Quinta-feira, 10.04.08

OS ALEMÃO - 3






Hier sprechen wir Brasilianischen


                 


O pai de meu pai viera para o Brasil num navio da Hamburg-Amerika Linie, em 1888, para instalar sobre um trapiche, às margens do arroio São Lourenço e a poucas quadras da Lagoa dos Patos, uma Exporthäusern für Kolonialprodukte, quem sabe um estaleiro, quem sabe uma empresa de navegação.

Imagino que trazia uma roupa preta e o cavanhaque aparado – como nos retratos em que o conheci – além de bastante dinheiro para ele mesmo buscar seu “lugar ao sol”, em vez de servir ao Kaiser e garantir a expansão colonial alemã.

Vovô morreu moço, aos 5l anos, depois de uma ponta de lápis lhe penetrar na virilha, numa queda, e apesar de ser levado às pressas para Pelotas, em busca de socorro.

Era o fim da I Guerra Mundial e ele deixava para cada filho um barco de carga e, para toda a gente, a lembrança de uma seriedade casmurra que só escondia, nos olhos líquidos, a risonha zombaria com que se revelava um alemão incapaz de plantar batatas, incapaz de usar tamancos, incapaz de dirigir uma wagenkollonen – mas capaz de tomar banho todos os dias (e que propalava com letra gótica em sua porta:

HIER SPRECHEN WIR BRASILIANISCHEN).

Vovó Anna havia anotado na última página de seu Gesangbuch (editado em Sttetin, em pomerano), o nome e a data de nascimento de cada filho. A letra é boa, mas a tinta está apagada. 

Leio: Karl Ern..... Leonard, 24/3/1893; Emil Klaus Joa.... , 28/7/1895; Wilhelm Konrad Joseph, 25/../1897; Gustav Ferdinand Otto, 2/../1899; August Friedrich Michael, 5/l/1907.

Esses cinco, quando estava terminando a I Guerra Mundial já eram
 
Carlos

Emílio
Guilherme
,
Gustavo
e
Augusto
, meu pai.
Tinham casado com brasileiras (dois deles com castelhanas de Jaguarão); tinham levado para a fronteira as primeiras indústrias, o comércio de exportação e importação, a prestação de serviços e as primeiras granjas de arroz; tinham vivido com gosto e arrebatamento cada instante de sua multíplice e fascinante aventura.


                  


Seus iates – o Portimão, o Protetor, o São Domingos, o Aníbal I, o Aníbal II (cuja âncora guardo amorosamente como relíquia e prova de um inacreditável e irrecobrável tempo de prodígios) – foram apenas começo e fim de tudo: foram rolos de fumaça se erguendo lentamente, e inexoravelmente se perdendo no ar – no retrato de vovô com seu cachimbo de porcelana e seu transcendente intento bávaro de Shiffen mit Dampf; ou lá longe, na última curva do rio atravessado pela ponte cinzenta e pelos trens insaciáveis. 

Seus iates navegaram por toda a região da Lagoa dos Patos e da Lagoa Mirim, arribando a portos estabelecidos ou estabelecendo atracadouros novos, cada qual com suas cargas de ilusões e seu mestre, seu motorista, seu marinheiro, seu moço de convés e seu cozinheiro, exatamente como haviam feito no Rio dos Sinos, no Jacui, no Caí, no Taquari, os barcos de outros alemães – Blauth, Becker, Michaelsen, Schilling, Arnt. Mas tudo acabou como um sonho que se desvanece.


                     



– continua                                              Os Alemão - Sequência  01  02  03  04

© Aldyr Garcia Schlee
Imagens ©Coleção Azevedo Moura e AGS
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Arcangelo IANELLI - Escultura






















Arcangelo Ianelli
- Escultura pública em mármore de Carrara,
sobre espelho d'água - São Paulo
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Gravura em Metal - MIR

Maria Inês Rodrigues

                             

MIR - Sem Título, Gravura em metal, sobre papel, 2006
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OS ALEMÃO - 2




 


Os velhos levados presos por não falarem português


D
epois das férias, retornei a Jaguarão, onde havia nascido, onde estudava e onde morava com minha vó materna, a um passo do Uruguai. Não sei se cheguei a ter vontade de contar tudo, tudo o que eu tinha visto e feito; mas, por qualquer razão que na época não poderia adivinhar, acabei guardando tristemente comigo, em dificultoso segredo, cada alegria, cada descoberta, cada novidade de Santa Cruz.

                                  

Talvez achasse que não acreditariam em mim, talvez não quisesse me intrometer em assunto de gente grande.  De modo que nunca revelei nada, mesmo que fosse sobre as bolachinhas de mil formas, os bichinhos de marzipã e a ávore de Natal enfeitada com maçãs de verdade; eu nunca confessei palavra sobre os velhos levados presos rua afora ou os cânticos natalinos ou o bolo de chocolate de vovó Anna – eu, que ninguém sabia que havia viajado num  automóvel sobre trilhos, dormido em acolchoados  de pena de ganso e morado dentro de uma fábrica de balas!...

Em Jaguarão, os dois primeiros alemães que apareceram foram um fotógrafo e um dentista, prático licenciado. Depois, com seus barcos a vapor, com seus ternos elegantes e com suas manias de grandeza que acendiam de inveja os fazendeiros locais, chegaram meu pai e seus irmãos, trazendo rio acima cimento e ferro para a grande ponte, trilhos e dormentes para a ferrovia; as quais haveriam de unir Brasil e Uruguai e de marcar o início do longo e agoniado declínio da navegação fluvial e lacustre.


                


Eu ainda não era nascido, mas me lembro bem, porque está num conto meu.

Desde que chegaram os homens, desde que se abriram as picadas, desde que vieram os dormentes e trilhos as coisas foram mudando demais. Eram gentes de pêlo variado, de modos estranhos, de toda a laia e para todo o gasto; eram medidas e escavações, picaretas e pás, campo rasgado e mato derrubado; eram toras pesadas enchendo os iates, eram aquelas talas de ferro luzindo e depois enferrujando, enferrujando...


               


Foi o verão mais quente que já se teve; e foi o dia mais quente de todos os verões, aquele 1º de janeiro de l93l da inauguração da ponte: as pessoas debruçadas na amurada, olhando o rio bem de cima; a água limpa da estiagem passando em desordenados redemoinhos; embaixo, barcos enfeitados, as chatas, os iates que haviam carregado ferro e cimento, cimento e ferro, cimento e ferro, meses a fio, para a construção; e, bem embaixo, na sombra sob as alfândegas, o mormaço, a umidade, o entulho, o cheiro de bosta fresca...


                 



– continua                                                  Os Alemão - Sequência  01  02  03  04

© Aldyr Garcia Schlee
Imagens ©Coleção Azevedo Moura e AGS
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Aforismo Borgesiano - 12

Memória

Toda memória é, de algum modo, uma antologia.

                                                     


©Jorge Luis Borges / Borges Verbal, Emecê Editores – Buenos Aires  Argentina
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Arthur Luiz PIZA

                                      

Arthur Luiz Piza - Relevo de lâminas de metal, pintadas em negro,
sobre fragmento de carpete de sisal, circa 80
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Quarta-feira, 09.04.08

OS ALEMÃO - 1




 

Aldyr Garcia Schlee


Stille Nacht, Heilige Nacht!


                        
            
N
a véspera do Natal de 1943, voltei a Santa Cruz do Sul numa viagem inesquecível: primeiro, de avião até Porto Alegre; depois, de trem até Ramiz Galvão – e, por fim, num carro-de-linha Ford Modelo T que varou a escuridão e o silêncio da noite sobre trilhos iluminados de vertiginosa magia, como para me deixar gloriosamente diante da árvore em torno da qual se cantava o Tannenbaum.

Stille Nacht, Heilige Nacht! 

O pinheirinho estava enfeitado com maçãs!


Vovó Anna era gorda, tinha uma grande cama com acolchoados de pena de ganso e fizera bolachinhas de mil formas – estrelas, corações, anjos, flores, sereias – além de bichinhos de marzipã – pássaros, ovelhas, galos, patos, cachorros...

Eu estava com nove anos, deslumbrado diante das maçãs de verdade na árvore de mentira, e ainda a sentir o inacreditável trepidar do fordeco sobre os trilhos brilhantes. Aquele dia fora tão fantástico, tão surpreendente e extraordinário, que tudo acontecia além do pretendido e esperado, além do que eu julgara possível e desejado em meus sonhos infantis de dirigíveis e aeroplanos, de soldados e bandidos, de comboios varrendo as telas do cinema, sem qualquer inimaginável automóvel sobre trilhos.

De modo que naquele dia eu não tinha ainda idade, eu não tivera ao menos tempo, eu não teria nem mesmo querer para descobrir algo além dos cânticos natalinos, das maçãs e da árvore, dos acolchoados de penas, dos bichinhos de marzipã, das sereias, das flores, dos anjos, dos corações e das estrelas – e do bolo de chocolate sobre o qual vovó havia escrito Sacher.

Meu pai, minha mãe, meus irmãos, minha avó, nós morávamos numa fábrica de balas, na Avenida Independência, nº 100. Era uma maravilha de perfumes e de cores, os caramelos assim enormes em grossos rolos se afinando se afinando plac plac plac cortados cortadinhos cortadinhos se amontoando se amontoando montões de caramelos montões de caramelos coloridos... Até que um dia eu vi; eu estava sentado feliz diante de casa com minhas bolachinhas, minhas balas e meus sonhos, quando eu vi; eu vi pelo meio da rua soldados da Brigada, eu vi os soldados levando por diante quatro ou cinco velhos, eu vi os velhos presos a uma corda, um atrás do outro.

Não me lembro da cara daqueles velhos, de seus olhares perdidos, de seus gestos de desamparo, de seus chinelos vacilantes. Nem me lembro se corri para dentro, se chorei de susto e se me explicaram por que se prendia a gente, porque se arrastava a gente pela rua.

Só me lembro que naquele dia, deitado com meus sonhos, minhas balas e minhas bolachinhas nos acolchoados de penas de ganso de vovó Anna, eu me abracei fortemente nela, bem apertado, soluçando e tremendo muito, tremendo de medo, engasgado de medo.


                                             


– continua                                                   Os Alemão - Sequência  01  02  03  04

© Aldyr Garcia Schlee
Imagens ©Coleção Azevedo Moura
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Aldyr Schlee escreve

Aldyr Schlee, o grande escritor do Sul, das Américas, de vivências incomuns e densas histórias pessoais, enviou um texto esplêndido, uma espécie de relato emotivo biográfico que dá conta das histórias de uns alemães imigrantes que construíram suas vidas, suas famílias e uma legenda de boa memória, pelas lagoas extensas e nas descampadas fronteiras meridionais, as mais afastadas das grandes metrópoles brasileiras.



Um texto em 4 capítulos postados no blog ARdoTempo sob o título de

                 

                             
 
                                 "Pela manhã, têm-se ouro na boca"                                               
publicado por ardotempo às 20:53 | Comentar | Adicionar

Pintura de TOMIE OHTAKE

                                           


Tomie Ohtake - Pintura, óleo sobre tela,1964
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Terça-feira, 08.04.08

Cupidez



Repúdio às imorais indenizações de Ziraldo e Jaguar


Então eles não estavam fazendo uma rebelião, mas sim um investimento."
Millôr Fernandes


Repudiamos a decisão imoral da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que - de forma afrontosa, absurda e injustificável - premiou os cartunistas Ziraldo Alves Pinto e Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, o “Jaguar”, fundadores de O Pasquim, com acintosas e indecentes “indenizações”.

Sem desconhecer ou negar os méritos do extinto jornal e sua corajosa participação na luta contra o regime implantado pelo golpe de 1964, não se pode, de forma alguma, aceitar esse equívoco lamentável do Ministério da Justiça, que nos custará a bagatela de R$ 1.253.000,24 (hum milhão duzentos e cinqüenta e sete mil reais e vinte e quatro centavos) para Ziraldo, e outros R$ 1.027.383,29 (hum milhão vinte e sete mil trezentos e oitenta e três reais e vinte e nove centavos) para Jaguar, além de polpudas pensões mensais e vitalícias. Isso tudo à custa de nosso trabalho, raspado de nossos bolsos, em decisão que enxovalha o Estado de Direito e a seriedade no trato dos dinheiros públicos.

Há que se registrar a cupidez vergonhosa de dois jornalistas do nível de Ziraldo e Jaguar, que encerram suas vidas profissionais desenhando em tinta marrom a charge da desmoralização de suas lutas e da degradação moral de suas biografias. Transformaram em negócio o que pensávamos ter sido feito por dignidade pessoal e bravura cívica. Receberam, por décadas, o nosso aplauso sincero. Agora, por dinheiro, escarnecem de toda a cidadania, chocada e atônita com a revelação de suas verdadeiras personalidades e intenções.

Com a ditadura sofreram todos os brasileiros. Por isso não encaramos como negócio lucrativo, prebendário e vergonhoso o que se fez por idealismo, honradez e dever. A ditadura não só não provocou danos terríveis a Ziraldo e Jaguar, como agora os enriquece e os torna milionários à custa de um país de miseráveis e doentes.

Aplaudimos os demais jornalistas que fizeram o saudoso semanário pela decisão de não acompanharem Ziraldo e Jaguar nessa pilhagem, roubando dos brasileiros o dinheiro que deveria (e poderia) estar sendo utilizado na construção de hospitais, num país de doentes; de escolas, num país de analfabetos; na geração de empregos, num país de desempregados.

Que se degradem, que se desmoralizem, que se mostrem publicamente de uma forma que jamais poderíamos esperar. Mas não à custa de nossos bolsos, surrupiando o dinheiro suado de milhões de brasileiros que sofreram com o regime de exceção, mas nem por isso se acham no direito de “ganhar na loteria”.

Exigimos mais critério, seriedade e parcimônia na concessão de tais indenizações pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Para que se evitem espetáculos bisonhos como o que assistimos.

Publicado no Blog do Noblat - 08.04.2008
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Segunda-feira, 07.04.08

Gilvan Samico

                                                                       
                                          

  O Sagrado

  Xilogravura de Gilvan Samico,
  sobre papel, 1997 - MAM São Paulo

  Grande Prêmio Museu de Arte Moderna
  Panorama da Arte Brasileira
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publicado por ardotempo às 23:06 | Comentar | Ler Comentários (2) | Adicionar

MINUANO



Minuano
é um vento muito frio e seco, que sopra do Sul, no inverno.

Márcio Faraco cantando Minuano, em emissão da TV francesa. Veja aqui.
Foto de Leonid Streliaev
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publicado por ardotempo às 17:21 | Comentar | Adicionar

Paisagem Cultural

AS CASAS DA IMIGRAÇÃO



As casas da imigração ainda existem no sul do Brasil. Em Teutônia, em Westphalia, em Linha Frank, em Bento Gonçalves, em Antônio Prado, na estrada de Pinto Bandeira. Algumas delas foram fotografadas por Mário Castello, em abril de 2007. Elas são um tesouro arquitetônico, histórico e cultural. Necessitam ser preservadas. São o documento vivo da formação do caráter de uma nação.

Algumas estão muito bem conservadas, outras nem tanto e um grande número delas desapareceu silenciosamente, tragadas pelas falaciosas promessas de um progresso incontornável e do conforto material, proferidas pela cupidez da especulação imobiliária. Isso atingiu a muitas nas cidades e algumas na área rural.


 
A Coleção Azevedo Moura é um grito de alerta  sobre tal situação. Quando a coleção decidiu recolher algumas portas da imigração dos depósitos onde já se encontravam, o fez para devolvê-las ao conhecimento de um imenso público dentro do contexto da obra monumental dos imigrantes no espaço cultural brasileiro. Salvaguardou-as de serem aviltadas, “restauradas” com bizarras camadas de tinta e incrustradas em ambientes contemporâneos, pelas rêmoras da frivolidade e pelos vampiros de uma estética de ocasião, para usufruto e capricho de uns poucos. As casas das colônias precisam ser conservadas vivas e intactas e não podem ficar simplesmente à mercê do mercado, pois sabemos bem o que o mercado faz com elas.

É importante a conscientização de todos e a efetiva valorização cultural desse patrimônio. É necessária a criação de políticas inteligentes de preservação positiva que direcione recursos de benefícios fiscais e alguma isenção de tributos aos proprietários dessas casas (alguns deles bastante pobres) para que possam manter e conservar seus próprios imóveis, que são o patrimônio imaterial de uma coletividade maior e que podem ser vistos por todos, pesquisados e analisados por especialistas e estudantes.

                                              

© Coleção Azevedo Moura - Fotos de Mário Castello
publicado por ardotempo às 15:27 | Comentar | Adicionar

Aforismo Borgesiano – 11

Sonhos















A atividade de sonhar é a que mais se parece com a de escrever,
salvo que a literatura vem a ser como um sonho que alguém dirige.

©Jorge Luis Borges / Borges Verbal, Emecê Editores – Buenos Aires  Argentina
publicado por ardotempo às 14:08 | Comentar | Adicionar

Símbolos Olímpicos

                            

Publicado pelo blog A Natureza do Mal
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Domingo, 06.04.08

"Idéias estragam a pintura"


Entrevista com Ángel Gonzalez García – Crítico e Historiador de Arte
Fietta Jarque – El País, Madrid – 05.04.2008


Pintar sin tener ni idea
aparenta ser um título heterodoxo para o livro de um crítico e historiador da arte. Mas se ajusta perfeitamente a postura de Ángel González, um pensador ponderado e apaixonado em partes iguais, lúcido e polêmico. Um amante da arte em estado puro que não confere demasiada
importância às alternativas atuais de uma indústria da arte e de um sistema que lhe parecem inúteis.

Fietta Jarque: Uma pessoa que sente o impulso irrefreável de criar formas com as mãos está fazendo Arte?

Ángel González Garcia: No livro escrevo, pelo menos duas vezes, sobre o maravilhoso espetáculo em que se transformam as “sobremesas” dos almoços ou jantares prolongados entre amigos. Quando invariavelmente alguns começam a manipular com os resquícios da refeição. As cascas refiladas das laranjas, os pedacinhos de pão, as sementes, os arames das rolhas de champanhes. Parece que uma das características do ser humano é não poder manter as mãos quietas. Esse irrefreável desejo de dar forma às coisas.

Salvador Dali publicou nos anos 60 um artigo na revista Minotaure, que intitulou “Esculturas Involuntárias”, no qual reproduziu bilhetes de metrô retorcidos, pedacinhos de sabão, figurinhas feitas com miolo de pão. Que isto seja do espaço artístico? Não sei. Não pretendo reivindicar acerca do que fazem esses presumidos artistas espontâneos, a minha reivindicação é outra; uma apaixonada e até certo ponto insistente e violenta reivindicação pelo trabalho. Pelo fazer. E pelo fazer com as mãos, acima de tudo.
 
No livro reproduzo um detalhe de um maravilhoso vestido de noiva que uma louca francesa fabricou com todo tipo de recorte ou pedaço de tecido, de trama, de tela, de fios ou de trapos, que encontrou. Essa imagem sempre me pareceu algo comovedor e emocionante. Resultou em algo orgânico, que se parece com os ninhos dos pássaros. Num dos ensaios que está dedicado aos artistas videntes, penso nas mulheres que tecem. No trabalho da tapeçaria, de tecer. É muito significativo que a segunda acepção da palavra “labor”, em Maria Moliner, seja o dos labores femininos, o que para mim se constitui no paradigma do trabalho.

Entre outras coisas porque contém o veículo alucinatório, uma vez que essas tarefas repetitivas, muito monótonas, produzem estados de alteração da consciência. É um dos temas sobre os quais falo com freqüência, o da arte associada aos estados alterados da mente.

FJ: Como ponto de partida?

AGG: Eu não tenho dúvidas que a Arte em sua origem esteve associada à alucinação, aos estados de transe. Tudo isso que a arte profissional se esqueceu, que disfarçou, que procurou ocultar por muitas outras coisas: o sistema de aprendizagem do ofício, as ideologias, as estratégias de toda a espécie que mediatizam o trabalho artístico. Digo isso sem nenhuma malícia. Somente nos artistas espontâneos ainda encontro esse estado original do transe.
 
FJ: O sr. escreve: “As idéias sobram em pintura, sempre resultam excessivas.”

AGG: Quando digo digo “Pintar sin tener ni idea”, coloco isso também como uma segunda leitura. E acredito que se deva pintar sem idéias pré-concebidas. As idéias estragam a pintura. Idéias e pinturas não se juntam bem e se o fazem, produzem obras abjetas ou sinistras. Porque, no final do  processo, os pintores de idéias costumam pintar as idéias dos que mandam. A pintura se ocupa de nossas sensações físicas, corporais. Para expressar as idéias já temos os outros meios, um deles, extraordinário, é a filosofia. A Arte recria as sensações de estar fisicamente no mundo. Trata-se de algo da hieraquia fisiológica.

FJ: Expressar sensações, talvez se faça mais claramente com a pintura abstrata?

AGG: Acredito que a pintura abstrata aponte mais ao espírito e ao ideal. De fato, as circunstâncias do surgimento da pintura abstrata na Europa são inequívocas: ela aparece dentro de um conceito espiritual (os Nabis, Kandinsky...). O Museu Guggenheim de Nova York, que foi o grande templo da pintura abstrata, foi fundado e financiado com o objetivo de apoiar, defender e demonstrar a espiritualidade da arte. Aquele espaço tem mais de igreja do que de qualquer outra coisa. E aqui nos encontramos com outro problema: a arte e a religião não tem absolutamente nada a ver uma com a outra. Não é que não devam ter nada a ver ou que a mim me pareça desse modo, é que é assim que é! 

FJ: Mas parte da pintura ocidental nasceu sob a proteção da Igreja…

AGG: Sim, não há dúvidas sobre isso, mas a arte que passa por religiosa não parece que satisfaça de fato os interesses da religião.
Se pensarmos um pouco nisso, veremos que as grande obras religiosas não resultaram nem um pouco eficazes. Não se sabe de nenhum grande quadro que tenha produzido algum milagre, por exemplo. As virgens de Rafael jamais devolveram a visão aos cegos ou fizeram andar os paralíticos.
Você viu alguma vez alguém ajoelhado diante de uma tela, dentro de um Museu?
 
FJ: O sr. se refere a “esse artifício chamado História da Arte”. Em que sentido diz isso?

AGG: Talvez o tenha dito num sentido mais inocente do que aparenta. Acredito que a arte transcende, afortunadamente, à História. A Arte nos permite nos afastarmos um pouco da História. Sánchez Ferlosio disse sempre que a História nada mais ee que o cenário de todos os crimes. Nessa medida. Penso que a experiência artística é ahistórica, transistórica. Seguramente os homens que tiveram as primeiras sensações artísticas eram iguais a nós.

FJ: A crítica de arte desempenha hoje algum papel relevante?

AGG: Devemos ter sempre em conta que a crítica de arte aparece na França, no século XVIII, com a pretensão de proteger o público dos artistas.  Críticos como o próprio Diderot diziam que era necessário baixar as aspirações dos artistas, que se colocavam como os árbitros definitivos em matéria de arte e que o público também tinha o direito de opinar. Com o passar do tempo a coisa inverteu-se e os críticos tiveram que começar a defender os artistas. Agora não sei muito bem o que os críticos fazem no cenário das artes.

FJ: O sr. se diz tão indignado com o que vê quanto uma pessoa que não tem um maior conhecimento sobre a arte contemporânea?

AGG: As pessoas normais, o público está verdadeiramente derrotado. Foram silenciadas porque lhes foi imposto que rir-se de certas obras contemporâneas é um delito. Que há uma obrigação, um imperativo moral, político e social de ser uma pessoa de seu tempo. Porque alguém deveria obrigatoriamente gostar da arte do seu tempo?

As pessoas, simples e normais, a quem estava destinada a arte – porque se a arte é algo, ela é de todos, é a casa dos pobres – foram anuladas. Já não se escutam risadas nas exposições.  As últimas risadas que escutei numa exposição aconteceram numa mostra de Bruce Nauman no Museu Reina Sofia, em Madrid, onde havia um vídeo que repassava as desventuras de um palhaço num banheiro. O mediador fez calar com severidade um casal que estava rindo de algo evidentemente cômico! A arte converteu-se numa palhaçada monumental. Uma palhaçada para a qual não deveríamos contribuir.

Não sei se nao deveríamos reivindicar uma espécie de greve contra os museus contemporâneos ou contra os museus em geral. Porque não?

Isso tudo nada tem a ver com a Arte e sim com uma indústria de imagens.

É uma pena que a arte, que foi imaginada para tornar mais gratificante a passagem do ser humano sobre o planeta, tenha se convertido em algo que é simplesmente uma fonte de obsessões, de preocupações e de manias.

Ángel Gonzalez García – Historiador de Arte
Entrevista a Fietta Jarque – El País, Madrid – 05.04.2008


publicado por ardotempo às 22:45 | Comentar | Adicionar
Sábado, 05.04.08

A blogueira saúda seus censores...

Reconhecimento e Estímulo
 
Os Prêmios Ortega y Gasset de Jornalismo (de El País) completam 25 anos, numa comemoração em que se distingüiu a valentia do jornalismo de investigação, a luta em favor da liberdade de expressão e a denúncia aos horrores da guerra.

O blog Generación Y, da cubana Yoani Sánchez ganhou o prêmio na seção de Jornalismo Digital, tendo  assim sido reconhecida a inteligência e a fina habilidade com que a jornalista vem contornado as limitações à liberdade de expressão em Cuba. O prêmio destaca o estilo da informação “viva e direta” que ela oferece a seus numerosos leitores e o “ímpeto com que se incorporou ao espaço global do jornalismo cidadão”.

                                  

No lo puedo creer!

Yoani Sánchez

Esa porción de filóloga que aún me queda –que conoce de literatos, filósofos y nombres académicos- está dando saltos de contenta por el Premio Ortega y Gasset de periodismo que me han otorgado. La blogger, por su parte, siente que tantos obstáculos para acceder a Internet, tanto memory flash llevado de aquí para allá, ha valido la pena.

Sólo atino a recordar que era abril – ya Eliot había reparado en la crueldad de la primavera- y decidí exorcizar mis demonios en un Blog. Comencé por expulsar al más paralizante, ese que nos hace apelar a la máscara, el disfraz y el silencio. El segundo en la fila de los desalojados, fue la apatía del que sabe que no puede hacerse mucho. A mediados de agosto, la legión formada por la frustración, el desencanto y las dudas ya drenaban con cada post.

Lo que parecía una terapia personal, para sacudirme todos esos achaques, se convirtió en un espacio para muchos que, curiosa coincidencia, también tenían sus propios demonios.

Lectores, yo sólo soy el rostro en la barra lateral de este sitio. Ustedes, polemistas, incendiarios, censores y boicoteadores, son, en fin de cuentas, los que hacen el Blog.

Blog Generación Y
 
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Sexta-feira, 04.04.08

Em busca da palavra precisa

O pequeno e assombroso romance de João Paulo Sousa é um livro muito bem escrito.
Por quem sabe, com precisão, dimensionar o poder da palavra. Trata-se de um romance concebido com três protagonistas que giram em torno da procura da
palavra para tentar conjurar a solidão na qual eles trafegam ao longo de toda a narrativa.
Renato, o tradutor (que lida com as palavras alheias), Helena, a jornalista (que busca utilizar as palavras como meio de comunicação) e Isabel, sua irmã, a que trabalha num bar e sabe inferir o significado das palavras ou da ausência dessas palavras.

A palavra como busca de afecto. Se Renato à época, fosse mais arguto (ou estivesse menos preocupado com sua representação), teria percebido a lacuna afectiva
de Helena. A vontade enorme de ligação ao mundo e a incapacidade de o compreender. O desejo de o compreender e a incapacidade de o fruir despreocupada. E a palavra como caminho não concretizado para a salvação.


Sabia então que há uma parte do ser humano que permanece sempre na mais funda solidão e que a incomunicabilidade é um castigo dos deuses por um qualquer atrevimento terreno.

A palavra sincera pode ser um mero desperdício de saliva: – “Não fales.”

É uma história na qual as personagens se entrechocam como átomos imprevisíveis e aleatórios em suas trajetórias solitárias e desesperadas em busca de um equacionamento de uma felicidade presumida e imaginária, que para eles somente estará solucionado no encontro da palavra perfeita, ou do texto perfeito.

As palavras que Isabel libertou: – “O teu corpo é belo como uma mentira piedosa.”

O livro de João Paulo Sousa é um livro precioso, para ser lido, encomendado pela internet, pelos ares e pelos correios desde Portugal ou quem sabe, com mais sorte e felicidade, por uma edição que se faça localmente, em breve.

Livro A Imperfeição – de João Paulo Sousa
Pintura de Carla Osório, óleo sobre tela, 2007















    A IMPERFEIÇÃO

    Autor: João Paulo Sousa
    Editora: Campo das Letras Editores, Porto
    115 páginas, 2001
    ISBN Nº  972-610-480-7
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Quando o ser humano deseja fazer o papel de deus

Babaus

E agora essa. Li que duas pessoas recorreram à justiça para impedir que o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear ponha em funcionamento o gigantesco acelerador de partículas que está construindo há 14 anos perto de Genebra, alegando que um dos resultados da colisão de prótons em escala inédita que acontecerá dentro do acelerador pode ser a criação de um buraco negro que engoliria a Terra - e talvez o Universo.

A inauguração do acelerador está marcada para este verão europeu. Por via das dúvidas, enquanto não se resolver a questão, não faça planos para depois de julho.

A colisão dos prótons dentro do super acelerador recriará energias e condições que ocorreram pela primeira (e última) vez na fração de segundo depois do Big Bang que deu origem a, literalmente, tudo. Pesquisadores estudarão os efeitos destes choques atrás de novas pistas sobre a natureza da massa e das forças que formam o Universo. Calcula-se que quase 90 por cento da matéria do Universo é chamada pelos cientistas de “matéria negra” para não precisarem chamá-la de “mistério”, ou de “seja lá o que for”.  Com o novo acelerador se estaria avançando alguns passos importantes nessa escuridão. Mas como as partículas sub-atômicas são notoriamente imprevisíveis, o resultado de mais este exemplo da bisbilhotice humana poderia ser uma grande surpresa, a surpresa final.

Em vez de um Big Bang, teríamos um Big Slurp, que nos chuparia - você, eu e todas as galáxias - para o nada, ou seja lá o que exista do outro lado do buraco.

Quase todos os cientistas ouvidos sobre a questão dizem que não há perigo. Os buracos negros, se aparecerem, serão pequenos (engolindo, presumivelmente, só a Suiça). O alarmismo atual é equiparado ao que acompanhou a construção da bomba atômica em Los Alamos, quando se especulava que uma única explosão nuclear poderia incendiar toda a atmosfera terrestre. E os alarmistas de hoje não parecem merecer muito crédito. Um é espanhol, o outro mora no Havaí, de onde partiu a ação judicial, e nenhum dos dois é físico praticante. Mas o que assusta é que alguns cientistas, inclusive um tal Mangano ligado ao CEPN, não acham a hipótese tão fantástica assim, e o próprio CEPN montou um grupo de avaliação de segurança para rever o projeto antes de ligar o acelerador.

Quer dizer, não quero estragar o dia de ninguém, mas nosso velho Universo pode estar dando suas últimas voltas.

Haverá tempo para uma última especulação, antes de sermos chupados. Talvez o significado de um dos fenômenos mais misteriosos do Universo, o de astros longínquos que desaparecem para dentro de si mesmos, seja que em algum lugar do cosmo os cientistas locais foram curiosos demais, e deram um passo que não era para dar.

© Luis Fernando Verissimo - Publicado no Blog do Noblat - 03.04.2008
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Quinta-feira, 03.04.08

José Luis CUEVAS

                       

José Luis Cuevas - Marquês de Sade - Gravura em metal
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ANTONIO SAURA



















Antonio Saura
- Autodafé - Pintura, óleo sobre tela, 1986
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TÀPIES





















Tàpies
- Pintura, técnica mista - terra, resina e pigmento branco / tinta a óleo preta sobre chapa de madeira.
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Quarta-feira, 02.04.08

O ambientalista

Os defensores do sepultamento ecológico questionam por que, depois que entoamos palavras sagradas sobre o pó voltando ao pó, colocamos corpos na terra de forma ambivalente, indo extraordinariamente longe para evitar esse contato.

Essa prática começou – mas apenas começou – com os esquifes. Caixões de pinho se transformaram em modernos sarcófagos de bronze, cobre puro, aço inoxidável ou caixões que utilizam aproximadamente 60 milhões de pés por ano de madeiras nobres de florestas tropicais temperadas – derrubadas apenas para serem colocadas sob a terra. Na verdade, não realmente sob a terra, porque a caixa em que somos enfiados para sempre é posta dentro de outra caixa, um invólucro usualmente feito de concreto cinzento liso. (…)

O pessoal do sepultamento verde prefere caixões feitos de materiais passíveis de biodegradação rápida, como papelão e vime – ou mesmo nenhum material, corpos não embalsamados, enrolados em mortalhas e colocados diretamente no chão para começar a devolver à terra o que restou de seus nutrientes. Embora a maioria das pessoas através da história tenha sido enterrada dessa forma, no mundo ocidental só alguns cemitérios permitem isso – e menos ainda, a lápide verde substituta: uma árvore plantada para colher imediatamente os nutrientes do corpo humano.















Extraído de O mundo sem nós, de Alan Weisman, Editora Planeta – 2007
Foto de Mario Castello

    Acontecera uma única exceção. Um ambientalista de renome de sua cidade certa feita o escutara com curiosidade e algum interesse, fizera várias perguntas e permanecera silencioso, observando-o e refletindo sobre os dados que Albumina expunha, prolixo, reforçando as afirmações com ansiosos gestos de mãos. Porém o cientista, que o incentivara a continuar as pesquisas, já estava bem idoso, com a sua saúde comprometida, e viria a falecer alguns meses depois desse encontro.

    O sr. Albumina acompanharia o velório e o enterro do ambientalista, que expressara o seu desejo de ser enterrado no campo, sob algumas árvores num pequeno bosque, envolto apenas em tecidos brancos de algodão e sem caixão, diretamente em contato com a terra. Naquele dia e no exato momento desse seu enterro tão singular ocorrera uma tempestade impressionante de ventanias e chuvas horizontais, como se a natureza estivesse celebrando um rito de sacralização em meio a muita água, caudalosa, puríssima. Sem a menor possibilidade da presença de baratas.

    O sr. Albumina ficara encharcado como todos os presentes ao enterro, lembrara-se com ironia que uma das características da albumina era a de ser solúvel em água. Mas ele continuava ali, sólido, consistente e molhado até a alma. Aquilo lhe parecera extremamente coerente, permaneceria pensando sobre o assunto. No campo, jamais vira baratas, nas praias, longe das cidades, também não, apenas umas tais baratas d’água nas rochas junto ao mar, meio transparentes, sem cheiro, sem asas, que nem baratas de verdade pareciam ser.

Extraído do conto Baratas voam dos cemitérios, de A. Aquino,
A Fenda, Editora Iluminuras – 2007















    O mundo sem nós

    Autor: Alan Weisman
    Editora Planeta - 382 páginas, 2007
    Comunicação e Natureza
    ISBN Nº 978-85-7665-302-8


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ARNULF RAINIER

                             

Arnulf Rainier
- Pintura a óleo sobre máscara montada em  placa de madeira , 2005
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UTOPIA

JAN FABRE


















A tartaruga gigante do escultor belga Jan Fabre, em bronze polido, com as suas 5 toneladas de peso, está Procurando por Utopia, em Paris, estacionada e participante na mostra ARTPARIS, que acontece no momento no Grand Palais.


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Shakespeare&Shakespeare

As primeiras edições de Shakespeare estarão na Internet.
Em inglês e daqui há um ano.

As bibliotecas Bodleian de Oxford, UK, e Folger de Washington, USA, uniram esforços para realizar um ambicioso projeto; digitalizar e colocar em Internet
as primeiras edições impressas das obras de William Shakespeare, anteriores a 1641, entre as quais estão Hamlet, Romeu e Julieta e Sonho de uma Noite de Verão, junto a outras peças imortais do dramaturgo universal. O projeto prevê digitalizar 75 edições originais e disponibilizar na rede (em inglês arcaico, original da época em que foram escritas, até 1641).

Este trabalho começará a ser sistematizado a partir de agora em abril e prevê-se que as primeiras obras entrarão em internet daqui há um ano.

Publicado em El Clarín – Buenos Aires, 01.04.2008

Você pode antecipar esse prazer e um conhecimento mais aprofundado da obra do genial escritor inglês, imediatamente, com a criteriosa edição da Iluminuras para
O Conto do Inverno
, de 1623, recentemente publicada pela editora (2007).













  O Conto do Inverno

  Autor: William Shakespeare
  Editora:  Iluminuras
  Peça teatral. Crítica Literária e Interpretação.
  192 páginas, 2007
  ISBN Nº 978-85-7321-243-3
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Terça-feira, 01.04.08

BRAVÔ!!!

Morue Impérial du Paradis
Vinho Quinta da Bacalhôa, de guarda antiga
Havana Montecristo
e...Cida Moreira ao piano de Tom Waits. Veja aqui.

                                              

Cida Moreira e André Frateschi tocando Canções para cortar os pulsos.
Foto de Mauro Holanda
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publicado por ardotempo às 17:52 | Comentar | Adicionar

Pneus inúteis, lixo incontornável

Não existe pneu seguro…” ©Carassotaque

… em 1839, tentou misturar látex natural com enxofre. Quando a mistura caiu acidentalmente em um forno, Charles Goodyear percebeu que tinha criado uma coisa que a natureza nunca tinha experimentado antes.

    Até hoje , a natureza também não arranjou um micróbio capaz de decompô-la. O processo de Goodyear, chamado vulcanização, une longas cadeias de polímeros de borracha a pequenos filamentos de átomos de enxofre, transformando-os, na verdade, em uma única molécula gigante. Como a borracha é vulcanizada – significando que é aquecida, aditivada com enxofre e despejada num molde, com o formato, por exemplo de um pneu de caminhão – a grande molécula resultante toma aquela forma e nunca mais a abandona.

    Sendo uma molécula única, o pneu não pode ser derretido e transformado em outra coisa. (…) Os pneus usados deixam os operadores dos aterros sanitários enlouquecidos… Nos Estados Unidos, uma média de um pneu por cidadão é descartado anualmente – ou seja, um terço de bilhão em apenas um ano. E ainda há o restante no mundo.

    Com todo esse carbono, os pneus também podem ser queimados, liberando considerável energia, o que os torna difíceis de extinguir, juntamente com quantidades surpreendentes de fuligem oleosa, que contém alguns componentes nocivos que inventamos rapidamente durante a II Guerra Mundial.

Extraído de O mundo sem nós, de Alan Weisman, Editora Planeta – 2007

No Brasil é proibida por lei a importação de pneus usados descartados porque são considerados lixo de difícil solução, que acarreta problemas sanitários cumulativos.
Porém…

Pneus velhos, fraude nova

Doze empresas que conseguiram trazer para o Rio, 250 contêineres com cerca de 220 mil pneus usados da Europa estão sendo investigadas pela Receita Federal. O material está retido no Porto até que o setor de inteligência do órgão apresente um relatório final sobre caso. Há suspeitas de que alguns importadores tenham burlado a legislação para revender o produto no Rio e em estados vizinhos, o que é proibido. Desde 1997, o Brasil não autoriza a importação de pneus usados, porque são considerados lixo de difícil destinação, causando sérios danos à natureza. Com menos tempo útil de vida, eles são usados e logo descartados no meio ambiente.

As investigações no Rio começaram depois que a Receita desencadeou em fevereiro, no Espírito Santo, no Paraná e na Bahia, a Operação Lixeira, que identificou compradores que obtinham na Justiça liminares para trazer o produto do exterior. Eles alegavam que importavam matéria-prima que seria remodelada e transformada de novo num pneu. Mas a Receita descobriu que algumas empresas não tinham sequer capacidade para fazer a remodelagem e estavam revendendo pneus velhos. Duas importadoras descobertas na fraude no Espírito Santo também têm negócios no Rio e são responsáveis por parte da carga retida no Porto. A preço de mercado de um pneu já remodelado, os 220 mil poderão render às empresas cerca de R$19 milhões.

Publicado pelo O Globo – Rio de Janeiro, em 13.03.2008
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Editor: ardotempo / AA

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