Entrevista: Emmanuel Tugny
Emmanuel Tugny – Escritor e músicoAutor de literatura contemporânea francesa e músico nascido em 1968, atualmente editado por Éditions Léo Scheer, de Paris, publicou entre outros livros (sobretudo romances) Rheu, Les Trente, La Vie Scolaire, Choro, Mademoiselle de Biche e mais recentemente, Corbiére Le Crevant, além de vários CDs de música como autor, compositor e intérprete. Recentemente traduziu para as Éditions Léo Scheer, de Paris, o romance Panamerica, do paulista José Agrippino de Paula. Vive e trabalha em Porto Alegre, Brasil, depois de ter morado por alguns anos em Paris, São Paulo e Veneza.
ARdoTEmpo: Caro Emmanuel Tugny, você é um jovem autor de prestígio na França, como uma linguagem de vanguarda, de pesquisa, bem pouco convencional e fora dos padrões conservadores. Como isso foi possível e como uma editora de tanta relevância recebeu os seus livros com esse entusiasmo?
Emmanuel Tugny: Essa questão é difícil de responder...primeiramente, é necessário
dizer que eu não creio nem me proponho a ser um autor "de vanguarda" no sentido estrito da História Literária...eu me considero principalmente como um autor formado em Letras (Literaturas, Filosofia, História) em todas as suas disciplinas e a elas dedicado em tempo integral, não com a intenção de construir ou de pensar o presente e o futuro literários e sim para fazer, simplesmente, os meus livros ao jeito da própria mão...
Eu faço a experîência recorrente quase passiva da apropriação da língua na atividade narrativa, o que é uma experiência estética sem ancoragem histórica: eu não sou movido mais que pelas preocupações estéticas, eu não tenho a ambição de "prescrever o tempo". Não basta a apropriação da literatura para ser de vanguarda, seria necessário promover um "manifesto" sobre tal ato e eu jamais tenho algo a manifestar.
Mas eu retomo a sua pergunta : sobre as motivações do interesse que foi atribuído aos meus livros por meu editor. A essa questão, na realidade, eu não poderia responder por ele e sim apenas acrescentar que estou sendo publicado atualmente entre um conjunto de autores contemporâneos e a sua diretora de edições (Laure Limongi) poderia com maior precisão definir a intenção de sua proposta editorial, mais precisamente do que eu poderia fazê-lo.
AT: Conte como foi a recepção de seu público e como ele se formou… Como o livro foi recebido pela crítica literária e pela mídia na França?
ET: Na verdade, eu não conheço realmente o meu público, eu recebo aqui e ali algumas notícias. Como essas notícias não são muito numerosas, norrmalmente elas são notícias positivas. Atacar o meu trabalho na realidade não faz muito sentido, seria desejar demolir algo muito frágil, que resulta em algo inócuo – o ser humano é um maldoso relativo.
Eu vou cada vez menos ao encontro dos leitores, eu fui a muitas leituras públicas e até participei de algumas conferências enquanto universitário e jamais como crítico literário pelas razões que evoquei anteriormente. Eu sou da velha escola, a anterior à "vanguarda" : eu acredito nos livros, eu não acredito na "autenticação" conferida pela presença do corpo argumentativo do autor.
Mas eu posso relembrar a recepção de meu romance mais recente pelas publicações especializadas em literatura e pelos jornais. Eu percebi nessa recepção duas características precisas : um entendimento em ser essencialmente "provincial", - o que muito me alegrou uma vez que eu detesto Paris (e sua arrogante auto-atribuição de grande capital) - e o fato de me considerarem "estranho". O que me satisfaz plenamente uma vez que em meu livro eu buscava deliberadamente ser o portador da palavra de uma humanidade estranha.
Corbiére não é essencialmente um "estranho escritor provincial" ? Eu gostaria muito de ser considerado dessa mesma forma.
AT: Fale um pouco de seu tema escolhido, Corbiére (que é um ícone de autor maldito) e como você desenvolveu a sua linguagem, em pertinência ao tema. Você não teme tornar-se também uma espécie de autor maldito?
ET: Serei bastante breve, pois não gosto de falar sobre meus livros, na verdade... Eu escrevi sobre Corbiére porque essa personagem e sua obra me parecem ser os sustentáculos ideais de uma reflexão teleológica, uma reflexão sobre a morte como uma "oferenda de amor", o que significa afirmar acerca da morte como a ocasião concedida como a inclusão absoluta no mundo, uma espécie de "comunhão" com o mundo, numa participação final e verdadeiramente unificada (o que para mim parece sempre faltar à Arte) com a matéria.
Corbiére é o álibi de um trabalho sobre a procura e a descoberta essenciais, a meu ver, do "ser-matéria".
AT: Você também desenvolve uma intensa atuação como compositor e como músico, sendo líder de uma banda de música, de rock- contemporâneo, Molypop, na França – como você encara esse trabalho de criação tão multi-mediático quanto abrangente (coletivo na música e individual na literatura), na sua produção?
ET: Existem variados aspectos infinitamente felizes na atividade de "cantor de rock " ou de roqueiro. O primeiro deles é a de sua natureza coletiva nessa atuação criativa o que me alegra, a mim que sou adaptado forçado às atividades coletivas. A segunda é a redução e síntese do poema à canção, o que para mim é e sempre será uma operação de desenvolvimento essencial. A terceira é a dimensão marcadamente física e extremamente intelectual da interpretação musical que faz uma ligação (e se assemelha) à escritura romanesca e à pintura, essa última que foi uma de minhas atividades durante um longo tempo de minha vida. A quarta é a perpetuação de uma lógica adolescente ao longo de toda a
vida : ser roqueiro aos quarenta anos é ser um pouco Dorian Gray !
AT: Quais são os seus projetos atuais e imediatos em literatura e também na música?
ET: Eu trabalho neste momento num novo romance um pouco bizarro, Le Silure, num segundo álbum CD de música do grupo Molypop enquanto o primeiro, Sous la barque (Quand on creuse) sairá no outono parisiense, num outro álbum musical solo, Só e numa espécie de ópera que estou desenvolvendo com o compositor inglês John Greaves, intiltulada Nemeton.