desempenho na locução, foi crescendo e ganhando mais espaço. Passou a atuar, também, na redação de notícias e a fazer reportagens. Na emissora ele ficou até surgir a televisão, em 1959. Neste ano, foi um dos 16 selecionados, entre os profissionais do Diário de Notícias, Farroupilha e Difusora, a pedido de Chateaubriand, diretor dos Diários e Emissoras Associados, para ir ao Rio de Janeiro fazer um curso sobre televisão. 

Na volta, com o conhecimento adquirido, integrou a equipe que instalou e inaugurou a TV Piratini em dezembro de 1959. Walmor produzia três programas e apresentava dois deles. “A TV Piratini foi a grande formadora de profissionais de televisão na década de 60, quando surgiram os três primeiros canais no Estado”, lembra, referindo-se à TV Gaúcha e TV Difusora, que surgiriam na seqüência. 

No final de 1961, produziu e gravou, juntamente com Paulo Ruschel, o primeiro VT do Rio Grande do Sul. A TV Piratini já havia recebido o equipamento, mas só usaria em janeiro do próximo ano. Walmor se prontificou a estrear a tecnologia. O jornalista reuniu todos os amigos em casa para o tão esperado momento, mas ninguém conseguiu assistir. Descobriu que graças às configurações feitas pelo inexperiente técnico no estúdio, a exibição foi um fracasso.  “Depois a gente ria... mas o pioneirismo tem disso”, avalia o jornalista. Antes disso, tudo era feito ao vivo.

Em 1962, a TV Gaúcha estava se preparando pra entrar no ar. A convite de Maurício Sirotsky, o fundador do Grupo RBS, o profissional foi chamado para atuar na inauguração da emissora como chefe de programação. “Foram momentos de grandes inovações. Nós recrutamos os melhores profissionais. Foi uma experiência muito boa”, considera. Em 1967, viajou para os Estados Unidos para conhecer emissoras e aprender tudo o que faltava sobre televisão.

Em 1969 aceitou proposta para trabalhar na inauguração do terceiro canal de Porto Alegre: a TV Difusora. “Era irrecusável”, explica. Assumiu como superintendente geral da emissora, tratando das áreas de operação, produção e programação, ao lado de Salimen, que era responsável pela parte de mercado, administrativo e financeiro. “Mais uma vez, montamos uma equipe espetacular”, conta. Em 1972, participou da primeira transmissão a cores do Brasil, durante a Festa da Uva, em Caxias do Sul. 

Após 1975 fez estágios em várias emissoras de TV nos Estados Unidos.

Nesta mesma época, em que era crescente a produção de vídeos independentes nos EUA, fez um projeto para instalação, em São Paulo, da primeira produtora independente de vídeos no Brasil. Mais uma vez em parceria com Salimen, passou a buscar recursos e apresentar a idéia a investidores.

Até que Nelson e Maurício Sirotsky tomaram conhecimento do projeto e, neste meio tempo, enquanto não se consolidavam os apoios, Walmor foi convidado a retornar ao Grupo RBS. 

Treze anos depois, o bom filho à casa torna”, considera o jornalista.

De volta à empresa, criou a diretoria de Marketing, que teve como primeiro grande projeto mudar a marca Rede Brasil Sul de Comunicação para RBS. Depois, à medida em que foram desenvolvendo a marca, foi a vez das emissoras de televisão terem suas nomenclaturas simplificadas. 

Em 1987, com uma grande reestruturação, passou a ser diretor da RBS TV para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina e, logo em seguida, superintendente de Mídia Eletrônica – Rádio e TV. Em 1990, criou a área de Novos Negócios que, a partir de projeto de televisão por assinatura, em parceria com a Globo, deu origem à Net. Assim, em 1995, através dele, surgiu a idéia da TVCom e, no ano seguinte, do Canal Rural. Em 2000 e 2001, Walmor ainda participou do projeto, com sede em São Paulo, de implantação e operacionalização da TV a cabo, com fundos americanos e sócios brasileiros, no Nordeste.

 

Na RBS ficou até 2000 exercendo o cargo de vice-presidente da área de TV por assinatura. Hoje, acompanha de perto seu mais recente projeto, a obra “Os Televisionários Gaúchos – 50 Anos de TV no Sul”. O livro, que vai trazer o depoimento de mais de 100 protagonistas da televisão no Estado, discorrerá sobre o passado, o presente e o futuro da área, além de trazer muitas fotos de todas as épocas. A intenção do autor é lançá-lo no segundo semestre de 2009.

Atualmente, também está à frente de outro projeto, desta vez ligado à inclusão digital através de uma rede nacional de outernet. São quiosques multiuso com telefonia e Internet de fácil acesso. Sem poder falar muito, adianta que o pré-lançamento será no primeiro trimestre de 2009, numa cidade do Interior de São Paulo. Durante seis meses, a idéia será testada em 250 terminais.

É casado há 10 anos com Marilene Bittencourt, 43 anos, empresária de design de móveis. Do primeiro casamento, Walmor tem três filhos: Mylene, de 46 anos, César, 45, e Fernando, 40. Todos são empresários e moram em Santa Catarina.Tem cinco netos, com idades entre 21 e dois anos. Em casa, duas vezes ao ano, realiza saraus musicais beneficentes. Cada convidado leva alguns quilos de alimentos não perecíveis, destinado a instituição beneficiente específica.

Não cozinha, mas aprecia degustar um bom vinho. Tem preferência pelos franceses e italianos, chilenos e argentinos. “Fora estes, somente o excelente Vila Bari, da Vinícola Barichello, do meu amigo Luiz Alberto Barichello”, brinca. 

Obviamente, gosta de ler. “Eu leio muito, eu leio muito mesmo. Sobre TV, comunicação, mídia e até psicologia”, detalha. Seu projeto para o futuro é cursar Filosofia. Também pretende viajar muito mais, para conhecer lugares como a China e a Índia. Ainda quer conhecer melhor seu país de origem, a Alemanha. Portugal é um país que gostaria de, quem sabe, morar. Os lugares que conheceu, mais gostou e sempre acaba voltando são Los Angeles, Nova Iorque, Londres e Itália. “Não vou a lugares que não tenho certeza que eu vá gostar.”

Pelo menos quatro vezes por semana, Walmor pratica exercícios físicos. Para isso, tem uma academia completa em casa. Também faz corrida três vezes por semana. Gosta muito de viajar e passear com a esposa na Serra e no litoral catarinense, para visitar os filhos.

Já há alguns anos, Walmor faz meditação, acupuntura e lê muito sobre Buda. E esta é a sua filosofia de vida. “Não que eu seja budista, mas sigo muito os conceitos de tranqüilidade... viver o agora, o hoje, estar bem com a família e amigos, sempre em busca da qualidade de vida”, explica. E acrescenta que, para ele, o segredo do sucesso está em sonhar e planejar com persistência e disciplina, além de muita comunicação.

“Eu quero fazer muito mais coisas. Não me sinto realizado, mas sou muito feliz. Tenho amigos, uma família e um trabalho maravilhosos! Só faço aquilo que me desperta paixão”, afirma. “Quando fiz 60 anos, renovei meu contrato com o 'velhinho' por mais 60... ele que se vire”, conta brincando, ao mesmo tempo em que demonstra a alegria de viver e a satisfação em fazer o que gosta. 

 

Publicado no Coletiva.net

Fotografia atual do autor por Tânia Meinerz

tags: ,
publicado por ardotempo às 17:08 | Comentar | Adicionar

Na pegada, há um rastro de óleo

A Razão Cínica
 
Luis Fernando Verissimo
 
Sei não, mas o Bush se esquivou muito bem daquele sapato. O primeiro, que passou rente à sua cabeça, não o segundo, que não chegou perto. Todo presidente americano deve estar sempre pronto para se abaixar, rápido. O reflexo condicionado é transmitido junto com o cargo desde o sucessor do Lincoln. Bush certamente não esperava ser alvejado numa entrevista coletiva em Bagdá, cercado por tropas americanas. Ainda mais habituado como está com os correspondentes na Casa Branca, que raramente lhe atiram uma pergunta mais pesada. Mas o reflexo funcionou. Depois ele declarou que só podia dizer que o sapato não era do seu tamanho e pediu que não castigassem o atirador. Uma boa piada, um simpático apelo à tolerância.
 
É difícil escolher o que é mais grotesco no episódio. A sapatada - compreensível, mas fruto de uma extrapolação, digamos, desaconselhável do papel crítico da imprensa - ou a bonomia do Bush. Não sei quantos americanos e iraquianos já morreram depois da invasão do Iraque por ordem do Bush. Mas o Bush é um bom sujeito, faz piada sobre o seu susto, pede clemência para o agressor. Vez que outra vemos fotos de alguns dos milhares de soldados americanos que voltaram do Iraque em pedaços, sem membros, sem rosto, e só podemos imaginar os muitos milhares de iraquianos, incluindo crianças, mutilados pela guerra do Bush. Mas o Bush é simpático e democrático. Poderia dizer que foi pelo direito de os iraquianos irem à rua se manifestar a favor da sapatada, como está acontecendo, que a carnificina continua. Nem sei se até não pediu que devolvessem os sapatos do rapaz.
 
Li, não faz muito, um artigo sobre a chamada "razão cínica" - em contraste com as razões oficiais fictícias e as geopolíticas sinceras - da invasão do Iraque pelos Estados Unidos, nada mais simples do que o acesso garantido ao seu petróleo. Uma obviedade negada tanto pelos que a apoiavam como uma ação altruísta contra a tirania quanto pelos que denunciavam interesses ainda mais obscuros do que o petróleo. E o artigo acabava sendo uma defesa do Bush. A "razão cínica" era a única razão lógica e plausível, mesmo que amoral, que lhe restava. As armas de destruição em massa prestes a serem usadas por Saddam Hussein não existiam. A ligação do regime iraquiano com a al-Qaeda não existia. Ninguém mais nega que a invasão foi preparada e lançada baseada em mentiras e informação deturpada. Nem o Bush, embora ele chame o engodo de "inteligência falha". E se o objetivo era apenas livrar o mundo de um tirano, por que começar, ou parar, com Saddam? Já a carnificina para assegurar o petróleo num mundo em que o acesso à energia ditará a História, pelo menos faz sentido.
 
Bush está perto de se aposentar no seu rancho do Texas. Não há nada parecido com um tribunal por crimes de guerra no seu futuro, ou no de Cheney, Rumsfeld e os outros. Todos, com maior ou menor grau de simpatia, sabem se esquivar.
 
 
 
© Luis Fernando Verissimo
publicado por ardotempo às 14:21 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

Pesquisar

 

Dezembro 2008

D
S
T
Q
Q
S
S
1
2
3
4
5
6
7
8
9
27
28
29

Posts recentes

Arquivos

tags

Links