Entrevista: IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
Ignácio de Loyola Brandão - Escritor
ARdoTEmpo: – Ignácio, você é um escritor reconhecido no Brasil e no Exterior, que vive do que escreve - o que você comentaria sobre a recente entrevista de Tom Wolfe ao Clarin, de Buenos Aires, na qual, para divulgar o lançamento de seu novo romance, ele declara que
“o romance morreu”?
Ignácio de Loyola Brandão : Aquino, de tempos em tempos, o romance morre. Surge um babaca qualquer que nem é um ensaista nem um historiador e declara que o romance morreu. Só se for o dele.
AT: Seu romance, Não Verás País Nenhum, sombrio e premonitório, há 25 anos lançou uma advertência grave ao futuro, sobre questões ambientais e humanas. Como você vê o cenário ao seu redor, hoje?
ILB: Nunca pensei que o Não Verás começasse a acontecer tão rapidamente. Nem se passaram 30 anos e aquele livro parece um documentário dos dias de hoje.
Claro que não me alegro por estarem as coisas como estão.
Claro que me alegro pelo fato da arte andar na frente da vida.
Também, com essas elites mundiais e nacionais de hoje...
AT: O que você está escrevendo no momento? Quais são os seus planos?
ILB: Acabei de escrever dois livros infantis. Seriam infantis?
Um é Os Escorpiões no Circulo de Fogo e o outro Os Olhos dos Cavalos Loucos. Este é mais longo. Ambos memórias de infância.
Mas o que posso fazer se a minha infância foi vivida como ficção?
Veja o caso de O menino que vendia palavras, que não passa de uma lembrança a qual dei um trato. Editado pela Objetiva no ano passado, ganhou o Prêmio Melhor Infantil de 2007 pela Fundação Biblioteca Nacional.
AT: Existe um evento no sul do Brasil, a Jornada Literária de Passo Fundo, que talvez seja o mais importante evento literário no País – pelos seus desdobramentos, a reunião de escritores, os debates e seminários sobre literatura, as palestras de autores nacionais e internacionais, e principalmente, pela maciça presença e o intercâmbio com os leitores – sistematizado e apoiado por uma Universidade.
Como você vê a Jornada?
ILB: É a coisa mais importante do setor no Brasil.
Mais importante que a badalada Flip. Diferente e mais abrangente que as feiras e bienais de livros que ocorrem pelo Brasil. Pena que o próprio Rio Grande do Sul não tenha entendido o alcance da Jornada, a sua extensão e profundidade. Tanto que não deu verba para o evento devido ao relatório de uma pessoa invejosa e frustrada. Isso mesmo, frustrada, um sub-escritor com um pequeno poder na mão.
AT: O que você propõe como autor, para o futuro da Jornada, que tem sido uma pioneira na criação de novas metodologias e na formação de leitores?
ILB: Proponho que ela se sustente, seja como for, que se mantenha, que prossiga, que procure financiamento fora. Porque hoje ela é brasileira, não mais apenas gaúcha, regional, limitada.
AT: O que você teria a dizer a um jovem (de qualquer parte do mundo) que estivesse descobrindo o prazer da leitura e, olhando as coisas que acontecem ao seu redor, pensasse por uns instantes na idéia de se tornar um escritor?
ILB: Ora, que sente e escreva. Escreva. Escreva. Não pensando em glórias, fama, prêmios. Simplesmente escrevendo, escrevendo.
Entrevista concedida por Ignácio de Loyola Brandão a ARdoTEmpo – março 2008
Foto de Lisette Guerra