Futuro do livro?
Um caso bem didático para se refletir, especialmente por aqueles que não param de difundir a (falsa) perspectiva de se estar testemunhando o dia em que o computador liquidará definitivamente com o livro: o relatório da Comissão para o Desenvolvimento Francês dirigido por Jacques Attali, e publicado com o título “300 Decisões para mudar a França” (338 páginas – 18,90 euros ou R$ 47,25) vende muito nas livrarias.
Com uma tiragem até o momento de 75.000 exemplares, o livro figura na segunda colocação entre livros de documentação mais vendidos, um pouco atrás de “Uma Vida” de Simone Veil, na lista de melhores vendas do LivresHebdo.
E isso, considerando-se que o mesmo texto pode ser integral e gratuitamente baixado por internet no site da Documentation Française, o editor normal do Estado francês!
Porque tanta gente estará ainda disposta a pagar cerca de 20 euros (cerca de 50 reais) por algo que está disponível sem custos na internet? Se ainda se tratasse de literatura, poder-se-ia desenvolver argumentos tais como a magia do livro ou a sensualidade de tocar a página impressa de papel. Mas trata-se de um relatório, que por definição, demanda uma leitura fragmentada e muito localizada.
A que conclusões chegarão os membros da Comissão pelo Futuro do Livro ao Momento da Digitalização, dirigida por Bruno Patino e como esta formatará o seu próprio relatório em proposta para a leitura no instante de sua publicação? Será colocado em internet, estará impresso nas livrarias, será enviado por pombos correios ou de alguma outra maneira mais apropriada?
Pierre Assouline – La Republique des Livres – Le Monde – 22.02.08