“Não existe pneu seguro…” ©Carassotaque
… em 1839, tentou misturar látex natural com enxofre. Quando a mistura caiu acidentalmente em um forno, Charles Goodyear percebeu que tinha criado uma coisa que a natureza nunca tinha experimentado antes.
Até hoje , a natureza também não arranjou um micróbio capaz de decompô-la. O processo de Goodyear, chamado vulcanização, une longas cadeias de polímeros de borracha a pequenos filamentos de átomos de enxofre, transformando-os, na verdade, em uma única molécula gigante. Como a borracha é vulcanizada – significando que é aquecida, aditivada com enxofre e despejada num molde, com o formato, por exemplo de um pneu de caminhão – a grande molécula resultante toma aquela forma e nunca mais a abandona.
Sendo uma molécula única, o pneu não pode ser derretido e transformado em outra coisa. (…) Os pneus usados deixam os operadores dos aterros sanitários enlouquecidos… Nos Estados Unidos, uma média de um pneu por cidadão é descartado anualmente – ou seja, um terço de bilhão em apenas um ano. E ainda há o restante no mundo.
Com todo esse carbono, os pneus também podem ser queimados, liberando considerável energia, o que os torna difíceis de extinguir, juntamente com quantidades surpreendentes de fuligem oleosa, que contém alguns componentes nocivos que inventamos rapidamente durante a II Guerra Mundial.
Extraído de O mundo sem nós, de Alan Weisman, Editora Planeta – 2007
No Brasil é proibida por lei a importação de pneus usados descartados porque são considerados lixo de difícil solução, que acarreta problemas sanitários cumulativos.
Porém…
Pneus velhos, fraude nova
Doze empresas que conseguiram trazer para o Rio, 250 contêineres com cerca de 220 mil pneus usados da Europa estão sendo investigadas pela Receita Federal. O material está retido no Porto até que o setor de inteligência do órgão apresente um relatório final sobre caso. Há suspeitas de que alguns importadores tenham burlado a legislação para revender o produto no Rio e em estados vizinhos, o que é proibido. Desde 1997, o Brasil não autoriza a importação de pneus usados, porque são considerados lixo de difícil destinação, causando sérios danos à natureza. Com menos tempo útil de vida, eles são usados e logo descartados no meio ambiente.
As investigações no Rio começaram depois que a Receita desencadeou em fevereiro, no Espírito Santo, no Paraná e na Bahia, a Operação Lixeira, que identificou compradores que obtinham na Justiça liminares para trazer o produto do exterior. Eles alegavam que importavam matéria-prima que seria remodelada e transformada de novo num pneu. Mas a Receita descobriu que algumas empresas não tinham sequer capacidade para fazer a remodelagem e estavam revendendo pneus velhos. Duas importadoras descobertas na fraude no Espírito Santo também têm negócios no Rio e são responsáveis por parte da carga retida no Porto. A preço de mercado de um pneu já remodelado, os 220 mil poderão render às empresas cerca de R$19 milhões.
Publicado pelo O Globo – Rio de Janeiro, em 13.03.2008