(Poema inédito de Maria Carpi)
I
Na imensidão do universo,
para a luz descer, um corpo basta.
A multidão ficará saciada
e recolherá em cestos e cântaros,
as sobras do incerto. Quando,
porém, um corpo é homem
e outro corpo é mulher, há
uma dolência nas pedras.
Um homem e uma mulher
recíprocos, é a extrema inocência.
II
Ide, pois, de dois em dois,
externa e internamente, na luz
e na sombra, no direito e no avesso.
E que haja revezamento. Muitas
vezes, o dentro dá os passos
ao aberto e intensifica-se fora.
E o que conduz as circunstâncias,
como um estofo, um propósito
seco, recolhe-se aos aposentos.
Os versos sempre são soltos
e inacabados. Ide, pois, de dois
em dois a servir-lhes de elo.
A vida sempre vem entornada.
Ide de dois em dois, soldar
a bilha quebrada com os próprios
fragmentos. À página um velo
cobre que a dupla andadura aclara.
© Maria Carpi, (poema inédito) do livro O Corpo da Luz, 2008
Pintura de Gracia Barrios, óleo sobre tela, 2007