Sexta-feira, 20.06.08

O outro

 Gabriel OROZCO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O outro - A Citröen DS prateada, de Gabriel Orozco - Objeto escultórico – carro cortado longitudinalmente e suprimido em um terço central de seu tamanho original, resoldado e transformado num veículo estreito de dois lugares, com acesso aos dois bancos individuais em linha de fila, pelas quatro portas laterais. Trata-se de um veículo clássico, bastante confortável e extremamente seguro, uma vez que, destituído de seu potente motor, permanece imóvel no local onde está exposto. 

Instalação, 1993

publicado por ardotempo às 15:06 | Comentar | Adicionar

No banco da escola primária


 

A ratificação do Acordo Ortográfico é algo que não agrada muito a José Saramago. Até porque não se deve mexer naquilo que deu "bons resultados". Contudo, o escritor considera que o futuro da língua poderia estar "bastante comprometido" sem a existência deste acordo. Na reedição das suas obras, a mudança de grafia será feita por revisores.

 

Aos 85 anos, Saramago diz que já não tem paciência para recorrer constantemente ao dicionário nem para regressar aos bancos da escola primária. As reedições das suas obras vão ter de aplicar o Acordo ortográfico. O que lhe parece? E que importância tem? Em 1911 fizemos uma reforma ortográfica, suponho que por decreto, e sobrevivemos ao choque. Que não deve ter sido muito grande porque não se manejam reacções nesse tempo contra o acordo ortográfico. Não deixou rasto. Ao longo da minha vida passei por algumas coisas dessas, que não eram exactamente reformas ortográficas, mas apareciam algumas coisas dessas. Aprendi a escrever a palavra mãe com "e" no final, depois veio uma reforma gráfica e passei a escrever com "i" final. Depois veio outra e passei a escrever com "e" novamente. Agora estamos em algo mais vasto e complexo que não me agrada completamente. Nestas matérias sou bastante conservador: o que está e deu bons frutos e bons resultados não se mexe. Mas tenho de compreender uma coisa: o futuro do português que escrevemos poderia estar bastante comprometido se não houvesse este acordo.

 

É certo que haverá por parte de muita gente uma certa relutância em escrever acto sem "c" quando até agora escrevíamos com "c". Mas o Brasil tem 200 milhões de habitantes, creio. Podemos com os nossos dez milhões impor à sociedade mundial a nossa norma por isto ou por aqueloutro. Apresentem as razões. Há aí um grupo de pessoas que respeito muito que não estão de acordo comigo. Mas creio que temos de embarcar nesse comboio mesmo que não gostemos muito. Não há outro remédio. Vai começar a escrever acto sem a letra "c"?


Vou continuar a escrever como escrevo hoje. Não vou querer estar a ir constantemente ao dicionário ver se se escreve com "c" ou não. Os revisores encarregam-se disso. Isto vai até 2015, creio, e vamos ter de actualizar dicionários. Agora que eu tenho 85 anos não vou sentar-me outra vez no banco da escola primária para aprender a escrever. Isso faço eu. Há uns apêndices que caem para outra pessoa, neste caso o revisor, que se encarregará de limpar a prosa.


"Em 1911 fizemos uma reforma ortográfica, suponho que por decreto, e sobrevivemos ao choque", afirma José Saramago.

 

Publicado no blog de José Saramago

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publicado por ardotempo às 14:55 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Caetano Veloso responde a Fidel Castro

Fidel Castro acusou Caetano Veloso de estar curvando-se e pedindo perdão aos norte-americanos pelo que expressou em sua canção "Base de Guantánamo".

 

Para Fidel, a declaração de Caetano sobre a existência de respeito a direitos humanos nos Estados Unidos foi uma "prova da confusão e do engano semeados pelo imperialismo. Em duas palavras: o músico brasileiro pediu perdão ao império por ter criticado as atrocidades cometidas naquela base naval em território ocupado de Cuba" – acusou Fidel Castro

 

Leia a resposta de Caetano Veloso, veja o vídeo "Base de Guantánamo".

 

“Não pedi perdão a ninguém.

Procuro pensar por conta própria. Minha irreverência diante dos poderes estabelecidos é impenitente. Dois dias depois de dar a entrevista citada por Fidel, eu disse à televisão austríaca que a tendência sociológica de considerar o racismo no Brasil pior do que o apartheid na África do Sul é uma manobra da CIA.

 

Sou um artista. Minhas palavras são: criação e liberdade.

Se não me submeto ao poderio norte-americano, tampouco aceito ordens de ditadores. Fidel nos deve explicações a respeito de sua identificação com os estados policiais que o comunismo gerou.

 

Hoje toda a esquerda silencia sobre a Coréia do Norte, como silenciava sobre a União Soviética na minha juventude. A canção “Base de Guantánamo” não seria composta se eu não tivesse a evidência de que nos Estados Unidos há respeito aos direitos dos cidadãos como não se vê em Cuba. A decisão da Suprema Corte americana, reconhecendo o direito a habeas corpus aos prisioneiros de Guantánamo é expressão disso. Tampouco seria possível a canção sem o valor simbólico que a revolução cubana tem em nossas mentes.

Lembro de ter sentido, quando excursionava com Fina Estampa, que a tragédia de Cuba (com liberdades cerceadas na ilha e uma população inimiga do regime atuando em Miami) era mais vital do que a segurança dessangrada de Porto Rico. Tenho idéias e reações emocionais complexas. Não aceito pacotes fechados.

 

O texto de Fidel é autocongratulatório, prolixo e injusto.

 

Sobretudo com Yoani Sánchez, a cubana que mantém o blog “Generación Y. Ela e seu marido Ricardo Escobar deram a resposta que eu gostaria de dar a Fidel. Ainda volto ao assunto.” 

 

Veja Caetano Veloso cantando "Base de Guantánamo".

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publicado por ardotempo às 04:34 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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