"Oficinas literárias são os novos hospitais psiquiátricos"
Escrita tortuosa
Hanif Kureishi - escritor
Porque estou fazendo isso? Por acaso desejo suicidar-me? pergunta-se Kureishi todas as manhãs antes de começar a trabalhar.
O romancista, roteirista cinematográfico e dramaturgo britânico Hanif Kureishi lançou um virulento ataque contra as oficinas literárias, afirmando que são "os novos hospitais psiquiátricos".
Hanif Kureishi, que é professor adjunto num curso de Escrita Criativa em Kingston University, Inglaterra, declarou a respeito: "Uma das primeiras coisas que nos chama a atenção frente ao noticiário da televisão é que, quando ocorre de um aluno ficar louco e matar várias pessoas com uma metralhadora num campus universitário nos Estados Unidos, sempre se trata de um aluno que faz uma dessas oficinas literárias". "Estes cursos, sobretudo quando se intitulam de Escrita Criativa, são os novos hospitais psiquiátricos. Porém, lembro que esses alunos são bastante agradáveis e muito simpáticos."
O escritor inglês, de pai paquistanês, autor entre outras obras famosas, de "O Buda dos Subúrbios" e "Roupa Limpa, Negócios Sujos" fez essas declarações durante o Hay Festival do jornal The Guardian, em Londres, ao falar de seu último romance, "Something to tell you" (Algo para contar a você). Acrescentou que se sentiu motivado a organizar e orientar uma oficina literária quando seus filhos começaram a fazer aulas de tênis e de piano.
"Imaginei que, se alguém possui algum conhecimento, deveria transmiti-lo aos outros". Comentando sobre seus alunos, Kureishi disse: "Quando termina a oficina meus alunos estão melhores, mas também estão mais infelizes". Ele conclui que as oficinas despertam nesses jovens falsas expectativas, porque eles crêem firmemente que farão uma carreira literária de estrondoso sucesso.
"Eles têm a fantasia de que todos chegarão a ser escritores famosos e ninguém consegue convencê-los do contrário".
Por esse motivo, ao se falar nas oficinas literárias, em "escrita criativa", o escritor afirma que alguém, de certa maneira, está ludibriando os alunos.
"Os aspirantes a escritores têm muito o que dizer, mas ao final do curso obtém as qualificações. Eu sempre atribuo a todos exatamente a mesma nota , 7 (sete) numa escala de zero a dez. Além disso, o professor tem que escrever um relatório sobre cada um deles. Eu sempre escrevo ali que ele se comportam bem e que assistem as aulas vestidos de maneira adequada ao ambiente. Como poderia atribuir-lhes uma nota em escrita criativa?"
Quando se diz a Kureishi que seus leitores sempre perguntam que relação existe em sua obra entre a autobiografia e a invenção, o escritor faz uma reflexão: "Este é um assunto desolador. Se um autor responde, logo todos querem saber a que horas ele se levanta da cama, se escreve com as janelas abertas ou fechadas ou que aspecto tem o seu escritório."
Talvez fazendo alusão à série de fotografias – "O Estúdio do Escritor" que The Guardian publica semanalmente, ele diz: "Existe gente que fotografa os escritórios dos escritores." "Costumam tirar fotografias dos lugares em que vocês trabalham, também? Não?!? É como se o talento ou a capacidade de um escritor estivesse inscrustrados nos móveis..." Na seqüência, o polêmico escritor revela que retornará ao teatro para colocar em cena a sua novela The Black Album, numa grande casa de espetáculos em Londres. De seu trabalho no teatro, ele fala: "Afastam você de sua casa e pouco depois você começa a odiar a todos a sua volta. Então você se obriga a refugiar-se novamente em casa, isolar-se em seu espaço de trabalho e se dedicar unicamente a escrever."
Ela fala também que quando se senta em seu estúdio todas as manhãs, antes de começar a escrever, pensa: "Porque estou fazendo isso? Por acaso desejo suicidar-me?"
Publicado por The Guardian