Sexta-feira, 28.03.08

Aforismo Borgesiano – 09

Desgraça

Não é necessário que procuremos pela desgraça.
Ela, de qualquer modo, sempre acaba nos encontrando.





















©Jorge Luis Borges / Borges Verbal, Emecê Editores – Buenos Aires Argentina
Sem título – Pintura de Carla Osório, óleo sobre tela, 2007
publicado por ardotempo às 18:13 | Comentar | Adicionar

Plásticos nos rios, plásticos nos oceanos

Plástico é sempre plástico. O material é um polímero. O polietileno não é biodegradável em uma escala de tempo praticável. Não há mecanismos no ambiente marinho para degradar uma molécula tão longa. (…) Exceto por uma pequena quantidade que tem sido incinerada, toda a partícula de plástico fabricada no mundo nos últimos 50 anos ainda existe. Está em algum lugar no ambiente.” – Dr. Anthony Andrady, Cientista Pesquisador Sênior do Depto. de Pesquisas da Universidade da Carolina do Norte, EUA.

A produção total desse meio século agora ultrapassa 1 bilhão de toneladas. Isso inclui centenas de plásticos diferentes, com permutações desconhecidas, envolvendo plastificantes aditivados, opacificadores, pigmentos, produtos para enchimentos e para aumento da resistência e estabilizadores leves. A longevidade de cada um pode variar enormemente.

Extraído de O mundo sem nós – Alan Weisman, Editora Planeta, 2007
Instalação de arte nas margens do Rio Tietê, São Paulo SP – Brasil
Obra de Eduardo Srur, Quase líquido – 2008

 


Agora pense naquelas “inocentes e confortáveis” sacolinhas plásticas oferecidas gentilmente e aos milhares, nos supermercados para o transporte das mercadorias compradas, pense nas garrafas pets dos refrigerantes… Para onde irão…?

publicado por ardotempo às 17:25 | Comentar | Adicionar

A menina que roubava livros

Da Literatura:  

Em 2002, quando publicou The Messenger, o
australiano Markus Zusak (n. 1975) tornou-se um dos mais aclamados autores da sua geração. O livro recebeu quatro prémios, e o reconhecimento de Zusak, que aos 27 anos publicava o seu terceiro romance, rompeu a barreira da língua inglesa. The Messenger continua inédito em Portugal, mas uma obra posterior,
A Rapariga que Roubava Livros
, chegou agora às nossas livrarias . (NE: A menina de roubava livros, no Brasil)

Zusak, filho de mãe alemã e pai austríaco, nasceu em Sydney, na Austrália. Os pais guardaram recordações da Alemanha nazi, e ele habituou-se a conviver com essas memórias. Nada lhe é estranho: nem os paradoxos da juventude hitleriana, nem a ignomínia da Solução Final, nem as cidades devastadas pelos aliados no fim da guerra.
 
Não admira que a acção do romance esteja localizada em
Molching, subúrbio pobre de Munique, durante a II Grande Guerra. (Na realidade, Zusak está a falar da cidade de Olching, a meio caminho de Munique e do campo de Dachau.) É lá que vive Liesel Meminger, a rapariga que roubava livros. Em Janeiro de 1939, ela e o irmão Werner iam ser entregues a uma família de acolhimento. Os pais, comunistas perseguidos pelo III Reich, não os podiam ter com eles. Mas Werner morre na viagem, ao colo da mãe, e Liesel foi entregue sozinha aos Hubermann. De um momento para o outro, ficara sem o irmão: "um intenso estertor de tosse" e, ZÁS, nada. Em casa dos Hubermann, na rua Himmel, aprenderá a inventar maneiras de provar a si própria que continua viva. A mãe adoptiva, Rosa Hubermann, não esconde o desprezo que sente por ela, a quem trata por saukerl (este e outros vocábulos alemães não foram traduzidos; saukerl equivalerá a porcalhona), mas o marido, Hans, pintor e acordeonista, é um homem bom. Ele vai ajudar Liesel a sobreviver no ambiente hostil de Molching.

Liesel roubava livros para, entre outros motivos, evitar que os alemães os queimassem: "Os alemães adoravam queimar coisas. Lojas, sinagogas, Reichtags, casas, artigos pessoais, gente assassinada e, é claro, livros. Eles apreciavam realmente uma boa queima de livros — o que proporcionava às pessoas parciais em relação a estes a oportunidade de deitar mão a certas publicações que não obteriam de outra maneira". Roubou o primeiro no dia 13 de Janeiro de 1939, no dia em que o irmão foi a enterrar. Caído na neve, O Manual do Coveiro foi esse livro inaugural. Tinha nove anos, quase dez, mas não sabia ler. Pegou nele sem saber do que tratava, o primeiro de muitos. Deixou passar 463 dias e, a 20 de Abril de 1940, roubou o segundo, O Encolher de Ombros, um livro azul com letras vermelhas que foi parar às suas mãos "no fim de uma tarde recheada de muita excitação, muita maldade bela, um tornozelo ensopado em sangue, e uma bofetada de uma mão em que ela confiava".

A história está pontuada de episódios que, na sua aparente fortuitidade, registam com extrema subtileza o quotidiano da retaguarda alemã. Sirva de exemplo a admiração que Rudy Steiner, um amiguinho de Liesel, nutria pelo americano Jesse Owens, o negro que venceu as provas de atletismo nas Olimpíadas de Berlim, em 1936. Um dia, Rudy mascarra-se com carvão, correndo pelas ruas de Molching para escândalo de quem assim o viu. Outro apontamento curioso é o que relaciona a extrema solidão de Max Vandenburg, o judeu que a família Hubermann escondeu na cave, com a de Liesel. Quando a rapariga faz doze anos, Max oferece-lhe um caderno de treze páginas, feito por si, a partir das folhas arrancadas a um exemplar de Mein Kampf: pintou-as de branco antes de as ilustrar e legendar. Esse caderno está inserido no texto, sendo visíveis, sob a tinta raspada, fragmentos do livro que Hitler começou a escrever na prisão (nos anos 1920), e veio a tornar-se o guia ideológico do III Reich.

A Rapariga que Roubava Livros
tem prólogo, dez partes distintas, e um epílogo que nos dá a conhecer o destino de Liesel e Max. Do conjunto faz parte uma pequena colecção de pensamentos de Liesel, A Sacudidora de Palavras. A obra está construída a partir dos livros que Liesel leu entre 1939 e 1943. Os que roubou e os que recebeu de presente. Sabemos exactamente em que circunstâncias leu cada um deles. A noite do bombardeamento de Munique, por exemplo, deu-lhe oportunidade de ler cinquenta e quatro páginas.

Apesar de tudo, Liesel foi uma rapariga com sorte. Três vezes a morte a procurou, três vezes escapou dela. Não admira que a história seja contada (sim, narrada) pela Morte herself. Naturalmente, o grau de sofisticação de Zusak impede a menor derrapagem.

Publicado em Da Literatura – por Eduardo Pitta    

A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS
Autor: Markus Zusak
Romance, 500 páginas, 2007
Editora: Editora Intrínseca
ISBN Nº 85 980 78174
publicado por ardotempo às 13:04 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

As fazendas de salmão do Chile estão doentes

Vírus nos salmões do Chile


















Quem olha para as montanhas verdes e baixas que serpenteiam por quilômetros de cursos d'água plácidos no sul do Chile, mal pode imaginar que algo possa estar errado. Mas abaixo das redes cuidadosamente instaladas em torno das fazendas de piscicultura próximas à costa os salmões estão morrendo.

Uma doença virótica conhecida como anemia infecciosa do salmão, ou ISA, na sigla em inglês, está dizimando milhões de salmões destinados à exportação para o Japão, a Europa e os Estados Unidos. A doença também fez com que as companhias de exportação ficassem expostas a novas acusações de biólogos e ambientalistas que afirmam que a criação de salmões em cercados subaquáticos superlotados está contaminando estas águas, outrora puras e produzindo peixes potencialmente doentes.

Alguns acusam a indústria de criar peixes de uma maneira que convida ao desastre, e os produtores estão sofrendo cada vez mais pressões para modificarem os seus métodos a fim de preservar as águas azul-cobalto do sul do Chile para os turistas e as espécies nativas da vida marinha.

"Todos estes problemas estão relacionados a uma ausência básica de controles sanitários", denuncia Felipe C. Cabello, professor do Departamento de Microbiologia e Imunologia da Universidade de Medicina de Nova York, em Valhalla, no Estado de Nova York, que estuda a indústria de exportação de peixes do Chile. "Infecções parasitárias, virais e fúngicas disseminam-se quando os peixes ficam estressados e os centros de criação são construídos demasiadamente próximos uns dos outros".

As companhias admitem que essas doenças fizeram com que utilizassem doses elevadas de antibióticos. Os pesquisadores afirmam que esta prática é comum na indústria de peixes chilena, e que se consiste de uma mistura de produtos farmacológicos internacionais e chilenos. Segundo os cientistas, alguns desses antibióticos são proibidos para uso em animais nos Estados Unidos. O novo vírus está se espalhando, mas tem afetado principalmente os peixes da Marine Harvest, uma companhia norueguesa que é a maior produtora do mundo de salmões criados em fazendas, e que é responsável por cerca de 20% do salmão exportado pelo Chile.

Arne Hjeltnes, o porta-voz principal da Marine Harvest em Oslo, na Noruega, diz que a sua companhia reconhece que o uso de antibiótico é excessivo no Chile, e que os cercados de peixes muito próximos contribuíram para os problemas. "Algumas pessoas alegam que esta indústria é boa demais para ser verdade", diz Hjeltnes. "Mas enquanto todo mundo estava ganhando muito dinheiro e tudo ia bem, não havia motivo para adotar medidas duras". Ele diz que a crise atual é um alerta para que se preste atenção nas várias medidas que se fazem necessárias.

Os ambientalistas dizem que o salmão está sendo criado para exportação às custas de quase tudo mais. Biólogos e ambientalistas dizem que fezes de salmão e grãos de ração estão reduzindo o oxigênio da água, matando outras espécies da vida marinha e disseminando doenças. Os pesquisadores afirmam que os salmões que fogem estão comendo outras espécies de peixe e começaram a invadir os rios e os lagos.

"Simplesmente não é possível produzir peixe em uma escala industrial de forma sustentável", argumenta Wolfram Heise, diretor do programa de conservação marinha do Projeto Pumalin, uma iniciativa conservacionista privada no Chile. "Nunca se conseguirá atingir um equilíbrio ecológico".

Quando as companhias começaram a criar aqui salmões do Oceano Atlântico, que não são nativos desta região, duas décadas atrás, a criação de salmão era tida como uma bênção para uma área pouco habitada que só tinha algumas aldeias sonolentas de pescadores e campings. A indústria cresceu oito vezes de tamanho desde 1990. Atualmente ela emprega 53 mil pessoas, direta ou indiretamente. Quando a indústria começa agora a abandonar a região dos Lagos em busca de águas não contaminadas em outros locais, a população local fica furiosa, além de preocupada com o futuro.

"As companhias de salmão estão roubando as nossas riquezas", acusa Victor Guttierrez, um pescador de Cochamo, uma vila no Golfo de Reloncavi, que é pontilhado de fazendas de salmão. "Elas trazem as doenças e depois vão embora, deixando-nos com os problemas".

Guttierrez, 33 anos, diz que há apenas seis anos ele e o seu companheiro de pesca pescavam 500 kg de robalo em um dia normal de trabalho. Recentemente ele mostrou o resultado de uma pescaria, apontando para os 40 kg de peixe que estavam em uma caixa térmica na carroceria da sua caminhonete. Ele lamenta as mudanças que observa nos peixes: eles estão mais rosados do que antes, e têm a pele mais flácida. Guttierrez diz suspeitar que os peixes selvagens estão comendo a mesma ração da qual os salmões se alimentam. Segundo ele, a ração está se depositando no fundo do mar. "Se a água continuar sendo contaminada, simplesmente teremos que nos mudar para outra área para encontrar o nosso peixe", diz ele. "A situação está ficando cada vez mais difícil".

Alexei Barrionuevo, Puerto Montt, Chile – publicado no UOL - 27.03.2008
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publicado por ardotempo às 12:06 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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