Quinta-feira, 11.09.08

François Barré - Maquinaria da Arte SESC

 François Barré

 

M. François Barré não disse que tudo é arte.

Em sua palestra sobre fotografia em Maquinaria da Arte SESC, constatou que, frente ao fato significativo que os Museus de Arte Contemporânea do mundo cada vez mais mostram e acolhem em seus acervos permanentes, as fotografias feitas por pessoas anônimas e comuns, “esse meio de expressão, de baixo custo, facilidade de utilização e ampliadas potencialidades técnicas, que possibilita neste momento, democraticamente, a realização da utopia de permitir a cada indivíduo ter a condição de ser reconhecido como artista.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

François Barré observa o trabalho do fotógrafo Leopoldo Plentz.

 

publicado por ardotempo às 18:25 | Comentar | Adicionar
Quarta-feira, 10.09.08

Maquinaria da Arte SESC - Fotografia

O tema - Fotografia             ARTE SESC

 

É a proposta de debate sobre o fazer artístico em FOTOGRAFIA - uma forma de ampliar a voz do artista fotógrafo, fornecendo-lhe um espaço de discussão e de divulgação de sua própria (manu)fatura, acerca da fotografia contemporânea de autoria.

 

Seminário de Debates - Maquinaria da Arte

Convênio SESC e Embaixada da França no Brasil (Porto Alegre)

Mediadores: Ronan Prigent e Alfredo Aquino

 

Os participantes

 

François Barré

 

Diplomado pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, iniciou a carreira como diplomata. Foi o Diretor do Centro Georges Pompidou de 1993 a 1996, Diretor de Arquitetura e Patrimônio do Ministério da Cultura e Comunicação da França e jurado de certames internacionais de Arte como a Bienal de Arquitetura de Veneza. É Presidente do Encontro Internacional de Fotografia de Arles e desenvolve projetos culturais para as cidades de Saint-Etienne, Nancy, Mulhouse e Bordeaux, na França.

 

Leopoldo Plentz

 

É fotógrafo artista em Porto Alegre. Foi artista convidado residente na Cité des Arts em Paris, tendo em seu currículo várias exposições de fotografia (inclusive premiações) no Brasil e no Exterior. Desenvolve um trabalho de documentação e resgate do contexto imagético urbano com sua ótica singular. Pesquisa e explora no momento a série Inúteis - que se compõe do ato de garimpar pelas ruas das cidades minúsculos objetos (pequenas embalagens, objetos deformados, rejeitos descartados / amassados e destruídos) e fotografá-los em scanner com luz direta, trabalhando-os em sua essência estética e ampliando-os em 100 vezes, conferindo-lhes uma renovada leitura de tangibilidade visual de grande intensidade iconográfica. 

 

Mauro Holanda

 

É o principal e mais celebrado fotógrafo de gastronomia no País. Colaborador constante das principais revistas especializadas na temática: Gula, Go Where, Cláudia, Vogue, Churrasco e outras. Paralelamente a essa atividade profissional desenvolve um surpreendente trabalho de autoria. Apresenta sua série Alma Descarnada, na qual fotografa em seu estúdio com intensa força subjetiva de interpretação, os mesmos ingredientes presentes em seu cotidiano de fotógrafo institucional (carnes, partes de alimentos, fragmentos) 

 

As imagens

 

Leopoldo Plentz

 

 

Mauro Holanda

 

 

O local

 

SESC - Porto Alegre

Av. Alberto Bins, 665 - Auditório do SESC - 20 horas / 10 de setembro de 2008

Porto Alegre RS 

 

Convênio: SESC / Embaixada da França no Brasil (Porto Alegre)

 


 

 

publicado por ardotempo às 15:18 | Comentar | Adicionar
Terça-feira, 09.09.08

Maquinaria da Arte SESC - Porto Alegre

Fotografia - Dia 10 de setembro

 
Maquinaria da Arte SESC - Porto Alegre
 

É uma proposta de debate sobre o fazer artístico. Uma forma de ampliar a voz do artista, fornecendo-lhe um espaço de discussão e de divulgação de sua própria (manu)fatura.

 

Nesse instante em que se ampliaram as possibilidades de expressão e estimula-se a diversidade de comunicação através da multiplicidade mediática, resta-nos as definições dos limites da Arte. O que é Arte e o que não é arte? Ou o que não mais seria arte ou o que é perda de tempo ainda fazer como arte?

  

Se tudo é Arte na atribuição divinatória do artista, então nada é arte e o artista não é seu deus individual. No entanto, nem tudo é matemática, tampouco tudo é água.

 

Existem as diferenças e são elas o motivo crucial de discussões para o Maquinaria da Arte SESC. Essa questões serão levantadas com os próprios produtores de Arte:  fotógrafos, pintores, cineastas, poetas, escultores, escritores, diretores de teatro, gravadores, etc. – ao longo de vários meses.

 

No decorrer da História desenvolveu-se a ampliação do fazer como forma de expressão artistica. Criou-se paralelamente um condicionamento do que era permitido fazer  e como se deveria ser feito sob determinados padrões e limitações teóricas, que foi ora religioso, ora ético, muitas vezes político e ideológico, ciclicamente acadêmico. Na maior parte das vezes as regras e os manifestos trazem a carga restritiva de banimentos e expurgos. São escolhas e sinalizam escolhas de grupos.

 

Conservar, melhorando” – costuma ser o lema secreto para a manutenção dos espaços conquistados, numa direção ou outra. Isso não resulta em brincadeira inofensiva. Foi assim contra os impressionistas na segunda metade do século XIX na Europa, deu-se o mesmo pelo nazismo contra a “Arte Degenerada” (leia-se Van Gogh, Picasso, Soutine, Cèzanne, Kandinsky e outros); foi esse o embate figurativos versus abstratos em meados do século XX; correu paralelo nas ácidas exigências de realismo social para as expressões de arte, teatro e literatura. Nada disso está muito distante nem tão mudado. Declara-se a cada dia a morte de alguma expressão artística.  Espaços expositivos fecham-se petreamente a esta ou aquela forma de expressão em razão lastreada em alguma nova teoria ou convicção. Ou alguma conveniência. Hoje elege-se a feiúra, a escatologia e o sensacionalismo contra a beleza. Ontem a regra de imposição e cerceamento era o contrário. Mudaram as maçãs.

 

Dessa forma o Maquinaria da Arte SESC propõe um canal de ampliação do debate sobre Arte de maneira abrangente e expansiva. A intenção não é a de criar regras, nem dogmas ou definir posturas, é mostrar a diversidade, mostrar o fazer artístico de seus diversos agentes, dar-lhes a voz. 

 

Alfredo Aquino

Artista, escritor e curador - Maquinaria da Arte SESC

 

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Segunda-feira, 08.09.08

Leopoldo Plentz - Maquinaria da Arte

Fotografia

 

 

 

 

No dia 10 de setembro, o fotógrafo e artista Leopoldo Plentz vai participar juntamente com M. François Barré (ex-Diretor do Centre Georges Pompidou, Paris - especialista em fotografia) e com Mauro Holanda (fotógrafo e artista) do debate sobre FOTOGRAFIA - Maquinaria da Arte SESC Porto Alegre. 

 

A conversa e apresentação de fotografias, da sua nova série de imagens em grande formato – "Inúteis" - na qual ele apresenta releituras de pequenos objetos, rejeitos que foram resgatados, fotografados e ampliados em cores sobre papel vintage, no mínimo em 100 vezes a maior que seus tamanhos de origem. O evento acontecerá no SESC - Av. Alberto Bins, 665 - Centro Porto Alegre RS - às 19 horas, quarta-feira (10 de setembro) - Entrada gratuita.

 

publicado por ardotempo às 18:36 | Comentar | Adicionar
Sábado, 06.09.08

Mauro Holanda - Maquinaria da Arte

Fotografia

 

 

 

 

 

No dia 10 de setembro, o fotógrafo e artista Mauro Holanda vai participar juntamente com M. François Barré (ex-Diretor do Centre Georges Pompidou, Paris - especialista em fotografia) e com Leopoldo Plentz (fotógrafo e artista) do debate sobre FOTOGRAFIA - Maquinaria da Arte SESC Porto Alegre.

 

A conversa e apresentação de fotografias acontecerá no SESC - Av. Alberto Bins, 665 - Centro Porto Alegre RS - às 19 horas, quarta-feira (10 de setembro) - Entrada gratuita.

 

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Terça-feira, 13.05.08

Uma experiência de Arte

Ney Gastal, do blog Vento Minuano

 

Aquela poderia ser mais uma manhã como outra qualquer. Eis que o sujeito desce na estação do metrô de Washington. Vestindo jeans, camiseta e boné (o vídeo está meio escuro, parece um terno), encosta-se próximo à entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa, indiferente, por ali na  hora do rush matinal.


Mesmo assim, durante os 45 minutos em que ele tocou, foi praticamente ignorado pelos passantes apressados.

                      

 

Ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do da atualidade, executando peças musicais consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares. Alguns dias antes Bell havia tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a bagatela de 1000 dólares.

A experiência, gravada em vídeo, mostra homens e mulheres de andar ligeiro, copo de café na mão, celular no ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do violino. A iniciativa, realizada pelo jornal The Washington Post era a de lançar um debate sobre o valor, o contexto e a arte.

A conclusão: estamos acostumados a dar valor às coisas apenas quando nos dizem que elas tem valor, que custam valores bem definidos e que o ambiente e destinado à Arte. Bell era uma obra de arte sem moldura. Um artefato de luxo, sem a etiqueta que o identificava como Arte.

Esse é um exemplo daquelas tantas situações que acontecem em nossas vidas que são únicas, singulares, e às quais não damos a menor bola, porque não vêm com a etiqueta de preço estampado. Veja aqui.
 
 

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Domingo, 20.04.08

A vanguarda sem fazer artístico

O cachorro como obra de arte

Ferreira Gullar
- Poeta, ensaísta e crítico de arte   

A arte de vanguarda, que nasceu contra
a institucionalização, é refém da instituição

Ano passado, em 2007, um costarriquenho, que se diz artista e se chama Guillermo Habacuc Vargas, pegou
na rua um cão vira-lata, amarrou-o numa corda e o
prendeu à parede de uma galeria de arte, onde o animal ficou definhando até morrer de fome.

Tratava-se, segundo ele, de uma "instalação perecível", uma obra de vanguarda. Pois bem, para o espanto das pessoas que já se tinham revoltado com a crueldade
de Habacuc, a Bienal de Arte Centro-Americana de Honduras acaba de convidá-lo para dela participar
com a referida "obra" e concorrer a um dos prêmios
do certame.

Será tudo isso verdade ou apenas uma "pegadinha"? Custa crer que o dono de uma galeria de arte permita que um exibicionista pirado amarre ali um pobre cão e o deixe morrer de inanição.

Como se deu a coisa? O animal urinava e cagava preso à parede, ganindo desesperado? As pessoas iam assistir a esse espetáculo de sadismo e ninguém se revoltou nem nenhuma sociedade protetora dos animais protestou? A possibilidade de ter o cão morrido sem que ninguém tenha sabido está fora de questão, uma vez que o objetivo desse tipo de "autor" é precisamente chamar a atenção sobre si, já que nenhum outro propósito pode ser considerado. Mais surpresa causa ainda a notícia de que a Bienal de Honduras o tenha convidado a repetir, nela, aquele mesmo espetáculo de crueldade e sadismo.

Não obstante, essa informação está em vários sites, e surgiu até um movimento de protesto -um abaixo-assinado- para impedir que a Bienal mantenha o convite. Se o que Habacuc queria era escandalizar e ganhar notoriedade, conseguiu, ainda que a notoriedade própria aos torturadores e carrascos.

Não obstante, apesar da repercussão que o cerca, esse fato não é tão novo assim. Sem a mesma dose de cocô e urina nem a mesma animalidade, outras "obras" e atitudes ocorridas antes são reveladoras do impasse a que chegaram a arte dita de vanguarda e as instituições que a exibem, particularmente as Bienais. Uns poucos anos atrás, um gaiato enviou para a Bienal de São Paulo, como sua obra, a seguinte proposta: abrir uma segunda porta na exposição por onde as pessoas entrariam sem pagar. Não podia ser aceita, pois implicaria sério prejuízo ao certame, mas também não poderia ser rejeitada, porque, sendo a Bienal "de vanguarda", tal rejeição comprometeria sua imagem.

Em face disso, adotou-se a seguinte solução: improvisar, nos fundos do prédio, uma portinha meio secreta, garantida por um guarda que a manteria aberta por apenas uma hora e só permitiria a entrada de dez visitantes, no máximo. E assim as coisas se acomodaram, salvando-se a audácia do artista e o caráter vanguardista da instituição. Pode ser que me engane, mas a impressão que tenho é de uma luta farsesca entre falsos inimigos que necessitam um do outro para existir: sem o espaço institucional (galeria, museu, Bienal), não existe a vanguarda e, sem a vanguarda, não existem tais instituições. E a gente se pergunta: mas a vanguarda não nasceu contra a arte institucionalizada? Pois é...

Voltemos ao cachorro. O tal Habacuc pegou o cachorro na rua e o levou para a galeria de arte a fim de fazer dele uma "instalação perecível", ou seja, uma obra de arte. Se o tivesse levado para um galpão qualquer e o deixasse lá morrendo de fome, ele não passaria de um pobre vira-lata vítima de um maluco. Mas, como o Habacuc é artista -ou se diz-, levou-o para uma galeria de arte e aí o pobre cão, de cão virou instalação, por obra e graça do espaço em que o puseram para morrer. Esse é um dado que os críticos de arte (também de vanguarda) teimam em ignorar, ou seja, que, nessa concepção estética, é o espaço institucional que faz a obra: por exemplo, um urinol igualzinho ao de Duchamp, se estiver no Pompidou, é arte; se estiver no banheiro de um boteco, é urinol mesmo, pode-se mijar nele à vontade.

É, portanto, diferente da Mona Lisa, que depois de roubada do Louvre, em 1911, e levada para um quarto de hotel na Itália, continuou a obra-prima que sempre foi. É que a chamada arte conceitual dispensa o fazer artístico e afirma que será arte tudo o que se disser que é arte, mas desde que o ponham numa galeria ou numa Bienal.

Ou seja, a essência da arte de vanguarda, que nasceu contra a institucionalização da arte, é contraditoriamente, a instituição; não está nas obras e, sim, no espaço institucionalizado em que ela é posta. Talvez por isso, a próxima Bienal de São Paulo não terá obras de arte: exibirá apenas o espaço institucional vazio, que as dispensa.





© Ferreira Gullar - publicado na Folha SP / Ilustrada / UOL
- em 20.04.2008

Foto de Mário Castello
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Domingo, 06.04.08

"Idéias estragam a pintura"


Entrevista com Ángel Gonzalez García – Crítico e Historiador de Arte
Fietta Jarque – El País, Madrid – 05.04.2008


Pintar sin tener ni idea
aparenta ser um título heterodoxo para o livro de um crítico e historiador da arte. Mas se ajusta perfeitamente a postura de Ángel González, um pensador ponderado e apaixonado em partes iguais, lúcido e polêmico. Um amante da arte em estado puro que não confere demasiada
importância às alternativas atuais de uma indústria da arte e de um sistema que lhe parecem inúteis.

Fietta Jarque: Uma pessoa que sente o impulso irrefreável de criar formas com as mãos está fazendo Arte?

Ángel González Garcia: No livro escrevo, pelo menos duas vezes, sobre o maravilhoso espetáculo em que se transformam as “sobremesas” dos almoços ou jantares prolongados entre amigos. Quando invariavelmente alguns começam a manipular com os resquícios da refeição. As cascas refiladas das laranjas, os pedacinhos de pão, as sementes, os arames das rolhas de champanhes. Parece que uma das características do ser humano é não poder manter as mãos quietas. Esse irrefreável desejo de dar forma às coisas.

Salvador Dali publicou nos anos 60 um artigo na revista Minotaure, que intitulou “Esculturas Involuntárias”, no qual reproduziu bilhetes de metrô retorcidos, pedacinhos de sabão, figurinhas feitas com miolo de pão. Que isto seja do espaço artístico? Não sei. Não pretendo reivindicar acerca do que fazem esses presumidos artistas espontâneos, a minha reivindicação é outra; uma apaixonada e até certo ponto insistente e violenta reivindicação pelo trabalho. Pelo fazer. E pelo fazer com as mãos, acima de tudo.
 
No livro reproduzo um detalhe de um maravilhoso vestido de noiva que uma louca francesa fabricou com todo tipo de recorte ou pedaço de tecido, de trama, de tela, de fios ou de trapos, que encontrou. Essa imagem sempre me pareceu algo comovedor e emocionante. Resultou em algo orgânico, que se parece com os ninhos dos pássaros. Num dos ensaios que está dedicado aos artistas videntes, penso nas mulheres que tecem. No trabalho da tapeçaria, de tecer. É muito significativo que a segunda acepção da palavra “labor”, em Maria Moliner, seja o dos labores femininos, o que para mim se constitui no paradigma do trabalho.

Entre outras coisas porque contém o veículo alucinatório, uma vez que essas tarefas repetitivas, muito monótonas, produzem estados de alteração da consciência. É um dos temas sobre os quais falo com freqüência, o da arte associada aos estados alterados da mente.

FJ: Como ponto de partida?

AGG: Eu não tenho dúvidas que a Arte em sua origem esteve associada à alucinação, aos estados de transe. Tudo isso que a arte profissional se esqueceu, que disfarçou, que procurou ocultar por muitas outras coisas: o sistema de aprendizagem do ofício, as ideologias, as estratégias de toda a espécie que mediatizam o trabalho artístico. Digo isso sem nenhuma malícia. Somente nos artistas espontâneos ainda encontro esse estado original do transe.
 
FJ: O sr. escreve: “As idéias sobram em pintura, sempre resultam excessivas.”

AGG: Quando digo digo “Pintar sin tener ni idea”, coloco isso também como uma segunda leitura. E acredito que se deva pintar sem idéias pré-concebidas. As idéias estragam a pintura. Idéias e pinturas não se juntam bem e se o fazem, produzem obras abjetas ou sinistras. Porque, no final do  processo, os pintores de idéias costumam pintar as idéias dos que mandam. A pintura se ocupa de nossas sensações físicas, corporais. Para expressar as idéias já temos os outros meios, um deles, extraordinário, é a filosofia. A Arte recria as sensações de estar fisicamente no mundo. Trata-se de algo da hieraquia fisiológica.

FJ: Expressar sensações, talvez se faça mais claramente com a pintura abstrata?

AGG: Acredito que a pintura abstrata aponte mais ao espírito e ao ideal. De fato, as circunstâncias do surgimento da pintura abstrata na Europa são inequívocas: ela aparece dentro de um conceito espiritual (os Nabis, Kandinsky...). O Museu Guggenheim de Nova York, que foi o grande templo da pintura abstrata, foi fundado e financiado com o objetivo de apoiar, defender e demonstrar a espiritualidade da arte. Aquele espaço tem mais de igreja do que de qualquer outra coisa. E aqui nos encontramos com outro problema: a arte e a religião não tem absolutamente nada a ver uma com a outra. Não é que não devam ter nada a ver ou que a mim me pareça desse modo, é que é assim que é! 

FJ: Mas parte da pintura ocidental nasceu sob a proteção da Igreja…

AGG: Sim, não há dúvidas sobre isso, mas a arte que passa por religiosa não parece que satisfaça de fato os interesses da religião.
Se pensarmos um pouco nisso, veremos que as grande obras religiosas não resultaram nem um pouco eficazes. Não se sabe de nenhum grande quadro que tenha produzido algum milagre, por exemplo. As virgens de Rafael jamais devolveram a visão aos cegos ou fizeram andar os paralíticos.
Você viu alguma vez alguém ajoelhado diante de uma tela, dentro de um Museu?
 
FJ: O sr. se refere a “esse artifício chamado História da Arte”. Em que sentido diz isso?

AGG: Talvez o tenha dito num sentido mais inocente do que aparenta. Acredito que a arte transcende, afortunadamente, à História. A Arte nos permite nos afastarmos um pouco da História. Sánchez Ferlosio disse sempre que a História nada mais ee que o cenário de todos os crimes. Nessa medida. Penso que a experiência artística é ahistórica, transistórica. Seguramente os homens que tiveram as primeiras sensações artísticas eram iguais a nós.

FJ: A crítica de arte desempenha hoje algum papel relevante?

AGG: Devemos ter sempre em conta que a crítica de arte aparece na França, no século XVIII, com a pretensão de proteger o público dos artistas.  Críticos como o próprio Diderot diziam que era necessário baixar as aspirações dos artistas, que se colocavam como os árbitros definitivos em matéria de arte e que o público também tinha o direito de opinar. Com o passar do tempo a coisa inverteu-se e os críticos tiveram que começar a defender os artistas. Agora não sei muito bem o que os críticos fazem no cenário das artes.

FJ: O sr. se diz tão indignado com o que vê quanto uma pessoa que não tem um maior conhecimento sobre a arte contemporânea?

AGG: As pessoas normais, o público está verdadeiramente derrotado. Foram silenciadas porque lhes foi imposto que rir-se de certas obras contemporâneas é um delito. Que há uma obrigação, um imperativo moral, político e social de ser uma pessoa de seu tempo. Porque alguém deveria obrigatoriamente gostar da arte do seu tempo?

As pessoas, simples e normais, a quem estava destinada a arte – porque se a arte é algo, ela é de todos, é a casa dos pobres – foram anuladas. Já não se escutam risadas nas exposições.  As últimas risadas que escutei numa exposição aconteceram numa mostra de Bruce Nauman no Museu Reina Sofia, em Madrid, onde havia um vídeo que repassava as desventuras de um palhaço num banheiro. O mediador fez calar com severidade um casal que estava rindo de algo evidentemente cômico! A arte converteu-se numa palhaçada monumental. Uma palhaçada para a qual não deveríamos contribuir.

Não sei se nao deveríamos reivindicar uma espécie de greve contra os museus contemporâneos ou contra os museus em geral. Porque não?

Isso tudo nada tem a ver com a Arte e sim com uma indústria de imagens.

É uma pena que a arte, que foi imaginada para tornar mais gratificante a passagem do ser humano sobre o planeta, tenha se convertido em algo que é simplesmente uma fonte de obsessões, de preocupações e de manias.

Ángel Gonzalez García – Historiador de Arte
Entrevista a Fietta Jarque – El País, Madrid – 05.04.2008


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Domingo, 30.03.08

Quatro solos de um virtuose

ARCANGELO IANELLI

Aqui estão quatro exemplos da pintura de um artista maior, Arcangelo Ianelli, em diferentes momentos de sua trajetória.


















  1.
 
(1)Figurativo notável na década de 50, fazendo em seguida sua passagem para o abstracionismo, (2) ainda com elementos de uma figuração bastante sintetizada em 1960; (3) um exemplo de suas magistrais séries de quadrados superpostos em transparências, das décadas de 70/80 e (4) o seu apogeu criativo com a série mais recente das Vibrações Cromáticas da década de 90 .

Em todas as suas fases o grande artista atingiu um grau de originalidade e de qualidade pictórica exemplar, tornando-se um paradigmático, ou seja, assumindo a condição rara de ser o artista que funciona como referência para outros artistas e para um momento crucial da produção artística de seu tempo. E Ianelli conquistou essa condição singular em vários momentos de sua longa carreira. Já expressei claramente em vários textos a minha opinião sobre o papel de protagonista da arte contemporânea brasileira, que é ocupado pelo pintor paulista.

















  2.

Amigo de lealdade pétrea, irremovivelmente ético, ele é admirado por artistas como Rufino Tamayo, Pierre Soulages, Arthur Luis Piza, Tomie Ohtake e críticos de arte como Juan Acha, Giulio Carlo Argan, Alfred Pacquement e Ferreira Gullar.

Ianelli sempre transitou no espaço mais difícil e áspero, aquele que exige o saber fazer com a maior qualidade possível, com o mais exigente grau de invenção: o da beleza, sem cair nunca na redundância ou no previsível. Sim, porque este é um espaço também invadido pelo artesanato oportunista da decoração com seus temas vulgares e repetitivos: os grandes campos floridos de girassóis, os bravos cavalos em movimento, as paisagens ou as manchas tachistas, texturizadas e, atualmente, incrustradas com folhas de ouro, a sinalizar a pretensão de um valor que não possuem.

















  3.


No reverso dessa atitude, a eleição preferida por uma multidão prudente de artistas mais perspicazes será outra.

Uma opção mais barulhenta, porque sabemos como é um tantinho mais fácil alcançar a ilusão da densidade ou da profundidade apelando para o sensacionalismo, para o choque, para a expressão, para o bizarro, para alguma demagogia, em suma, para a feiúra, na  razão da imediata associação desse valor estético com os nossos tempos de escancarada ruína ética e comportamental.

É muitissimo mais dificil e raro ser um grande artista no espaço da beleza do que nos bem equacionados, compreensíveis, teorizados, aceitos e rotulados espaços da escatologia, do expressionismo, do escândalo, da denúncia e da arte brutal. Fazer assim alcanca um reconhecimento sólido e rentável pela espetacularização mediática que é praticamente instantânea.

O que conta é ser ágil, instalar o choque mais impetuoso e promover a notícia, Essa é a parte importante, o compromisso em despertar o interesse da mídia. Aí vale tudo.
Vale acumular lixo e rejeitos, vale amarrar um cão até a morte por inanição, vale espatifar-se sobre uma tela como obra póstuma abstrata, vale pintar com sangue (desde que imprensa seja previamente avisada do fato), vale usar como matéria-prima, terra misturada com massa fecal importada de países pobres distantes, vale fazer cubos de concreto utilizando-se de água de cadáveres. Pouco importa o resultado das “obras” o que vale é disseminação judiciosa da notíciadaousadiadaqueleindivíduo. Essa passa ser a “obra” e não o resultado obtido. Nesse sentido, a feiúra é uma das muletas mais eficazes porque reduz o trabalho e o tempo da compreensão do que se está pretendendo alcançar. Algo pode até resultar bem, ter seriedade e alcançar a condição da obra artística, mas com certeza não será tudo o que nos é apresentado e chancelado como tal.


















  4.

Isso jamais se aplica no caso de Arcangelo Ianelli, que optou pelo caminho e pelo espaço realmente mais difícil. O tempo fará a decantação e a real quantificação dos valores artísticos e estéticos que permanecerão.

   
 
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Segunda-feira, 24.03.08

PICASSO

Leonardo da Vinci se hallaba a medio camino de la verdad cuando escribió que la Arte es una cosa mental. Cézanne se atreve a afirmar que en Arte se cria con los cojones. Personalmente, creo que la verdad reside en las dos cosas, en Leonardo da Vinci MÁS Cézanne.“ – Pablo Picasso













  Pablo Picasso
  Foto de Edward Quinn
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Quinta-feira, 20.03.08

Para refletir e discutir em Maquinaria da Arte

Marcel Duchamp estava com a razão.

Uma exposição na Tate Modern, em Londres, demonstra como o artista definiu a arte de nossos dias. O seu célebre urinol público, A fonte, foi escolhido como a obra mais influente do século XX.
















 A fonte - readymade, 1917
 Marcel Duchamp

Pode-se fazer obras de arte que não sejam obras de arte?

Mais do que uma pergunta é a expressão de uma vocação subversiva e provocadora que acompanha a reprodução em grande formato da Mona Lisa (La Gioconda - de Leonardo Da Vinci), retocada com bigodes e cavanhaque, logo à entrada da Tate Modern, em Londres. A irreverência é invenção de Marcel Duchamp e funciona como um convite para se explorar ao máximo uma exposição que o museu londrino dedica a um dos artistas que mais influenciou o cenário da arte contemporânea.

A idéia para a obra de arte, o seu processo criativo supera o mérito de sua realização final.

Esse é o grande pilar da arte conceitual. O mesmo que se transforma nas cotações milionárias de Damien Hirst ou de Tracy Emin e, em que pese as idas-e-vindas das tendências, segue em plena vigência. Isso pode ser demonstrado pela iniciativa do curador (Ivo Zanini) da próxima Bienal de São Paulo, no Brasil, que decidiu apresentar um andar da mostra totalmente vazio, isento de obras, significando “o nada por vir do conceitualismo.”

Muito antes de tornar-se o símbolo dos tempos atuais, a obra de Duchamp propôs, há quase um século, uma radical ruptura com as convenções. Com a cumplicidade de seus dois grandes amigos, Francis Picabia e Man Ray. Para esse trio de provocadores, unidos no seu descontentamento com a arte institucionalizada e, em geral, com tudo aquilo que era considerado “correto”, está dedicada esta mostra atual da Tate Modern que, sob o título, Duchamp, Picabia, Man Ray, questiona as suas relações e influências mútuas  desde o ponto central do Dadaísmo e do movimento surrealista, sem deixar de ressaltar a cada um a sua  singularidade.
 
Não havia nenhuma rivalidade entre eles e sim uma cooperação genuína que lhes permitia passar, em conjunto, o seu compromisso com esses diálogos visuais”, explica Jennifer Mundy, curadora da atual mostra em Londres e, na seqüência em breve, em Barcelona.

Duchamp é, sem dúvida, o gênio do grupo, uma inesgotável máquina de idéias e o primeiro que ousou expor dentro de um museu, os objetos comuns da vida cotidiana sob uma rutilante etiqueta de arte. Como o provocador urinol colocado na questão. Uma peça de porcelana que sacudiu o establisment artístico de Nova York em 1917. O artista francês apresentou-o com o título de A fonte, assinada com o pseudônimo de R. Mutt. elevando-o à condição de obra de arte simplesmente porque o artista o proclamava como tal.

Esse urinol público transformado em escultura moderna, é o paradigma de seus readymade e desfez para sempre o laço entre o trabalho do artista e o valor da obra, uma vez que a partir dali essa obra poderia fazer-se com qualquer coisa e tomar qualquer forma.

O que então parecia um insulto veio a tornar-se um símbolo: recentemente um seminário importante com 500 críticos de arte e experts em arte contemporânea elegeu A fonte como a obra de arte moderna mais influente.
 
A mostra de Londres coloca as obras dos três artistas no contexto da amizade que os inspirou e que, num caso pouco comum no universo da arte, manteve-se. Francis Picabia, nascido no seio de uma opulenta família cubana, era um jovem de vida dissoluta até conhecer Duchamp, em 1911.

Em que pese a diferença dos contextos e do caráter extremamente cerebral de Duchamp, logo ficaram muito amigos. Quatro anos mais tarde, o espírito aventureiro do americano Man Ray somou-se a essa equação artística.
 
Um dos eixos dessa criação era a obsessão pelo sexo, que se refletia com intensa carga de erotismo na obras expostas, começando pelas virgens, noivas e viúvas de Duchamp. O percurso da mostra perde a força em sua etapa final pela ausência de obras de Duchamp no período, em razão de sua precoce retirada do cenário das artes, para dedicar-se a seus textos filosóficos e à sua grande paixão, o jogo de xadrez.

Patricia Tubella - Londres, El País – 19.03. 2008
publicado por ardotempo às 22:29 | Comentar | Adicionar
Terça-feira, 18.03.08

Lição de pintura


Giorgio Morandi
é o pintor para pintores. Ele resume, em sua obra soberba, as lições mais valiosas sobre o ofício de pintar. Ele pintava em pequenos formatos e sua obra resultou monumental.
Utilizava-se de uma paleta cromática bastante reduzida, diversas totalidades e intensidades de grises, alguns terras, uns amarelos, algum azul, branco. Poucas cores mas assim mesmo revelou-se um colorista extraordinário. Na sua temática, uma síntese ainda maior: uns casarios de sua cidade, alguma paisagem rural e as inconfundíveis naturezas mortas com garrafas, potes e algumas porcelanas, que o celebrizaram e lhe deram admiradores e seguidores. Sua obra encontra-se hoje nos acervos dos melhores museus do mundo, modernos e contemporâneos.

Se Picasso considerava que Cézanne era o "pai de todos" os pintores do século XX, Morandi pode ser considerado o mestre da pintura contemporânea, o que sabia como fazer e que deixou uma lição inesquecível a cada um de nós.





















Giorgio Morandi - Natureza morta, óleo sobre tela, 1949
publicado por ardotempo às 18:22 | Comentar | Adicionar
Sexta-feira, 14.03.08

Loyola Brandão fala sobre blogs


“O que importa é que os blogs aos poucos vão encontrando seu caminho, sua identidade, são meios de resistência, de informação.”
Ignácio de Loyola Brandão, março 2008




















O escritor Ignácio de Loyola Brandão e a poeta Mariana Ianelli.


publicado por ardotempo às 18:30 | Comentar | Adicionar
Quarta-feira, 12.03.08

Palavras para Maquinaria da Arte

(Fonte: ArteWebBrasil)                                                                                         

AWB: O teu trabalho é bastante técnico, não é?


Leopoldo Plentz: É, eu gosto disso. Gosto muito do artesanal.
Isso na verdade me dá um prazer muito grande, adoro ferramentas, às vezes vou passear na loja Ferramentas Gerais (NE: um gigantesco magazine de ferramentas e utensílios mecânicos, Porto Alegre RS)
– é o meu shopping center.
Creio que é importante o domínio técnico em qualquer área. Hoje em dia, como tudo está em efervescência, até parece que voltou a década de 70... Tenho a impressão de que em arte, o artesanato é mal visto, acham que você deve ser meio cerebral, suspirar e fazer uma obra, desde que tenha um discurso teórico.



 
AWB: Você está falando com relação à arte contemporânea?


Leopoldo Plentz: Sim. Eu sinto que há discriminação com relação ao objeto artístico. É tudo muito virtual, cerebral. Gosto desta coisa de colocar a mão na massa mesmo, me dá muito prazer o fazer. E para mim a produção artística tem de ter o lado prazeroso do fazer. Caso contrário, não tem graça.

AWB: Quem discrimina o objeto artístico?


Leopoldo Plentz: Alguns críticos e curadores.

Entrevista concedida pelo fotógrafo Leopoldo Plentz para a
Revista Virtual ArteWebBrasil – leia a entrevista integral aqui
publicado por ardotempo às 23:36 | Comentar | Adicionar
Terça-feira, 04.03.08

Quatro reflexões para Maquinaria da Arte


“Parte-se de uma idéia, não se pode partir do nada.
Parte-se de uma idéia vaga. É necessário que seja vaga.
Se um artista não sabe totalmente o que quer, isso não importa.
Importa que saiba muito bem o que não quer.”

Pablo Picasso

“ Todos os artistas devem ser autodidatas.
Como a tradição transformou-se em academismo, devemos recriar toda uma linguagem.
E cada artista de nosso tempo está capacitado a recriar essa linguagem de A a Z. Não se pode aplicar nenhum critério, a priori, uma vez que as regras já não existem. De um certo ponto de vista é uma liberação, mas isso também propicia uma grande limitação. Porque quando o artista começa a expressar sua personalidade, o que ganha em liberdade perde em ordem e torna-se algo muito negativo já não poder submeter-se a nenhuma regra.”

Pablo Picasso

“Os seguidores, os discípulos…? De alguém ou de alguma tendência…? Não interessam, em absoluto. Só contam os verdadeiros mestres, os que criam de fato.”

Pablo Picasso  

“A pintura não existe para decorar casas e apartamentos.
Ela é uma arma de guerra para o ataque e para a defesa contra o inimigo.”

Pablo Picasso
publicado por ardotempo às 11:11 | Comentar | Adicionar
Domingo, 24.02.08

Uma frase para Maquinaria da Arte



No concreto e ao final de tudo, uma obra de arte não se realiza com as idéias e sim com as mãos.” – Pablo Picasso
publicado por ardotempo às 13:30 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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