Sonho
© Ferreira Gullar - Publicado na Folha de São Paulo / UOL
© Ferreira Gullar - Publicado na Folha de São Paulo / UOL
O escultor do Sul
Fotografia: Retrato de Gonzaga (Porto Alegre -RS) - 2008
Fotógrafo: Pierre Yves Refalo
Atravessando o espaço de quase um século, o ressurgimento de Os cadernos recupera para a atualidade, nas palavras visionárias de Malte Laurids Brigge, a interrogação de um poeta que, mais uma vez, impõe sua urgência e faz pensar: "Quem, hoje, dá valor a uma morte bem executada? Até os ricos, que poderiam dar-se ao luxo de morrer bem, começam a se mostrar relaxados, indiferentes; faz-se cada vez mais raro ter uma morte particular. Mais um pouco e será tão raro quanto ter uma vida particular".
© Mariana Ianelli , 2008 - Poeta, autora de Almádena, Fazer Silêncio, Passagens, Duas Chagas e Trajetória de Antes - Iluminuras
Publicado no Blog Prosa On Line
© Mariana Ianelli, 2008
Fotografia de Mário Castello
O blog de José Saramago
Novo livro de José Saramago
A Viagem do Elefante
Mostra de fotografia de autoria
Centro Cultural CEEE Erico Verissimo
François Barré:
J’ai rencontré Mauro Holanda, à Porto Alegre il y a quelques mois et découvert la qualité et la force d’un créateur accomplissant une œuvre fraternelle.
Ces corps suspendus dans une éternité courte de décomposition et de stupeur, perdus au milieu de rien, encore rassemblés dans leur unité d’écorce ou déjà démembrés ; ces corps dérobés au temps de la liberté du vol et de l’air du matin, Mauro Holanda leur donne une réalité et les sanctuarise dans la magie de l’art.
Habitué aux photos de presse accompagnant les recettes et les secrets des bons plats, il en a vu des milliers posés, accrochés, dépenaillés et dépouillés pour la commodité du travail en cuisine et la préparation des découpes et des cuissons. Dans ce chantier de chairs et de plumes où d’autres passent sans voir, comme dans l’espace routinier des désordres du travail, il saisit soudain l’expression tragique du vif rehaussé dans l’objectivité de la mort, figure nouvelle dans le souvenir à jamais perpétué de la chair frémissante, de ses affolements et de ses plaisirs.
Posés là sans pose ni leurre, ces corps mutiques nous font signe et nous disent notre destin.
François Barré (Paris) - Porto Alegre, le 25 novembre 2008
por Roger Lerina - Contracapa Zero Hora
Leia a Coluna de Roger Lerina - Contracapa
Rim - Fotografia de Mauro Holanda - Alma Descarnada
Publicado em Contracapa -ZH, 27 novembro 2008
Là ou ça sent la merde
ça sent l’être.
L’homme aurait très bien pu ne pas chier,
ne pas ouvrir la poche anale,
mais il a choisi de chier
comme il aurait choisi de vivre
au lieu de consentir à vivre mort
Antonin Artaud, Pour en finir avec le jugement de Dieu
Or, l’oeuvre de Mauro Holanda, qui s’incrit dans cette tradition "erothanatique" où s’épousent l’instant de l’échappement de l’anima et celui de sa relève par une "anima d’art", par l’entéléchie adventice du geste artistique, a ceci de bon qu’elle rend à sa crudité refoulée tout un pan de l’Histoire de l’Art où l’Art ranime, rend vie, érotise l’immobilité, la sidération terminales, dans un geste à la fois insolent et rédempteur.
Et cet oeuvre le fait en cuisine, au piano, dans l’antichambre de l’ingestion, il dit ce que Rabelais dit, ce qu’Artaud dit : il pose l’art comme le résultat d’une chaîne où se font cortège appétence , ingestion , digestion et défécation.
Voilà la mort désirée, mâchée et remâchée, rendue, enfin, par l’art, cet organe tubulaire à rendre la nature à la nature, le motif au motif, le paysage au paysage, la vie à la vie.
Et voilà que l’on rit, que l’on rit jaune (car les valeurs cèdent alors, qui ordonnent le temps en vie et mort), de voir ces morts avancer depuis une machination, une macération, depuis une conspiration digestive de l’art. Voilà que l’on rit jaune de voir cette danse macabre "rendre à la nature tout ce qu’ensemble elle avait joint " (Baudelaire), faire un pied de nez gargantuesque à l’esthétique des vanités, affirmer la rigolante et éternelle unité de l’unité en l’Art.
L’amateur d’art écoute, respire, mange, embrasse, baise des morts, il voyage en terre passée, sur chemins perdus, aux mains d’absentés "comme pour toujours". L’Art est divination et suscitation d’éternité, il dit la vanité du vivant et dans le temps même rend éternels ses Hamlet au crâne, ses ambassadeurs d’Holbein à l’anamorphose, ses Marie-Madeleine de chez La Tour: Il dit l’expérience des limites du vivant et celle de son éternité en l’Idée , le nombre et le geste qui sont autant de vorations d’aveugle.
Car l’art ne voit pas, il est l’aveuglé ruminant qui engloutit "au secret " la vie et la rend à la vie, s’en retranchant (Vermeer, Chardin, Rothko), ou y imprimant la marque du faiseur, du facteur, du "poïète" (Hals, De Staël, Basquiat).
Or, voilà la vie toute crue, la vie éternelle et apéritive de la mort décrétée par le bouffeur bouffon aveugle.
Voilà en somme ce que la générosité de Mauro Holanda nous offre et nous rappelle, et ce n’est pas rien : le gros rire franc de l’art comme condition, comme vie de la vie.
Emmanuel Tugny, Porto Alegre RS Brasil - Alma Descarnada le 25 novembre 2008
Sobre as Jornadas Literárias de Passo Fundo
Thanks Giving
Os americanos têm uma festa que admiro – o dia de ação de graças. Um dia quando todos param para agradecer as dádivas que receberam durante o ano. Todos nós, se procurarmos um pouco, temos algo a agradecer a Deus, ou seja lá o nome que preferirmos – Acaso, Jeová, Buda, Alá ou Tupã.
Mercedes Sosa, por exemplo, agradece, na bela canção, à Vida, que tanto lhe deu. Eu agradeço, a quem de direito, por algumas das coisas que recebi (Também reclamo das que me foram tiradas, mas isso é assunto para outra conversa.) Um dos agradecimentos mais sinceros que faço é por ter tido a oportunidade de ir à Jornada de Passo Fundo.
Somente quem ama a Literatura pode avaliar a emoção que senti quando, naquela noite fria, gelada mesmo, e prateada por uma lua enorme, cheguei ao local em que ela se realizava e descortinei a proporção do projeto. As tendas montadas, enormes, conservavam um pouco de suas cores graças à iluminação. Milhares de pessoas circulavam pelos espaços, centenas de pessoas trabalhavam, todos com um ar de expectativa, de festa, de alegria desmedida.
Mesmo antes de entrar na tenda principal, eu podia sentir a vibração, a agitação de pessoas que se haviam deslocado de todos os cantos do país e do mundo, enfrentado nevoeiros e atrasos, para se reunir ali naquele recanto do Rio Grande do Sul, dentro do belo campus da Universidade de Passo Fundo.
Cheguei lá após uma viagem de avião, outra de ônibus, e outra de van. Pois, se soubesse o que me aguardava, teria feito como os peregrinos de Compostela, e caminhado até lá, entre cânticos, clamando pelas estradas para que me seguissem e descobrissem as maravilhas da Literatura.
Passei todos os dias da Jornada num encantamento e numa alegria de devota que chega ao perfeito local de romaria. Era ali a minha pátria espiritual, o local onde encontrava pessoas com os mesmos interesses, com o mesmo brilho no olhar e, embora com livros diferentes nas mãos, o mesmo desejo de compartilhar e descobrir. Se, na primeira noite, tive a impressão de sonho, os dias que se seguiram confirmaram uma realidade cheia de seiva e vigor. As tendas coloridas, o incessante vai-e-vem de pessoas, as múltiplas atividades, mas sempre a mesma paixão, que impedia que, tangidas pelo frio, a platéia se dispersasse.
É preciso ir a Passo Fundo, pois as palavras faltam para descrever as Jornadas. Mas, depois que vamos até lá, descobrimos que nunca mais podemos sair de lá. Algo de nós fica para sempre perdido por lá, e talvez seja nosso coração.
Texto de Lúcia Bettencourt - Escritora
Veja o blog da escritora: Nadanonada
Foto de Leonid Streliaev
Exposição de Fotografia - Centro Cultural CEEE Erico Verissimo
"Algo está fora do lugar" - Mauro Holanda
O peixe - Fotografia - Mauro Holanda , da série Alma Descarnada - Mostra de fotografias - Centro Cultural CEEE Erico Verissimo - Porto Alegre) - 2008
Palimpsesto
Georges Noël - Sem Título - Desenho com lápis de cor sobre folha inteira de papel (grande formato) - 1966
Subindo a escada
Valdimir Velicovic - Pintura - Figura XI - Óleo sobre tela em grande formato - 1988
Técnica mista
Signos e Colagem - Antoni Tàpies - Pintura, desenho sobre cartão e colagem sobre tela, em grande formato (Barcelona / Paris) - 2003
Mauro Holanda, o "cozinheiro"
Fotografia: Retrato do fotógrafo Mauro Holanda (São Paulo) - 2008
Fotógrafo: Marcos Magaldi
Merecido!
O professor universitário e escritor Luís Augusto Fischer foi o grande vencedor do Prêmio Fato Literário 2008 na categoria Personalidade. Obtendo 44 dos 78 votos válidos do Júri Oficial, Fischer foi econômico nas palavras de agradecimento. Dizendo-se emocionado pela premiação, o autor da obra Machado e Borges - e Outros Ensaios sobre Machado de Assis agradeceu a alguns de seus mestres ali presentes, como Sérgius Gonzaga e Zilá Benrd, por terem lhe ensinado um pouco do que ele hoje “tenta fazer”. Fischer foi amplamente aplaudido pela platéia que lotou uma das salas do Clube do Comércio, onde o prêmio foi anunciado.
Lançamento em Portugal
Bienal do Vazio
Talvez até exista alguma obra de arte por lá. Não sei. Mas está mais contundente o imenso vazio a tomar conta de tudo. É a ausência abusiva. Filosoficamente é até motivo válido para reflexão, para os discursos e tomadas de posição. Mas é péssimo para os artistas e para a Arte contemporânea, uma capitulação dessa magnitude, a ausência absurda de obras num espaço tão valioso e tão visível, num conjunto significativo como a Bienal de São Paulo. Uma tristeza. Ali resta o ócio da preguiça de não existir nada para se ver. É um insulto silencioso às centenas de verdadeiros artistas que continuam fazendo seu árduo trabalho diário, intelectualmente honesto e de manufatura consistente, pintores, escultores, gravadores, fotógrafos, cineastas, video-makers, que carecem de espaços expositivos concretos para chegar a um público, que se torna mais refratário e cético frente às possibilidades de interação com a Arte.
Arte não é diversão nem entretenimento. Não é negócio nem decoração.
Jogo de dados
Ferreira Gullar
Quando digo que a vida não é newtoniana e, sim, quântica, sei que não estou fazendo uma afirmação científica, mas, como poeta que às vezes sou, valho-me de uma metáfora para baratinar a cabecinha do próximo e fazê-lo se dar conta de que, muitas vezes, dois mais dois são cinco.
Por exemplo, a eleição de Barack Obama para a Presidência dos Estados Unidos. Isso tem lógica? Está dentro do previsível? Agora, depois que aconteceu, parece ter lógica e deve ter, já que aconteceu, mas não a lógica do dois-mais-dois quatro.
Assim que ele se lançou candidato e lhe vi o rosto, achei que não ia dar. Não apenas porque ele fosse mulato mas porque me parecia frágil, sem aquele maxilar de macho: uma aparência de intelectual recém-saído da adolescência. E disse a mim mesmo: "Os americanos não vão entregar o país a esse rapaz".
Isso sem contar que ele se chamava Barack Hussein Obama. No entanto, ele derrotou Hillary Clinton e, finalmente, John McCain. Vai governar a maior potência econômica e política do planeta.
A impressão que se tem é de que o mundo está contente com a vitória dele. E otimista. Todos esperamos que algum milagre aconteça, que esse jovem mulato, inteligente, informado, brilhante e objetivo faça o mundo mudar para melhor. É esperar muito? Certamente, mas sem esperança não se suporta viver.
Tudo bem, aconteceu, o improvável aconteceu. Mas, se aconteceu, foi porque era possível acontecer, e quem, como eu, temia não ser possível equivocou-se. É que a vida é quântica: a simples lógica não dá conta dela.
Será possível, agora, saber quando tudo começou? Foi com os discursos de Martin Luther King, a afirmar que tinha um sonho e que esse sonho era de uma pátria fraterna, sem discriminação racial? Foi durante a luta dos anos 60 pelo Poder Negro? Esses fatos, certamente, influíram, mas é impossível determinar, na natureza e na história, quando exatamente as coisas começam, mesmo porque o curso da existência, por serem tantos os fatores que sobre ele atuam, resulta produto tanto da necessidade quanto do acaso.
A verdade, porém, é que, se Barack Obama não tivesse nascido, isso não teria acontecido. Surgiria um outro mulato inteligente, orador brilhante, carismático para vencer as eleições norte-americanas de 2008? Dificilmente. E o próprio Obama teria ganhado esse pleito, se ele não tivesse ocorrido depois dos dois desastrosos governos de George W. Bush?
Há quem diga que não, não teria, e, se isso for verdade, devemos concluir que Bush, com suas guerras e mentiras, também concorreu para a vitória de Obama. E a crise financeira que se deflagrou no planeta em plena campanha eleitoral não contribui para a vitória do democrata?
Como se vê, a história não está predeterminada. A não ser para aqueles que acreditam no destino - como os gregos acreditavam -, o fortuito também influi nos acontecimentos mais relevantes. Por isso, vale a hipótese de que, se Obama não tivesse nascido, a história que o mundo iria viver daqui para a frente seria outra. Isso não significa que ele seja um predestinado, que nasceu para salvar o mundo.
Nem sei se o governo dele vai ser tão bom quanto todos nós desejamos. Pode ser, pode não ser. Mas, se ele não tivesse nascido de um negro queniano e uma branca norte-americana do Kansas, com esse charme todo, não teríamos agora um presidente mulato na Casa Branca. Isso significa que nenhum outro negro chegaria a governar os Estados Unidos? Não, mas talvez não acontecesse tão cedo.
Porque assim é a história humana: o que acontece poderia não acontecer. Não pretendo dizer que tudo seja mero produto do acaso, e, sim, que a necessidade tem incontáveis modos de realizar-se.
E que, por isso mesmo, as pessoas, por sua capacidade de ação e inteligência, podem influir decisivamente no destino da humanidade.
O certo é que, durante décadas e décadas, naquele fervilhar de gente que é seu país - pessoas que se amam e se odeiam, ambições e traições, filhos que nascem e viram bandidos ou artistas de cinema, poetas ou campeões de golfe -, essa vitória surpreendente era gestada, sem que ninguém se desse conta.
E assim como numa mesa de sinuca, onde se movessem milhões de bolas (desde a queda das Torres Gêmeas, o escândalo Clinton, as mentiras de Bush e a guerra do Iraque), preparava-se a ascensão de um jovem mulato ao mais alto posto a que um norte-americano pode chegar. E chegou. Agora, les jeux sont faits, os dados foram lançados.
© Ferreira Gullar - Publicado na Folha S.Paulo / UOL
Reinos
"Entre todas as seitas, o cristianismo é a que menos me agrada.
Não existe nela muita religião e sim política, muita política.
Seu reino, certamente, é deste mundo."
©Jorge Luis Borges / Borges Verbal, Emecé Editores – Buenos Aires Argentina
Escritor francês em Porto Alegre, RS
Emmanuel Tugny estará autografando seus dois livros recentes, lançados na França em outubro, nesta quinta-feira, dia 13, as 17h30, na Praça de Autógrafos da Feira do Livro de Porto Alegre, RS Brasil.