Sábado, 29.03.08

Olhando para o lado

Com fôlego para derrubar o muro de Tordesilhas?

















Vanguarda latino-americana se prepara para atravessar a fronteira

Há algum tempo, César Aira era apontado na Argentina, de forma irônica, como o "segredo mais bem guardado" da literatura daquele país. Pilhérias à parte, o argentino está longe de ser um enigma em sua terra natal, onde é reconhecido como um dos maiores expoentes da atualidade. Já no Brasil, sua obra continua a ser uma espécie de segredo: de seus mais de 30 livros, entre ensaio e ficção, apenas quatro estão traduzidos entre nós.

O caso de Aira, no entanto, revela somente uma fatia microscópica do quanto a literatura latina de língua espanhola nos chega em migalhas. Mesmo com o aumento considerável de autores publicados por aqui, nos últimos três anos, ainda são escassas as edições de jovens escritores. E mesmo clássicos do século passado permanecem obscuros no Brasil.

"Preservamos a tradição de direcionar o olhar para a Europa e para os EUA. Com isso, perdemos o diálogo com países que têm muito mais a ver conosco" ,  afirma Idelber Avelar, professor de literatura na Universidade de Tulane, em Nova Orleans.

"Além do diálogo, perdemos, também, a leitura de romances essenciais na história recente de nossos hermanos. É o caso de Museu do romance da eterna, de Macedonio Fernández, obra fundadora para as vanguardas atuais" , ilustra Avelar.

No esforço por recuperar tal déficit literário, tem se destacado o trabalho da Amauta Editorial, de São Paulo. Editora de tamanho micro, criada há quatro anos com o objetivo de romper com o "muro de Tordesilhas que separa as línguas portuguesa e espanhola apesar da proximidade cultural e geográfica", a empresa possui o mérito de lançar entre nós nomes como Sergio Chefjec (leia um trecho de seu romance abaixo) e Martín Kohan, dois representantes exemplares da literatura argentina contemporânea. Kohan, inclusive, ganhou recentemente o prêmio Herralde.

"As editoras pequenas são menos burocráticas e, mesmo que de forma artesanal, conseguem lançar autores novos, que não tenham necessariamente apelo comercial ", justifica Marcelo Barbão, um dos sócios da editora.

Pena que as tiragens da Amauta sejam pequenas – 500 livros por edição – e as traduções, poucas – duas ou três por ano. Enquanto outras pequenas raramente se aventuram na publicação de hermanos, resta nos contentarmos com o tal boom de publicações das grandes editoras, focalizado em nomes que já caíram nas graças do público brasileiro, como Ricardo Piglia ou Manuel Puig.  Afinal, uma coisa é certa: " Não tenho dúvidas de que as grandes editoras estão extremamente atentas à literatura hispano-americana " afirma Avelar." Talvez a quantidade de traduções não seja maior porque elas esperam, ainda, a criação de um público, isso a que chamam estouro".

Avelar acrescenta que autores como César Aira possuem um estilo pouco palatável ao leitor médio brasileiro. Seu texto apresentaria tons de nonsense que dependem da criação de um público específico, habituado à originalidade de sua obra, justifica o especialista.

Júlio Pimentel Pinto, professor no departamento de história da USP, é otimista quanto ao desenvolvimento desse público leitor: "Apesar de um período de moda nos anos 1960, o leitor brasileiro nunca olhou com atenção para a produção literária vizinha. Mas há uma tendência de crescimento nos catálogos que, mais cedo ou mais tarde, fará com que os leitores percebam que a literatura hispano-americana não se restringe aos autores já reconhecidos, como Cortázar ou Vargas Llosa."

A questão é que a lista de escritores hispano-americanos imperdíveis, porém inéditos (ou quase) no Brasil, continua infinita. Talvez pudéssemos começá-la assim: Gustavo Ferreyra, Juan José Becerra, Tununa Mercado, Rodolfo Walsh, Eloy Urroz, Mariano Azuela, Severo Sarduy, Fábian Casas. Esses foram apenas alguns dos nomes que ouvimos durante esta apuração.

Tantas ausências, no entanto, contrastam com o sucesso de certas traduções recentes. Basta lembrar O passado, de Alan Pauls, que teve sua primeira edição, de 3 mil exemplares, esgotada em um mês – e isso antes de estrear entre nós o filme homônimo, de Hector Babenco. Fenômeno parecido ocorre com o chileno Roberto Bolaño, que passou de cult a pop num piscar de olhos. Sinal de que está se formando de fato um público mais atento ao estilo de nossos vizinhos escribas? Talvez. A questão aqui é: será que há fôlego para enfim romper com o muro de Tordesilhas?

" Temos, de um lado, um problema, que é: o sucesso diluiu e banalizou o realismo mágico, criando um público leitor que se viciou em narrativas cheias de eventos fabulosos, espíritos brotando das sombras e gente explodindo ", ataca Pimentel. "Além disso, as editoras se arriscam pouco, com notáveis exceções, e preferem se concentrar em autores já consagrados."

O que é uma pena. Pois autores como Kohan e Chejfec teriam muito a acrescentar aos seus contemporâneos tupiniquins. Avelar ressalta que Kohan é um dos poucos autores latino-americanos a falar de futebol – este tema tão brasileiro – de uma forma inteligente. E o livro de Chejfec também reúne méritos: "Boca de lobo (o romance publicado pela Amauta) faz, de forma não consciente, um contraponto ao imaginário urbano que a literatura brasileira contemporânea tem criado. Porque no Brasil estamos muito atrelados a uma estética da neo-violência, a um hiper-realismo agressivo no retrato da cidade. Já Chejfec faz um registro sutil, oblíquo, que tem um efeito mais poderoso a longo prazo."

O curioso é que, para escrever o romance, o autor não se inspirou em seus compatriotas: "A hora da estrela, de Clarice Lispector, foi meu ponto de partida para criar Boca de lobo" , conta. "Mas não aconteceu de forma instantânea. Apenas muitos anos depois de conhecer o livro pude resgatar dele a moral literária de construção do herói, este que se esconde também em meu texto. A hora da estrela é um milagre. E não existem muitos na literatura."

O Brasil não alimenta apenas de livros a criatividade de Chejfec. Sua nova novela, na qual trabalha no momento, passa-se em Porto Alegre. Mais uma prova de quanto o muro de Tordesilhas, em determinados casos, é inócuo.

Juliana Krapp, publicado por JB Online, em 29.03.2008

publicado por ardotempo às 21:11 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

L'Arc-en-Ciel-de-France








































Publicado pelo blog f-world   - 28.03.2008
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publicado por ardotempo às 18:43 | Comentar | Adicionar

Tintin, agente do Dalai Lama

Tendo Tintin feito tanto pela causa do Tibet é
normal que o Tibet faça o mesmo pela causa de Tintin. Dessa forma justifica-se que o Dalai Lama tenha entregue em 2006 à Fundação Hergé o prêmio Light of Truth da ITC (International Campaign for Tibet), que é uma das parceiras da Fundação Hergé para o centenário do autor.

Georges Remi (inverta as suas iniciais e você formará o seu pseudônimo de autoria para seus álbuns de quadrinhos) estaria sentindo-se muito feliz, certamente. Eu procuro evitar falar pelos mortos,
mas não devemos nos esquecer que o budista belga considerava Tintin no Tibet como sendo o seu álbum  predileto e, deliberadamente colocado como um desafio político. Dessa maneira o chefe espiritual do budismo tibetano jamais teve dúvidas: Tintin é o
seu melhor agente de propaganda
.

A prova: há cinco anos atrás, quando de seu lançamento em mandarin, o álbum foi abusivamente intitulado como Tintin no Tibet Chinês. A Fundação Hergé desde então apresenta queixas e move ações com o objetivo de retirar a última palavra indevidamente anexada ao título; não se poderia esperar menos por parte de seus dirigentes, Fanny, a viúva de Hergé e de seu atual marido Nick Rodwell, ambos convertidos ao budismo.  

Aos olhos do Dalai Lama, que aceitou o convite para inaugurar uma grande exposição Tintin no Tibet tendo ao lado os dois dirigentes da Fundação Hergé, o álbum de Hergé não apenas “revela ao mundo a beleza do Tibet” mas igualmente “promove uma tomada de consciência internacional mais aguçada sobre o Tibet”. Quem poderia imaginar que histórias em quadrinhos poderiam chegar a tanto? O destino reservou a elas algo surpreendente que não poderia ter sido premeditado.

Pierre Assouline  - La Republique des Livres, Le Monde – 28.03.2008 
publicado por ardotempo às 18:00 | Comentar | Adicionar

O último bandoneón

Um comovente filme argentino (agora disponível em DVD) sobre a formação de uma "típica" de tangos, constituída por jovens músicos, organizada e conduzida pelo maestro e músico Rodolfo Mederos. Vale a pena ver e guardar para rever.

Veja aqui
                                           

Epoca

Si desapareció

En mi aparecerá

Creyeron que murió

Pero renacerá

Llovió, paró, llovió

Y un chico adivinó

Oímos una voz, y desde un tango

Rumor de pañuelo blanco

No eran buenas esas épocas

Malos eran esos aires

Fue hace veinticinco años

Y vos existías, sin existir todavía

No eran buenas esas épocas

Malos eran esos aires

Fue hace veinticinco años

Y vos existías, sin existir todavía

Si desapareció

En mi aparecerá

Creyeron que murió

Y aquí se nace

Aquí la vida renace

No eran buenas esas épocas

Malos eran esos aires

Fue hace veintinco años

Y vos existías

No eran buenas esas épocas

Malos eran esos aires

Fue hace veinticinco años

Y vos existías, sin existir todavía
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publicado por ardotempo às 13:27 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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