Sábado, 29.11.08

Abstração

Fotografia

 

 

Fotografia - Martin Parr (Moscou, Rússia) - 2007

publicado por ardotempo às 18:46 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Retratos Notáveis - 18

O escultor do Sul

 

 

 

Fotografia: Retrato de Gonzaga (Porto Alegre -RS) - 2008

Fotógrafo: Pierre Yves Refalo 

publicado por ardotempo às 18:29 | Comentar | Adicionar

Catedral em Prosa

A catedral em prosa de Rainer Maria Rilke
 
Mariana Ianelli
 
Anos atrás, relendo o livro de um dos mais influentes autores de língua alemã do início do século 20, José Saramago viu surgir o embrião da idéia que o levaria a escrever "As intermitências da morte". Tratava-se do romance "Os cadernos de Malte Laurids Brigge", de Rainer Maria Rilke, de volta às livrarias brasileiras após décadas fora de catálogo, pela editora Novo Século, na tradução de Lya Luft. A considerar o lançamento não menos recente, em coletâneas até então inéditas em português, de algumas das inúmeras cartas escritas por Rilke ao longo da vida, aos poucos vai se ampliando o espectro da obra deste que foi, além de autor dos célebres "Sonetos a Orfeu" e "Elegias de Duíno", um insaciável epistológrafo e contista. 
 
Em uma carta a Rodin, datada de 1908, época em que ainda compunha "Os cadernos", Rilke se refere à prosa como uma "catedral" que deve ser construída para a solidão da consciência. Com essa mesma imagem, pode-se definir a trama de seu romance, tecida pelos relatos de amor e de morte do jovem Malte Laurids Brigge, cujas incursões pelas ruas de Paris e lembranças de infância fundem-se na construção de um único edifício. Pois é dentro desse espaço imaginário de luz e de sombra, sensações e pensamentos, que se torna real o testemunho de uma existência. 
 
Durante o período em que o livro é escrito, entre 1904 e 1910, Rilke também conclui os poemas de "O Livro de Horas" (1905) e "Cartas a um jovem poeta" (1908). No mesmo intervalo, precisamente em 1907, a visita a uma exposição de Cézanne, no Grand Palais, em Paris, deixa-o de tal modo impactado com a obra e a vida desse artista que ele acaba por aprofundar em seu trabalho fortes relações entre pintura e poesia. Essas reverberações e nuances são reconhecíveis em muitas passagens de "Os cadernos", que não deixam de suscitar ainda um intenso diálogo do autor com os poetas que ele lê e admira, como Jacobsen e Baudelaire. 
 
Fechando um pouco mais o foco sobre tais influências, há uma síntese poética presente no romance que perpassa toda a atividade literária de Rilke - andaimes, por assim dizer, que erigem e abrigam sua catedral e outros escritos: da vida monástica, da peregrinação, da morte e da pobreza. Eis aí as partes que subdividem "O Livro de Horas", e que, juntas, permitem entrever o caminho interno que o escritor percorreu desde muito jovem, com uma espiritualidade extracristã, até chegar aos seus últimos sonetos e elegias. Marina Tsvetáïeva, em uma carta enviada ao poeta poucos meses antes de sua morte, em 1926, reconhece nessa síntese de natureza humana "uma topografia da alma" impossível de ser desmembrada, algo que "pode ser visto pelo mais simples camponês - com os seus olhos -, atestado. O milagre: o intocável, o inacessível". 
 
Com efeito, Rilke é um entusiasta da totalidade inseparável da vida e da morte, do terreno e do maravilhoso, do efêmero e do sublime. Toda experiência de queda ou de perda tem para ele uma força atuante que deve ser assimilada e sofrida. Posse e tarefa de cada um, a morte não é falta, e sim abundância, maturação diária, um compromisso do humano com o que lhe é humanamente inapreensível. Apenas a compreensão maior de uma existência que não exclui nem o abjeto, nem o terrível, pode fazer justiça ao amor, em tudo o que nele é também transbordante e partícipe da vida. Cioso dessa tarefa de admirar cada coisa conforme seu peso, e cada vivência de acordo com sua velocidade, Rilke se aferra ao trabalho solitário e cotidiano da escrita, orientado pelo mesmo ímpeto com que Cézanne se dedicou à pintura, colocando a si próprio em risco, sem recuar diante do difícil.
 
 
 
Os episódios de morte, em "Os cadernos", a exemplo da emblemática agonia do Camareiro Brigge, e as marcas do sobrenatural, também constantes nos contos do autor, falam de uma mesma reconciliação com algo prodigioso, que excede a dimensão do inteligível. O relato do herói, quando criança, diante do armário de fantasias traz outra imagem relevante desse encontro com o desconhecido, que, não por acaso, remete aos famosos versos de Álvaro de Campos, no poema Tabacaria: "Quando quis tirar a máscara / Estava pegada à cara". 
 
Além disso, cabe destacar no romance o olhar revelador de Rilke sobre seu tempo, registro de uma modernidade hostil aos valores do passado e expatriada da noção do divino. Entram aí os retratos da juventude parisiense, as reflexões do narrador em tom de missiva, nas quais ecoam as páginas de Cartas a um jovem poeta, e, finalmente, o belíssimo trecho sobre a procura do amor na parábola do filho pródigo ao final do livro. 
 

Atravessando o espaço de quase um século, o ressurgimento de Os cadernos recupera para a atualidade, nas palavras visionárias de Malte Laurids Brigge, a interrogação de um poeta que, mais uma vez, impõe sua urgência e faz pensar: "Quem, hoje, dá valor a uma morte bem executada? Até os ricos, que poderiam dar-se ao luxo de morrer bem, começam a se mostrar relaxados, indiferentes; faz-se cada vez mais raro ter uma morte particular. Mais um pouco e será tão raro quanto ter uma vida particular". 

 

 

© Mariana Ianelli , 2008 - Poeta, autora de Almádena, Fazer Silêncio, Passagens, Duas Chagas e Trajetória de Antes - Iluminuras

Publicado no Blog Prosa On Line

publicado por ardotempo às 16:57 | Comentar | Adicionar

Poema inédito de Mariana Ianelli

Pompéi
 
Étrange matin de Pompéi,
Nous nous embrassons comme une araignée.
Nous avons tout le temps et le temps s’écoule,
Dans une minute le passé élabore
Le musée du futur.
 
Nous pouvons encore aimer la maison,
Remplir les tasses,
Inventer quelque petit désir
Avec l’air d’importance.
 
Quelque gracieuse rêverie
Nous pouvions, s’il faudrait,
Un trou d’oubli
Où toutes les choses cachent la mémoire.
 
Nous avons preferé le moment tout blanc,
L’art bien soignée de la sculpture.
 
N’importe pas le visage effrayé,
Le corps sans occasion de fuite.
Arretera la rafale de poussière,
La fièvre arretera et l’ombre.
 
N’arretera plus ma solitude en secouriant la tienne. 
 
 

© Mariana Ianelli, 2008 

 

 


 

Fotografia de Mário Castello

publicado por ardotempo às 16:01 | Comentar | Adicionar

A página infinita da internet

O blog de José Saramago

 

Acabamos de sair da conferência de imprensa de São Paulo, a colectiva, como dizem aqui.
 
Surpreende-me que vários jornalistas me tenham perguntado pela minha condição de blogueiro quando tínhamos atrás o anúncio de uma exposição estupenda, a que é organizada pela Fundação César Manrique no Instituto Tomie Ohtake, com os máximos representantes e patrocinadores, e com a apresentação de um novo livro à vista. Mas a muitos jornalistas interessava-lhes a minha decisão de escrever na “página infinita da Internet”.
 
Será que, aqui, melhor dito, nos assemelhamos todos? É isto o mais parecido com o poder dos cidadãos? Somos mais companheiros quando escrevemos na Internet? Não tenho respostas, apenas constato as perguntas. E gosto de estar escrevendo aqui agora. Não sei se é mais democrático, sei que me sinto igual ao jovem de cabelo alvoroçado e óculos de aro, que com os seus vinte e poucos anos, me questionava. Seguramente para um blog.
 
José Saramago 

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publicado por ardotempo às 13:36 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

O Elefante cruzou o Atlântico

Novo livro de José Saramago

 

A Viagem do Elefante

 

 

De viagem, e não mais do que isso, trata o novo livro do Nobel da Literatura português. A data de lançamento do livro não será alheia ao facto de se comemorarem dez anos sobre o mês em que foi anunciado o nome de Saramago para o prémio, que se lembrou no passado mês de Outubro com numerosas reedições e promoções sobre as antigas edições do autor, nem à estreia nas salas portuguesas da adaptação ao cinema por Fernando Meirelles do Ensaio Sobre a Cegueira que acontece depois de amanhã. Não será, certamente, o livro alheio a isto mas a história é. E, como comecei logo por dizer, a história não é mais do que uma viagem. Uma longa, não tão longa assim, viagem.
 
E aqui, logo após uma pequena introdução ao livro ou ao autor ou ao motivo que me moveu a ler determinada obra, tenho por costume dedicar umas quantas linhas à curta sinopse do enredo. O que neste caso me está a causar celeuma é que as linhas serão ainda mais curtas do que o habitual, e daí este introdutório anormal, porque história tão simples é difícil de encontrar. Talvez por isso o próprio autor se recuse a qualificar A Viagem do Elefante como um romance, preferindo a designação mais modesta, ou não, de conto.
 
Algures pelo século XVI, e aqui começam as dúvidas, é isto um livro de características históricas ou não, digo-vos eu que não, não é, os factos verdadeiros, ou assim descritos pelos documentos que aos dias de hoje, não encheriam nem uma página, nas palavras do próprio Saramago, dizia eu que algures no século XVI, D. João III de Portugal decide presentear o seu primo Arquiduque Maximiliano da Áustria com um elefante indiano que estava há dois anos em Lisboa, vindo de Goa. Feitas as necessárias diligências burocráticas, elefante e restante comitiva, não esquecendo, é claro, o seu tratador, o cornaca Subhro, partem para Figueira de Castelo Rodrigo onde será entregue à comitiva austríaca que aí o iria receber. Em terrenos espanhóis, até Vallaidolid, uma escolta luso-austríaca acompanha o paquiderme à presença real para este ser entregue ao novo dono que estava, até aquela data, em Espanha.
 
Os portugueses voltam à pátria com a sensação de dever cumprido, e Subhro, que agora se chamará Fritz a mando do Arquiduque, tal como Salomão se passará a chamar Solimão, mais os Arquiduques e restante séquito atravessam a Europa em direcção à Viena de destino. Isto é o enredo e, como se vê, não é mais do que uma viagem de um elefante, como tão bem está descrito no título do livro.
 
Incrível é como um livro tão curto, em comparação com outros do mesmo autor, pode ter tanto para ser dito acerca dele. Há quem diga que este é o melhor Saramago dos últimos dez anos, por exemplo aqui, mas pessoalmente sinto-me incapaz de corroborar ou descartar tal afirmação pelo simples facto de que não li todos os livros que o autor escreveu na última década, ou para ser mais preciso, não li nenhum, o que é uma afirmação perigosa da minha parte dado a declarada admiração que nutro pelo senhor de oitenta e cinco anos de idade, mas, enfim, não sendo uma parte maioritária da obra, cinco livros dão-me a força suficiente para arriscar tal admiração.
 
Agora, mesmo não podendo dizer que este é o melhor dos últimos anos, posso dizer que este é um Saramago ao nível do seu melhor (Ensaio Sobre a Cegueira, O Ano da Morte de Ricardo Reis), onde o autor apresenta uma visão singular, bem mais leve e despreocupada, até despretenciosa se quiserem, sobre a vida numa metáfora simples, a viagem de um elefante, do que fez nos últimos tempos. Talvez este seja o livro indicado para calar os críticos que o acusam de escrever sempre a mesma coisa, este é um livro bem diferente do dos cegos, mantendo, no entanto, o discurso tão característico que me apaixonou.
 
 
A metáfora é simples e clara: a vida é um elefante em viagem desde Goa, onde nasceu, até Viena, onde há-de morrer. Na vida temos um cornaca que olha por nós e nos ensina coisas, temos um ou mais senhores com poder sobre nós, e temos a oportunidade de fazer milagres, dependendo da nossa vontade. A viagem é carregada de pessoas que a atravessam. Esta é, para mim, a interpretação não literal mais literal que se pode fazer com o livro amarelo. Não me aventuro em mais do que isto porque nem o adiantado da hora a que escrevo, nem a minha falta de capacidade para penetrar nos muitos recônditos que uma viagem elefantina pode ter, me deixam fazer mais do que isto.
 
Tal como a vida, uns passam e nem se nota que passaram, como as várias populações pelo caminho, outros serviram um propósito, como a tropa austríaca, outros partem e deixam saudades, como o capitão luso. É algo enervante neste livro, com a excepção do próprio elefante e de Subhro, o leitor não consegue criar laços com mais ninguém. Começa o rei por estar debaixo do olho que lê, não tarda o secretário a tomar o seu lugar e a tornar-se alvo da curiosidade do leitor, e quando nos apercebemos, já o capitão português está a desaparecer da trama sem mais voltar, o que é uma pena, diga-se em abono do sentimento, porque este homem era um verdadeiro justo e bom personagem que esvaziou a viagem quando dela saiu.
 
A nível estritamente literário, vou-me limitar aquilo onde me sinto mais à vontade, como se estritamente literário fosse alguma espécie de campo delimitado por linhas concretas, este livro é o que se esperaria de um dos maiores mestres da língua lusa. Nunca vi Saramago como um romancista puro, para mim a sua voz foi sempre mais própria de um senhor que conta histórias à lareira, ao anoitecer, para quem o quiser ouvir, e isso é uma característica que o próprio autor assume quando dispensa o fictício narrador de uma história para se assumir ele próprio como uma espécie de autor-narrador. Saramago distancia-se da norma de que alguém conta através de alguém uma história, ou seja, dispensa o narrador intermediário nas questões da narrativa, para ele mesmo contar directamente ao leitor a história de Salomão. Verdade que esta característica já se vinha notando desde sempre nos seus livros, mas está especialmente clara neste último.
 
Há um sem número de episódios que marcam a viagem, a do livro, agora, como já disse, refiro-me apenas ao livro e não a elações que dele tirei. O homem perdido no nevoeiro será talvez a mais importante, o homem que se salva graças ao grito de Salomão que mais ninguém foi capaz de ouvir só para depois desaparecer com um “Plof” (extracto desse episódio aqui). Há o milagre que não o foi em Pádua, há o milagre que foi-o sem o ser ao chegar a Veneza. E há personagens marcantes para além do pobre cornaca e do seu elefante, refiro-me em especial e com carinho declarado pelo cavaleiro português que lia romances de cavalaria e que se queria tornar num cavaleiro de romance. Azar o dele, porque isto, afinal, é um conto.
 
Alongo-me já, alongar-me-ia muito mais se me sentisse capaz de o fazer, não em resistência, mas em arte para tal. Este livro será alvo de muita atenção em futuro próximo por muita gente, não tenho dúvidas, tal como não tenho dúvidas que quase todos poderão dizer muito mais e muito mais acertadamente do que aquilo que eu disse.
 
A Viagem do Elefante dificilmente chegará ao patamar de importância para os seus leitores que o Ensaio Sobre a Cegueira chegou, não por ser um livro menor mas por ser um livro assumidamente menos marcante (a violência física e psicológica no ensaio marca bem mais facilmente que um divertido conto sobre uma viagem internacional de um paquiderme) e mais conformado, se assim se pode dizer, com a vida e as suas inevitabilidades. No entanto, A Viagem do Elefante está para a literatura portuguesa como um Stradivarius está para os violinos. É um livro practicamente perfeito. E inesquecível.
 
Publicado no Blog Livros(s)emCritério, por Tim James Booth
 
 
O lançamento mundial do novo romance de José Saramago, A Viagem do Elefante, acontecerá hoje 28.novembro em São Paulo (20h30 locais), no SESC de Pinheiros/Teatro Paulo Autran, com organização da Companhia das Letras, editora brasileira de José Saramago. A actriz Sandra Corveloni lerá trechos do livro. Depois de assistir ao lançamento, o Prémio Nobel da Literatura de 1998 assistirá, amanhã 29.novembro, à inauguração da mostra "José Saramago - A Consistência dos Sonhos", no Instituto Tomie Ohtake, onde a exposição que pôde ser vista no Palácio da Ajuda há uns meses ficará até 15 de Fevereiro de 2009.
 
Publicado no Bibliotecário de Babel , por José Mário Silva
publicado por ardotempo às 13:20 | Comentar | Ler Comentários (4) | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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