Quinta-feira, 14.08.08

GERI GARCIA - Pintura

Os fusilados de Sierra Nevada

 

 

 

 

Geri Garcia - Pintura (Da Série Memórias da Guerra Civil), óleo sobre madeira - Padul/ Granada, Espanha -1953

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publicado por ardotempo às 23:40 | Comentar | Ler Comentários (3) | Adicionar

Jogos são de guerra

Mostruários

Luis Fernando Verissimo

Enquanto o mundo se maravilhava com a festa de abertura das Olimpíadas de Pequim, a Rússia invadia a Geórgia. Fogos de artifício de um lado, fogo de verdade do outro, e no mesmo dia. Há uma metáfora nessa coincidência, em algum lugar.

Durante muitos anos China e Rússia, ou União Soviética e seus satélites, foram o oposto em tudo ao mundo capitalista - ou, na linguagem da Guerra Fria, ao Mundo Livre. Eram, cada uma a seu modo, mostruários do comunismo no poder como alternativas para o capitalismo. O comunismo acabou na União Soviética junto com a União Soviética e continuou no poder na China em tudo menos na direção da economia, desmentindo algumas pilhas de tomos teóricos. As alternativas perderam.

 

 

Nem União Soviética nem China souberam ser bons mostruários quando eram ortodoxamente comunistas. A Alemanha foi um exemplo de fracasso na guerra da propaganda entre comunismo e capitalismo. Por mais que se exaltasse a superioridade do lado comunista em matéria de educação universal e saúde comunitária, bastava uma visita a Berlim Oriental para você se convencer que aquela tristeza - ainda mais em contraste com a exuberância luminosa de Berlim Ocidental - não tinha futuro. Os feitos da revolução maoísta, arrancando a sociedade chinesa do seu passado feudal numa geração, não escondiam o custo disso em sangue, e a impressão que se tinha da China antes da abertura para o consumismo era a de caos permanente. Nada muito atraente.

Pode-se discutir o que o fantástico espetáculo da abertura das Olimpíadas representava: uma sociedade que finalmente redimia, na capacidade de nos deslumbrar com a sua técnica e inventividade, o sacrifício dos anos terríveis, ou uma sociedade festejando sua nova competência no mundo do marquetchim e do espetáculo, muito melhor do que qualquer ocidental? Uma apoteose do maoísmo, já que só com anos de arregimentação e autoritarismo se consegue uma organização coletiva assim, ou uma apoteose da abertura? Nunca se viu um mostruário igual. Só resta saber do que.

 

Enquanto isto, a Rússia só mostrava uma truculência datada e, independentemente de ter ou não ter razão, recorria à nostalgia armada contra a Geórgia. 

 

© Luis Fernando Verissimo

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publicado por ardotempo às 21:03 | Comentar | Adicionar

Extinção

A sexta extinção das espécies ainda pode ser evitada

 

Texto de Christiane Galus – Le Monde

 

A espécie humana, que já conta 6,7 bilhões de indivíduos, modificou de tal maneira seu meio ambiente que, nesta fase atual da sua história, ela já começou a atingir gravemente a biodiversidade das espécies terrestres e marinhas, e, no médio prazo, já está ameaçando a sua própria sobrevivência. A tal ponto que um número cada vez maior de cientistas não hesita a falar de uma sexta extinção, que será provocada pelas importantes alterações introduzidas pelo ser humano na natureza e no meio ambiente. Esta nova extinção deverá se suceder às cinco precedentes, que estabeleceram o ritmo da vida na Terra.

 

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), com sede na Suíça, que desenvolve estudos sobre 41.415 espécies (de um total de cerca de 1,75 milhão conhecidas) para elaborar sua lista vermelha anual, avalia que 16.306 dentre elas estão ameaçadas. Ou seja, um mamífero em cada quatro, uma ave em cada oito, um terço de todos os anfíbios e 70% de todas as plantas estudadas estão correndo perigo, segundo a UICN.

 

Será ainda possível frear esse declínio das espécies, que corre o risco de ampliar-se quando o nosso planeta atingir 9,3 bilhões de humanos em 2050? Os biólogos americanos Paul Ehrlich e Robert Pringle (da universidade Stanford, na Califórnia) acreditam que isso seja possível, com a condição de que diversas medidas radicais sejam tomadas no plano mundial. Eles apresentam essas medidas num relatório publicado em 12 de agosto na revista especializada americana "Proceedings of The National Academy Of Sciences" (PNAS - Minutas da Academia Nacional de Ciências), numa edição que dedica um dossiê especial à sexta extinção.

 

Em preâmbulo, os dois pesquisadores não hesitam a declarar que "o futuro da biodiversidade no decorrer dos próximos 10 milhões de anos será certamente determinado pelo que acontecerá nos próximos 50 a 100 anos que estão por vir, em função da atividade de uma única espécie, o Homo sapiens, que tem apenas 200.000 anos de existência". Se considerarmos que as espécies de mamíferos - às quais nós pertencemos - têm uma vida útil de um milhão de anos em média, isso coloca o Homo sapiens em meados da sua adolescência. Este "adolescente" mal-criado, "um narcisista que pressupõe a sua própria imortalidade, andou maltratando o ecossistema que o criou e o mantém em vida, sem preocupar-se com as conseqüências dos seus atos", acrescentam severamente Paul Ehrlich e Robert Pringle.

 

 

Consumo Excessivo

 

Segundo os dois cientistas, é preciso insuflar uma mudança de mentalidade profunda, de maneira que a humanidade enxergue a natureza com outros olhos. Isso porque "a idéia segundo a qual o crescimento econômico é independente da saúde do meio ambiente e que a humanidade pode expandir indefinidamente sua economia é uma perigosa ilusão", afirmam Ehrlich e Pringle. Para enfrentar esta perda de rumo, é preciso começar controlando o ritmo da expansão demográfica e diminuindo nosso consumo excessivo dos recursos naturais, dos quais uma boa parte serve para saciar gostos supérfluos e não para as necessidades fundamentais. Por exemplo, a piscicultura e a avicultura são atividades menos onerosas em termos de transportes e de consumo de combustível, do que a criação dos porcos e dos bois, dois animais reunidos no sacrossanto cheeseburger com bacon...

 

Os autores do estudo propõem um outro ângulo de ataque: os serviços oferecidos pela biosfera são numerosos e gratuitos. Ela fornece as matérias-primas; os sistemas naturais de filtração das águas; a estocagem do carbono pelas florestas; a prevenção da erosão e das inundações pela vegetação, além da polinização das plantas por vários tipos de insetos e de pássaros. Por si só, esta última atividade movimenta cerca de US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 2,4 bilhões) nos Estados Unidos. Com isso, seria extremamente necessário avaliar os custos dos serviços oferecidos pela natureza e incluí-los nos cálculos econômicos, de tal modo que se possa garantir sua proteção.

 

Para financiar o desenvolvimento das áreas protegidas, cujo número é insuficiente e que são excessivamente parceladas, Paul Ehrlich e Robert Pringle propõem que se recorra a fundações privadas dedicadas à conservação. Esta solução apresenta a vantagem de ser menos custosa para os contribuintes e permite gerar quantias importantes. Na Costa Rica, um fundo desse tipo, o Paz Con La Naturaleza, arrecadou US$ 500 milhões (cerca de R$ 800 milhões), quantia esta que servirá para financiar o sistema de conservação do país. É possível igualmente associar de maneira mais estreita pastores e agricultores nas tarefas de preservação da biodiversidade, evitando impor-lhes decisões em relação às quais eles não têm nenhum poder de controle, e com a condição de que a sua fonte de renda seja preservada. Esse processo deve ser viabilizado por meio de explicações e de uma melhor educação neste campo. Contudo, nada impede que esforços também sejam empenhados na restauração das áreas onde o habitat foi deteriorado.

 

Entretanto, os dois pesquisadores se dizem preocupados diante do divórcio crescente, nos países industrializados, entre a população e a natureza, divórcio esse gerado pela utilização intensiva da multimídia. Eles constatam que, "nos Estados Unidos, a expansão das mídias eletrônicas coincidiu com uma diminuição importante das visitas nos parques nacionais, depois de um crescimento ininterrupto que durou cinqüenta anos".

 

Publicado no UOL  

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publicado por ardotempo às 13:23 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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