Um brinde a um novo ano
A todos os amigos, aos blogs, a um novo ano mais simples e mais produtivo
ÁGUA PURA
UM LIVRO NOVO
UMA MOSTRA - APENAS PINTURA
UMA NOVA CIDADE
A todos os amigos, aos blogs, a um novo ano mais simples e mais produtivo
ÁGUA PURA
UM LIVRO NOVO
UMA MOSTRA - APENAS PINTURA
UMA NOVA CIDADE
Escultura
Gonzaga - Os sons da floresta, em certos momentos - Escultura em bronze policromado - 1999
Da série Jazz
Dois Dançarinos - Pintura, gouache sobre cartão, recortado, colado e fixado sobre papel pintado - Henri Matisse
Bienal de São Paulo (imagem interna) - Parque Ibirapuera SP
Arquitetura - Bienal de São Paulo (1954) - Fotografia de Mário Castello (São Paulo) 2008
Cavalo faz exposição individual de pintura em Veneza
O animal, cujo trabalho tem impressionado o mundo das artes plásticas e é descrito como tendo a "paixão de Pollock" e o "olhar fixo de Resnick", já teve obras vendidas por mais de R$ 4,5 mil.
Minotauro
"O Minotauro combina muitos traços diversos ou contraditórios. Tem algo de animal, algo de humano e até mesmo algo de divino. Comete crimes, mas sente-se inocente porque está inconsciente do que faz. Confessa sua ignorância mas orgulha-se dela. É tão magnânimo que não sabe ler."
©Jorge Luis Borges / Borges Verbal, Emecé Editores – Buenos Aires Argentina
O lado B do etanol
A cada ano a safra da cana-de-açúcar bate recordes na mesma proporção em que cresce sua importância estratégica para o País. Ao mesmo tempo, o avanço da monocultura e a mecanização da lavoura ameaçam ecossistemas como o Cerrado e a Mata Atlântica, enquanto as condições de trabalho continuam duríssimas. Acompanhar os impactos sociais, ambientais e trabalhistas deste setor é um dos objetivos do Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis, braço da ONG Repórter Brasil, que publica o relatório O Brasil dos Agrocombustíveis, Cana-de-Açúcar 2008 no dia 7 de janeiro.
Para concluir o trabalho, ainda inédito, a equipe do CMA visitou estados como Alagoas, Pernambuco, Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo e Acre. “Estivemos tanto em áreas onde a cultura da cana está consolidada com modos de produção modernos ou arcaicos como nas áreas das novas fronteiras”, explica Marcel Gomes, coordenador da equipe. Além das visitas de campo, onde colhiam dados e relatos de quem vive da cana, os pesquisadores ouviram especialistas e cruzaram as informações mais recentes sobre o setor.
A apresentação começa pelo Centro-Sul, que concentra 87,8% de toda a cana produzida no País e detém 372 das 447 usinas cadastradas na Agência Nacional do Petróleo (ANP). Mais da metade delas, ou 230, estão no Estado de São Paulo.
O relatório alerta para a ameaça ao bioma do Cerrado. “Há várias usinas circundando a região do Pantanal”, diz Gomes. “Cada região estudada apresenta um tipo de problema ambiental, sempre como conseqüência do avanço da monocultura.”
No Nordeste, onde foi introduzida no século XVI, a cana ainda é produzida de maneira menos mecanizada que no Centro-Sul. O impacto disso aparece nas condições de trabalho e moradia dos canavieiros. Em março deste ano, uma força-tarefa do Ministério Público do Trabalho em Alagoas teve de autuar 12 das 15 usinas fiscalizadas. Uma ação do MPT em Pernambuco autuou o prefeito de Palmares, Beto da Usina. Aos jornais, o advogado José Hamilton Lins admitiu as condições precárias de trabalho, que considerou “parte de uma cultura colonial que precisa de tempo para se adequar às novas regras trabalhistas”.
Além do problema trabalhista, o relatório dimensiona a extensão dos impactos no meio ambiente. De acordo com o Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), a cana é responsável por 95% do desmatamento da Mata Atlântica na região. Em 2008, o Ibama multou 24 usinas por crime ambiental apenas em Pernambuco. A maior parte, por desrespeitar áreas de proteção permanente (APPs) ou por não preservar a reserva legal proporcional de mata nativa.
A terceira região abordada no relatório é a Amazônia, onde, ainda que a cana-de-açúcar não seja muito difundida, está em expansão. “O problema é que o zoneamento (ecológico-econômico) ainda não foi concluído. Mas existe uma pressão forte para que o governo barre a cana na região ao proibir que novas usinas se instalem”, prevê Gomes. Ainda há relativamente poucas usinas na região. Algumas, como a Álcool Verde, pertencente ao Grupo Farias, do deputado federal Augusto Farias (PTB-AL), foram embargadas pela Justiça. Apesar de instalada, está paralisada por apresentar diversos desacordos com a legislação ambiental.
Publicado em Carta Capital
Metamorfose
Algo mudará
ou estaremos mergulhados
no caos e na extinção
dos valores humanos.
Seria o fim, previsível.
Talvez ainda exista uma chance,
ainda há alguém fazendo
arte verdadeira,
escrevendo poesia,
distante dos
mercados.
A cultura, menosprezada
pelo poder, pela força,
pelo pragmatismo
da grana,
pelos sistemas,
talvez um dia renasça.
Antídoto à barbárie
banalizada.
Como se fosse um sonho,
uma mudança.
Seria o recomeço, improvável.
Pórtico de entrada do Auditório Ibirapuera
Arquitetura - Oscar Niemeyer - Fotografia de Pierre Yves Refalo (São Paulo) - 2008
Um protagonista do telejornalismo
Entrevista concedida à Coletiva.net
O jornalista, radialista e empresário Walmor Bergesch é uma personagem que faz parte da história da televisão no Estado RS e no Brasil, desde o seu início. Muito jovem, recém-chegado do Interior, foi um dos profissionais que atuou na instalação e na inauguração das três primeiras emissoras de TV de Porto Alegre, além de ter participado da primeira transmissão a cores do Brasil. “Este impacto foi imensurável”, avalia, sobre o surgimento da nova mídia, na época.
Autodidata, sempre estudou muito sobre TV: assinava exatamente 40 revistas, americanas e européias. “Eu sempre busquei o conhecimento, onde ele estivesse”, destaca.
Nasceu na cidade de Estrela, em 10 de abril de 1938, e 16 anos depois estava atuando na emissora local, a Rádio Alto Taquari. O adolescente, que todos os domingos freqüentava o programa de auditório, foi convidado para se apresentar e demonstrar sua habilidade musical: tocar gaita de boca. Logo, surgiu a oportunidade de fazer um teste para locutor e redator de notícias. Assim, começava a traçar sua trajetória profissional.
Era início de 1955 quando Walmor veio para Porto Alegre, morar em pensão, e foi até a emissora para falar com o diretor geral da Rádio, Dinarte Armando. O jovem fez teste para locutor com José Salimen Junior, que já trabalhava lá, e foi aprovado. “Daí começou uma amizade que vai até hoje”, relembra.
Depois disso, o diretor musical ainda descobriu que o jornalista sabia tocar gaita (harmônica) de boca. Acabou ganhando outro contrato na Farroupilha, o de solista. E conforme Walmor foi aprimorando seu desempenho na locução, foi crescendo e ganhando mais espaço. Passou a atuar, também, na redação de notícias e a fazer reportagens. Na emissora ele ficou até surgir a televisão, em 1959. Neste ano, foi um dos 16 selecionados, entre os profissionais do Diário de Notícias, Farroupilha e Difusora, a pedido de Chateaubriand, diretor dos Diários e Emissoras Associados, para ir ao Rio de Janeiro fazer um curso sobre televisão.
Na volta, com o conhecimento adquirido, integrou a equipe que instalou e inaugurou a TV Piratini em dezembro de 1959. Walmor produzia três programas e apresentava dois deles. “A TV Piratini foi a grande formadora de profissionais de televisão na década de 60, quando surgiram os três primeiros canais no Estado”, lembra, referindo-se à TV Gaúcha e TV Difusora, que surgiriam na seqüência.
No final de 1961, produziu e gravou, juntamente com Paulo Ruschel, o primeiro VT do Rio Grande do Sul. A TV Piratini já havia recebido o equipamento, mas só usaria em janeiro do próximo ano. Walmor se prontificou a estrear a tecnologia. O jornalista reuniu todos os amigos em casa para o tão esperado momento, mas ninguém conseguiu assistir. Descobriu que graças às configurações feitas pelo inexperiente técnico no estúdio, a exibição foi um fracasso. “Depois a gente ria... mas o pioneirismo tem disso”, avalia o jornalista. Antes disso, tudo era feito ao vivo.
Em
Em 1969 aceitou proposta para trabalhar na inauguração do terceiro canal de Porto Alegre: a TV Difusora. “Era irrecusável”, explica. Assumiu como superintendente geral da emissora, tratando das áreas de operação, produção e programação, ao lado de Salimen, que era responsável pela parte de mercado, administrativo e financeiro. “Mais uma vez, montamos uma equipe espetacular”, conta. Em 1972, participou da primeira transmissão a cores do Brasil, durante a Festa da Uva, em Caxias do Sul.
Após 1975 fez estágios em várias emissoras de TV nos Estados Unidos.
Nesta mesma época, em que era crescente a produção de vídeos independentes nos EUA, fez um projeto para instalação,
Até que Nelson e Maurício Sirotsky tomaram conhecimento do projeto e, neste meio tempo, enquanto não se consolidavam os apoios, Walmor foi convidado a retornar ao Grupo RBS.
“Treze anos depois, o bom filho à casa torna”, considera o jornalista.
De volta à empresa, criou a diretoria de Marketing, que teve como primeiro grande projeto mudar a marca Rede Brasil Sul de Comunicação para RBS. Depois, à medida em que foram desenvolvendo a marca, foi a vez das emissoras de televisão terem suas nomenclaturas simplificadas.
Em 1987, com uma grande reestruturação, passou a ser diretor da RBS TV para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina e, logo em seguida, superintendente de Mídia Eletrônica – Rádio e TV. Em 1990, criou a área de Novos Negócios que, a partir de projeto de televisão por assinatura, em parceria com a Globo, deu origem à Net. Assim, em 1995, através dele, surgiu a idéia da TVCom e, no ano seguinte, do Canal Rural. Em 2000 e 2001, Walmor ainda participou do projeto, com sede
Na RBS ficou até 2000 exercendo o cargo de vice-presidente da área de TV por assinatura. Hoje, acompanha de perto seu mais recente projeto, a obra “Os Televisionários Gaúchos – 50 Anos de TV no Sul”. O livro, que vai trazer o depoimento de mais de 100 protagonistas da televisão no Estado, discorrerá sobre o passado, o presente e o futuro da área, além de trazer muitas fotos de todas as épocas. A intenção do autor é lançá-lo no segundo semestre de 2009.
Atualmente, também está à frente de outro projeto, desta vez ligado à inclusão digital através de uma rede nacional de outernet. São quiosques multiuso com telefonia e Internet de fácil acesso. Sem poder falar muito, adianta que o pré-lançamento será no primeiro trimestre de 2009, numa cidade do Interior de São Paulo. Durante seis meses, a idéia será testada em 250 terminais.
É casado há 10 anos com Marilene Bittencourt, 43 anos, empresária de design de móveis. Do primeiro casamento, Walmor tem três filhos: Mylene, de 46 anos, César, 45, e Fernando, 40. Todos são empresários e moram
Não cozinha, mas aprecia degustar um bom vinho. Tem preferência pelos franceses e italianos, chilenos e argentinos. “Fora estes, somente o excelente Vila Bari, da Vinícola Barichello, do meu amigo Luiz Alberto Barichello”, brinca.
Obviamente, gosta de ler. “Eu leio muito, eu leio muito mesmo. Sobre TV, comunicação, mídia e até psicologia”, detalha. Seu projeto para o futuro é cursar Filosofia. Também pretende viajar muito mais, para conhecer lugares como a China e a Índia. Ainda quer conhecer melhor seu país de origem, a Alemanha. Portugal é um país que gostaria de, quem sabe, morar. Os lugares que conheceu, mais gostou e sempre acaba voltando são Los Angeles, Nova Iorque, Londres e Itália. “Não vou a lugares que não tenho certeza que eu vá gostar.”
Pelo menos quatro vezes por semana, Walmor pratica exercícios físicos. Para isso, tem uma academia completa
Já há alguns anos, Walmor faz meditação, acupuntura e lê muito sobre Buda. E esta é a sua filosofia de vida. “Não que eu seja budista, mas sigo muito os conceitos de tranqüilidade... viver o agora, o hoje, estar bem com a família e amigos, sempre em busca da qualidade de vida”, explica. E acrescenta que, para ele, o segredo do sucesso está em sonhar e planejar com persistência e disciplina, além de muita comunicação.
“Eu quero fazer muito mais coisas. Não me sinto realizado, mas sou muito feliz. Tenho amigos, uma família e um trabalho maravilhosos! Só faço aquilo que me desperta paixão”, afirma. “Quando fiz 60 anos, renovei meu contrato com o 'velhinho' por mais 60... ele que se vire”, conta brincando, ao mesmo tempo em que demonstra a alegria de viver e a satisfação em fazer o que gosta.
Publicado no Coletiva.net
Fotografia atual do autor por Tânia Meinerz
Potente e denso romance de Lobo Antunes, uma espécie de sinfonia literária, tonitroante, intensa, entremeada de fermatas e resultando bastante original, que nos surpreende com intensidade, comprovando aquilo que o autor afirma: "que somente ele escreve dessa maneira". O fato é genuíno e esse romance é um bom jeito de se descobrir e de se empolgar com essa forma contemporânea, muito particularizada pelo autor, de criar uma escrita algo sublime e um ritmo literário de estilo único.
(Faltam apenas três semanas... vai ser bem difícil escrever corretamente nas novas regras, mas será mesmo que alguém está verdadeiramente preocupado com isso, aqui no Brasil - em escrever com precisão...?)
Editores
José Saramago
José Saramago - Publicado no blog O Caderno de Saramago
O pintor
Fotografia: Retrato de Francis Bacon (Londres - Inglaterra) - 1979 Fotógrafo: Dmitri Kasterin
E se Obama fosse africano?
Mia Couto
Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África. Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos. Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de “nosso irmão”. E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo. Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: ” E se Obama fosse camaronês?”. As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto. E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana? 1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. 2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia. 3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente “descobriram” que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado ‘ilegalmente”. Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor. 4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. 5. Se fosse africano, o nosso “irmão” teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada “pureza africana”. Para estes moralistas - tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos. 6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Inconclusivas conclusões Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte. Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos. A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa. Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público. No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia. Mia Couto
Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.
Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um “não autêntico africano”. O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos “outros”, dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).
Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.
Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.