
Um homem corre 100 metros em 9,69 segundos. O mais espantoso é que corre quase dois metros à frente da linha formada pelos homens mais velozes do mundo, que se esforçam muito para alcançar a meta final. Uma linha involuntária, em retaguarda. Antes da chegada, ele abre os braços e num gesto impressionante bate com a mão espalmada no peito. O rosto voltado para o público. Naquele instante ele é o deus da velocidade.
Em Arte existem vários artistas construindo suas próprias linguagens. Buscam alcançar algo intangível, que está além da decoração (que não é Arte), além da retórica, da pompa, da hierarquia, do sensacionalismo, do chocante, da academia, do investimento, da publicidade. Procuram realizar alguma obra que seja transcendental, que tenha originalidade, que estabeleça vínculos humanos, que surpreenda. Em pintura, em literatura, em escultura, na fotografia, em cinema, em música, na dança, no teatro, numa instalação, num poema.

É difícil fazer uma obra-prima. É cada vez mais raro. 6,69 segundos. O artista sabe quando alcança o estado de epifania. Nunca há um estádio lotado para testemunhar o feito, tampouco centenas de câmeras para transmitir as imagens para milhões de pessoas. Ele (ou ela) no entanto, sabe que conseguiu algo único. Precioso. Basta que alguém veja, que compreenda e entre em sintonia. Um+Um. A comunicação de um para o outro. Meu nome é legião.
Fazer é a disciplina, o cotidiano, o exercício de precisão, a exigência máxima. Isso é o normal. Saber fazer e o que fazer – não apenas executar a fórmula, convocar o limite conhecido. Ir além e alcançar o inusitado, o impossível – é a meta, é a dor e a leveza, é a expansão dos limites, é estar onde ninguém jamais esteve, é mostrar o que jamais se viu, as palavras usuais como nunca soaram. Torna-se cada vez mais penoso alcançar o impossível. É difícil saber constatar que se fez o impossível. Mas é possível estar ali. Viva a Arte.
Pintura - Vibrações em Vermelho - Arcangelo Ianelli - Óleo sobre tela - 2001