Quarta-feira, 13.04.11

Don Aldyr Garcia Schlee

Contos Gardelianos

 

Geraldo Hasse

 

 

 

 

Os ditos “contos gardelianos” de Aldyr Garcia Schlee (Os limites do impossível, edições ardotempo, 2009) são na realidade um romance construído a partir da circularidade de uma dezena de narrativas sobre mulheres que participaram direta ou indiretamente de um acontecimento real – o nascimento em 1884 em Tacuarembó, no Uruguai, de Carlos Gardel, o ídolo do tango argentino falecido em acidente aéreo em Medellín em 1935.

 

É uma história alinhada com o que a literatura sulamericana tem de melhor. Não admira que tenha sido escrita por um nativo de Jaguarão, lugar onde se aprende portunhol no berço. Mesclando uma narrativa histórica com lances do mais criativo realismo literário, Schlee constrói uma carreata fabulosa. A leitura é tão saborosa que não temos a menor dificuldade em colocá-lo ao lado de mestres latino-americanos como Alejo Carpentier, Gabriel Garcia Márquez e Juan Rulfo. Ele também fica de pé fácil se colocado na estante ao lado de Domingos Pellegrini, Lourenço Cazarré e Miguel Sanches Neto, para citar apenas contistas do Sul do Brasil.

 

O livro tem uma personagem central, D. Carlos Escayola, “mandamais” de San Fructuoso, nome ficcional de Rivera, a cidade gêmea de Santana do Livramento. Além de ser o cacique local, D. Carlos é acidentalmente cunhado do general farrapo Antonio de Souza Netto e tem o dom extraordinário de seduzir todas – todas – as mulheres do enredo.

 

Garanhão inveterado, ele começa desposando uma moça que o despreza, casa com a cunhada após enviuvar e emprenha a sogra enlouquecida de amor por ele. Perto do auge da história, o herói-canalha estupra e engravida a própria filha, uma vingencita de 13 anos, que vai ter o bebê numa fazenda no interior de Tacuarembó, assistida por uma parteira que eventualmente trabalha também como despenadeira, isto é, a pessoa que ajuda os moribundos a desencarnar – segundo o autor, esse tipo de pessoa foi comum na época das guerras e revoluções do Cone Sul.

 

Levada para Buenos Aires por uma ex-corista francesa paga para “desaparecer” com a encomenda, a criança vinga espetacularmente na Argentina, dando sentido a uma antiga e misteriosa declaração de Carlos Gardel: “Nasci em Buenos Aires aos dois anos e meio de idade...” No entanto, no seu passaporte resgatado em Medellín das cinzas do avião acidentado em 1935 estava escrito: “Nascido em Tacuarembó”.

 

Desfez-se assim também a lenda de que o ás do tango teria nascido no interior da França. Se não é verdadeira, a história é muito bem montada com todos os ardis possíveis da literatura. Artista plástico, jornalista e professor de literatura, Schlee construiu uma obra que segue magistralmente pela trilha do realismo fantástico. Há indícios de pesquisa histórica por trás de tantos contos encadeados, mas a criação literária parece ser ainda maior.

 

Daí o clima de contido exagero que permeia a narrativa, pontilhada de palavras e expressões corriqueiras na fronteira do espanhol e do português. Fora a genial remexida na história pessoal do ídolo mercosulino (há muito Gardel não é somente argentino), a invencionice da linguagem é a maior qualidade desta história editada em 2009 por uma editora de Porto Alegre e premiada no final de 2010 com o Açorianos pela Prefeitura de Porto Alegre.

 

Em quase todas as páginas do livro se encontram ditos saborosos que fazem parte da linguagem oral do pampa mas que até agora não haviam sido incorporados à literatura. No correr da história, sem qualquer esforço ou rebuscamento, o jornalista jaguarense nos regala com um palavreado inolvidável. Nesse aspecto, promove um resgate semelhante ao de Simões Lopes Neto quando este jornalista pelotense fixou há 100 anos nos seus contos gauchescos e lenda do Sul o modo de falar do gaúcho da campanha. É muito bom para a Metade Sul que esse livro brilhante seja fructo de um trabalhador intelectual que vive em Capão do Leão, a menor cidade entre Jaguarão e Pelotas, polos de origem e afirmação de Don Aldyr Garcia Schlee.

 

 

Geraldo Hasse

Imagem: Mario Castello - Fotografia de porta colonial espanhola (detalhe). Cartagena de Indias. Colômbia


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Sexta-feira, 29.10.10

Contos em Nova York

Livro publicado nos Estados Unidos

 

O livro The Brazilian Short Story in the LateTwentieth Century, de autoria de M. Angelica Lopes, professora emérita da South Carolina University, foi editado por The Edwin Mellen Press, em Nova York. É uma antologia dos 19 melhores contistas brasileiros do final do séc. XX, incluindo entre eles Ignácio de Loyola Brandão, Rubem Fonseca, Sergio Sant'anna, Marcia Denser, Sonia Coutinho, Domingos Pellegrini, Sergio Faraco e Aldyr Garcia Schlee.

 

O conto de Aldyr Garcia Schlee que integra a seleção é "Como uma Parábola", do livro "Contos de Sempre", de 1982. Na tradução de Henry Freemann, esse conto aparece acompanhado de um estudo e de ums anotação biobibliográfica, sob o título THE SPOILS OF LOVE AND WAR.

 

A autora M. Angélica Lopes é editora do Handbook of Latin American Studies da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos.

publicado por ardotempo às 22:46 | Comentar | Adicionar
Domingo, 24.10.10

Os contos de José Mário Silva

EFEITO BORBOLETA e outras histórias - de José Mário Silva

 

 



O livro de contos Efeito Borboleta nos traz um fascinante conjunto de histórias laboriosamente lapidadas pelo autor português José Mário Silva e compõem um interessante painel da literatura contemporânea em língua portuguesa. São contos de uma imaginação surpreendente, que nos premiam com uma linguagem concisa e atentamente precisa, oferecendo uma estranha atmosfera de realidade febril que nos sugere e revela a vida como ela é, ligeiramente deslocada e algo desfocada do ambicionado imaginário da perfeição comportamental, estática e conservadora. Nem todos os personagens são bondosos, nem todos serão apolíneos ou heróicos, nem sempre as atitudes se harmonizam com um mundo planejado e ordenado dentro de regras apaziguadoras. Neles, nesses contos de imaginação e construção borgesiana, concorre uma ação de estranhamento em que algo sempre aparenta estar ligeiramente fora da sintonia. A vida como ela é.

 

Lançamento na Feira do Livro de Porto Alegre - Dia 04 de novembro de 2010

com a presença e autógrafos de José Mário Silva, palestra e conversa com Luís Augusto Fischer

 

Efeito Borboleta e outra histórias.

Contos.

Apresentação de Mariana Ianelli

Capa de Mário Castello.

Edições ARdoTEmpo, a partir da edição original portuguesa da Editora Oficina do Livro.

128 páginas.

ISBN nº 978-85-62984-04-4

Valor: R$ 30,00 -

Edições ARdoTEmpo, 2010

 

 

 

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Quarta-feira, 22.09.10

José Mário Silva - Efeito Borboleta

Efeito Borboleta e outras histórias - Contos

 

Autor: José Mário Silva

 

ISBN nº 978-85-62984-04-4

 

124 páginas

 

Capa: Mario Castello

 

Valor: R$ 30,00

 

 

 

 

 

Apresentação de Mariana Ianelli, sobre o livro Efeito Borboleta, contos de José Mário Silva:

 

Penso nos contos de José Mário Silva e logo me vem à memória o espelho mágico de M. C. Escher.

 

Há sempre uma dimensão inaudita em suas histórias, uma realidade da ordem do inefável, na qual diferentes mundos se visitam, regidos pela lógica do sonho. Seus personagens são incógnitas dentro de um grande esquema, um grande tabuleiro cosmológico, por assim dizer, em que todo e qualquer movimento “precipita a desistência ou o desastre”.


Um simples bater de asas na Amazônia pode provocar um tornado no Texas. Perplexo diante das infinitas variantes dessa hipótese, um homem teme executar um só gesto. Nesse conto que dá título ao livro, a perplexidade que se anuncia ainda é outra. Este homem pode ser ele mesmo a borboleta enredada na malha do conto, a letra de uma palavra fatal que se vai formando secretamente, enquanto o personagem, no epicentro da narrativa, ignora sua inexistência. Aqui o leitor reconhecerá, sem dúvida, os labirintos borgeanos, os intermináveis elos de uma cadeia, o sonho dentro do sonho, a concentração dos tempos em um único instante, o ponto do espaço que contém todos os espaços. Mas antes interessa lembrar, de Borges, aquela máxima que serve de postulado para todas as artes, a de que “não sabemos se o universo pertence ao gênero realista ou ao gênero fantástico”.

 

A partir daí, ascendemos da literatura, e de suas inevitáveis intersecções temáticas, a um imenso e extraordinário “sonho apócrifo” nos contos de José Mário.


Astros, números e letras se dispersam, se reordenam e assim gira o caleidoscópio a que chamamos, por espanto e maravilha, gênero fantástico. Nessa cópula de mundos, a lente de um microscópio oferece à vista do poeta a imagemdas galáxias. De fato, José Mário é um poeta, um sonhador de insondáveis matemáticas, um encantador do pensamentoque desperta, no espaço da narrativa, este terceiro olho capaz de entrever nas linhas de uma impressão digital uma “topografia do ser”.


A forma breve que aparentemente delimita as histórias de Efeito Borboleta é mais um expediente de prestidigitador, o espetáculo em ato da fração de um minuto em que um homem revê sua vida e pressagia o exorbitante. Há sombras, muitas sombras no livro, há uma “escuridão ardendo atrás de cada porta”, a iminência do caos atrás da ordem dos planos, inclusive o literário. Nada escapa ao colapso da banalidade. O absurdo, quando prorrompe no elemento mais sutil, põe o leitor diante de um acontecimento que lhe é tão sinistro quanto familiar, como um tsunami, um atentado terrorista, ou mais uma estrela emergindo no mundo das celebridades: o surreal de uma época, nossa época, típico de um quadro de Bosch.


Nas 38 Miniaturas, imagens de alta concentração poética que fecham o volume, está a síntese da criação mágicade José Mário. Tal como o “caçador noturno” de um dos textos, dali regressamos admirados, com “meia dúzia de estrelas à cintura”. Uma aventura e uma vertigem, Efeito Borboleta contém o índice de um livro infinito. Para cada história somos transportados, ou melhor, tragados, por aquela força de atração para além da física que sabemos ser o mais simples - e o mais desejável - prazer da boa leitura.


Mariana Ianelli - Escritora, poeta e jornalista

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Domingo, 20.06.10

Herói de dois mundos

Torcedor do Uruguai, criador do uniforme da Seleção Brasileira: Aldyr Garcia Schlee

 

Thaís Bilenky e Anna Virginia Balloussier

 

Dona Marlene, 75, está revoltada. Desde que conheceu seu marido, há quase 55 anos, é a mesma história: chega a Copa do Mundo e Aldyr está lá, com o coração na mão pela seleção que, em 1950, tirou do Brasil o sonho do primeiro título. Aldyr Garcia Schlee, 75, criou há 57 anos a camisa verde e amarelo da seleção - um dos mais eficientes cartões de visita brasileiros, da Palestina aos Alpes suíços. Mas ele vai torcer pelo Uruguai, como faz desde que se entende por gente. Nada de birra, garante.

 

É que Aldyr nasceu em Jaguarão, cidade do Rio Grande do Sul que faz fronteira com o país vizinho, e cresceu "escutando na rádio tangos, boleros e notícias do Uruguai". Ele morava em Pelotas (RS) quando, aos 19 anos, soube do concurso aberto pelo extinto jornal "Correio da Manhã". O desafio: dar nova cara ao uniforme da seleção brasileira, até então azul e branco.

 

O jovem Aldyr correu para comprar "umas tintas gouaches holandesas, que foram pagas em prestações por quase um ano". E começou a rabiscar. Usar as quatro cores da bandeira no uniforme era uma das exigências da CBD (Confederação Brasileira de Desportos, antepassada da CBF). Um horror para Aldyr, já que "isso, quatro cores, não é uma tradição no futebol mundial". Para driblar o regulamento, ele decidiu "despejar o azul e branco nas meias e calções". A ideia colou. Reza a lenda que o modelo repaginado serviria para tirar a zica daquela derrota para o Uruguai no Maracanã. "Não é verdade. É preciso desmentir isso", diz. "Tanto que o Brasil perdeu em 1954, na Suíça".

 

 

 

 

No dia 15 de dezembro de 1953, o "Correio da Manhã" reproduziu pela primeira vez o modelo canarinho.O vencedor recebeu convite para estagiar como ilustrador no jornal, "uma bolada que dava para comprar um carro popular" e "uma cadeira 'perpétua' no Maracanã". Pouco depois, Aldyr foi entregar sua criação aos jogadores.

 

Na vez de Zizinho, craque do Bangu, escutou o que até hoje considera "a maior definição" para o esporte."Como torcedor, encaro futebol com paixão. Mas tenho certeza de que, em épocas de amadorismo ou hiperprofissionalismo, nada mais certo do que a frase do Zizinho: 'Futebol é uma merda'".

 

Toda Copa ele faz sempre tudo igual. Com um mês de antecedência, começa a confeccionar um livrinho da Copa, uma espécie de álbum de figurinhas artesanal. Nele, registra todos os resultados, desenha a carinha dos jogadores de cada seleção e anota impressões gerais sobre o torneio. Ele e a mulher acompanharão todos os jogos - na primeira fase, são três por dia, ou 270 minutos diários de futebol.

 

Aldyr não gostou da escalação de Dunga. Mas não viu tanto problema no técnico ter deixado Neymar de lado na hora de montar a equipe. Garrincha, afinal, também ficou de fora em 1954. Quatro anos depois, deu no que deu. De 1953 para cá, Aldyr foi rebatendo todas as bolas que a vida lhe jogou. No passado, dividiu plantões de trabalho e mesas de bar com ilustres do jornalismo, de Samuel Wainer a Nelson Rodrigues. Também foi professor de direito internacional. Por conta disso, na metade dos anos 1960, virou persona non grata para a ditadura.

 

Chegou a ser banido de uma faculdade no Rio Grande do Sul por três anos, acusado de "atividades filocomunistas", segundo documento que afirma ter recebido em 1965. Tudo intriga da oposição, já que mexer com política não era a dele, garante Aldyr. Afirma, contudo, diz ter abrigado em seu apartamento de Pelotas algumas "cabeças a prêmio" do regime militar. No começo daquela década, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (região Sul) por uma matéria, sobre combustível mineral, que entusiasmou o presidente João Goulart . A década de 1980 lhe rendeu dois prêmios na Bienal de Literatura.

 

Escritor criativo e de muita produção, Aldyr tem duas gavetas cheias de livros de sua autoria, com temas que vão de contos de futebol a uma suposta "identidade secreta uruguaia" de Carlos Gardel (Os limites do impossível - Edições ARdoTEmpo, 2009) Vive num sítio em Capão do Leão (perto de Pelotas). Numa parede da casa, a plaquinha da "Rua Uruguai". Dona Marlene nem esquenta a cabeça: prefere jogar na cara do companheiro a vitória contra o Uruguai, de 4 a 0, nas eliminatórias 2010.

 

 

Thaís Bilenky e Anna Virginia Balloussier - Publicado na Folha de São Paulo (desde Capão do Leão RS)

Imagem: Aldyr Garcia Schlee - Esboços originais da criação do uniforme da Seleção Brasileira, 1953

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Terça-feira, 03.11.09

Nacido en Tacuarembó...........Uruguay

CARLOS GARDEL

 

 

Para o nascimento de Carlos Gardel em Tacuarembó, mais precisamente na Estância Santa Blanca, em Valle Edén, há muitas explicações.

 
Os contos deste livro transitam por algumas dessas explicações − imaginando e inventando como tudo terá acontecido − de forma a alcançar uma realidade ficcional que se proponha verdadeira à percepção do leitor. Assim, qualquer semelhança entre os fatos aqui narrados e algo que tenha realmente ocorrido ou deixado de ocorrer não será apenas mera coincidência:
será a prova de que a realidade muitas vezes vai além dos recursos da ficção, alimentando-se do improvável e do inacreditável para chegar ao impossível − que nossa fantasia, geralmente, não consegue alcançar ou frequentar.
 
Aqui enfrentamos os limites do impossível.
 
Os limites do impossível - Contos gardelianos
© Aldyr Garcia Schlee
Livro de contos - 204 páginas - 2009
Capas: imagens fotográficas de Mário Castello
ISBN nº 978-85-62984-00-6

Edições ARdoTEmpo 

 

Dia 10 de novembro 19h30 - terça feira - Pavilhão de Autógrafos

55ª Feira do livro de Porto Alegre - RS Brasil

 

 

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Terça-feira, 27.10.09

Os limites do impossível - Aldyr Garcia Schlee

Os contos gardelianos

 

Pré-lançamento: 55ª Feira do Livro de Porto Alegre

Dia 10 de novembro - 19h30 / Praça de autógrafos (terça-feira)

Praça da Alfândega s/nº - Centro - Porto Alegre RS

 

Apresentação: Palavraria

Dia 19 de dezembro - 19h (sábado)

Rua Vasco da Gama, nº 165 - Bom Fim - Porto Alegre RS

(51) 32 68 42 60 

 

Apresentação: Instituto Simões Lopes Neto

Dia 05 de dezembro - 21h / Noite Branca (sábado)

Rua D. Pedro II, nº 810  - Pelotas RS

(53) 30 27 18 65

 

 

 

Un compatriota nada disimulado” 

 
No dia 11 de outubro de 1991, por ocasião do lançamento em Montevidéu do livro de Aldyr Garcia Schlee, El dia em que el Papa fue a Melo, o poeta maior do Uruguai, Washington Benavides – nascido em Tacuarembó (como Carlos Gardel) – apresentou o escritor de Jaguarão–Yaguarón como “Un compatriota nada disimulado”, dizendo entre outras coisas o seguinte:
 
No tendríamos que agregar accidente alguno para saber a qué atenernos con este fronterizo doblemente fronterizo. Porque Aldyr es el bizantinismo mayor; mayor que aquello de

¿dónde comienza el mar, dónde la playa?
¿cuándo comienzas a salir del bosque?
¿ésta hora es la hora pasada o la presente o la futura?
¿Aldyr es fronterizo con Brasil?
¿Aldyr es fronterizo con Uruguay?

Eh, Aldyr: ¿y qué importa –nos dirás– la línea divisoria? Lo único que importa en esta vida es encontrar un sitio mágico (el Aleph), donde ocurrieron, ocurren y ocurrirán siempre “pendencias, batallas, desafíos, heridas, requiebros, amores, tormentas y disparates” posibles y imposibles.

Eh, Aldyr: cuénteme un cuento. Pero que sea lindo y feo “como la vida”.
 
Washington  Benavides
                    
 
Aldyr Garcia Schlee
 
Desenhista e jornalista premiado nacionalmente. Professor universitário nas áreas de ciências  humanas e literatura. Ensaísta, tradutor e ficcionista. Autor de seis livros de contos – Contos de sempre, Linha divisória, Uma terra só, O dia em que o Papa foi a Melo, Contos de Futebol e Contos de verdades – além de Os limites do impossível. Vencedor duas vezes da Bienal de Literatura Brasileira (1982, 1984) e três vezes do Prêmio Açorianos de Literatura (1997, 1998 e 2001).
 
Os limites do impossível - Contos gardelianos
© Aldyr Garcia Schlee
Livro de contos - 204 páginas - 2009
Edições ARdoTEmpo
 
Imagem: Antonio Segui - " Te fuiste sin que nos diéramos cuenta" - Pintura - Carvão, lápis e pastel, sobre tela (Montevidéu, Uruguay), 1977
 
 

 

publicado por ardotempo às 00:04 | Comentar | Adicionar
Sábado, 24.10.09

Novo Fischer

Escuro, claro, de Luís Augusto Fischer - Livro de contos
 
Escuro, claro: contos reunidos apresenta 31 contos de um dos mais argutos observadores da produção cultural do Brasil. Luís Augusto Fischer, professor de literatura, cronista e um especialista apaixonado pela produção literária brasileira e platina, organizou o livro tematicamente. A abertura se dá com “O império de Eros”, que reúne os contos que, de alguma forma, mostram o sujeito atônito (e às vezes paralisado) diante dos desafios do amor. A dureza da vida cotidiana e material é tratada em “A força de Tânatos”, a segunda parte, e reflexões metaliterárias são o assunto de “As estratégias de Clio”. Encerram o volume quatro contos que compõem a parte intitulada “A bênção de Machado de Assis”, nos quais o autor homenageia criações e o pensamento do grande escritor brasileiro ao mesmo tempo em que se utiliza da ótica machadiana para abordar questões da atualidade. 
 
Sobre a totalidade dos 31 contos – desde histórias escritas em meados da década de 90 e anteriormente publicadas até criações recentes e inéditas de Luís Augusto Fischer – pairam como que três signos: a elegância da palavra, que é nestas páginas usada de maneira característica – exata ao mesmo tempo que imbuída de um lirismo cotidiano, fluente e munida de elementos de oralidade; a perplexidade do homem-no-mundo, seja diante da figura feminina, de problemas concretos e chãos, da dificuldade da escrita ou, na vertente machadiana, do comportamento do homem social; e, em terceiro lugar, o caráter ensaístico, que faz de cada história não apenas uma ficção, mas uma reflexão que se estende à humanidade em geral. 
 
São 31 histórias saídas da imaginação de um autor que se propõe não apenas a ficcionalizar sua matéria-prima, mas também a refletir sobre ela e, em última análise, a organizar ideias – as dele e as nossas. 
 

Luís Augusto Fischer nasceu em 1958, em Novo Hamburgo (RS). Desde 1984 leciona Literatura Brasileira na UFRGS. É colunista do jornal Zero Hora RS Porto Alegre e colaborador da Folha de S. Paulo SP São Paulo 

publicado por ardotempo às 22:59 | Comentar | Adicionar
Segunda-feira, 31.08.09

O silêncio é fácil

 
Um rectângulo de papel rugoso
 
José Mário Silva
 
 
Tens a fotografia nas mãos. A velha fotografia. À esquerda, o contorno das dunas, o brilho fosco da areia, o mar apenas sugerido, três gaivotas de asas abertas, nuvens imensas a encher o céu. Ao centro, numa espécie de penumbra, a casa: alvenaria batida pelos ventos, janelas rasgadas diante do furor oceânico, vigas de madeira carcomidas pela humidade salina, restos de cal e de um esplendor antigo. 
 
À direita, a imensa sombra da lagoa, o pinhal estendendo-se terra adentro – voraz – e com ele o princípio da estrada de todos os regressos, de todas as despedidas.
 
Olhas para o pequeno rectângulo de papel rugoso, agora cheio de riscos, amarelado nas pontas. Quem captou aquela imagem morreu há muitos anos. A casa já não existe; é só areia, corrosão, ruínas. E aquele que tu foste, dentro da casa, também desaparece aos poucos, devorado pela máquina ferrugenta da memória, perdido nesse passado que se vai tornando difuso, frágil e inútil.
 
Sabes muito bem o que o tempo faz às coisas. Monta o cerco. Expande o deserto. Seca por fora e por dentro. Transforma tudo em pó. Nada lhe resiste. Nada. Nem sequer a imagem de uma casa frente ao mar que alguém, um dia, com paciência e nitrato de prata, fixou. Nem sequer esta velha fotografia que se desfaz, aos poucos, nas tuas mãos demasiado gastas.
 
Segues agora, com o olhar, cada uma das linhas da imagem que se desvanece, as gradações de um preto e branco cada vez mais submerso na irrealidade das coisas extintas. Percorres, às cegas, as fronteiras de um mapa imaginário: o mar escondido, as paredes onde a cal nunca se demorava, o crepúsculo violento atravessando as salas, as tábuas de madeira que rangiam nas noites de ventania, a bruma sobre a lagoa, vozes saindo da escuridão com a forma do teu nome.
 
Acendes, uma última vez, a memória. Ficas à espera. Mas a memória calou-se. As vozes não regressam, não há ninguém que te chame neste agora que veio depois de tudo o que se apagou, não há variações dentro da brancura espessa do esquecimento. A névoa engoliu tudo. Já não há azul, já não há verde, já não há ouro, já não há prata.
 
Ainda assim, a fotografia continua entre os teus dedos. Intacta. Olhar para ela tornou-se uma violência. O que foi belo, magoa. O silêncio devora-te. O vazio é uma faca apontada ao coração. Sabes que nunca ninguém virá, nunca mais. Por isso aproximas do lume o rectângulo de papel rugoso. E vês arder tudo aquilo: a casa, o mar, as nuvens imensas, a tua infância.
 
 
© José Mário Silva - Efeito Borboleta 
publicado por ardotempo às 13:36 | Comentar | Adicionar
Sábado, 31.01.09

Um novo e extraordinário livro de Aldyr G. Schlee

Os limites do impossível - Contos Gardelianos

 

A partir da idéia estarrecedora de que o nascimento de Carlos Gardel ocorreu em Tacuarembó, no Uruguai, fruto de incesto e estupro, os contos deste livro transitam por algumas versões do espantoso acontecimento.

 

Aqui se imagina e se inventa como tudo terá acontecido de forma a alcançar uma realidade ficcional que se proponha verdadeira à  percepção do leitor. Assim, qualquer semelhança entre os fatos narrados e algo que tenha realmente ocorrido ou deixado de ocorrer não será apenas mera coincidência: será a prova de que a realidade muitas vezes vai além dos recursos da ficção, alimentando-se do improvável e do inacreditável para chegar ao impossível que nossa fantasia, geralmente, não consegue alcançar ou frequentar.

 

Aqui enfrentamos os limites do impossível.

 

Aqui, os limites do impossível são desafiados em cada uma das histórias  de Clara, de Blanca, de Juana, de Felícia, de Rosaura, de Mulata-Flor, de La Niña, de Manuela, de Constantina, de Berta, de La Madorell, mulheres de verdade e de mentira, cujas vidas ajudam a recompor a difusa memória do incrível e triste nascimento de Carlos Gardel em Tacuarembó.

 

 


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Sexta-feira, 23.01.09

Concurso de Contos Josué Guimarães

11º Concurso Nacional de Contos Josué Guimarães 

 

Regulamento

 

Instalado em 1988, o Concurso Nacional de Contos Josué Guimarães homenageia o jornalista e escritor sul-rio-grandense que estimulou a criação e a expansão das Jornadas Literárias de Passo Fundo, que se realizam sem interrupção, desde 1981. Em 2009 o Concurso Nacional de Contos Josué Guiimarães chega a sua décima primeira edição.

 

Inscrições

 

O concurso se destina a contistas, com obras publicadas ou não, que apresentem textos inéditos. Cada participante deverá apresentar 03 (três) contos. As inscrições serão realizadas de 30 de janeiro de 2009 a 01 de junho de 2009.

 

As inscrições podem ser feitas através da entrega de originais ao local de inscrição ou pelo correio. Não serão aceitas inscrições por e-mail.

 

Local de inscrição

 

Universidade de Passo Fundo

13ª Jornada Nacional de Literatura

11º Concurso de Contos Josué Guimarães

Centro Administrativo, Campus 1 BR 285 Km 171

Bairro São José CEP 99001-970  Passo Fundo RS Brasil

Fone/Fax: (54) 3316-8368

 

http://www.jornadadeliteratura.upf.br

 

Apresentação dos trabalhos

 

Os originais deverão ser apresentados em 04 (quatro) vias, em formato A4, digitados numa só face, espaço 1, fonte Times Roman, tamanho 12 e identificado apenas com o pseudônimo do autor. As 04 (quatro vias) deverão ser reunidas em um único envelope, com o título do concurso e o pseudônimo do autor. Nesse mesmo envelope, deverá ser colocado um outro envelope fechado, contendo em seu interior a identificação do autor, seu endereço completo, um breve currículo e a indicação dos títulos dos contos.

 

Julgamento

 

Os trabalhos serão julgados por uma comissão indicada pelas instituições promotoras, devendo ser divulgado o nome dos vencedores na abertura da 13ª Jornada Nacional de Literatura, no dia 24 de agosto de 2009, no Circo da Cultura, em Passo Fundo, RS.

Não caberá recurso às decisões da Comissão Julgadora.

 

Premiação

 

Os dois melhores contistas receberão prêmios no valor de:

 

1º Lugar - R$ 5.000,00 (cinco mil reais);

Troféu Vasco Prado

 

2º Lugar - R$ 3.000,00 (três mil reais)

Troféu Vasco Prado

 

Alguns trabalhos poderão ser destacados com Menção Honrosa a critério da Comissão Julgadora.

Os contos premiados poderão ser editados em antologia organizada pelo Instituto Estadual do Livro, a ser publicada em co-edição com a Fundação Universidade de Passo fundo e com a Prefeitura Municipal de Passo Fundo.

 

Outras Disposições

 

Os casos não previstos por este regulamento serão resolvidos pela Comissão Julgadora.

A inscrição implicará, por parte do concorrente, a aceitação dos termos do presente regulamento, bem com a cessão, sem ônus, dos direitos dos trabalhos inscritos, para eventual publicação, até 05 (cinco) anos após o encerramento do concurso.

 

 

 

 

publicado por ardotempo às 15:17 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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