Poema de Pedro Gonzaga
soneto
tormentoso desejo agora vivo
só por vos ter tão perto, doce amiga
conturba-se-me ardente o sangue à briga
que com malícia ergueu amor esquivo
encontro e logo perco meu juízo
quis razão evitar minha desdita
mas se ao vos ver um não sei quê se agita
sois perdição e incêndio e paraíso
encarnação da dádiva primeira
semideia que um árabe cantava
em vós respira a flor da laranjeira
primavera que esconde a verde fava
aniquilai-me a paz, feroz cegueira
toda nudez que vossa mão guardava
© Pedro Gonzaga, 2012