Quarta-feira, 24.09.08

Entrevista: Rolando Boldrin

Rolando Boldrin - Ator, apresentador, escritor e músico-compositor

 


 

 

 

Rolando Boldrin é o Sr. Brasil, criador, apresentador e animador cultural do mais importante programa de cultura popular em TV no Brasil.

TV Cultura – Prêmio ABCA Melhor Programa de TV

 

O Plantador de Mangueira

 

 

ARdoTempo: Rolando Boldrin, você é a própria imagem da brasilidade na TV, Fale um pouco desse Brasil de raiz que você criou, ou revelou a todos…

 

Rolando Boldrin: Bom,… eu nem costumo usar a palavra raiz porque se usar a palavra raiz, tudo é raiz – quando eu vejo um programa de televisão que enfoca a música sertaneja… ali eles falam em raiz, eu percebo que eles sempre dizem isso – não é o meu caso,– eu trabalho com o Brasil… não a raiz – eu trabalho o Brasil, o Brasil moderno, o Brasil de hoje, o Brasil de ontem, o Brasil de anteontem, eu misturo tudo…

 

Os meus programas não usam datas – eu não costumo me apegar a datas, não faço um especial para alguma data comemorativa, não faço programa de Natal, nem de Dia das Mães…

 

E não faço porque? Porque o programa é atemporal…

 

A mesma coisa é a idéia – Brasil é muita coisa, a música, a literatura, eu não vou ficar só pensando no Guimarães Rosa, eu vou pensar no cara que escreve hoje, que faz um livro, que conta histórias… a palavra raiz eu não falo; e eu gosto da palavra mas eu gosto de usar a palavra como raiz de planta… como raiz de pé no chão…

 

ARdoTEmpo: O seu programa, que muitos assistem no Brasil todo, não se limita a artistas já consagrados, eles estão lá, mas há outros, o programa busca e revela novos valores de todo canto do País, como você faz essa pesquisa ou eles chegam espontaneamente ao programa?

 

Rolando Boldrin: Há muito tempo atrás, quando eu iniciei o processo desse programa na (Rede) Globo – que se chamava Som Brasil; o programa começou a ser feito pelo meu conhecimento dos artistas que eu achava que representavam essa cultura que eu queria mostrar.

 

O tempo, é claro, foi fortalecendo essa idéia, o programa foi tomando corpo em material de divulgação e aí começou a virar uma bola de neve…

 

Os artistas, eles mesmo, começam a aparecer, outros mostram seus trabalhos, outros artistas indicam talentos que eles conhecem, e aí virou uma bola de neve… A coisa cresceu…

 

Hoje eu tenho um material que daria para fazer, sem sombra de dúvida, uns cinco programas, segmentados, mas semelhantes ao meu… o Brasil é muito rico, culturalmente, basta olhar em volta…

 

 

ARdoTEmpo: Falando em Brasil, você carrega o título de SR. BRASIL – quanto custa isso para você?... pode parecer que é só benefício, mas não pode conter também uma certa carga de preconceito?

 

Rolando Boldrin: Eu não sinto peso nenhum. Não sinto carga nenhuma porque o meu País é tão rico… e tão puro, tão maravilhoso, possui tanta diversidade, que ninguém vai me cobrar nada…

 

O que eu falo, o que eu canto é o que existe, então não tenho qualquer problema desse tipo, de ser discriminado…

 

É duro falar sobre isso? Eu vou sozinho falar sobre isso? Não, eu não estou sozinho, eu tenho uma legião junto comigo.

 

É claro que existe a mídia, mas a gente não conta com a mídia, esse tipo de trabalho que eu desenvolvo no meu projeto, ele não conta com a mídia… a mídia maior, eu quero dizer. A única diferença é essa.

 

Se você gravar um disco pelo meu jeito de lançar no mercado, ele não vai vender um milhão de cópias mas ele vai vender, por exemplo, cem mil cópias a quem realmente interessa essas cem mil cópias…

 

 

 

ARdoTEmpo: Percebe-se ao assistir o programa uma grande sinergia – a música, a poesia, a literatura, o artesanato popular – o filtro é o SR. BRASIL?

 

Rolando Boldrin: É… ali só tem SR. BRASIL. O grande achado para esse projeto que encabeço é a emoção. Eu trabalho com a emoção, eu estou falando aqui com você e logo fico emocionado.

 

Eu falo do meu país com emoção, eu falo com carinho. Quando me proponho no programa a mostrar, a cantar a minha terra, sempre faço com amor, com muita emoção. E essa emoção passa para os artistas no desenrolar do programa. Já aconteceu com muitos artistas que nem imaginavam que suas apresentações no SR. BRASIL fossem acontecer de maneira tão emocional, que tivessem tanta energia…

 

Eu costumo dizer no inicio da gravação de cada programa, eu falo isso em off, quando a gravação ainda não está acontecendo… eu converso um pouquinho com o público e falo que ali há uma energia que vem dos grandes artistas que já “embarcaram fora do combinado”, que “viajaram fora do combinado” e que fizeram a história dessa cultura popular, seja num disco, seja num livro…

 

A cenógrafa do programa SR. BRASIL que é a Patrícia Maia, fez um conjunto de retratos desses artistas e colocou-os ao lado da platéia, nas paredes laterais da platéia, deve ter ali uns setenta artistas representados – ali estão desde escritores como Guimarães Rosa até o sambista Noel Rosa. É esse tipo de energia que a gente capta.

 

Eu digo ao público que o que será feito no palco foi esse pessoal que plantou, a tal raiz está aí – é o Brasil inteiro e essa emoção passa isso.

 

ARdoTEmpo: Você é muito percebido pela música, a gente vê isso pela história da Gaveta (conjunto de 8 CDs de música brasileira colocados numa caixa-gaveta), pelos CDs de música gravados, mas você é… um artista, um músico, um cantor, um escritor, um apresentador ou um pesquisador cultural? Quem é você, Rolando Boldrin?

 

Rolando Boldrin: Eu não sou nada disso que você falou…

Eu sou um ator, que canta um pouco, mas não sou um cantor, eu digo que sou um cantador, eu sou um ator que compõe (mas também não sou nenhum Chico Buarque); sou um ator que faz cinema (não sou nenhum Grande Otelo), mas já com vários filmes realizados e muitos prêmios como ator; já fui um ator de telenovelas da grande mídia de telenovelas; então eu faço um pouquinho de cada coisa; escrevi quatro livros…

 

Eu costumo dizer que tenho uma filha, três netos, dois bisnetos e já plantei uma árvore, uma mangueira, no caroço…

 

Um dia eu chupei uma manga, sequei o caroço, plantei numa latinha com adubo, ela germinou, eu a tirei da latinha e plantei na terra, num pequeno sítio que eu tinha, ela cresceu, eu vendi esse sítio e lá deixei tudo, menos essa mangueira que eu tinha plantado… eu a levei para uma nova casa, replantei no quintal e ela deu os primeiros frutos…

 

Eu chupei de novo a mesma manga que eu plantara, na sombra da mangueira, aos prantos…

 

Eu plantei tudo isso… Eu faço um pouquinho de cada coisa. Eu sou apenas um plantador de mangueira.

 

 

Entrevista concedida por Rolando Boldrin ao blog ARdoTEmpo 

Fotos de Pierre Yves Refalo / © Sr. Brasil

publicado por ardotempo às 22:36 | Comentar | Ler Comentários (2) | Adicionar

Retratos Notáveis - 06

Risco Ambiental

 

 

Fotografia - Retrato de Paula Kerstens (Londres) 2008

Fotógrafo: Hendrik Kerstens 

publicado por ardotempo às 17:01 | Comentar | Adicionar

Cartaz de livro, nas ruas

Rua Artilharia 1, Lisboa - 24 de setembro

 

No Brasil, nesse preciso momento, os muros das grandes cidades estão repletos de cartazes colados e com totens humanos nas esquinas a mostrar placas de políticos em campanha, ofertas de modelos novos de telefones celulares, fast-food, empreendimentos imobiliários de mansões suspensas réplicas tropicalizadas de castelos do Vale do Loire, aquisição de ouro a peso; e no mesmo momento, nas ruas de Portugal, oferecem-se livros... 

 

publicado por ardotempo às 16:33 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

O exemplo está em Portugal

O exemplo estratégico e a ação efetiva que está acontecendo em Portugal, representam um passo necessário e fundamental para se pensar um Brasil mais justo e equânime no futuro. Por enquanto aqui impera uma desigualdade imensa e crescente, turbinada pelo poder econômico, cujo resultado inevitável é a frustração, a impotência, a falta de perspectivas reais e no final de tudo, a violência.

 

Magalhães

 

Cerca de três mil computadores portáteis Magalhães, máquinas que são produzidas em Portugal, vão ser esta terça-feira (23 de setembro) distribuídos a alunos do primeiro ciclo de dezesseis escolas de norte a sul do país.

 

Até ao final do ano, o governo pretende entregar meio milhão destes computadores. O projecto é ambicioso e o objectivo é atingir os níveis dos países mais desenvolvidos da União Europeia.

“Em 2005 tínhamos um indicador de 16 alunos por computador. Este ano atingimos cinco alunos por computador, queremos em 2010 estar em dois alunos por computador, com um dos indicadores melhores ao nível da União Europeia e de qualquer país mais evoluído. É um projecto ambicioso”, adianta.

Com esta iniciativa, só os alunos dos quinto e sexto anos não dispõem ainda de condições especiais para adquirir um computador em Portugal, mas esse passo vai acontecer em breve.

Este programa lançado pelo Governo será totalmente financiado pela iniciativa privada, assegura a ministra da Educação, em declarações à agência Lusa.

“Este programa não é suportado por dinheiros públicos, mas pelos operadores de telecomunicações, através de um fundo que está previsto desde que foram autorizadas as licenças para os telemóveis de terceira geração”.

De acordo com a ministra, os impressos que os encarregados de educação de alunos do primeiro ciclo devem preencher para ter direito a um computador estarão disponíveis nas escolas ainda esta semana.

No total, serão entregues este ano lectivo 500 mil exemplares do Magalhães, que terão um custo máximo de 50 euros, sendo gratuitos para os alunos que beneficiam do primeiro escalão da Acção Social Escolar.

 

 

 

De Eduardo Pitta:

 

Vinda de onde vem — políticos com sensibilidade às novas tecnologias, jornalistas, bloggers da direita, etc.; e nem todos são tontos — a campanha contra o computador Magalhães roça o irracional.

 

O governo faz propaganda? É evidente que sim. Que outro governo não faria? A introdução do Magalhães na rede de ensino é uma medida de indiscutível alcance? É evidente que sim.

 

O busílis está em que Sócrates se lembrou, e eles não. Tão simples como isto. Saber se o computador é 100% português (e já agora gostava que me indicassem um computador 100% americano, japonês, inglês, coreano, alemão, indiano ou chinês) ou resultado de parcerias, não lhe retira eficácia. O tour dos ministros era dispensável? Eu acho que sim, mas eu não faço política. O PSD teria feito exactamente o mesmo se, sendo governo, os seus ideólogos tivessem força (não teriam) para impor a distribuição de computadores nos termos actuais.

 

O clamor da oposição é directamente proporcional à mudança de paradigma. Portugal não se resume aos meninos da alta classe média cujos papás podem pagar tecnologia de ponta. Porque os da média-média têm sérias dificuldades. E os outros simplesmente não podem (nunca puderam).

 

O que é espantoso é que a democratização da informática, hoje, provoque sobressalto idêntico ao que teria provocado, há cem anos, uma campanha de alfabetização em massa. O resto é cantiga.

 

Publicado no blog Da Literatura

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publicado por ardotempo às 15:40 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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