Quinta-feira, 20.03.08

Para refletir e discutir em Maquinaria da Arte

Marcel Duchamp estava com a razão.

Uma exposição na Tate Modern, em Londres, demonstra como o artista definiu a arte de nossos dias. O seu célebre urinol público, A fonte, foi escolhido como a obra mais influente do século XX.
















 A fonte - readymade, 1917
 Marcel Duchamp

Pode-se fazer obras de arte que não sejam obras de arte?

Mais do que uma pergunta é a expressão de uma vocação subversiva e provocadora que acompanha a reprodução em grande formato da Mona Lisa (La Gioconda - de Leonardo Da Vinci), retocada com bigodes e cavanhaque, logo à entrada da Tate Modern, em Londres. A irreverência é invenção de Marcel Duchamp e funciona como um convite para se explorar ao máximo uma exposição que o museu londrino dedica a um dos artistas que mais influenciou o cenário da arte contemporânea.

A idéia para a obra de arte, o seu processo criativo supera o mérito de sua realização final.

Esse é o grande pilar da arte conceitual. O mesmo que se transforma nas cotações milionárias de Damien Hirst ou de Tracy Emin e, em que pese as idas-e-vindas das tendências, segue em plena vigência. Isso pode ser demonstrado pela iniciativa do curador (Ivo Zanini) da próxima Bienal de São Paulo, no Brasil, que decidiu apresentar um andar da mostra totalmente vazio, isento de obras, significando “o nada por vir do conceitualismo.”

Muito antes de tornar-se o símbolo dos tempos atuais, a obra de Duchamp propôs, há quase um século, uma radical ruptura com as convenções. Com a cumplicidade de seus dois grandes amigos, Francis Picabia e Man Ray. Para esse trio de provocadores, unidos no seu descontentamento com a arte institucionalizada e, em geral, com tudo aquilo que era considerado “correto”, está dedicada esta mostra atual da Tate Modern que, sob o título, Duchamp, Picabia, Man Ray, questiona as suas relações e influências mútuas  desde o ponto central do Dadaísmo e do movimento surrealista, sem deixar de ressaltar a cada um a sua  singularidade.
 
Não havia nenhuma rivalidade entre eles e sim uma cooperação genuína que lhes permitia passar, em conjunto, o seu compromisso com esses diálogos visuais”, explica Jennifer Mundy, curadora da atual mostra em Londres e, na seqüência em breve, em Barcelona.

Duchamp é, sem dúvida, o gênio do grupo, uma inesgotável máquina de idéias e o primeiro que ousou expor dentro de um museu, os objetos comuns da vida cotidiana sob uma rutilante etiqueta de arte. Como o provocador urinol colocado na questão. Uma peça de porcelana que sacudiu o establisment artístico de Nova York em 1917. O artista francês apresentou-o com o título de A fonte, assinada com o pseudônimo de R. Mutt. elevando-o à condição de obra de arte simplesmente porque o artista o proclamava como tal.

Esse urinol público transformado em escultura moderna, é o paradigma de seus readymade e desfez para sempre o laço entre o trabalho do artista e o valor da obra, uma vez que a partir dali essa obra poderia fazer-se com qualquer coisa e tomar qualquer forma.

O que então parecia um insulto veio a tornar-se um símbolo: recentemente um seminário importante com 500 críticos de arte e experts em arte contemporânea elegeu A fonte como a obra de arte moderna mais influente.
 
A mostra de Londres coloca as obras dos três artistas no contexto da amizade que os inspirou e que, num caso pouco comum no universo da arte, manteve-se. Francis Picabia, nascido no seio de uma opulenta família cubana, era um jovem de vida dissoluta até conhecer Duchamp, em 1911.

Em que pese a diferença dos contextos e do caráter extremamente cerebral de Duchamp, logo ficaram muito amigos. Quatro anos mais tarde, o espírito aventureiro do americano Man Ray somou-se a essa equação artística.
 
Um dos eixos dessa criação era a obsessão pelo sexo, que se refletia com intensa carga de erotismo na obras expostas, começando pelas virgens, noivas e viúvas de Duchamp. O percurso da mostra perde a força em sua etapa final pela ausência de obras de Duchamp no período, em razão de sua precoce retirada do cenário das artes, para dedicar-se a seus textos filosóficos e à sua grande paixão, o jogo de xadrez.

Patricia Tubella - Londres, El País – 19.03. 2008
publicado por ardotempo às 22:29 | Comentar | Adicionar

"O romance está morto", avisa Tom Wolfe


O inventor do Neo-Jornalismo, um estilo surgido a partir de um bloco de anotações de repórter publicado exatamente como fora escrito, segundo conta a lenda, reconheceu que seus livros de não-ficção são mais importantes do que os seus romances. Com sua estampa de dândi, o agora rico e famoso escritor, falou o pior contra Norman Mailer,
seu arquinimigo e disse que este “não sabia escutar”.
O autor de A Fogueira das Vaidades diz que somente os livros que misturam ficção e realidade têm futuro.


Entrevista concedida a Andrés Hax
(El Clarin  - Buenos Aires, março 2008)


Mailer está morto!  John Updike não escreveu nada que valha a pena ler desde que Ronald Reagan foi presidente dos Estados Unidos! Roth? Bem, sim, é prolífico como sempre… mas já não estará algo cansado de Zuckerman, seu alterego pusilânime, e confortado por sua vida cômoda que chega ao final? Salinger? Está mais escondido que Bin Laden. Pynchon? OK, este sim. Segue atuando na linha de frente mas seria mais fácil conseguir uma entrevista com Elvis (Presley) do que com o autor paranóico de Arco íris da Gravidade.” – diz Tom Wolfe.
Dos grandes escritores norte-americanos vivos que traçam sua linhagem desde Melville e Twain, desde London e Dos Passos, desde Hemingway e Faulkner, e até Truman Capote e Hunter S. Thompson, quem ainda está presente no centro do ringue, lutando bravamente na busca do Grande Prêmio – mais elusivo do que Moby Dick, a Grande Baleia Branca que arrastou para o abismo a Ahab e toda a sua tripulação -: O Grande Romace Norte Americano? Quem, perguntará você? Há uma resposta: Tom Wolfe.

Leia a íntegra da  entrevista de Tom Wolfe a Andrés Hax, de El Clarín. Em espanhol.

É divertida, provocativa, hedonista, exagerada e traz a curiosa finalidade de promover o novo romance de Tom Wolfe, com a dramática afirmativa pelo autor de que “o romance está morto”. Já mataram o romance antes, noutra  ocasião e em outro lugar, aparentemente ele ressuscitou sem ruídos e sem avisar a ninguém, pelas idéias e palavras de muitos que continuam a escrever com qualidade… O mesmo obituário, proferido de maneira definitiva, ocorre com freqüência para a Arte, para a Pintura, a Escultura, a Poesia,  o Cinema, o Teatro… mas os autores e artistas, que não morreram e não prestaram a devida continência a esses alertas, continuam produzindo e conseguindo a atenção de uns tantos outros, milhares de leitores e interessados em arte, igualmente distraídos que não se deram conta desse cemitério movediço, abrangente, dinâmico e em expansão. 
publicado por ardotempo às 13:03 | Comentar | Adicionar

Fernand Léger - Escultor



Fernand Léger
- Escultura em cerâmica policromada com tintas industriais, queimada em forno de alta temperatura.
publicado por ardotempo às 11:13 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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