Sexta-feira, 20.06.08

Caetano Veloso responde a Fidel Castro

Fidel Castro acusou Caetano Veloso de estar curvando-se e pedindo perdão aos norte-americanos pelo que expressou em sua canção "Base de Guantánamo".

 

Para Fidel, a declaração de Caetano sobre a existência de respeito a direitos humanos nos Estados Unidos foi uma "prova da confusão e do engano semeados pelo imperialismo. Em duas palavras: o músico brasileiro pediu perdão ao império por ter criticado as atrocidades cometidas naquela base naval em território ocupado de Cuba" – acusou Fidel Castro

 

Leia a resposta de Caetano Veloso, veja o vídeo "Base de Guantánamo".

 

“Não pedi perdão a ninguém.

Procuro pensar por conta própria. Minha irreverência diante dos poderes estabelecidos é impenitente. Dois dias depois de dar a entrevista citada por Fidel, eu disse à televisão austríaca que a tendência sociológica de considerar o racismo no Brasil pior do que o apartheid na África do Sul é uma manobra da CIA.

 

Sou um artista. Minhas palavras são: criação e liberdade.

Se não me submeto ao poderio norte-americano, tampouco aceito ordens de ditadores. Fidel nos deve explicações a respeito de sua identificação com os estados policiais que o comunismo gerou.

 

Hoje toda a esquerda silencia sobre a Coréia do Norte, como silenciava sobre a União Soviética na minha juventude. A canção “Base de Guantánamo” não seria composta se eu não tivesse a evidência de que nos Estados Unidos há respeito aos direitos dos cidadãos como não se vê em Cuba. A decisão da Suprema Corte americana, reconhecendo o direito a habeas corpus aos prisioneiros de Guantánamo é expressão disso. Tampouco seria possível a canção sem o valor simbólico que a revolução cubana tem em nossas mentes.

Lembro de ter sentido, quando excursionava com Fina Estampa, que a tragédia de Cuba (com liberdades cerceadas na ilha e uma população inimiga do regime atuando em Miami) era mais vital do que a segurança dessangrada de Porto Rico. Tenho idéias e reações emocionais complexas. Não aceito pacotes fechados.

 

O texto de Fidel é autocongratulatório, prolixo e injusto.

 

Sobretudo com Yoani Sánchez, a cubana que mantém o blog “Generación Y. Ela e seu marido Ricardo Escobar deram a resposta que eu gostaria de dar a Fidel. Ainda volto ao assunto.” 

 

Veja Caetano Veloso cantando "Base de Guantánamo".

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Quinta-feira, 19.06.08

Mãos da terra - 15

Tecido Artesanal

 

 

 

Peça de artesanato, tecida em teares manuais de madeira, com fibras rústicas tingidas com corantes naturais extraídos de vegetais e sementes, interior de Minas Gerais.


© Mãos da Terra - Mostra de artesanato popular brasileiro

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Quarta-feira, 18.06.08

Urinóis Amarelos

O jogo da ambigüidade

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Toilettes, MoMA - Ronald Dagonnier - Fotografia - Fotografia digitalizada. ampliada em grande formato sobre chapa de plexiglass, 2000

publicado por ardotempo às 21:20 | Comentar | Adicionar

Machado e Borges

Convite

 

Para quem aprecia Machado de Assis, para quem admira Jorge Luis Borges, para quem gosta da lucidez, da criatividade e do excelente texto de Luís Augusto Fischer, este é um lançamento de livro que não se pode perder.

 

MACHADO E BORGES, de Luís Augusto Fischer

 

Lançamento no dia 02 de julho (quarta-feira), às 19 horas,

na Livraria Cultura Porto Alegre (Shopping Bourbon Country) - Arquipélago Editorial

 

 

 

publicado por ardotempo às 13:23 | Comentar | Adicionar

Resistir em tempos indigentes

Texto de Mariana Ianelli, sobre livro de Ernesto Sabato A resistência

Em Paris, há quase vinte anos, um escritor argentino e um filósofo romeno encontraram-se para uma longa conversa durante a qual descobriram afinidades um tanto desconcertantes.

 

Esse encontro entre Ernesto Sabato e Cioran está presente no livro Antes do fim como parte de um comovente testamento que Sabato dedica aos jovens de seu tempo. Reconstituindo as conquistas e as desilusões que marcaram sua história pessoal, o escritor expõe em primeiro plano, sem eufemismo, sua angústia em relação a um fim de século fraturado pelo barbarismo tecnológico e a penúria espiritual.


Pois é com a mesma honestidade e inteiro coração que Sabato se dirige mais uma vez aos seus leitores e publica A resistência, em 2000, prestes a completar noventa anos. Lançado somente agora em edição brasileira, o livro, no entanto, mantém absolutamente intacta a pertinência dos questionamentos que o autor faz em relação ao chamado mundo pós-moderno, em forma de carta às novas gerações.


Embora retome boa parte dos temas já abordados em Antes do fim, Sabato dá um passo além e, nesse passo, promove o salto que afinal o distancia de Cioran, com quem naquela tarde de 1989, próximo ao Boulevard Saint Germain, compartilhara opiniões bem semelhantes, como “a necessidade de desmistificar o racionalismo” e “a imbecilidade dos que crêem no progresso e no avanço da civilização”.


Se o escritor reforça no livro sua denúncia à tecnolatria, ao individualismo e à atrofia do espírito, ele o faz desta vez com redobrada coragem, assumindo o desafio de, no lance final de sua própria vida, ultrapassar o pessimismo e conceder um voto de confiança no homem.


A cultura ocidental testemunha sua falência, a banalização dos desejos se generaliza, a vida é malbaratada pelo automatismo, a violência social e a corrupção da justiça andam par a par com a destruição planetária:  tudo isso Sabato reconhece, ao que revida com um golpe de afeto, pois “toda desgraça é frutífera, quando o homem é capaz de suportar o infortúnio com grandeza, sem claudicar em seus valores”. Essa medida da força humana, atestada na adversidade, serve também como emblema da resistência de um dos grandes poetas do início do século 20 – Rainer Maria Rilke, que “ousou tocar a lira, / mesmo na escuridão”.


Tal paralelo não é gratuito. Ao mesmo tempo em que A resistência chega às livrarias brasileiras, Os cadernos de Malte Laurids Brigge, único romance escrito por Rilke, reaparece em nova tradução, após décadas fora de catálogo. Uma casualidade, à primeira vista, não fosse a citação de uma das memoráveis passagens do romance já na segunda das cinco cartas que compõem o réquiem de Sabato: “Será possível que, apesar de tantas invenções e avanços, apesar da cultura, da religião e do conhecimento do universo, tenhamos ficado na superfície da vida?”. Para essa pergunta, Rilke e Sabato encontram a mesma resposta afirmativa, que transpõe a distância de quase um século entre os livros desses dois autores para atualizar a urgência de uma só tarefa: resistir em tempos indigentes.


Diante de uma era paradoxalmente globalizada e cindida, informatizada e alienante, quando antigas cosmogonias se pulverizam e o homem vai perdendo o pouco que resta da sua memória, Sabato aposta no ressurgimento de valores que ainda podem restaurar um senso de comunidade. Onde impera o utilitarismo, a pressa e as conveniências individuais, ele ousa falar em transcendência, serenidade, amor desinteressado. Nas terras do menosprezo, ele planta as raízes da solidariedade, à espera de que amanhã sejam fortes o bastante para concretizar o dever de uma responsabilidade histórica.


Próximo da morte, o autor presta tributo à vida na sua abundância de “instantes absolutos”, que o tempo dos relógios desconhece, e o consumismo em larga escala desmorona. Foram esses instantes que alimentaram não apenas a vida de Sabato, mas sua escrita como um todo, e, em especial, este seu ânimo em convocar a juventude de uma época dessacralizada à escuta da alma, no apelo a que cada um cumpra o dom que lhe é misteriosamente reservado, em respeito a si mesmo, ao outro e aos seus antepassados. Assim o escritor pressente uma chance, talvez a derradeira, de construção do novo homem, repatriado às origens do mito e à consciência da dignidade.


Em diversas páginas, ao longo das cartas, o leitor se depara com o mote que sintetiza a força de uma obra e uma existência, lado a lado: “a fidelidade ou traição ao que sentimos como destino ou vocação a cumprir”, o que se traduz, nas palavras de Rilke, em “uma direção pura do coração”, da qual irradia a capacidade humana de admirar as coisas e estabelecer com elas uma inviolável relação de pertencimento, que une a tudo e a todos em um plano além do alcance da razão. Foi a partir dessa direção pura, aliás, desse retorno para dentro de si mesmo, que Sabato, fiel ao seu destino, abandonou aos 30 anos uma respeitável carreira de físico, indo viver em um rancho no meio das serras de Córdoba, onde uma tarde conheceu Che Guevara, ainda um jovem médico, que passava por ali, também a caminho de sua vocação.


Criticado por seus colegas cientistas a ponto de ser acusado de charlatanismo, Sabato perseverou na certeza íntima de optar por um caminho dentro da literatura e da vida que, malgrado todas as dificuldades materiais, recolocava-o no centro de uma existência verdadeira, devotada à criação. Em duas principais vertentes, a do romance e a do ensaio, ele se dedicou simultaneamente a refletir sobre o papel do escritor na contemporaneidade e a fixar em sua própria literatura um olhar atento sobre o problema do mal.


Os abusos do racionalismo, a permissividade moral, a febre da eficácia são diferentes sinais de uma mesma doença do espírito que o escritor vê se alastrar desde as altas esferas do poder e da ciência ao cotidiano das pessoas comuns. Mesmo nos interstícios da atividade literária, a palavra “transcendência” carece de adesão. E, no desprestígio do pensamento mágico, em meio à esterilidade geral em que o sagrado se corrompe e se esvazia, o resgate de uma unidade perdida é o porto de chegada a que Sabato aspira em sua descida aos abismos da linguagem. “O momento de maior empobrecimento de uma cultura é esse em que o mito começa a ser popularmente definido como uma falsidade”, diz ele. O poeta, se continua a cantar, canta agora em uma língua estrangeira.


A leitura do epílogo de A resistência emociona, dada a trajetória de um homem que, tendo titubeado algumas vezes em sua fé, mas nunca em seus valores, alcançou enfim o sentido elevado da esperança. Relutante em se despedir, Sabato transforma sua tenacidade em gratidão: “Esqueci grandes trechos da vida e, em compensação, ainda palpitam em minhas mãos os encontros, os momentos de perigo e o nome daqueles que me resgataram das depressões e amarguras. Também o de vocês que acreditaram em mim, que leram meus livros e me ajudarão a morrer”.

 

 




Trecho do livro A resistência, de Ernesto Sabato:



Não podemos esquecer que nestes velhos tempos, já gastos em seus valores, há quem não acredita em nada, mas também há multidões de seres humanos que trabalham e permanecem à espera, como sentinelas. Na história, os cortes não são terminantes: nos estertores do Império Romano, seus cidadãos já freqüentavam seus vizinhos bárbaros e certamente já tinham amores com eles; do mesmo modo, os praticantes de outro modo de vida já estão entre nós. Hoje, assim como naquela época, há multidões de pessoas que já não pertencem a esta civilização, à civilização pós-moderna. Muitas estão tragicamente excluídas e muitas outras parecem ainda formar parte das instituições sociais, mas sua alma está prenhe de outros valores.


A passagem implica um passo atrás para que uma nova sensação do universo vá tomando o lugar da velha, assim como no campo se levantam os restolhos para que a terra nua possa receber a nova semeadura.


Quem dera nos apaixonássemos por essa passagem!
Quem dera, em vez de alimentarmos os caldos do desespero e da angústia, avançássemos com paixão, revelando um entusiasmo pelo novo que expressasse a confiança que o homem pode ter na própria vida, justamente o contrário da indiferença! Parar de erguer muros em volta de nós mesmos, desejar um mundo humano e já estar a caminho dele
”.

(Do Epílogo – “A decisão e a morte”)
 

© Mariana Ianelli - Publicado por Rascunho

Pintura de Eugène Delacroix - Marianne / A Liberdade guiando o Povo

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Terça-feira, 17.06.08

ArtenaRua-03

Graffiti é cultura

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Graffiti es cultura - Pichação em graffitis sobre escultura de blocos de mármore numa avenida em Madri.

Autor: Suso 33, Madri, Espanha - 2008  

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publicado por ardotempo às 21:53 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

1obrax1frase - 08

 

 

 

 

 

"Toda música encalhada é céu."

 

EMMANUEL TUGNY

 

 

© Emmanuel Tugny, Éditions Léo Scheer, Paris, 2008

Piano no Mar - Instalação, piano escultórico gigante instalado em praia - (Land-Art) Anônimo - Ilha de Schiermonnikoog - Holanda, 2008

 

publicado por ardotempo às 21:43 | Comentar | Adicionar
Segunda-feira, 16.06.08

O blog de José Saramago

 "Não sou um exemplo do que é viver neste mundo" - José Saramago

 

 

Blog José Saramago

 

José Saramago afirma que foi a primeira vez que se "atreveu" a dizê-lo: se existe alguma mensagem nos seus livros, ela está no momento em que um cão lambe as lágrimas de uma mulher, no romance Ensaio sobre a Cegueira. É por essa passagem que o Prémio Nobel da Literatura (1998) gostaria de ser recordado no futuro. Em conversa com o PÚBLICO e a Rádio Renascença, Saramago comentou a suposta gaffe de Cavaco Silva, lamentou o espírito de resignação dos portugueses e falou sobre a pneumonia que o deixou às portas da morte. Em Lisboa, onde vai ficar até meados de Julho, continua a escrever todos os dias as páginas do seu próximo romance, A Viagem do Elefante, que deverá estar concluído em Agosto. Há muita gente em Portugal que não gosta da sua obra. É uma pessoa polémica...

 

É estranho que comecemos por aí, pelas pessoas que não gostam daquilo que eu digo ou daquilo que eu faço. Não vou dizer que lamento. Faço o meu trabalho e não roubei o lugar a ninguém. Na arte não se rouba o lugar: ocupa-se o seu próprio lugar. Foi o que eu fiz. Há posições extremadas. Ou se ama ou se odeia. Acho muito bem. Não estamos com meias-tintas. Mas há ainda uma outra categoria, mais reduzida, de pessoas que não leram e não gostam.


Que imagem tem do seu país e dos seus compatriotas?

 

Tenho sido severo, algumas vezes. Mas houve uma altura em que disse que gostava daquilo que este país fez de mim - é um dos melhores elogios que se pode fazer. Verifico com pena que continuamos com pouca ousadia no que se refere a projectos e à sua realização. Comparo o nosso país com uma pessoa que está na borda do passeio à espera que alguém a ajude a atravessar para o outro lado. Estamos sempre à espera de alguém que venha salvar a pátria. O grande problema nacional é a mediocridade e a resignação à mediocridade. O que é um pouco contraditório. Porque temos sonhos de grandeza e o Campeonato Europeu de Futebol é um caso. Fala em falta de espírito crítico.

 

Onde é que isso se nota no dia-a-dia? No comportamento dos cidadãos. Há quem opine criticamente nos jornais. Mas o cidadão médio tem uma preguiça enorme em riscar as opiniões que não sejam aquelas que se trocam por miúdos ao longo do dia. Há três ou quatro ou 50 problemas grandes no mundo. Não vejo a participação dos portugueses nos debates de todas essas coisas. De onde é que vem essa falta de participação? Não sei se é congénito, não sei o que se passa connosco. Connosco incluindo José Saramago? Incluindo-me a mim.

Se não fosse isso, seria muito melhor do que aquilo que sou. Que já não estou nada mau.

 

Hoje é Presidente da República o homem que era primeiro-ministro quando decidiu ir para Lanzarote... Sim, senhor. Bom proveito vos faça. Esse primeiro-ministro é hoje Presidente da República. Como é que vê o seu mandato? Nem olho para ele. Refiro-me ao mandato. Há pouco falou-se nas pessoas que não gostam de mim. Pronto, eu também não gosto do professor Cavaco Silva. É o meu direito. E de vez em quando ele dá-me razão. Há dias saiu-se com essa do dia da raça. Não foi um deslize, uma gaffe? Se ele disse dia da raça é porque pensa efectivamente que deveria chamar-se assim, embora não ouse fazer essa proposta. O Presidente deveria ter feito um pedido de desculpas público? Os políticos dificilmente pedem desculpa às pessoas a quem de alguma maneira ofenderam. Consideram-no uma pessoa céptica ou pessimista. Revê-se nisso? Não sou uma espécie de narciso que se vê ao espelho e diz "olha que bom, que pessimista que tu és". Parece que o que é bom é ser optimista. Mesmo que não haja nenhuma razão para isso. Há pessoas que têm razões para estarem contentíssimas com o mundo, têm tudo o que querem. O que é que lhe falta? Não me falta nada. Mas eu não sou um exemplo do que é viver neste mundo. Sou um privilegiado. Mas não posso estar contente. O mundo é o inferno. Não vale a pena ameaçarem-nos com outro inferno porque já estamos nele. A questão é saber como é que saímos dele.


Saul Bellow, também Nobel da Literatura, dizia que à medida que ia envelhecendo ia encurtando frases e as suas obras foram ficando mais magras...

 

Escrevo menos frases longas e o livro fica mais pequeno. A idade tem uma influência grande. Não é agora, aos 85 anos, que eu poderia lançar-me a escrever o Memorial do Convento ou o Evangelho segundo Jesus Cristo. Porque olho para o calendário e pergunto: ainda estarei vivo daqui por um ano? Pensou na morte quando esteve doente? Era inevitável que pensasse. Estive muito perto dela. Se me falarem sobre a morte digo: sim, já sei, estive à porta. Não cheguei a entrar, mas estive à porta. Aceitei essa probabilidade com uma serenidade enorme. Serenidade que conservo hoje. De certa forma, diria que me fez bem aquela doença. Relativizou tudo.

 

Estou a escrever um livro – A Viagem do Elefante – e não quero morrer antes de acabá-lo. Uma das minhas preocupações quando estava entre cá e lá, numa espécie de limbo em que a consciência de mim mesmo não era absoluta, era a de que talvez não pudesse acabar o livro. Afinal, ainda hoje escrevi mais uma página. Lá para Agosto estará terminado.

 

Como é que gostava de ser recordado? O Nobel português?

 

Gostaria de ser recordado como o escritor que criou a personagem do cão das lágrimas (Ensaio sobre a Cegueira). É um dos momentos mais belos que fiz até hoje enquanto escritor. Se no futuro puder ser recordado como "aquele tipo que fez aquela coisa do cão que bebeu as lágrimas da mulher", ficarei contente. Se alguém procurar naquilo que eu tenho escrito uma certa mensagem, atrevo-me pela primeira vez a dizer que essa mensagem está aí. A compaixão dessa mulher que tenta salvar o grupo em que está o seu marido é equivalente à compaixão daquele cão que se aproxima de um ser humano em desespero e que, não podendo fazer mais nada, lhe bebe as lágrimas.

 

Indicado pelo blog Bibliotecário de Babel

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ArtenaRua-02

Corpo 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Grafiteiro flagrado - Instalação com escultura em resina, colocada na via pública

Autor: Mark Jerkins,  Malmo, Suécia, 2008  

 

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Simplicidade

 

Walt Whitman

 

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Aforismo Borgesiano - 26

 Tentação

 

"A mais terrível das tentações para um artista é a de acreditar que ele seja um gênio."

 

 

 

©Jorge Luis Borges / Borges Verbal, Emecé Editores – Buenos Aires  Argentina

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Domingo, 15.06.08

Piruetas Gramaticais - de Ferreira Gullar

Resmungos Gramaticais

 

Não tenho, obviamente, a intenção de aborrecer o leitor com minhas manias. Aliás, se dependesse de mim, só escreveria crônicas divertidas em vez de resmungos, graçolas. Mas é que sofro de manias e uma delas é de chatear-me com certas expressões, que vão se tornando comuns e que me parecem erradas. Está bem, está bem, já sei que não existem erros no uso do idioma, pelos menos, essa é a opinião dos lingüistas, e a última coisa que quero é ser considerado por eles um sujeito ultrapassado e ranheta.

 

Mas que posso fazer? Se o cara, referindo-se à semana em que estamos, diz "essa" em vez de "esta", tenho vontade de lhe mostrar a língua.


Lembram-se da época em que, a três por dois, usava-se a expressão "a nível de"? Essa é uma expressão espanhola e a pronúncia correta é "nivél", com acento na última sílaba. Não se sabe como nem por que, políticos, jornalistas, deputados, advogados passaram, todos, a usá-la. Começaram dizendo, por exemplo, "a nível de teoria política", depois "a nível de perseguição policial" e chegaram a jóias como "a nível de ração para cachorros". Eu sei que está tudo correto e que eu é que sou um chato de galocha, mas sinto-me aliviado ao ver que a mania passou e já ninguém fala "a nível de". Chego a consolar-me com a suposição de que a língua mesma se encarrega de expurgar esses contrabandos verbais.


Ainda assim, tenho minhas dúvidas, pois a cada momento ouço pessoas instruídas e inteligentes falarem "isso não significa dizer", o que é uma tradução ruim do inglês. Por que não usam a expressão nossa, legítima e simples "isso não quer dizer"? E a mania agora (já de algum tempo) é usar o verbo postergar em vez de adiar. Você diria a alguém: "aquele nosso almoço vai ter que ser postergado?" Se não falaria assim, não escreva assim, essa é uma boa regra. Mas por que me incomodar com isso, já que ser pernóstico não é o pior dos defeitos?


Há defeitos piores, claro, e mesmo no terreno do idioma, em que todo tipo de atentado à língua se vê com muita freqüência no nosso dia-a-dia. Como disse, não estou querendo encher a paciência dos leitores, mas já repararam como alguns comentaristas de futebol usam certos verbos? Sabemos que o futebol tem um universo verbal próprio, bastante pitoresco, aliás, contra o qual nada tenho a opor, muito pelo contrário. Acho até divertido quando o pessoal se refere a "essa" bola. Nunca dizem, por exemplo, "ele podia ter chutado a bola" e, sim, ter chutado "essa" bola. O jogador nunca "perdeu a bola" e, sim, "perdeu o domínio". São modos de falar muito pitorescos. O que me incomoda, porém, é quando dizem "Ronaldo machucou". Machucou o que? O pé, o tornozelo? Não, querem dizer que ele "se machucou", mas decretaram o fim do modo reflexivo do verbo machucar. E também do verbo "classificar". Se pretendem dizer que o Corinthians não se classificou para disputar a Taça Libertadores, dizem "o Corinthians não classificou", como se o verbo fosse intransitivo. A origem disso, não sei qual é, se nasce da corriola futebolística paulistana, mas a verdade é que, como falam para milhões de pessoas, terminarão por impor esse uso errado dos verbos ao resto do país.

 

Perde-se alguma coisa? Vai alguém morrer em conseqüência disso? Não... então, só me resta ficar resmungando no meu canto, mesmo porque podem alegar que, no terreno da gramática, a zorra é total. Não se ouve na TV "as milhões de pessoas"? E como explicar por que o advérbio "sobre" passou a ser usado a torto e a direito em frases como "convencer as pessoas sobre a importância da lei" em vez de "da importância da lei" ou "ele discute sobre problemas sociais" em vez de "ele discute problemas sociais"?


Mas ao folhear um volume de Machado de Assis, deparo-me com a seguinte expressão: "A família Batista foi aposentada em casa de Santos". Como aposentada na casa? Mas logo percebo que ele se refere aos aposentos que constituem uma casa, ou seja, a família Batista passou a ocupar um aposento da casa de Santos e, por isso, ficou "aposentada" ali. Descubro que a acepção atual é que é metafórica e decorrente daquela. E aí minhas convicções de patrulheiro vernacular começam a esvair-se. Continuo a folhear o livro: "o amor da glória", em vez de "o amor à glória", e pior: "a dona não adia da intenção de tomar o que era seu". Não paro de me surpreender: "cabava de nascer", por "acabava", e este uso de "esquecer": "também não me esqueceu o que ele me fez uma tarde".


Diante disso, meto a língua no saco, se se pode dizer assim.

 

Ferreira Gullar - escritor, poeta e crítico de arte

 


Publicado na Folha de São Paulo - 15.06.2008

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ArtenaRua-01

Casa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Casa - fachada de residência em Nova York

Autor: Dan Witz, 2004 

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publicado por ardotempo às 14:55 | Comentar | Adicionar
Sábado, 14.06.08

O olhar do escritor sobre seu filme

Charles Kiefer fala sobre o filme criado a partir de seu livro "Valsa para Bruno Stein"

 

Cinema não é literatura.

 

Enquanto que um escritor trabalha com palavras, um diretor trabalha, basicamente, com imagens. O escritor faz, sozinho, a sua obra, construindo na própria mente o cenário e a movimentação dos personagens, enquanto que o diretor precisa administrar uma produção coletiva, com todos os problemas que isso acarreta.

 

O escritor é um solista, num quarto fechado; o diretor é um maestro, diante de uma multidão de atuadores. Assim, não se pode, nunca, comparar livro com filme. Mesmo quando o filme seja extraído de um romance, mesmo quando o diretor utiliza a estrutura narrativa criada pelo escritor. No caso de Valsa para Bruno Stein, o filme, o diretor foi extraordinariamente fiel ao espírito da obra que escrevi. O que resultou, na minha modesta opinião, num filme quase europeu, uma mistura de Bergman com Wenders. Não me causará perplexidade, portanto, se o filme tiver poucos espectadores no Brasil.

 

A sensibilidade do público brasileiro não está preparada para o andamento sutil e para as complexidades criadas por Paulo Nascimento e sua equipe. Com certeza, o público brasileiro há de preferir as correrias dos Indianas Jones, os tiroteios dos policiais norte-americanos, as facilidades narrativas dos filmes produzidos em série por Hollywood. No entanto, àqueles poucos que ainda buscam no cinema um pouco mais que a simples diversão, o filme de Paulo Nascimento há de agradar, pois é um filme muito instigante.

 

Ele reproduz os compassos ternários com que estruturei o romance, mas ultrapassa, em muito, minha imaginação em matéria de imagens, paisagens e outros detalhes cênicos. Já nas primeiras cenas do filme, três grandes janelões, que encimam a residência da família Stein, anunciam, semioticamente, que tudo girará em torno de um triângulo, e que a repetição das trincas, tríades e ternos será uma constante no filme, como foi o livro. Estruturalmente, são três núcleos: o da família Stein, o dos empregados da olaria e o da vizinhança (família Wolf).

 

Como uma valsa, que se compõe de um compasso forte e dois fracos, os personagens se organizam em tríades: Bruno Stein, Arno Wolf e Luís Stein respondem pelo mundo patriarcal, comandado pela ótica machista e proprietária; Nico, Gabriel e Marco representam a ótica do mundo do trabalho; Olga, Valéria e Verônica, representam as transformações sociais sofridas pelo feminino nas ultimas três gerações. A esses três conjuntos principais, articula-se outro, o dos personagens periféricos, capitaneados por Carmen Silva, Yonara Karan e Nicola Siri. Do enredamento desses grupos nasce a delicada e harmônica estrutura montada por Valsa para Bruno Stein, o filme.

A fotografia, dirigida por Roberto Laguna, é de uma beleza extraordinária. Os grandes planos e os closes de rosto dos personagens são magníficos e trabalham, o tempo todo, na construção de uma permanente dialética de fechamento e abertura, reproduzindo no significante o significado geral do livro e do filme, que é a luta interior que trava o velho oleiro entre o desejo e a fé. Enquadramentos, ângulos e tonalidade das cores (em que predomina o amarelo) ajudam a orquestrar, no campo das imagens, as texturas que criei no âmbito das palavras. Assim como o personagem negro (Nico) vai saindo aos poucos da escuridão para a luz, a consciência de Gabriel, o recém-chegado à olaria, com quem contracena, vai se abrindo e compreendendo as muitas relações entre os diversos estratos sociais em jogo naquele espaço e ambiente. Do choque da ingenuidade do "arcanjo" com a acidez crítica do "velho funcionário" vai nascendo a compreensão dos processos históricos. Os três empregados (Marcos Verza, Sirmar Antunes e Leonardo Machado) dão um grande show de atuação, criando uma história tão interessante quanto a principal, a da paixão do sogro pela nora.

 

Outro espetáculo de atuação é o das três mulheres, Olga, Verônica e Valéria (Araci Esteves, Fernanda Moro e Ingra Liberato), que articulam, de forma suave, mas não por isso menos crítica, os três tipos diferentes de mulheres que povoam o meu romance.

Depois que vi o filme, compreendi o que Walmor Chagas quis dizer quando, na primeira coletiva, no início das filmagens, afirmou: "Bruno Stein sou eu". Sim, Walmor Chagas, na sua atuação perfeita, construiu, efetivamente, um Bruno Stein dilacerado entre o desejo da carne e as ordenações espirituais da fé evangélica, um Bruno Stein que não sairá jamais de nosso imaginário. Walmor Chagas encontrou em Bruno Stein aquele personagem que marca, indelevelmente, uma carreira artística e que coroa uma longa vida de atuações. Ninguém mais será capaz de ler Valsa para Bruno Stein, o romance, sem trazer à memória e ao coração os olhares, o andar, as mudanças de humor e as delicadas transformações que lhe imprimiu esse grande ator chamado Walmor Chagas. Bruno e Walmor, agora, são um só.

Moldar barro, escrever e fazer filme são uma coisa só, na origem etimológica da palavra ficção. Atuar, dirigir e pentear o cabelo são ficções. Afagar, acariciar e fingir, tudo isso é ficção. Sim, tudo é fingo, finxi e fictum, tudo isso é fingere, fingimento. Mas que grande poder tem essa "mentira" que se chama ficção.

O filme inicia com a modelagem do barro, com os ruídos gerados pelos dedos sobre a massa dúctil. Aos poucos, o oleiro vai moldando o universo em que somos jogados, depois de ingressarmos na sala de projeção. Agora, sei que Bruno Stein moldou também a mim, ao Paulo Nascimento e ao Walmor Chagas, pois, como ele mesmo diz, no romance e no filme, "ao ser criada a criatura cria o criador".

 

Charles Kiefer - escritor          Publicado em Zero Hora - 14. 06. 2008

 

publicado por ardotempo às 23:58 | Comentar | Adicionar

Porto Alegre, de Vitor Ramil

 Ramilonga

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vitor Ramil canta Ramilonga, sobre Porto Alegre - Veja o vídeo

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publicado por ardotempo às 22:41 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

As Negas Malucas de Mia Couto

Entrevista de Mia Couto

Os moradores da Vila Cacimba, onde se passa o novo romance do escritor moçambicano Mia CoutoVenenos de Deus, remédios do Diabo – poderiam viver parede e meia com os da Vila do Meio-Dia, do lendário musical Gota d'água, de Paulo Pontes e Chico Buarque. Poderiam até ter organizado protestos em grupo. Fosse Atlântico o oceano que banha o lado da África onde fica Maputo, Deolinda, a mulata do romance africano, poderia até ter trocado segredos com Esmeralda, a mulata de Mar morto, de Jorge Amado. A familiaridade das histórias contadas pelo escritor, em que um médico, Sidónio Rosa, apaixona-se pela bela Deolinda, em meio à sua conturbada ausência, é instantânea. Faz lembrar a proximidade que há entre Brasil e os países lusófonos, não só pela língua – agora ainda mais, pelo acordo ortográfico – mas também pelos temas. Mia Couto venceu a guerra civil moçambicana e evolui em uma trama repleta de universalidade: incesto, política, religião, dores de saudades.

 

JB: De onde vieram Bartolomeu, Munda, Sidónio Rosa, Deolinda... Como as histórias sopraram-lhe o ouvido?

Mia CoutoNunca sabemos onde se localizam os personagens que criamos. São vozes, são ecos que moram no fundo de nós, moram na fronteira entre sonho e a realidade. No meu caso, estes personagens corporizam alguns fantasmas relacionados com o sentimento do tempo e o facto de, pela primeira, tropeçar naquilo que se chama "idade".

 

JB: A aproximação com a oralidade, neste Venenos de Deus, remédios do Diabo, é o traço mais forte da sua literatura, hoje?

Mia CoutoA oralidade é dominante na sociedade moçambicana. Mas não é o território da oralidade, em si mesmo, que me interessa. È a zona de fronteira entre o universo da escrita e a lógica da oralidade. Essa margem de trocas é que é rica.

 

JB: Você diz que já é mais velho que o próprio país independente. Neste romance, o tema colonial é o pano de fundo das "incuráveis vidas da Vila Cacimba". A colônia deixou de ser personagem?

Mia CoutoA colônia nunca foi personagem. Eu creio que, não apenas na literatura, mas no imaginário dos moçambicanos, esse passado colonial foi bem resolvido. É preciso pensar que a independência de Moçambique se deu como resultado de uma luta armada que criou rupturas de cultura bem sedimentadas.

 

JB: O tema da guerra civil esgotou-se? (Não é uma cobrança, só uma provocação...)

Mia CoutoJá antes a guerra civil se havia esgotado. No O Outro pé da sereia ele já surge.

 

JB: No fundo, você sempre escreve sobre o mesmo tema?

Mia CoutoEscrevi 23 livros, todos tratam de temas diversos. Existe, sim, uma preocupação central em toda a minha escrita: é a negação de uma identidade pura e única, a aposta na procura de diversidades interiores e a afirmação de identidades plurais e mestiçadas.

 

JB: De que maneira percebe o ranço colonial na literatura dos países lusófonos?

Mia CoutoNão há ranço. O passado está bem resolvido.

 

JB: O romancista é o historiador do seu tempo?

Mia CoutoEm certos momentos, sim. Por exemplo, depois da guerra civil os moçambicanos tiveram um esquecimento colectivo, uma espécie de amnésia que anulava os demônios da violência. Os escritores visitaram esse passo e resgataram esse tempo, permitindo que todos tivéssemos acesso e nos reconciliássemos com esse passado.

 

JB: "As formas de expressão usam-se quando se tem medo de dizer a verdade", diz a sabedoria bruta de Munda, personagem do livro. O escritor diz a verdade?

Mia CoutoO escritor é um mentiroso que apenas diz a verdade. Porque ele anuncia como uma falsidade aquilo que é a sua obra.

 

JB: Um brasileiro, ao ler um romance de Moçambique, ganha riquezas sobretudo de linguagem. Você acha que a língua portuguesa tem a perder com o acordo ortográfico?

Mia CoutoAs línguas nunca perdem. Os acordos apenas tocam numa camada epidérmica, num lado convencional que não é o coração do idioma.

 

Entrevista de Mia Couto concedida a Mariana Filgueiras - publicado no JB Online - 14.06.2008

publicado por ardotempo às 21:23 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

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"A matéria é o buraco de uma sombra."

 

EMMANUEL TUGNY

 

 

© Emmanuel Tugny, Éditions Léo Scheer, Paris, 2008

Pierre Yves Refalo - Série Olivério Girondo - Fotografia, sem data

 

publicado por ardotempo às 21:04 | Comentar | Adicionar

Os autores dos olhos da Arte

Artistas

 

 

 Detalhe de pintura (óleo sobre tela) de João Fahrion

 

 

 Detalhe de pintura (óleo sobre tela) de João Fahrion 

 

 

 Detalhe de pintura (óleo sobre tela) de João Fahrion

 

 

 Detalhe de auto-retrato (óleo sobre tela) de Lucian Freud

 

 

 Detalhe de pintura (óleo e serigrafia sobre tela) de Andy Warhol

 

 

 Detalhe de pintura (óleo e serigrafia sobre tela) de Andy Warhol

 

 

 Detalhe de auto-retrato (crayon sobre papel) de Marie Laurencin

 

 

 Detalhe de pintura (óleo sobre tela) de Joan Miró

 

 

 Detalhe de pintura (óleo sobre tela) de Paul Klee

 

 

 Detalhe de retrato fotográfico de Pablo Picasso, por Irving Penn 

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Olhos da Arte


 

 

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publicado por ardotempo às 01:55 | Comentar | Adicionar
Sexta-feira, 13.06.08

A dança

Dança da Solidão

 

 

Marisa Monte e Paulinho da Viola. Veja o vídeo

Foto de Lucas Moura, 2007

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Pichação

Um novo conceito de arte?

 

Cada um dos 37 alunos do último ano do curso de Artes Visuais do Centro Universitário de Belas Artes tinha de apresentar uma obra para garantir sua formatura. Três espaços foram reservados para a exposição dos trabalhos. Trinta e seis alunos preencheram esses espaços com sua produção. Um - Rafael Augustaitiz, 24 -, não.


Pichador desde os 13 anos, Rafael resolveu apresentar um trabalho diferente. "Uma intervenção para discutir os limites da arte e o próprio conceito de arte", explicou.


Nos últimos dias, os locais de reunião de pichadores no centro da cidade tornaram-se focos de recrutamento de jovens para "a ação", como se chamou. Às 21h de anteontem, horário de intervalo das aulas, 40 deles, idades entre 15 e 25 anos, compareceram ao "ponto", na estação Vila Mariana do metrô (zona sul).


"Estamos todos muito ansiosos", disse um morador do Ipiranga, que assina suas pichações com o desenho de um monociclo. A maioria dos rapazes nunca pôs os pés em uma faculdade; sua estréia no ensino superior seria justamente em um trabalho de conclusão de curso.


Em cinco minutos andando a pé, o grupo alcançou a escola. Muitos vestiram máscaras improvisadas com camisetas ou daquelas usadas para pintura com compressor. Logo, as latas de spray foram sacadas de dentro dos moletons folgados.

 


Os jovens pichavam suas "assinaturas" nas paredes, nas salas de aulas, nas escadas, sobre os painéis de avisos, nos corrimãos. Uma funcionária da secretaria, Débora Del Gaudio, 30, quis impedir. Levou um jato de spray no rosto.


Usando a técnica do "pé nas costas", os pichadores formaram escadas humanas (com até três jovens "empilhados"), uma forma de atingir andares superiores da fachada. Assustaram funcionários da escola enquanto escreviam aquelas letras pontudas e de difícil decifração.
Os 30 seguranças da faculdade mobilizaram-se para acabar com a farra. "Deixa eu terminar a minha frase, pô", pediu um jovem. Tomou um soco. Revidou. Virou pancadaria generalizada.


"Abra os olhos e verá a inevitável marca na história" e muitos símbolos do anarquismo, além das letras pontudas já cobriam o prédio, quando cinco carros da polícia militar chegaram ao local, apenas dez minutos depois de iniciado o ataque.
Enquadrado pela PM, Rafael gritava ao entrar no camburão: "Olha aí, registra, isso é um artista sendo preso."
A maioria dos alunos não achou nada legal "a ação", "a intervenção", "a obra" de Rafael. "Terrorismo. O que aconteceu aqui é terrorismo. Se isso é arte, então o maior artista do mundo é o Osama Bin Laden e a tragédia das torres gêmeas é uma obra-prima", disse Alan George de Sousa, 33, do curso de arquitetura e desenho industrial.
"Eu pago R$ 1.500 de mensalidade no curso de arquitetura porque trabalho e minha mãe também dá um duro danado para me manter aqui. Aí vem um filho da puta dizer que fez essa porcaria toda porque a gente é tudo burguesinho. Ora, vai estudar, se preparar", gritava uma aluna.


Rafael amanheceu o dia de ontem em companhia de mais seis acusados de pichação no 36º Distrito Policial, no Paraíso.  Ontem à noite, na parte interna da escola, já nem parecia que o aluno com os 40 manos tinha estado lá. Tudo estava limpinho. Às 20h30, a turma dos formandos (menos Rafael) ia se reunir para "processar esse trauma", nas palavras da coordenadora do curso de Artes Visuais, a artista plástica Helena Freddi, para quem o que aconteceu na faculdade foi "um ato de vandalismo que extrapolou os limites da ação civilizada."

 

No texto que escreveu para justificar "a ação de arte", em 28 páginas encimadas pelo título "Marchando ao compasso da realidade", Rafael desafia: "Somos abusados? Que se foda! É um orgulho para vocês eu estar dentro dessa podre faculdade. Não sou seu filhote, não preciso do seu aval. A arte hoje em dia é para quem está na pegada. Para os bunda-moles ela morreu faz tempo."

O curso de Artes Visuais tem mensalidade de R$ 900. Rafael é bolsista integral. 

 

Por Laura Capriglione - publicado pela Folha de São Paulo

publicado por ardotempo às 13:56 | Comentar | Ler Comentários (5) | Adicionar

Ausência

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(das palavras, dos gestos, das cidades, das assincronias, do significado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

publicado por ardotempo às 12:34 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Museu do Quai Branly, Paris

 Museu das Artes Primitivas

 

 

Museu do Quai Branly, Paris - Projeto arquitetônico de Jean Nouvel - Museu dedicado às artes primeiras de todos os continentes. 

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Quinta-feira, 12.06.08

Novo Museu em São Paulo

A Mão do Povo

 

Um novo museu já está sendo preparado pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC) para São Paulo. Por enquanto, seu título provisório é Museu A Mão do Povo e sua casa, já definida, será o Pavilhão Armando de Arruda Pereira, antiga sede da Prodam (Companhia de Processamento de Dados do Município), no Parque do Ibirapuera. A curadora independente e especializada em design, Adélia Borges, que dirigiu o Museu da Casa Brasileira, foi convidada e contratada pelo secretário Municipal de Cultura Carlos Augusto Calil a conceber um projeto do conteúdo da instituição museológica para ser instalada no pavilhão, prédio da SMC. Adélia entregou seu relatório final em abril de 2008. Calil afirma que até julho deve ser decidido como se dará a ocupação do prédio para que, até o fim do ano, já seja feita, pelo menos, uma mostra que sinalize o nascimento do museu - a instituição, provavelmente, só será inaugurada no próximo ano.


A base para a concepção do Museu A Mão do Povo foi o acervo do Museu de Folclore Rossini Tavares de Lima, coleção que pertence à Prefeitura e que reúne cerca de 3.800 objetos e obras, mais de 2 mil fotos; registros sonoros; e instrumentos musicais. Essa coleção começou a ser feita em 1947, por meio da coordenação do professor Rossini Tavares de Lima, para figurar em museu dentro do Centro de Pesquisas Folclóricas, do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. A iniciativa, com força de Ciccillo Matarazzo, se efetivou com mais ênfase em 1953, com coleta de obras para a realização da Exposição Interamericana de Artes e Técnicas Populares, aberta em 1954 como parte dos festejos do 4º Centenário de São Paulo - depois, ainda, foram ainda sendo adquiridas peças para o acervo até a década de 1970. A partir dos anos 50 e até 2000, a coleção ficava na Oca, no Ibirapuera, dividindo espaço com o Museu da Aeronáutica - foi retirada de lá quando o prédio foi cedido para a então Associação Brasil + 500, dirigida por Edemar Cid Ferreira. O acervo do Museu do Folclore mudou-se, na época, para a Casa do Sertanista, da Prefeitura, onde estava ''mal instalado'', diz Calil.

Como conta ainda o secretário, há cerca de dois anos o Ministério Público (MP) interpelou a Secretaria Municipal da Cultura pedindo que se tomasse providências para a conservação do valioso e amplo acervo. ''O Ministério Público determinou que a secretaria contratasse uma expertise para avaliar a coleção, catalogá-la e examinar o que havia se perdido dela'', conta Calil. Dalva Bolognini, da empresa Raízes, realizou esse trabalho ''com indicação de peça por peça''. ''A constatação foi de que 10% da coleção estava deteriorada. Esperávamos mais prejuízo, ou seja, o acervo está mais ou menos intacto, e foi embalado e aguarda um destino. Por enquanto, está em um depósito nosso'', afirma o secretário. Foi também o MP que insistiu para que a coleção voltasse ao Ibirapuera. 

Decidido que o Museu A Mão do Povo pudesse ocupar aquele prédio, Adélia Borges foi convidada a criar, com consultoria de Cristiana Barreto, Marcelo Manzatti e Maria Lúcia Montes, um projeto que fosse além do acervo Rossini Tavares de Lima. A instituição também receberá a coleção da Missão de Pesquisas Folclóricas realizada em 1938 sob a coordenação de Mário de Andrade (o acervo fica no Centro Cultural São Paulo) e deve abrigar as expressões contemporâneas da ''arte do povo brasileiro'' (incluindo a indígena), uma definição oportuna da escritora e crítica Lélia Coelho Frota. ''Hoje a visão de cultura popular é muito dinâmica, ela inspira o design brasileiro, tem uma raiz profunda, mas não é coisa arcaica. Não será um museu do arcaico'', explica o secretário.

''O grande foco é a contemporaneidade, mostrar a vitalidade do povo brasileiro nas mais diversas áreas'', diz Adélia. No sentido de promover a ''interculturalidade'', ela cita, por exemplo, o diálogo entre a arte dos repentistas com a dos rappers. ''Cultura popular e erudita estão sempre se imbricando, as categorias caducaram'', afirma Adélia, responsável apenas pela concepção do consistente projeto. Ela também conta que sugeriu pacote de novas aquisições de peças e coleções particulares para o museu com R$ 500 mil.

Segundo Calil, há muita ''vontade política'' para a concretização do museu, que será incluído na pasta da SMC (seu orçamento de 2008, por exemplo, é de R$ 300 milhões) - mas deve-se levar em conta que este momento de fim de gestão com as eleições, este ano, para a Prefeitura de São Paulo. Estima-se que serão usados R$ 7 milhões para as obras civis e R$ 5 milhões para instalação da nova instituição.
 
Texto de Camila Molina, para O Estado de São Paulo.

publicado por ardotempo às 19:39 | Comentar | Adicionar

Basquiat

Pintura

 

 

Basquiat - Pecho-Oreja (Peito-Orelha) - Pintura, óleo sobre tela. S/data 

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publicado por ardotempo às 19:12 | Comentar | Adicionar
Quarta-feira, 11.06.08

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"O mundo é tempo do fazer."

 

EMMANUEL TUGNY

 

 

© Emmanuel Tugny, Éditions Léo Scheer, Paris, 2008

Joaquin Torres-Garcia - Barco Contrutivista América - Pintura, óleo sobre tela, 1943 

publicado por ardotempo às 23:01 | Comentar | Adicionar

Mia Couto

"A tristeza é meu território"

 

"Só produzo em estado de tristeza, mesmo que esteja a produzir ironia. Os da minha casa entendem bem isso e protegem-me nessa tristeza como se fosse um estado de graça. “Deixa-o lá estar triste mais um bocadinho.” É como se fosse um sono; como se ali houvesse uma porta para sonhar e chegar a uma espécie de intimidade com coisas a que não se chega de outra maneira." 

 

Mia Couto

 

 

Fortaleza de São Sebastião, datada de 1791 - Ilha de Ibo - Moçambique

Fotografia de Lucas Moura

 

Publicado por José Mário Silva em Bibliotecário de Babel

publicado por ardotempo às 17:59 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

A escada de P.A.R.I.S.

 A escada

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A diversidade da banda Paris Combo. Veja o vídeo.

Foto de Eric Pouhier, 2006

publicado por ardotempo às 13:43 | Comentar | Adicionar
Terça-feira, 10.06.08

"Oficinas literárias são os novos hospitais psiquiátricos"

Escrita tortuosa

 

Hanif Kureishi - escritor
 
Porque estou fazendo isso? Por acaso desejo suicidar-me? pergunta-se Kureishi todas as manhãs antes de começar a trabalhar.

 

O romancista, roteirista cinematográfico e dramaturgo britânico Hanif Kureishi lançou um virulento ataque contra as oficinas literárias, afirmando que são "os novos hospitais psiquiátricos".

 

Hanif Kureishi, que é professor adjunto num curso de Escrita Criativa em Kingston University, Inglaterra, declarou a respeito: "Uma das primeiras coisas que nos chama a atenção frente ao noticiário da televisão é que, quando ocorre de um aluno ficar louco e matar várias pessoas com uma metralhadora num campus universitário nos Estados Unidos, sempre se trata de um aluno que faz uma dessas oficinas literárias". "Estes cursos, sobretudo quando se intitulam de Escrita Criativa, são os novos hospitais psiquiátricos. Porém, lembro que esses alunos são bastante agradáveis e muito simpáticos."   
 
O escritor inglês, de pai paquistanês, autor entre outras obras famosas, de "O Buda dos Subúrbios" e "Roupa Limpa, Negócios Sujos" fez essas declarações durante o Hay Festival do jornal The Guardian, em Londres, ao falar de seu último romance, "Something to tell you" (Algo para contar a você). Acrescentou que se sentiu motivado a organizar e orientar uma oficina literária quando seus filhos começaram a fazer aulas de tênis e de piano.


"Imaginei que, se alguém possui algum conhecimento, deveria transmiti-lo aos outros". Comentando sobre seus alunos, Kureishi disse: "Quando termina a oficina meus alunos estão melhores, mas também estão mais infelizes".  Ele conclui que as oficinas despertam nesses jovens falsas expectativas, porque eles crêem firmemente que farão uma carreira literária de estrondoso sucesso.


"Eles têm a fantasia de que todos chegarão a ser escritores famosos e ninguém consegue convencê-los do contrário".
 
Por esse motivo, ao se falar nas oficinas literárias, em "escrita criativa", o escritor afirma que alguém, de certa maneira, está ludibriando os alunos.
"Os aspirantes a escritores têm muito o que dizer, mas ao final do curso obtém as qualificações. Eu sempre atribuo a todos exatamente a mesma nota , 7  (sete) numa escala de zero a dez. Além disso, o professor tem que escrever um relatório sobre cada um deles. Eu sempre escrevo ali que ele se comportam bem e que assistem as aulas vestidos de maneira adequada ao ambiente. Como poderia atribuir-lhes uma nota em escrita criativa?"
 
Quando se diz a Kureishi que seus leitores sempre perguntam que relação existe em sua obra entre a autobiografia e a invenção, o escritor faz uma reflexão: "Este é um assunto desolador. Se um autor responde, logo todos querem saber a que horas ele se levanta da cama, se escreve com as janelas abertas ou fechadas ou que aspecto tem o seu escritório."
 
Talvez fazendo alusão à série de fotografias – "O Estúdio do Escritor" que The Guardian publica semanalmente, ele diz: "Existe gente que fotografa os escritórios dos escritores." "Costumam tirar fotografias dos lugares em que vocês trabalham, também? Não?!? É como se o talento ou a capacidade de um escritor estivesse inscrustrados nos móveis..." Na seqüência, o polêmico escritor revela que retornará ao teatro para colocar em cena a sua novela The Black Album, numa grande casa de espetáculos em Londres. De seu trabalho no teatro, ele fala: "Afastam você de sua casa e pouco depois você começa a odiar a todos a sua volta. Então você se obriga a refugiar-se novamente em casa, isolar-se em seu espaço de trabalho e se dedicar unicamente a escrever."
 
Ela fala também que quando se senta em seu estúdio todas as manhãs, antes de começar a escrever, pensa: "Porque estou fazendo isso? Por acaso desejo suicidar-me?"
 
Publicado por The Guardian

publicado por ardotempo às 23:25 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Matisse

Jazz

 


 

Henri Matisse - O nadador no aquário / Série Jazz - Pintura a gouache sobre papel, recortado e colado em tela, circa 1944 

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publicado por ardotempo às 17:59 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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