Sábado, 26.07.08

1obrax1frase - 11

 

 

 

 

 

 

 "Descido da escada, Jacob sumiu."

 

EMMANUEL TUGNY

 

 

© Emmanuel Tugny, Éditions Léo Scheer, Paris, 2008

Berlinde De Bruyckere - Instalação - Perdido - Objeto escultórico em resina de epóxi, couro de cavalo, madeira, corda e metal - 2006 

publicado por ardotempo às 22:43 | Comentar | Adicionar

Prosa poética de Vinicius de Moraes

Separação

 

Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.


Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.


Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de seccionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.


Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.


De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde...

 

 

 

© Vinicius de Moraes

in Para viver um grande amor (crônicas e poemas)
in Poesia completa e prosa: "Para viver um grande amor"

 

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publicado por ardotempo às 20:43 | Comentar | Adicionar

Aula de Gravura

O lançamento do livro AULA DE GRAVURA (um romace) de Maria Inês Rodrigues acontecerá com um simpático e acolhedor coquetel no dia 05 de agosto na Livraria Cultura, de Porto Alegre. Será impossível perder esse notável evento e especialmente, essa aula de gravura.

 

A Editora Movimento e a Livraria Cultura convidam para o lançamento do livro

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Terça-feira, 05 de agosto de 2008
Horário: a partir das 18 horas
 
LIVRARIA CULTURA
Bourbon Shopping Country - 2º piso
Av. Túlio de Rose, 80 - Porto Alegre
Fone: (51) 3028 4033
 
EDITORA MOVIMENTO
 
O romance da Maria Inês é originalíssimo – mas não é surpreendente. É original porque ela consegue contar uma história fluida, evanescente, feita de coisas mais sugeridas do que ditas, e a história se passa num curso de gravura onde tudo é sólido, cortante e definitivo – metal, buril, ácido – e os efeitos são previsíveis, ou nunca menos do que claros. Mas a originalidade do romance só surpreende quem não conhece a Maria Inês artista, que nas suas pinturas, esculturas  – e gravuras – transmite esta mesma, paradoxal,  combinação de expressionismo e mistério. 
 
Luis Fernando Verissimo  
publicado por ardotempo às 12:46 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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