Domingo, 30.03.08

Quatro solos de um virtuose

ARCANGELO IANELLI

Aqui estão quatro exemplos da pintura de um artista maior, Arcangelo Ianelli, em diferentes momentos de sua trajetória.


















  1.
 
(1)Figurativo notável na década de 50, fazendo em seguida sua passagem para o abstracionismo, (2) ainda com elementos de uma figuração bastante sintetizada em 1960; (3) um exemplo de suas magistrais séries de quadrados superpostos em transparências, das décadas de 70/80 e (4) o seu apogeu criativo com a série mais recente das Vibrações Cromáticas da década de 90 .

Em todas as suas fases o grande artista atingiu um grau de originalidade e de qualidade pictórica exemplar, tornando-se um paradigmático, ou seja, assumindo a condição rara de ser o artista que funciona como referência para outros artistas e para um momento crucial da produção artística de seu tempo. E Ianelli conquistou essa condição singular em vários momentos de sua longa carreira. Já expressei claramente em vários textos a minha opinião sobre o papel de protagonista da arte contemporânea brasileira, que é ocupado pelo pintor paulista.

















  2.

Amigo de lealdade pétrea, irremovivelmente ético, ele é admirado por artistas como Rufino Tamayo, Pierre Soulages, Arthur Luis Piza, Tomie Ohtake e críticos de arte como Juan Acha, Giulio Carlo Argan, Alfred Pacquement e Ferreira Gullar.

Ianelli sempre transitou no espaço mais difícil e áspero, aquele que exige o saber fazer com a maior qualidade possível, com o mais exigente grau de invenção: o da beleza, sem cair nunca na redundância ou no previsível. Sim, porque este é um espaço também invadido pelo artesanato oportunista da decoração com seus temas vulgares e repetitivos: os grandes campos floridos de girassóis, os bravos cavalos em movimento, as paisagens ou as manchas tachistas, texturizadas e, atualmente, incrustradas com folhas de ouro, a sinalizar a pretensão de um valor que não possuem.

















  3.


No reverso dessa atitude, a eleição preferida por uma multidão prudente de artistas mais perspicazes será outra.

Uma opção mais barulhenta, porque sabemos como é um tantinho mais fácil alcançar a ilusão da densidade ou da profundidade apelando para o sensacionalismo, para o choque, para a expressão, para o bizarro, para alguma demagogia, em suma, para a feiúra, na  razão da imediata associação desse valor estético com os nossos tempos de escancarada ruína ética e comportamental.

É muitissimo mais dificil e raro ser um grande artista no espaço da beleza do que nos bem equacionados, compreensíveis, teorizados, aceitos e rotulados espaços da escatologia, do expressionismo, do escândalo, da denúncia e da arte brutal. Fazer assim alcanca um reconhecimento sólido e rentável pela espetacularização mediática que é praticamente instantânea.

O que conta é ser ágil, instalar o choque mais impetuoso e promover a notícia, Essa é a parte importante, o compromisso em despertar o interesse da mídia. Aí vale tudo.
Vale acumular lixo e rejeitos, vale amarrar um cão até a morte por inanição, vale espatifar-se sobre uma tela como obra póstuma abstrata, vale pintar com sangue (desde que imprensa seja previamente avisada do fato), vale usar como matéria-prima, terra misturada com massa fecal importada de países pobres distantes, vale fazer cubos de concreto utilizando-se de água de cadáveres. Pouco importa o resultado das “obras” o que vale é disseminação judiciosa da notíciadaousadiadaqueleindivíduo. Essa passa ser a “obra” e não o resultado obtido. Nesse sentido, a feiúra é uma das muletas mais eficazes porque reduz o trabalho e o tempo da compreensão do que se está pretendendo alcançar. Algo pode até resultar bem, ter seriedade e alcançar a condição da obra artística, mas com certeza não será tudo o que nos é apresentado e chancelado como tal.


















  4.

Isso jamais se aplica no caso de Arcangelo Ianelli, que optou pelo caminho e pelo espaço realmente mais difícil. O tempo fará a decantação e a real quantificação dos valores artísticos e estéticos que permanecerão.

   
 
publicado por ardotempo às 18:17 | Comentar | Adicionar

Desenho de ARLINDO DAIBERT




















Desenho em técnica mista, da Série O primeiro caderno de desenho - 1979

Do artista mineiro Arlindo Daibert.
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publicado por ardotempo às 00:29 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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