Rosas de Exportação

Dois terços de uma flor, como de um ser humano, são água. Assim, o montante de água que um exportador típico de flores embarca para a Europa a cada ano é igual às necessidades anuais de uma cidade de 20 mil habitantes. Durante as secas, os produtores de flores, que precisam cumprir cotas, instalam bombas-sifões no lago Naivasha, um santuário de água fresca, cercado de papiros, para pássaros e hipopótamos, exatamente abaixo das correntes que descem pelo Parque Nacional Aberdares, no Quênia central. Juntamente com a água, são sugadas gerações inteiras de ovos de peixes. O que respinga de volta é certo mau cheiro resultante da barganha química que mantém o frescor perfeito das rosas em sua viagem para Paris.

O tecido apodrecido de carcaças de hipopótamos revela o segredo das fragrâncias perfeitas: DDT e Dieldrin, quarenta vezes mais forte, pesticidas banidos dos países cujos mercados fizeram do Quênia o maior exportador de rosas do mundo. Muito depois que os humanos e até os animais e as rosas desapareçam, o Dieldrin, uma molécula artificial engenhosamente estável, ainda estará por aqui.

                                                                       
 
(Extraído de O mundo sem nós, de Alan Weisman / Planeta – 2007)
Pelo amor de Deus / Damien Hirst - Objeto escultórico, crânio de platina cravejado com diamantes, 2007 
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publicado por ardotempo às 21:38 | Comentar | Adicionar