Quarta-feira, 16.04.08

Frida Kahlo


                                                                                      

Frida Kahlo - Auto-retrato com macaquinho - Pintura, óleo sobre tela, 1938
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publicado por ardotempo às 22:56 | Comentar | Adicionar

Imortal?


Se essa criação máxima dos humanos – uma criança – não puder mais rolar e brincar  num gramado sobre a terra, então, o que restou realmente de nós? O que, do nosso espírito, será realmente imortal?





















Extraído de O mundo sem nós, de Alan Weisman, Editora Planeta – 2007
Desenho sobre cartão, de Nicola de Maria, Paris - 2005
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publicado por ardotempo às 19:07 | Comentar | Adicionar

Extratos de Ney Gastal

A verdadeira vanguarda do atraso

Não existe jornalismo neutro. Como norma, todo jornalista tem sua opinião, assim como toda a empresa jornalística tem a sua própria. Empresas modernas e saudáveis abrem espaço para jornalistas que não comunguem com suas próprias posições (da empresa) para darem ao público em geral uma visão minimamente variada dos fatos. Por isso, mesmo em jornais tradicionalmente conservadores é possível encontrar repórteres, editores e colunistas de posições avançadas. Aliás, foram os jornais mais conservadores que abrigaram maior número de perseguidos pelo regime militar, no Brasil. Saudável contradição.
 
Nem todo conservador é sacana, e vice versa. Uma das maiores lições que aprendi com meu pai e com José Lutzenberguer (ambos repetiam muito isso) foi esta: a grande maioria de nossos adversários não tem as posições que tem por má fé ou má intenção, e sim por convicção. Assim como nós. Eles acreditam tanto nas deles quanto acreditamos nas nossas próprias idéias. Em conseqüência, é preciso exercitar sempre a difícil arte do diálogo tolerante. Verdade que é muito difícil ser tolerante quando o adversário avança com tacapes na mão, mas a tentativa não deve ser descartada logo à primeira pancada. (...)
 
Três décadas não são pouco, mas também não são demais. Em três décadas, os “modernos” escravagistas da Europa e dos Estados Unidos haviam sido patrolados pelos que chamavam de “inimigos do progresso”. O Brasil, claro, precisou de mais tempo, aqui os “progressistas” sempre precisam de mais tempo para rever seus conceitos. Mas hoje nenhum país minimamente civilizado tem escravos.
 
Com a questão ambiental certamente será assim.

Em breve chegará o tempo em que até aqui no Brasil os “progressistas” vão perceber que a conservação de um meio ambiente saudável, de uma biodiversidade variada, são fundamentais para a própria preservação de nossa sociedade. Poderá ser tarde, talvez não, mas eles vão perceber. Então, toda esta discurseira “progressista” de hoje, que nada mais é do que a verdadeira vanguarda do atraso, expressão que eles tanto gostam de usar, terá sido varrida para o lixo. Difícil vai ser fazer as correções então urgentes e necessárias dos problemas que ela tiver provocado. Mas se algum consolo nos resta, é o de que o planeta sobrevive, sempre. Sobreviveu à primeira grande extinção, e a vida voltou renovada, sobreviveu à segunda grande extinção, que levou os dinossauros, e a vida voltou renovada, e sobreviverá à terceira, provocada por processos naturais apressados pela agressividade humana. Mas a vida certamente voltará, renovada.
 
Nós é que não estaremos mais aqui.



















Publicado no Blog Vento Minuano - de Ney Gastal - Leia na integra, no blog
Foto de Mário Castello
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publicado por ardotempo às 13:14 | Comentar | Adicionar

Poesia de Elisa Lucinda

Escrito por Marcelo Coelho

Virou moda, eu diria quase um cacoete em muitos críticos, elogiar este ou aquele poeta pelo seu “rigor formal”. Brinco que há mais rigor na poesia contemporânea brasileira do que no IML.
 
Claro que João Cabral era rigoroso, medido, centrado, intelectual. Drummond, também, mas de outro jeito. Claro que neles não existe uma palavra fora do lugar, uma explosão fora de hora...
 
Mas o cabralismo pode ser um defeito, quando serve apenas à timidez. Nesse caso, a influência de Manuel Bandeira é muito mais rara e difícil de ser trabalhada, porque a poesia de Bandeira não depende de se espremer em letra miúda e versinho “rigoroso”; ela se solta com pouca coisa, não precisa de verborragia mas tampouco de aperto encasacado.
 
Abri por acaso um livro de Elisa Lucinda, chamado A Fúria da Beleza. É a segunda edição, publicada em 2007 pela Record. Sem dúvida, essa escritora, cantora e atriz, nascida em 1958 em Vitória, corre muitos riscos quando escolhe um verso solto, cheio de exclamações, coloquial e bastante “declaratório” quando diz do que gosta, do que não gosta, quando fala de amor, paixão, criança... Mas que importa! “Deus salve as belezas corajosas!” diz ela, e descreve bem, com esse verso, um poema como o que se segue:

 
Ele
 
Já começa a beijar o meu pescoço
com sua boca meio gelada meio doce,
já começa a abrir-me seus braços
como se meu namorado fosse,
já começa a beijar a minha mão,
a morder-me devagar os dedos,
já começa a afugentar-me os medos
e dar cetim de pijama aos meus segredos.
Todo ano é assim:
vem ele com seus cajás, suas oferendas, suas quaresmeiras,
vem ele disposto a quebrar meus galhos
e a varrer minhas folhas secas.
Já começa a soprar minha nuca
com sua temperatura de macho,
já começa a acender meu facho
e dar frescor às minhas clareiras.
Já vem ele chegando com sua luz sem fronteiras,
seu discurso sedutor de renovação,
suas palavras coloridas,
e eu estou na sua mão.
 
Todo ano é assim:
mancomunado com o vento, seu moleque de recados,
esse meu amante sedento alvoroça-me os cabelos,
levanta-me a saia, beija meus pés,
lábios frios e língua quente,
calça minhas meias delicadamente
e muda a seu gosto a moda de minhas gavetas!
 
É ele agora o dono de meus cadernos, meu verso, minha tela,
meu jogo e minhas varetas.
Parece Deus, posto que está no céu, na terra,
nas inúmeras paisagens,
na nitidez dos dias, no arcabouço da poesia,
dentro e fora dos meus vestidos,
na minha cama, nos meus sentidos.
 
Todo ano é assim:
já começa a me amar esse atrevido,
meu charmoso cavalheiro, o belo Outono,
meu preferido.
 

Bem, há um enorme controle e “rigor”, se quisermos, na maneira com que Elisa Lucinda deixa a metáfora meio escondida, meio sugerida, ao longo do poema, para revelá-la só no final.
 
Há um certo “passadismo”, também, nesse romantismo das estações, que me lembra um poeminha francês sobre o mês de Abril, que volta feliz “comme un prince acclamé après un long exil”. Ao mesmo tempo, que poder de transformação em dizer desse amante “que varre minhas folhas secas, que vem quebrar meus galhos”...
 
Por vezes, a inspiração fraqueja: “inúmeras paisagens”, “discurso sedutor de renovação”, são frases de uma triste vagueza comparadas à precisa e feliz lembrança do “muda a seu gosto a moda das minhas gavetas”.


Publicado no Blog de Marcelo Coelho
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publicado por ardotempo às 12:19 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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