Despojos de García Lorca serão exumados na Espanha.
Os descendentes de Lorca vinham resistindo a autorizar a exumação, mas cederam ante à pressão nos tribunais dos parentes de outros enterrados na mesma vala, mas temem que a exumação se transforme em um “espetáculo de mídia”.
A sobrinha do poeta, Laura García Lorca, disse em Granada (sul do país) que a família sempre se opôs à exumação, mas que “não haverá mais impedimentos por respeito aos sentimentos de todos”.
A mudança de opinião surgiu depois da pressão judicial. No dia 12 de setembro passado, descendentes de Francisco Galadí Meljar e Dióscoro Galindo, fuzilados com Lorca e enterrados na mesma vala que o poeta, entraram com uma ação judicial em Madri.
Era o último recurso para tentar abrir a vala e recuperar os restos mortais de seus parentes. Não haviam conseguido convencer a família Lorca até então. O juiz da Audiência Nacional da Espanha, Baltasar Garzón respondeu que estudaria a possibilidade de ordenar a exumação mesmo que os Lorca se opusessem.
A família do mais famoso poeta e dramaturgo da língua espanhola diz temer que a exumação “vire um espetáculo, o que é muito difícil de evitar. Queremos que se faça com muito respeito e de maneira privada”, explicou Laura García Lorca.
A exumação também poderá ajudar a esclarecer detalhes sobre a biografia do poeta. Os dados mais divulgados indicam que Lorca foi assassinado no dia 19 de agosto de 1936. Tinha 38 anos quando foi preso na cidade de Granada, acusado pelo regime militar de ser subversivo e homossexual. A prisão teria acontecido três dias antes da execução e o escritor ainda teria sido espancado e humilhado em público antes do fuzilamento.
Com ele, foram fuzilados o professor Dióscoro Galindo, republicano e acusado de negar a existência de Deus porque ensinava educação laica a famílias pobres e os sindicalistas Francisco Galadí Meljar e Joaquim Arcollas Cabezas.
Eles foram enterrados em uma vala comum debaixo de uma oliveira, num lugar conhecido como o Barranco de Víznar, onde hoje há um pequeno parque em homenagem as vítimas da Guerra Civil.
Desde a criação da Lei da Memória Histórica, em reconhecimento aos mortos da guerra, os parentes dos fuzilados pelo antigo regime militar vem recebendo ajuda do governo para desenterrar corpos, obter provas de DNA, fazer sepultamentos e conhecer os verdadeiros detalhes dos assassinatos.
No caso da vala de Lorca uma das vítimas, Joaquim Arcollas, não deixou descendentes. Mas os parentes de Galindo e Galadí querem investigações e mantiveram uma disputa com a família Lorca durante três anos (desde a criação da Lei da Memória). A sobrinha do poeta disse que já entrou em contato com as duas famílias para avisar da nova decisão e que quer conversar com ambas. “Porque há um passado comum e deve ser dividido”.
O que ainda não está resolvido é a data da exumação e o futuro dos restos mortais de Lorca. A família estuda várias possibilidades: levá-lo a Nova York para o jazigo do pai dele, a Madri, onde estão enterradas a mãe e as irmãs, espalhar as cinzas por lugares onde ele morou ou sepultá-lo no mesmo local onde está a vala comum.
“Talvez o deixemos ali (Barranco de Víznar), ele morreu assim, mataram-no dessa maneira...” completou Laura, convencida de que, apesar da polêmica, as exumações não servirão para alterar qualquer dado da biografia do poeta porque a história dele já está escrita.
Publicado no blog BBC Brasil
Desenho de Geri Garcia - 1936 (Assassinato em Granada) - Tinta china sobre papel, 1953