Quarta-feira, 31.12.08

Um brinde a um novo ano

A todos os amigos, aos blogs, a um novo ano mais simples e mais produtivo

 

 

 

 

 

ÁGUA PURA

UM LIVRO NOVO

UMA MOSTRA - APENAS PINTURA

UMA NOVA CIDADE 

publicado por ardotempo às 23:43 | Comentar | Adicionar
Terça-feira, 30.12.08

Fotografia

Thomas

 

 

Fotografia de Misha Gordin - 2005

publicado por ardotempo às 10:57 | Comentar | Adicionar

Gravura de Joan Miró

Papel

 

 

Joan Miró - Litogravura sobre papel 

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publicado por ardotempo às 10:57 | Comentar | Adicionar

Arquitetura de praia

Leveza

 

 

Arquitetura - Casa de praia em José Ignácio (Uruguay) - 2008

Fotografia de Mauro Holanda

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Retratos Notáveis - 22

 O início

 

 

 

Fotografia: Retrato de Muhammad Ali (Nova York - USA) - 1966

Fotógrafo: Thomas Hoepker

 

publicado por ardotempo às 10:46 | Comentar | Adicionar
Sexta-feira, 26.12.08

um.desenho.por.semana.02

08.dez.semana-04 

 

 

publicado por ardotempo às 06:44 | Comentar | Adicionar
Quinta-feira, 25.12.08

Os sons da floresta - Gonzaga

Escultura

 

 

Gonzaga - Os sons da floresta, em certos momentos - Escultura em bronze policromado - 1999

publicado por ardotempo às 13:56 | Comentar | Adicionar

Dois dançarinos - Henri Matisse

Da série Jazz

 

 

Dois Dançarinos - Pintura, gouache sobre cartão, recortado, colado e fixado sobre papel pintado - Henri Matisse 

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publicado por ardotempo às 13:50 | Comentar | Adicionar
Quarta-feira, 24.12.08

NovoAno

 

 

publicado por ardotempo às 23:23 | Comentar | Adicionar

No Museu

Pintura

 

 

San Sebástian - Pintura, óleo sobre tela - Sandra Gamarra (Peru)- 2008 

publicado por ardotempo às 15:26 | Comentar | Adicionar

Arquitetura - Oscar Niemeyer

Bienal de São Paulo (imagem interna) - Parque Ibirapuera SP

 

 

 

 

Arquitetura - Bienal de São Paulo (1954) - Fotografia de Mário Castello (São Paulo) 2008

publicado por ardotempo às 10:41 | Comentar | Adicionar

Retratos Notáveis - 21

 O pensador

 

 

 

 

Fotografia: Retrato de Claude Levi-Strauss (Paris - França) - 1970

Fotógrafo: Irving Penn

 

publicado por ardotempo às 02:13 | Comentar | Adicionar

Depois da Bienal do Vazio, a glória do cavalo pintor

Cavalo faz exposição individual de pintura em Veneza 

 

O animal, cujo trabalho tem impressionado o mundo das artes plásticas e é descrito como tendo a "paixão de Pollock" e o "olhar fixo de Resnick", já teve obras vendidas por mais de R$ 4,5 mil.

 

O cavalo ganhou recentemente uma menção honrosa pela obra The Big Red Buck na terceira edição do Prêmio Internacional Arte Laguna, na Itália. Em disputa, estavam mais de 3 mil obras de mais mil artistas de todo o mundo. "Cholla é muito talentoso. Tem um desenho particular, abstrato", disse à BBC Brasil Rosalba Giorcelli, diretora da Galleria Giudecca 795, que tem a exclusividade de vender as obras de Cholla fora dos Estados Unidos.
 
"Quando vi sua obra pela primeira vez, achei que se tratava de um jovem artista. Mas, ao saber que era um cavalo, fiquei surpresa e muito curiosa", disse.
 
Giorcelli está fechando os últimos detalhes da exposição individual de Cholla, que será aberta ao público em abril do próximo ano e deverá contar com cerca de 30 trabalhos. De acordo com Giorcelli, o cavalo é de propriedade da bailarina americana Renee Chambers e sua aptidão foi descoberta por acaso em maio de 2004.
 
Enquanto Chambers pintava o curral de sua propriedade em Reno, no estado americano de Nevada, o cavalo demonstrou interesse no que ela estava fazendo e seu marido teve a idéia de entregar pincéis a Cholla. Chambers então comprou papel e tinta, pôs um pincel entre os dentes dele e, desde então, Cholla não parou mais de pintar, sem permitir que ela escolha as cores ou mexa o cavalete enquanto ele trabalha. De acordo com Chambers, que estará presente na abertura da exposição em Veneza, público, artistas e críticos têm demonstrado muito entusiasmo na obra do cavalo.
 
Na ocasião, ela deverá participar de um encontro com artistas e demais interessados para debater a obra do "cavalo-artista".
 
"É um cavalo que não foi adestrado. O que ele faz é uma coisa diversa, que exprime sua vitalidade. Não podemos dizer que é arte ou menos, ou que ele seja o maior artista do século", assinala Rosalba. "Mas, com certeza, é a expressão da natureza que fala. Uma coisa que faz a gente pensar. Será uma boa oportunidade para discutirmos arte contemporânea com muita serenidade", finalizou.
 
( ARdoTEmpo: Mesmo sendo um cavalo, essa história é, na verdade, uma avacalhação total no circuito de mercado da arte contemporânea - este cavalo poderia até ter exposto a sua série de "obras originais" no ofensivo espaço da Bienal do Vazio São Paulo - observem o cavalete barroco e branco do "cavalo-artista")
 
Publicado no blog BBC Brasil

 

 

publicado por ardotempo às 01:28 | Comentar | Adicionar

Cavalos que fazem sombra no mar

 

Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar? 
 
António Lobo Antunes
 
E aqui anda a noite à roda, à roda e eu com ela como um papelinho com que o vento brinca, apanha-me, larga-me, empurra-me, corre, mais adiante, a prender-me nos dentes, esquece-se de mim, torna a lembrar-se, poisa-me uma pata em cima, vai-se embora. O vento. Em certas alturas, dantes, na casa velha dos meus pais, estremecia os caixilhos, na de Nelas batia um ramo contra a janela e eu deitado no escuro, com medo, enquanto o ramo falava sem cessar.
 
Dizendo o quê? Nunca entendi o vento.
 
Ontem, no fim do almoço das quintas-feiras no restaurante onde me junto a um grupo de amigos, o Vitorino e o Janita Salomé cantaram uma moda de Natal onde, a propósito dos Reis Magos, a letra pergunta que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar? Eles dois um grupo inteiro, a voz do Janita borda por cima da voz do irmão e nós a escutarmos, encantados. Estes dois versos não me largam: que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?
 
Gostava de usá-los como título de um livro: tocaram não sei onde, no mais fundo de mim, e eu comovido como tudo, com lágrimas dentro. Porquê? Vou repeti-los mais uma vez dado que não cessam de perseguir-me: que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar? É quase Natal, uma época em que me lembro ainda mais do meu avô. Ruas iluminadas que tornam a noite triste, grinaldas de lâmpadas, uma festa que tremelica no escuro. Há horas recebi a notícia da morte do meu editor francês, Christian Bourgois. Era meu amigo, trabalhávamos juntos há vinte anos, depois da sua operação ao cancro fui por diversas ocasiões a Paris estar com ele. Uma manhã disse-lhe
 
– És um grande editor
 
ele respondeu
 
– Não há grandes editores sem grandes autores
 
e a modéstia das suas palavras alegrou-me.
 
Tinha um imenso faro para descobrir talentos, não se tornou nunca um comerciante, os livros constituíram sempre a sua razão de ser. Não há muitos editores que eu estime e respeite. Que horrível coisa perder um amigo: e as grinaldas de lâmpadas a tremelicarem no escuro, a tremelicarem no escuro, a tremelicarem no escuro.
 
A melancolia das lâmpadas, gente por todos os lados, enervada, com pressa. Desde que cresci o Natal tornou-se uma multidão de gente enervada e com pressa. Que não fazem sombra no mar. Não fazem sombra em parte alguma, zangam-se apenas: deve tratar-se do espírito da quadra. Não fui eu que perdi um amigo, foi o Christian que perdeu tudo. Canta, Janita: que cavalos são aqueles? Negócio sinistro, o da Literatura, as maldades, os meandros, o dinheiro.
 
A quantidade de alturas em que me vêm ganas de não publicar mais nada. Isto para não falar daquilo a que chamam autores. Mas noventa e nove por cento desses, tal como a multidão de gente enervada e com pressa, não fazem sombra no mar. Há tão poucos escritores capazes disso. Canta, Vitorino: cubram-me de Alentejo até não sentir frio, de oliveiras a perder de vista, de campos. Quero ser um papelinho que o vento apanha e larga, empurra, prende nos dentes, esquece, quero um ramo contra a janela a falar sem descanso. Dá-me uma mãozinha, Janita: que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?
 
Ainda o fim-de-semana passado, na foz do Douro, ondas enormes. Um quarto para as palmeiras, as ondas. Depois das ondas ficava a espuma sozinha, pendurada no ar. Em que me penduro eu, em que nos penduramos nós? Dá-me ideia que com o tempo vou ganhando uma solidez de pedra. Mesmo ao mover-me fico. Quando eles cantam as veias do pescoço engrossam, os olhos mudam, fitando para dentro. Beja à distância, alargando-se devagar. Sinto-me eterno em Beja. O hospital cheio de doentes onde fui por causa do ouvido. Será impressão minha ou as mulheres, nas terras pequenas têm mais beleza? No Algarve, por exemplo, na Póvoa de Varzim. No Montijo, onde trabalhei no regresso de África? Pântanos, água, barcos moribundos, só costelas. Pássaros que não conhecia. Uma tarde, na margem sul do Tejo, um cavalo branco atravessou de súbito a estrada, a galope, de crina longa que dançava. Tratar-se-ia de um dos bichos da moda? Devia tratar-se dado que continua a fazer sombra em mim.
 
E agora? Acende um cigarro, António, prepara o final: uma coisa que se veja, bonita, serena. O quê? Como? Rumores, rumores, escuto silêncios que conversam, vozes que não há, escuto cheiros e cores, sinto-os na língua. E escurece: hoje é o dia mais curto do ano, vinte e um de dezembro. Dezembro com minúscula, sempre escrevi os meses com minúscula. Nasci em setembro, as vindimas sou eu. Lá vinham os carros de bois com as pipas, lentíssimos e eu a pasmar para um pedaço de mica. Os reflexos da mica.
 
A serra azul. O rápido das seis. Vagabundos a atravessarem o pinhal, cheios de raiva. De bordão e barba. Os capotes rasgados e por baixo não as camisas, a pele. Pensando bem são eles os cavalos que fazem sombra no mar, os Reis Magos. Trazem oiro, o incenso e a mirra embrulhados em papel pardo. E eu nas palhinhas, nu, a sorrir-lhes.
 
 
 
© António Lobo Antunes
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Terça-feira, 23.12.08

Mercado das Pulgas

Fotografia

 

 

Fotografia de Pierre Yves Refalo - Mercado das Pulgas  (Paris - França) 2008

publicado por ardotempo às 18:59 | Comentar | Adicionar

Acordo ignora identidades culturais

João Pereira Coutinho
 
Acordo ortográfico? Não, obrigado. Sou contra. Visceralmente contra. Filosoficamente contra. Linguisticamente contra.
 
Começo por ser contra com a força das minhas entranhas: sou incapaz de aceitar que uma dúzia de sábios se considere dono de uma língua falada por milhões.
 
Ninguém é dono da língua. Ninguém a pode transformar por capricho. Por capricho, vírgula: por mentalidade concentracionária, em busca de uma unidade que, para além de impossível, seria sinistra.
 
A língua é produto de uma história; e não foi apenas Portugal e o Brasil que tiveram a sua história, apresentando variações fonéticas, lexicais ou sintácticas; a África, Macau, Timor e Goa, que os sábios do acordo ignoram nas suas maquinações racionalistas, também têm direito a usar e a abusar da língua.
 
Quem disse que o português do Brasil é superior, ou inferior, ao português falado e escrito em Luanda, Maputo ou Dili?
 
Meu princípio filosófico: a pluralidade é um valor que deve ser estudado e respeitado. Não me incomoda que os brasileiros escrevam "ator" e "ceticismo" sem usarem o "c" ou o "p" dos lusos. Quando leio tais palavras, sei a origem delas; sinto o sabor tropical em que foram forjadas.
 
Mas exijo respeito. Exijo que respeitem o "actor" português e o "cepticismo" luso com o "c" e o "p" que o Brasil elimina.
 
Os sábios discordam. E dizem que a ortografia é simples transcrição fonética, ou de "pronúncia". Se ninguém lê "actor", com acentuação no "c", por que motivo mantê-lo? Sim, por que motivo manter esse "c" arcaico que só atrapalha a unidade da língua?
 
Lamento. Eu gosto do "c" do "actor", do "p" de "cepticismo". Eles representam um património, uma história. Uma pegada etimológica que faz parte de uma identidade cultural. Mas o "c" e o "p" não são apenas antiguidades de uma ortografia; como relembrou recentemente o poeta português Vasco Graça Moura, esses "c" e "p" abrem a vogal que os antecede e fornecem informação para pronunciar correctamente as palavras. Acordo ortográfico? O gesto é prepotente e apedeuta. Aceitar essa aberração filosófica e linguística, impensável para ingleses (ou franceses), significa apenas que a irmandade entre Portugal e o Brasil continua a ser a irmandade do atraso.
 
 
João Pereira Coutinho
 
Publicado no Blog Verdes Trigos 
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publicado por ardotempo às 15:31 | Comentar | Adicionar

Aforismo Borgesiano - 48

 Minotauro

 

"O Minotauro combina muitos traços diversos ou contraditórios. Tem algo de animal, algo de humano e até mesmo algo de divino. Comete crimes, mas sente-se inocente porque está inconsciente do que faz. Confessa sua ignorância mas orgulha-se dela. É tão magnânimo que não sabe ler."

 

 

©Jorge Luis Borges / Borges Verbal, Emecé Editores – Buenos Aires Argentina

publicado por ardotempo às 14:05 | Comentar | Adicionar

Riscos para a floresta, para os humanos e para os animais

O lado B do etanol 

 

A cada ano a safra da cana-de-açúcar bate recordes na mesma proporção em que cresce sua importância estratégica para o País. Ao mesmo tempo, o avanço da monocultura e a mecanização da lavoura ameaçam ecossistemas como o Cerrado e a Mata Atlântica, enquanto as condições de trabalho continuam duríssimas. Acompanhar os impactos sociais, ambientais e trabalhistas deste setor é um dos objetivos do Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis, braço da ONG Repórter Brasil, que publica o relatório O Brasil dos Agrocombustíveis, Cana-de-Açúcar 2008 no dia 7 de janeiro. 

Para concluir o trabalho, ainda inédito, a equipe do CMA visitou estados como Alagoas, Pernambuco, Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo e Acre. “Estivemos tanto em áreas onde a cultura da cana está consolidada com modos de produção modernos ou arcaicos como nas áreas das novas fronteiras”, explica Marcel Gomes, coordenador da equipe. Além das visitas de campo, onde colhiam dados e relatos de quem vive da cana, os pesquisadores ouviram especialistas e cruzaram as informações mais recentes sobre o setor. 

A apresentação começa pelo Centro-Sul, que concentra 87,8% de toda a cana produzida no País e detém 372 das 447 usinas cadastradas na Agência Nacional do Petróleo (ANP). Mais da metade delas, ou 230, estão no Estado de São Paulo. 

O relatório alerta para a ameaça ao bioma do Cerrado. “Há várias usinas circundando a região do Pantanal”, diz Gomes. “Cada região estudada apresenta um tipo de problema ambiental, sempre como conseqüência do avanço da monocultura.” 

No Nordeste, onde foi introduzida no século XVI, a cana ainda é produzida de maneira menos mecanizada que no Centro-Sul. O impacto disso aparece nas condições de trabalho e moradia dos canavieiros. Em março deste ano, uma força-tarefa do Ministério Público do Trabalho em Alagoas teve de autuar 12 das 15 usinas fiscalizadas. Uma ação do MPT em Pernambuco autuou o prefeito de Palmares, Beto da Usina. Aos jornais, o advogado José Hamilton Lins admitiu as condições precárias de trabalho, que considerou “parte de uma cultura colonial que precisa de tempo para se adequar às novas regras trabalhistas”. 

Além do problema trabalhista, o relatório dimensiona a extensão dos impactos no meio ambiente. De acordo com o Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), a cana é responsável por 95% do desmatamento da Mata Atlântica na região. Em 2008, o Ibama multou 24 usinas por crime ambiental apenas em Pernambuco. A maior parte, por desrespeitar áreas de proteção permanente (APPs) ou por não preservar a reserva legal proporcional de mata nativa. 

A terceira região abordada no relatório é a Amazônia, onde, ainda que a cana-de-açúcar não seja muito difundida, está em expansão. “O problema é que o zoneamento (ecológico-econômico) ainda não foi concluído. Mas existe uma pressão forte para que o governo barre a cana na região ao proibir que novas usinas se instalem”, prevê Gomes. Ainda há relativamente poucas usinas na região. Algumas, como a Álcool Verde, pertencente ao Grupo Farias, do deputado federal Augusto Farias (PTB-AL), foram embargadas pela Justiça. Apesar de instalada, está paralisada por apresentar diversos desacordos com a legislação ambiental.

 

 

 

Publicado em Carta Capital

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Segunda-feira, 22.12.08

Uma esperança para um mundo torto

Metamorfose

 

Algo mudará

ou estaremos mergulhados

no caos e na extinção

dos valores humanos.

Seria o fim, previsível.

 

Talvez ainda exista uma chance,

ainda há alguém fazendo

arte verdadeira,

escrevendo poesia,

distante dos

mercados.

 

A cultura, menosprezada

pelo poder, pela força,

pelo pragmatismo

da grana,

pelos sistemas,

talvez um dia renasça.

 

Antídoto à barbárie

banalizada.

Como se fosse um sonho,

uma mudança.

Seria o recomeço, improvável.

 

 

Sim, nós podemos...ainda podemos?

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Arquitetura - Oscar Niemeyer

Pórtico de entrada do Auditório Ibirapuera 

 

 

 

Arquitetura - Oscar Niemeyer - Fotografia de Pierre Yves Refalo (São Paulo) - 2008

publicado por ardotempo às 12:12 | Comentar | Adicionar

João Fahrion - Pintura

Óleo sobre tela

 

 

Sem Título - João Fahrion - Pintura em grande formato, óleo sobre tela - 1961

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Domingo, 21.12.08

Walmor Bergesch - Visionário da TV

Um protagonista do telejornalismo

Entrevista concedida à Coletiva.net

O jornalista, radialista e empresário Walmor Bergesch é uma personagem que faz parte da história da televisão no Estado RS e no Brasil, desde o seu início. Muito jovem, recém-chegado do Interior, foi um dos profissionais que atuou na instalação e na inauguração das três primeiras emissoras de TV de Porto Alegre, além de ter participado da primeira transmissão a cores do Brasil. “Este impacto foi imensurável”, avalia, sobre o surgimento da nova mídia, na época.

 

Autodidata, sempre estudou muito sobre TV: assinava exatamente 40 revistas, americanas e européias. “Eu sempre busquei o conhecimento, onde ele estivesse”, destaca.

 

Nasceu na cidade de Estrela, em 10 de abril de 1938, e 16 anos depois estava atuando na emissora local, a Rádio Alto Taquari. O adolescente, que todos os domingos freqüentava o programa de auditório, foi convidado para se apresentar e demonstrar sua habilidade musical: tocar gaita de boca. Logo, surgiu a oportunidade de fazer um teste para locutor e redator de notícias. Assim, começava a traçar sua trajetória profissional.

Era início de 1955 quando Walmor veio para Porto Alegre, morar em pensão, e foi até a emissora para falar com o diretor geral da Rádio, Dinarte Armando. O jovem fez teste para locutor com José Salimen Junior, que já trabalhava lá, e foi aprovado. “Daí começou uma amizade que vai até hoje”, relembra.

Depois disso, o diretor musical ainda descobriu que o jornalista sabia tocar gaita (harmônica) de boca. Acabou ganhando outro contrato na Farroupilha, o de solista. E conforme Walmor foi aprimorando seu desempenho na locução, foi crescendo e ganhando mais espaço. Passou a atuar, também, na redação de notícias e a fazer reportagens. Na emissora ele ficou até surgir a televisão, em 1959. Neste ano, foi um dos 16 selecionados, entre os profissionais do Diário de Notícias, Farroupilha e Difusora, a pedido de Chateaubriand, diretor dos Diários e Emissoras Associados, para ir ao Rio de Janeiro fazer um curso sobre televisão. 

Na volta, com o conhecimento adquirido, integrou a equipe que instalou e inaugurou a TV Piratini em dezembro de 1959. Walmor produzia três programas e apresentava dois deles. “A TV Piratini foi a grande formadora de profissionais de televisão na década de 60, quando surgiram os três primeiros canais no Estado”, lembra, referindo-se à TV Gaúcha e TV Difusora, que surgiriam na seqüência. 

No final de 1961, produziu e gravou, juntamente com Paulo Ruschel, o primeiro VT do Rio Grande do Sul. A TV Piratini já havia recebido o equipamento, mas só usaria em janeiro do próximo ano. Walmor se prontificou a estrear a tecnologia. O jornalista reuniu todos os amigos em casa para o tão esperado momento, mas ninguém conseguiu assistir. Descobriu que graças às configurações feitas pelo inexperiente técnico no estúdio, a exibição foi um fracasso.  “Depois a gente ria... mas o pioneirismo tem disso”, avalia o jornalista. Antes disso, tudo era feito ao vivo.

Em 1962, a TV Gaúcha estava se preparando pra entrar no ar. A convite de Maurício Sirotsky, o fundador do Grupo RBS, o profissional foi chamado para atuar na inauguração da emissora como chefe de programação. “Foram momentos de grandes inovações. Nós recrutamos os melhores profissionais. Foi uma experiência muito boa”, considera. Em 1967, viajou para os Estados Unidos para conhecer emissoras e aprender tudo o que faltava sobre televisão.

Em 1969 aceitou proposta para trabalhar na inauguração do terceiro canal de Porto Alegre: a TV Difusora. “Era irrecusável”, explica. Assumiu como superintendente geral da emissora, tratando das áreas de operação, produção e programação, ao lado de Salimen, que era responsável pela parte de mercado, administrativo e financeiro. “Mais uma vez, montamos uma equipe espetacular”, conta. Em 1972, participou da primeira transmissão a cores do Brasil, durante a Festa da Uva, em Caxias do Sul. 

Após 1975 fez estágios em várias emissoras de TV nos Estados Unidos.

Nesta mesma época, em que era crescente a produção de vídeos independentes nos EUA, fez um projeto para instalação, em São Paulo, da primeira produtora independente de vídeos no Brasil. Mais uma vez em parceria com Salimen, passou a buscar recursos e apresentar a idéia a investidores.

Até que Nelson e Maurício Sirotsky tomaram conhecimento do projeto e, neste meio tempo, enquanto não se consolidavam os apoios, Walmor foi convidado a retornar ao Grupo RBS. 

Treze anos depois, o bom filho à casa torna”, considera o jornalista.

De volta à empresa, criou a diretoria de Marketing, que teve como primeiro grande projeto mudar a marca Rede Brasil Sul de Comunicação para RBS. Depois, à medida em que foram desenvolvendo a marca, foi a vez das emissoras de televisão terem suas nomenclaturas simplificadas. 

Em 1987, com uma grande reestruturação, passou a ser diretor da RBS TV para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina e, logo em seguida, superintendente de Mídia Eletrônica – Rádio e TV. Em 1990, criou a área de Novos Negócios que, a partir de projeto de televisão por assinatura, em parceria com a Globo, deu origem à Net. Assim, em 1995, através dele, surgiu a idéia da TVCom e, no ano seguinte, do Canal Rural. Em 2000 e 2001, Walmor ainda participou do projeto, com sede em São Paulo, de implantação e operacionalização da TV a cabo, com fundos americanos e sócios brasileiros, no Nordeste.

 

Na RBS ficou até 2000 exercendo o cargo de vice-presidente da área de TV por assinatura. Hoje, acompanha de perto seu mais recente projeto, a obra “Os Televisionários Gaúchos – 50 Anos de TV no Sul”. O livro, que vai trazer o depoimento de mais de 100 protagonistas da televisão no Estado, discorrerá sobre o passado, o presente e o futuro da área, além de trazer muitas fotos de todas as épocas. A intenção do autor é lançá-lo no segundo semestre de 2009.

Atualmente, também está à frente de outro projeto, desta vez ligado à inclusão digital através de uma rede nacional de outernet. São quiosques multiuso com telefonia e Internet de fácil acesso. Sem poder falar muito, adianta que o pré-lançamento será no primeiro trimestre de 2009, numa cidade do Interior de São Paulo. Durante seis meses, a idéia será testada em 250 terminais.

É casado há 10 anos com Marilene Bittencourt, 43 anos, empresária de design de móveis. Do primeiro casamento, Walmor tem três filhos: Mylene, de 46 anos, César, 45, e Fernando, 40. Todos são empresários e moram em Santa Catarina.Tem cinco netos, com idades entre 21 e dois anos. Em casa, duas vezes ao ano, realiza saraus musicais beneficentes. Cada convidado leva alguns quilos de alimentos não perecíveis, destinado a instituição beneficiente específica.

Não cozinha, mas aprecia degustar um bom vinho. Tem preferência pelos franceses e italianos, chilenos e argentinos. “Fora estes, somente o excelente Vila Bari, da Vinícola Barichello, do meu amigo Luiz Alberto Barichello”, brinca. 

Obviamente, gosta de ler. “Eu leio muito, eu leio muito mesmo. Sobre TV, comunicação, mídia e até psicologia”, detalha. Seu projeto para o futuro é cursar Filosofia. Também pretende viajar muito mais, para conhecer lugares como a China e a Índia. Ainda quer conhecer melhor seu país de origem, a Alemanha. Portugal é um país que gostaria de, quem sabe, morar. Os lugares que conheceu, mais gostou e sempre acaba voltando são Los Angeles, Nova Iorque, Londres e Itália. “Não vou a lugares que não tenho certeza que eu vá gostar.”

Pelo menos quatro vezes por semana, Walmor pratica exercícios físicos. Para isso, tem uma academia completa em casa. Também faz corrida três vezes por semana. Gosta muito de viajar e passear com a esposa na Serra e no litoral catarinense, para visitar os filhos.

Já há alguns anos, Walmor faz meditação, acupuntura e lê muito sobre Buda. E esta é a sua filosofia de vida. “Não que eu seja budista, mas sigo muito os conceitos de tranqüilidade... viver o agora, o hoje, estar bem com a família e amigos, sempre em busca da qualidade de vida”, explica. E acrescenta que, para ele, o segredo do sucesso está em sonhar e planejar com persistência e disciplina, além de muita comunicação.

“Eu quero fazer muito mais coisas. Não me sinto realizado, mas sou muito feliz. Tenho amigos, uma família e um trabalho maravilhosos! Só faço aquilo que me desperta paixão”, afirma. “Quando fiz 60 anos, renovei meu contrato com o 'velhinho' por mais 60... ele que se vire”, conta brincando, ao mesmo tempo em que demonstra a alegria de viver e a satisfação em fazer o que gosta. 

 

Publicado no Coletiva.net

Fotografia atual do autor por Tânia Meinerz

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publicado por ardotempo às 17:08 | Comentar | Adicionar

Na pegada, há um rastro de óleo

A Razão Cínica
 
Luis Fernando Verissimo
 
Sei não, mas o Bush se esquivou muito bem daquele sapato. O primeiro, que passou rente à sua cabeça, não o segundo, que não chegou perto. Todo presidente americano deve estar sempre pronto para se abaixar, rápido. O reflexo condicionado é transmitido junto com o cargo desde o sucessor do Lincoln. Bush certamente não esperava ser alvejado numa entrevista coletiva em Bagdá, cercado por tropas americanas. Ainda mais habituado como está com os correspondentes na Casa Branca, que raramente lhe atiram uma pergunta mais pesada. Mas o reflexo funcionou. Depois ele declarou que só podia dizer que o sapato não era do seu tamanho e pediu que não castigassem o atirador. Uma boa piada, um simpático apelo à tolerância.
 
É difícil escolher o que é mais grotesco no episódio. A sapatada - compreensível, mas fruto de uma extrapolação, digamos, desaconselhável do papel crítico da imprensa - ou a bonomia do Bush. Não sei quantos americanos e iraquianos já morreram depois da invasão do Iraque por ordem do Bush. Mas o Bush é um bom sujeito, faz piada sobre o seu susto, pede clemência para o agressor. Vez que outra vemos fotos de alguns dos milhares de soldados americanos que voltaram do Iraque em pedaços, sem membros, sem rosto, e só podemos imaginar os muitos milhares de iraquianos, incluindo crianças, mutilados pela guerra do Bush. Mas o Bush é simpático e democrático. Poderia dizer que foi pelo direito de os iraquianos irem à rua se manifestar a favor da sapatada, como está acontecendo, que a carnificina continua. Nem sei se até não pediu que devolvessem os sapatos do rapaz.
 
Li, não faz muito, um artigo sobre a chamada "razão cínica" - em contraste com as razões oficiais fictícias e as geopolíticas sinceras - da invasão do Iraque pelos Estados Unidos, nada mais simples do que o acesso garantido ao seu petróleo. Uma obviedade negada tanto pelos que a apoiavam como uma ação altruísta contra a tirania quanto pelos que denunciavam interesses ainda mais obscuros do que o petróleo. E o artigo acabava sendo uma defesa do Bush. A "razão cínica" era a única razão lógica e plausível, mesmo que amoral, que lhe restava. As armas de destruição em massa prestes a serem usadas por Saddam Hussein não existiam. A ligação do regime iraquiano com a al-Qaeda não existia. Ninguém mais nega que a invasão foi preparada e lançada baseada em mentiras e informação deturpada. Nem o Bush, embora ele chame o engodo de "inteligência falha". E se o objetivo era apenas livrar o mundo de um tirano, por que começar, ou parar, com Saddam? Já a carnificina para assegurar o petróleo num mundo em que o acesso à energia ditará a História, pelo menos faz sentido.
 
Bush está perto de se aposentar no seu rancho do Texas. Não há nada parecido com um tribunal por crimes de guerra no seu futuro, ou no de Cheney, Rumsfeld e os outros. Todos, com maior ou menor grau de simpatia, sabem se esquivar.
 
 
 
© Luis Fernando Verissimo
publicado por ardotempo às 14:21 | Comentar | Adicionar
Sábado, 20.12.08

Os três livros do ano

Cronópios
 
Fui convidado pelo editor e escritor Edson Cruz, de Cronópios a indicar os meus três livros, do ano de 2008. Aí estão eles:
 
Machado e Borges - Luís Augusto Fischer - Arquipélago Editorial
 
 
Um notável ensaio sobre Machado de Assis e Jorge Luis Borges, escrito com lucidez e profundidade e que aponta com frescor, leveza e contemporaneidade, luzes e identidade sobre os dois grandes autores latino-americanos.
Escolhido como o Prêmio Livro do Ano Açorianos 2008.
 
Paris não tem fim - Enrique Vila Matas - Cosac Naify
 
 
Um romance magnético sobre Paris, que é a comprovação pelo autor que Paris é sempre singular e individual, a cidade que é a de seu habitante ou visitante, peculiar e intransferível, seja ela a de Hemingway, a do próprio Vila Matas, a de Kafka ou a do leitor. Vale no final a imaginação de quem a interpreta, de quem a decodifica e essa será a verdadeira e definitiva Paris. Um grande livro.
 
O meu nome é Legião - António Lobo Antunes - Dom Quixote (Lisboa)
 
 

Potente e denso romance de Lobo Antunes, uma espécie de sinfonia literária, tonitroante, intensa, entremeada de fermatas e resultando bastante original, que nos surpreende com intensidade, comprovando aquilo que o autor afirma: "que somente ele escreve dessa maneira". O fato é genuíno e esse romance é um bom jeito de se descobrir e de se empolgar com essa forma contemporânea, muito particularizada pelo autor, de criar uma escrita algo sublime e um ritmo literário de estilo único. 

publicado por ardotempo às 17:10 | Comentar | Adicionar

Vai começar...será difícil

(Faltam apenas três semanas... vai ser bem difícil escrever corretamente nas novas regras, mas será mesmo que alguém está verdadeiramente preocupado com isso, aqui no Brasil - em escrever com precisão...?)

 
Cadê o trema?
 
Está chegando a hora. Prepare-se para a despedida do trema, do acento circunflexo em alguns casos e do acento agudo em outros. Pois é, o Acordo Ortográfico  de 1990 demorou, mas finalmente saiu dos debates e chega aos livros, jornais, revistas e outros textos. Começa em janeiro de 2009 – e vai até dezembro de 2010 – o período de transição para a nova ortografia.
 
As editoras e os meios de comunicação estão se mexendo para que as publicações já estejam com a nova escrita a partir de janeiro de 2009, embora ainda haja algumas questões em discussão – mas essas discussões devem ser longas, melhor não esperar por um consenso tão já. Uma vez feitas as escolhas nos casos “a definir”, é possível resolver a maioria das trocas de ideias, frequentes, joias, aguentaram, veem, zoo, sobrevoo e até as coedições, coautoria, ultrarromanticos, pseudoalunos... com processos automatizados. 
 
Publicado no Blog Verdes Trigos 
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publicado por ardotempo às 13:42 | Comentar | Ler Comentários (3) | Adicionar

um.desenho.por.semana

08.dez.semana-03 

 

publicado por ardotempo às 13:30 | Comentar | Adicionar

Saramago e os editores

Editores

 

José Saramago

 

Voltaire não tinha agente literário. Não o teve ele nem nenhum escritor do seu tempo e de largos tempos mais. O agente literário simplesmente não existia. O negócio, se assim lhe quisermos chamar, funcionava com dois únicos interlocutores, o autor e o editor. O autor tinha a obra, o editor os meios para publicá-la, nenhum intermediário entre um e outro. Era o tempo da inocência.
 
Não quer isto dizer que o agente literário tenha sido e continue a ser a serpente tentadora nascida para perverter as harmonias de um paraíso que, verdadeiramente, nunca existiu. Porém, directa ou indirectamente, o agente literário foi o ovo posto por uma indústria editorial que havia passado a preocupar-se muito mais com um descobrimento em cadeia de best-sellers que com a publicação e a divulgação de obras de mérito. Os escritores, gente em geral ingénua que facilmente se deixa iludir pelo agente literário do tipo chacal ou tubarão, correm atrás de promessas de vultosos adiantamentos e de promoções planetárias como se disso dependesse a sua vida. E não é assim. Um adiantamento é simplesmente um pagamento por conta, e, quanto a promoções, todos temos a obrigação de saber, por experiência, que as realidades ficam quase sempre aquém das expectativas. 
 
Estas considerações não são mais que uma modesta glosa da excelente conferência pronunciada por Basílio Baltasar em finais de Novembro no México, com o título de “A desejada morte do editor”, na sequência de uma entrevista dada a “El País” pelo famoso agente literário Andrew Willie. Famoso, digo, embora nem sempre pelas melhores razões. Não me atreveria, nem seria este o lugar adequado, a resumir as pertinentes análises de Basilio Baltasar a partir da estulta declaração do dito Willie de que “O editor é nada, nada” e que me recorda as palavras de Roland Barthes quando anunciou a morte do autor…
 
Afinal, o autor não morreu, e o ressurgimento do editor amante do seu trabalho está nas mãos do editor, se assim o quiser. E também nas mãos dos escritores a quem vivamente recomendo a leitura da conferência de Basilio Baltasar, que deverá ser publicada, e um seu consequente debate.

 

 

 

José Saramago - Publicado no blog O Caderno de Saramago 

publicado por ardotempo às 13:27 | Comentar | Adicionar

Pintura - Robert Motherwell

Pintura

 

 

 

Robert Motherwell - Sem título - Pintura, óleo sobre tela - Sem data

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publicado por ardotempo às 13:12 | Comentar | Adicionar
Sexta-feira, 19.12.08

Retratos Notáveis - 20

O pintor

 

 

 

Fotografia: Retrato de Francis Bacon (Londres - Inglaterra) - 1979

Fotógrafo: Dmitri Kasterin

publicado por ardotempo às 15:34 | Comentar | Adicionar

Mia Couto observa desde África

E se Obama fosse africano?

 

Mia Couto

 

 

Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.

Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.

Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de “nosso irmão”. E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.

Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: ” E se Obama fosse camaronês?”. As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.

E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?

1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente.
Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.

2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.

3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente “descobriram” que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado ‘ilegalmente”. Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.

4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato.
Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um “não autêntico africano”. O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos “outros”, dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).

5. Se fosse africano, o nosso “irmão” teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada “pureza africana”. Para estes moralistas - tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.

6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos.
Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.

Inconclusivas conclusões

Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.

Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.

A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.

Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.

No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política.
Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.

Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.

Mia Couto 

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publicado por ardotempo às 10:43 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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