Domingo, 23.03.08

Aforismo Borgesiano – 08

Críticos (literários /de arte)



A função do crítico é a de equivocar-se, a de especializar-se no erro cuidadoso.

©Jorge Luis Borges / Borges Verbal - Emecê Editores  Buenos Aires - Argentina
Desenho de Saul Steinberg
publicado por ardotempo às 22:33 | Comentar | Adicionar

O notável simples

Alfredo VOLPI    

O pintor Alfredo Volpi foi um artista notável, com a sua simplicidade silenciosa. Um colorista de qualidade, que trabalhou com habilidade no universo complexo da pintura à têmpera. Superfícies cromáticas frágeis, coloridos delicados e igualmente fugidios (pelas intempéries e pela luz), sobre o suporte volúvel da tela, equilíbrios precarissimos para uma
obra tão singular.

Artistas tornam-se maiores (maduros, únicos e influentes) quando, por um lance magistral, de seu pensamento de
criação ou de uma iluminação da inteligência sensível,
inventam algo que os especializam no intricado e sutil espaço da Arte. Tornam-se então paradigmáticos, com aquela obra ou obras, que inventaram ou que criaram como outros, talvez, o prefiram.

Apesar dos esforços generalizados, são poucos os que alcançam tal condição. Que resultará quase sempre no reconhecimento, sem palavras, por outros artistas. Sim, porque a conquista normalmente significará que os paradigmáticos inventaram algo que é somente seu, um certificado visual de origem que os identifica imediatamente. Eles não se parecem a ninguém, os outros é que se parecerão a eles, no decorrer do tempo. Ou não terá ocorrido assim em diversos casos?

Picasso se fez paradigmático várias vezes e porisso resultou
tão grandioso e tão influente. Com as lascas especulares facetadas em ocres de seu cubismo, com suas sensuais figuras “italianas” ou com sua impressionante Guernica, construída
em desenhos marcados, com matizes de cinzas e negros, que influenciaram centenas de artistas pelo mundo.

Giorgio Morandi com suas naturezas mortas, de garrafas e potes, e o universo infinito das cores “morandianas“ em tons terras, rosas, ocres, grises e amarelos de sua curta e riquíssima paleta, que o fizeram o pintor preferido de tantos outros pintores.

E o Francis Bacon dos corpos que se derretem e se desfazem, apodrecidos e descarnados, em suas telas: outros o repetiram, como num jogral, com incontido entusiasmo. A "feiúra" expressionista de Soutine, de adeptos apaixonados
(e resultados nem tanto). Os volumes acumulados de tintas, espessos e bárbaros, as pastosas tridimenssionais dos movimentos petrificados dos gestos de Karel Appel. Outros artistas também os refizeram, em outras latitudes e noutros tempos, um pouco depois ou bem mais tarde.

Outros artistas serão ainda as influências seminais para
milhares de artistas  que lhes seguem os passos e os gestos, religiosamente: Paul Klee, Marcel Duchamp, Anselm Kiefer, Henry Moore, Jacometti e Dubuffet.

Há um paradigmático maior no Brasil que se reinventou, pelo menos, três vezes e o fez com originalidade e consistência: Arcangelo Ianelli - quando, ainda figurativo, criou uma gama estupenda de grises coloridos - os matizes sussurrados - e fez de sua cor tão original uma marca pessoal, inconfundível. Posteriormente, inventou os quadrados superpostos em extraordinárias texturas de transparências e celebrizou-se. Recentemente aprofundou radicalmente as pesquisas e revelou-nos as suas séries de Vibrações, sinfonias cromáticas que o singularizam e que nos deixam extasiados frente à qualidade alcançada e à profundidade de seu pensamento pictórico.

Arcangelo Ianelli foi amigo de Alfredo Volpi. Encontravam-se com freqüência, no ateliê de um e do outro, e trocavam idéias sobre a pintura e sobre as técnicas de que se utilizavam. Mostravam um ao outro as suas telas e conversavam, sempre com humor e espírito. Gostavam-se e respeitavam-se, como amigos e como pintores.   

Volpi também conquistou a sua própria condição de singularidade. Não se parece a ninguém, também soube se fazer único. Para isso utilizou o módulo sintetizado em formato gráfico de uma bandeira ou de mastro, e as fachadas planas, sem profundidade ou perspectiva, espaços preciosos para os jogos sensíveis da cor. Isso foi bem percebido, estudado e descrito pelo talento de seu principal curador, Olívio Tavares de Araújo, um pensador diligente e preciso no aprofundado conhecimento sobre a obra do pintor italiano-brasileiro.


















Pinturas em têmpera sobre tela de
Alfredo Volpi.
Fotos de Pierre Yves Refalo
tags: ,
publicado por ardotempo às 17:39 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Ficção ELVIS, segundo LIMONGI


Não foi minha paixão pela música ou o cinema de Elvis
que me levou ao interesse por ele, simplesmente porque eu não conhecia quase nada de suas canções ou de seus filmes.
Ele representava, aos meus olhos, o perfil de um ícone hiper-kitsch, superexposto, encarnando a transposição de um mundo antigo a um mundo novo. Elvis simboliza
o nascimento do rock’n’roll e a invenção de uma nova etapa da idade entre a infância e a idade adulta: a adolescência. O reconhecimento da pulsão e do desejo, pouco a pouco aceitos pela sociedade. Ele faz o
percurso pelas mutações essenciais, a guerra, a criação da bomba atômica… até morrer com a chegada  do punk
Eu desejava redesenhar os contornos desta silhueta tão bem identificada e remontada em novos detalhes. A escrita, a princípio seca, quase sufocada, pouco a pouco encontra um ritmo através das repetições que funcionam como uma forma de refrão, uma litania que remete ou à história ou ao mito e que recria um movimento de órbita dentro do texto.”

Laure Limogi autora de Fonction Elvis, Laureli / Editions Léo Scheer, França

   Leia aqui
publicado por ardotempo às 13:38 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

Pesquisar

 

Março 2008

D
S
T
Q
Q
S
S
1
2
3
4
5
6
7
8
9

Posts recentes

Arquivos

tags

Links