Andarilho
Em 1917, Marcel Duchamp deslocou um urinol público masculino de uma parede, colocou-o num espaço expositivo de um museu (e pela polêmica feroz que desencadeou na ocasião, aparentemente o objeto nem chegou a ser exposto, permanecendo escondido atrás de um tapume), chamou-o pelo título de A fonte, inventou a novidade do ready-made e os múltiplos caminhos para a revitalização do pensamento artístico. Abriu a caixa de Pandora e dela libertou muitos demônios e alguns anjos. Ele soube ver, sugeriu-nos modificar o ponto de vista e a olhar o mundo de um outro ângulo, a ver mais significados nas coisas - da natureza e da cultura.
Um fotógrafo caminha por uma métrópole com seu instrumento de trabalho e vê o que os outros não vêem. Ele fotografa uma abstração e nos revela a arte. Então, nesse exercício de sensibilidade, poderemos também ver, na seqüência de ampliações, o que o artista viu, atribuindo-lhe o sentido do fenômeno artístico.
Mário Castello apresenta-nos a fotografia da abstração numa textura manchada de umidade de uma parede arruinada. Nas ampliações, vemos com nitidez o que ele viu - O olho - e depois já não percebemos nada mais; de fato, voltamos a ver apenas a mancha úmida, o disforme, o real, o retorno à abstração.
Fotografias de Mário Castello – São Paulo, 2006